quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

World Music Charts Europe - Janeiro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Janeiro dos 184 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a inversão nos dois lugares cimeiros e as oito novas entradas no topo do painel: duas em estreia absoluta no WMCE e cinco a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar


2º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 1ºlugar

3º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 5ºlugar

4º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 13ºlugar

5º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 4ºlugar

6º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 3ºlugar
7º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 17ºlugar
8º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
mês passado: 15ºlugar
9º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica

mês passado: 27ºlugar
10º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
mês passado: 14ºlugar

11º- INTRODUCING, Bela Lakatos & The Gypsy Youth Project (Hungria) - World Music Network
mês passado: 32ºlugar
12º- WE ARE THE SHEPHERDS, OMFO (Ucrânia) - Essay Recordings
mês passado: 19ºlugar

13º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 6ºlugar

14º- DIALOGUE, Sondre Bratland & Javed Bashir (Noruega) - Kirkelig Kultur Verksted
mês passado: 16ºlugar

15º- ÄLVDALENS ELEKTRISKA, Lena Willemark (Suécia) - Amigo
mês passado: 39ºlugar
16º- KECE KURDAN, Aynur (Turquia) - Kalan
mês passado: 29ºlugar
17º- DZUMBUS, Slonovski Bal (Sérvia) - Bal Bazar
estreia na tabela
18º- EFFFECTO, Faltriqueira (Espanha) - Resistencia
mês passado: 48ºlugar
19º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 10ºlugar

20º- MARFUL, Marful (Espanha) - Galileo
estreia na tabela

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Emissão #33 - 23 Dezembro 2006

A 33ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, um programa especial que conta com entrevistas exclusivas aos Comcordas e Mu, bandas que em Outubro estiveram no Festival Entrelaços, em Castelo Branco, é difundida no sábado, 23 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), e vai de novo para o ar na segunda-feira, 25 de Dezembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (13 e 15 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"Devoiche Belo, Tsurveno/Povdigni Si Milo Libe/Vasilke, Mlada Nevesto", Angelite (Bulgária)
- bulgarian folk
As vozes búlgaras das Angelite estreiam esta emissão especial com três canções de amor – “Devoiche Belo, Tsurveno”, “Povdigni Si Milo Libe” e “Vasilke, Mlada Nevesto” –, um medley que faz parte do álbum “Balkan Passions”, editado em 2001. À semelhança dos restantes países dos Balcãs, a Bulgária é um território habitado por turcos, ciganos, macedónios, judeus, arménios e romenos, grupos étnicos que ao longo do tempo foram moldando a música desta região. Prova dessa convivência cultural é a lista de músicos que participam neste trabalho: Orchestre Pirin, da Bulgária; Okay Temiz e Sezen Aksu, da Turquia; Fanfare Ciocărlia, da Roménia; e Maria Farantouri, da Grécia. Fundadas em 1952, as Angelite são um grupo de canto vocal composto por duas dezenas de mulheres, e que combina elementos tradicionais da folk búlgara com intervalos microtonais e a justaposição de escalas. São melodias seculares que fazem alusão a elementos da vida diária, incorporando muitas das vezes participações instrumentais e arranjos de compositores clássicos contemporâneos. Dirigido pelo compositor búlgaro Georgy Petkov, o coro colaborou, entre outros, com o saxofonista Jan Gabarek e com o Moscow Arts Trio. O canto vocal é uma importante tradição búlgara, particularmente no Natal, em que se destacam as melodias sacras ortodoxas, outrora cantadas apenas pelos homens, ou os cânticos alusivos à quadra. Um estilo único, de grande riqueza melódica e rítmica, possível graças a um desenvolvido controlo da respiração, e que terá surgido no Médio Oriente na era pré-cristã.

"Rumba Para Susi", Susana Seivane
(Espanha) - galician folk, celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Susana Seivane, que nos traz “Rumba Para Susi”, um tema tradicional que aqui se apresenta numa versão adaptada para gaita e pequena orquestra. Esta gaiteira é neta de Xosé Manuel Seivane, um dos mais conceituados artesãos galegos. Diz a tradição que a madeira de buxo ou buxeiro, utilizada na construção das gaitas de foles galegas, deve ficar mais de cem anos à espera de um artesão que lhe consiga descobrir a alma e transformá-la no instrumento musical. O buxo com que os Seivane fazem gaitas desde 1939 serviu precisamente de inspiração para o nome deste disco "Alma de Buxo". No seu segundo álbum, editado em 2002, a jovem segue a tradição musical da Galiza com várias xotas, muiñeiras, marchas e outras composições típicas daquela região, adicionando-lhes no entanto a bateria, o baixo e algumas amostras de música pop. E não é de espantar a sua mestria no manejo da gaita-de-foles, até porque começou a tocar este instrumento aos quatro anos. Neste álbum, Susana Seivane é acompanhada pela sua banda e por músicos como o ex-Milladoiro Rodrígo Romani, Kepa Junkera, Uxía Senlle, Guadi Galego dos Berrogüetto ou Uxía Pedreira dos Chouteira. Um trabalho em que esta presta homenagem aos gaiteiros da sua terra, como é o caso de Pepe Vaamonde e do próprio avô, que gravou duas composições do seu repertório. São duas gerações reunidas num só disco.

"Pandeirada do Che", Luar Na Lubre
(Espanha) - celtic folk
Regresso à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trouxeram-nos o tema “Pandeirada do Che”, extraído do álbum “Saudade”, editado este ano. Uma música recheada de alusões a Che Guevara, e onde Celso Emilio Ferreiro toca o pandeiro lado a lado com os viguenses Xulio Formoso e Farruco Sesto. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Está assim consolidada a intenção do grupo em sublinhar a influência portuguesa para melhor definir a sua identidade galega, neste Portugal além-Minho. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"Vinavata", Mu
(Portugal) - folk
Os portuenses Mu, uma jovem banda folk cuja alegria não deixa ninguém indiferente, com “Vinavata”, um dos temas gravados em Espanha no Festival Danzas Sin Fronteras, e que faz parte do seu primeiro álbum “Mundanças”, editado no ano passado. O título deste trabalho, em que também participam os Dazkarieh, mais não é do que um trocadilho de palavras que descreve na perfeição o mundo em mutação e recheado de dança em que os Mu estão mergulhados. Eles nasceram no Porto em 2003 e foram procurar inspiração nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo. Os ritmos e vozes tradicionais servem então de referência a este grupo que reinventa sobretudo danças balcânicas e eslavas, mas em cuja palete sonora não faltam também os sons ciganos, bretões, irlandeses ou mesmo africanos. Uma banda jovial, de estilo "roufenho, nómada e circense", conforme já lhes chamaram, que tem feito sucesso em festivais como o Andanças, em S. Pedro do Sul, o Intercéltico de Sendim, ou o Danzas sin Fronteras, em Espanha. Na sua quarta formação, os Mu integram os músicos Hugo Osga, Nuno Encarnação, Diana Azevedo, Sophie Kaliasz, Sérgio Calisto e Sara Barbosa.

"Diamantta Spaillit", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
Avançamos agora até ao norte da Europa com a norueguesa Mari Boine Persen, que nos traz o tema “Diamantta Spaillit” (Rena de Diamantes), extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em Abril deste ano. Com mais de vinte anos de carreira, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, povo que habita a chamada Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evoca a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Kokko", Värttinä
(Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A viagem prossegue com as Värttinä e o tema “Kokko”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 1996. De regresso ao programa, a mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa trouxe-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, naquele que foi o primeiro trabalho onde o grupo tentou juntar a música tradicional com sons modernos. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.


"Ma Betty Boop À Moi", Opa Tsupa (França) - jazz manouche
A fechar o programa, despedimo-nos com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Ma Betty Boop À Moi", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Este quinteto acústico de jazz manouche, nascido em 2000, mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda – bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé – aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.


Jorge Costa

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Emissão #32 - 9 Dezembro 2006

A 32ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 9 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 11 de Dezembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (30 de Dezembro e 1 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"Are You Gyspifiled? (megamix)", Olaf Hund (França) & Koçani Orkestar (Macedónia), Taraf de Haïdouks (Roménia) e Ursari de Clejani (Roménia)
- gypsy brass band, gypsy oriental music
A abrir a emissão, o compositor francês e produtor de música electrónica Olaf Hund com a remistura “Are You Gypsified?”, extraída da colectânea “Electric Gypsyland”, editada no ano passado. Uma série de reinterpretações e de reinvenções poéticas de músicos europeus e americanos, em que o ponto de partida é a música cigana. Neste megamix, Olaf Hund mistura temas de três das mais conhecidas bandas dos Balcãs: os Koçani Orkestar, os Taraf de Haïdouks e os Ursari de Clejani. Originários da cidade macedónia do mesmo nome e liderados pelo trompetista Naat Veliov, os Koçani Orkestar combinam o som das fanfarras com ritmos de dança turcos e búlgaros e melodias ciganas dos Balcãs. O resultado é uma frenética festa sonora, localmente apelidada de Romska Orientalna Musika (música cigana oriental). Já os Taraf de Haïdouks ("banda de bandidos") são originários da cidade romena de Clejani, situada a sudoeste de Bucareste. Uma dezena de instrumentistas e cantores, com idades entre os 20 e os 78 anos, descobertos em 1990 por dois jovens músicos belgas que se apaixonaram pela sua sonoridade e decidiram levá-los até à Bélgica para os darem a conhecer ao mundo. A sua música, que varia entre as baladas e as danças, é uma mistura de estilos locais, representando na perfeição a riqueza das folk romena. Finalmente, e ainda na mesma cidade, encontramos os Ursari de Clejani, representantes do estilo vocal ursari e descendentes de uma família de domadores de ursos, e que no passado colaboraram num dos álbuns dos Taraf de Haïdouks.

"Urrutiko Polkak", Alboka
(Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com os Alboka e o tema “Urrutiko Polkak”, extraído do álbum “Lau Anaiak” (Os Quatro Irmãos), lançado em 2004. Quarto trabalho do grupo que, para além das danças e melodias populares, retiradas dos cancioneiros bascos, integra temas instrumentais – então uma novidade na folk basca, mais habituada a trabalhos vocais – e novas canções, compostas por Allan Grifing e traduzidas para euskera pelo escritor basco Juan Garcia. O agora duo, formado pelo acordeonista Joxan Goikoetxea e pelo multi-instrumentista irlandês Alan Griffin (que há mais de vinte anos vive no País Basco), foi criado em 1994 juntamente com mais dois músicos daquela região autónoma espanhola: Txomin Artola e Josean Martín Zarko. Da sua história fazem também parte as vozes de Benito Lertxundi e Xabi San Sebastián, o violinista Juan Arriola e a cantora húngara Marta Sebestyén, que colaborou num dos álbuns do grupo. Um ensemble cujo objectivo é o de interpretar música tradicional exclusivamente de forma acústica, sua imagem de marca, e que foi buscar o nome à alboka, um aerofone pastoril basco, construído com dois chifres de vaca, e cuja sonoridade, parecida com a da gaita, se situa entre a sanfona e a bombarda francesa. Juntam-se-lhe o acordeão, o bouzuki, o bandolim, o ttun-ttun (tamboril basco, da família do saltério), a guitarra acústica, o violino, a harpa, a gaita, a flauta e as percussões. Uma ponte entre a música tradicional e a folk contemporânea, em que a energia basca se une à pureza irlandesa.

"Sort of Slides: Choice Language/Bring Out the Wilf/Come Ahead Charlie", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie regressam ao programa, desta feita com o medley “Sort of Slides: Choice Language/Bring Out the Wilf/Come Ahead Charlie”, extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Yehlisan'Umoya Ma-Afrika", Busi Mhlongo
(África do Sul) - afro pop, maskanda, mbaqanda
Avançamos agora até à África do Sul com Busi Mhlongo, que nos traz o tema "Yehlisan'Umoya Ma-Afrika", extraído do álbum "Urbanzulu", lançado em 2000. Disco em que colaboraram vários músicos, entre eles, dois da banda Phuzekhemisi, que com ela compuseram este álbum simultaneamente africano e ocidental. A diva da afropop foi a primeira mulher a internacionalizar a maskanda, género tradicional zulu que expressa a alegria e o lamento presentes na moderna vida da urbana África do Sul, e outrora característico dos trabalhadores e migrantes rurais. No entanto, Busi Mhlongo percorre outros estilos sul-africanos, fundindo-os com o jazz, o funk, o rock, o gospel, o rap e o reggae, e usando coros e instrumentos não tradicionais. Ao longo da sua carreira, actuou com alguns dos melhores nomes do jazz e estrelas da mbaqanga (género vocal, desenvolvido a partir de um estilo negro urbano, em que se destacam as vozes graves masculinas, e que se transformou no mqashiyo, um popular género de dança). Impedida de regressar à África do Sul, o que só aconteceria nos anos 90, Busi Mhlongo passou vários anos em Portugal, cantando temas populares e canções africanas em casinos. Durante o exílio, ela viveu ainda em Londres, no Canadá e em Amesterdão, cidade onde trabalhou com músicos africanos e desenvolveu o seu estilo único. Não é por acaso que, nas suas letras, Busi Mhlongo fala da necessária reconciliação entre sul-africanos com diferentes aspirações políticas.

"Les Temps On Changé", Amadou & Mariam
(Mali) - afropop blues
A dupla Amadou & Mariam de volta ao programa, desta feita com o tema “Les Temps Ont Changé”, extraído do álbum “Wati” (Os Tempos, em bambara), editado em 2002. Uma música onde o casal critica o individualismo das novas gerações, utilizando a mais roqueira pop africana. Um afropop blues, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências tão inesperadas como o cavaquinho português ou o violino de Bengala. E como é habitual, não faltam as alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Neste trabalho, Amadou & Mariam prestam homenagem à música tradicional maliana, ainda que embrulhada em sons ocidentais, tendo por convidados os franceses Mathieu Chedid, Jean-Philippe Rykiel, Sergent Garcia, o marroquino Hamid el Kasri e os malianos Cheick Tidiane Seck, Moriba Koïta e Boubacar Dambalé. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na vida e na carreira. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma através da qual recordam não só as suas raízes mandingo, mas também as teias invisíveis que ligam o Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.

"Kadife", Richard Hagopian
(EUA) & Omar Faruk Tekbilek (Turquia) - bellydance
A viagem prossegue com Richard Hagopian e Omar Faruk Tekbilek, que nos trazem "Kadife", tema extraído do álbum "Gypsy Fire", lançado em 1995. Uma recriação do ambiente underground multiétnico da Oitava Avenida em Nova Iorque na década de 1950, onde ciganos, arménios, turcos, judeus, gregos e árabes tocavam juntos. Álbum que reúne alguns dos melhores músicos do Médio Oriente, Europa de Leste e Estados Unidos da América, e em que participam ainda o lendário saxofonista turco Yuri Yunakov; Hasan Iskut, tocador de kanun, o "piano" da música turca; o violinista Harold Hagopian, filho de Richard Hagopian; o percussionista Arto Tunçboyaciyan; o guitarrista Ara Dinkjian e o baixista Chris Marashlian. Considerado um dos melhores tocadores de alaúde do planeta, Richard Hagopian é também um dos mais reconhecidos músicos e etnomusicologistas de ascendência arménia. Ele nasceu na Califórnia, nos Estados Unidos, e aprendeu a tocar violino e clarinete aos oito anos. Mais tarde, estudou com o famoso artista arménio Garbis Bakirgian. Hoje diz tocar mais de cinquenta instrumentos. Omar Faruk Tekbilek é também um virtuoso multinstrumentista. Ele iniciou a sua carreira musical aos oito anos com a kaval (uma pequena flauta diatónica), tendo aprendido a tocar instrumentos como a ney (flauta de bambú), a zurna (tipo de oboé), a baglama (alaúde de braço comprido) ou o oud (alaúde árabe). A sua música, enraizada na tradição turca, foi influenciada por múltiplos estilos e instrumentações árabes e orientais, emanando misticismo, romance e imaginação. Radicado em Nova Iorque, ele colabora sobretudo com o produtor e guitarrista norte-americano Brian Keane, a cujas bases electrónicas acrescenta os sons da flauta e da percussão.

"Sidi H’Bidi", Les Boukakes (França) - raï n'rock, afrobeat, reggae
Os Les Boukakes apresentam-se com o tema "Sidi H’Bidi", extraído do seu último álbum "Bledi", editado em 2004. Um trabalho onde o raï argelino e o gnawa marroquino surgem à mistura com o rock e a música electrónica, provando ser possível e agradável a combinação entre ocidente e oriente. Esta banda masculina de sete elementos, formada em 1998, é liderada pelo cantor argelino Bachir Mokhtare e inclui músicos tunisinos e franceses. Os Boukakes, que no passado mês de Novembro foram nomeados para os BBC Radio 3 Music Awards, foram buscar o seu nome à mistura fonética de dois típicos insultos racistas. Uma reacção - pouco chocante, no entender deles - às referências menos abonatórias que costumavam receber quando se estrearam nas ruas. Sem fazerem comentários políticos ostensivos nas suas canções, os Boukakes apelam deliberadamente à resistência ao status quo e à ignorância generalizada. Letras que são combinadas com melodias orientais e instrumentos diversos, como o karkabou/qarqabou (grandes castanholas metálicas marroquinas), a derbouka (instrumento de percussão magrebino), o bendir (outro instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), o duf (espécie de pandeireta), a tabla, o banjo, a guitarra ou o baixo. Anos depois, eles passaram das ruas para os bares e dos pequenos concertos para os festivais, encontrando finalmente o seu público. Desde então, têm partilhado o palco com músicos e bandas famosas como os Zebda, The Wailers, Manu Chao, Natacha Atlas, Taraf De Haïdouks, Cheikha Rimitti e Rachi Taha. Em 2004, o seu raï n'rock conquistou finalmente grande projecção, ao ganharem diversos prémios profissionais.

"Le Mec Aux Tics", Opa Tsupa (França) - jazz manouche
Os sons deste planeta musical continuam com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Le Mec Aux Tics", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Os Opa Tsupa são uma formação de jazz manouche, nascida em 2000. Este quinteto acústico mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda - bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé - aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.

"Rumelàj", Djamo (França) - gypsy music
Seguem-se os Djamo, que mais uma vez regressam ao programa, trazendo-nos agora o tema "Rumelàj", extraído do álbum "Chants Tziganes Métissés". Um ensemble françês que tem como repertório principal os cantos e a música cigana mestiça. Este jovem grupo originário da região de Poitou-Charentes, localizada no centro-oeste de França, leva-nos à descoberta das músicas ciganas e magrebinas. Neste álbum, eles são acompanhados por outros embaixadores dos sons mestiços, entre eles os Dikès e, precisamente, os Opa Tsupa.

"1000 Mirrors", Badi Assad
(Brasil) - brazilian music
A fechar o programa, despedimo-nos com Badi Assad e o tema "1000 Mirrors", extraído do seu último trabalho "Wonderland", editado este ano. Este foi produzido por Jacques Morenlenbaum, e conta com a participação especial de Seu Jorge, entre outros músicos. Um álbum onde Badi Assad desmonta uma série de espelhos humanos, falando com a voz e com a percussão do próprio corpo sobre a violência doméstica, o alcoolismo ou a prostituição. Badi, cujo verdadeiro nome é Mariângela, foi baptizada em pequena pela mãe com parte do apelido
libanês do pai, o qual em árabe significa Leão Milagroso. A cantora e compositora brasileira, nascida em São João da Boa Vista, no estado de São Paulo, começou como violinista clássica e aperfeiçoou a sua técnica instrumental, deixando para trás a formação académica e o universo da música erudita, que trocou pelo ritmo das canções da música popular. Tal como os irmãos violinistas Sérgio e Odair, que hoje formam o duo Assad, Badi começou a carreira como instrumentista, primeiro ao piano e depois à guitarra (conhecida no Brasil por violão). Em 1998, um problema na mão obrigou-a a ficar dois anos sem tocar, até que acabou pode descobrir outra forma sublime de expressão: o canto.

Jorge Costa

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

World Music Charts Europe - Dezembro 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Dezembro dos 188 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a nova liderança e as oito novas entradas no topo do painel: cinco em estreia absoluta no WMCE e três a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 4ºlugar


2º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar

3º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 56ºlugar
4º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 159ºlugar
5º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 18ºlugar

6º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 13ºlugar

7º- IDJAGIEĐAS, Mari Boine (Noruega) - Emarcy (Universal)
mês passado: 11ºlugar

8º- PASJA LEGENDA, Brina (Eslovénia) - DruGod
mês passado: 3ºlugar

9º- ABACABOK, Tartit (Mali) - Crammed
mês passado: 17ºlugar

10º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 19ºlugar

11º- GOLDEN AFRIQUE VOL. 3, vários - Network Medien
mês passado: 7ºlugar

12º- EOLH, Almasala (Espanha) - Ventilador
mês passado: 12ºlugar

13º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
estreia na tabela
14º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
estreia na tabela
15º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
estreia na tabela
16º- DIALOGUE, Sondre Bratland & Javed Bashir (Noruega) - Kirkelig Kultur Verksted
mês passado: 22ºlugar
17º- KABYLE MENTAL, Akli D (Argélia) - Because
estreia na tabela
18º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar
19º- WE ARE THE SHEPHERDS, OMFO (Ucrânia) - Essay Recordings

estreia na tabela
20º- ALMINARES MEDITERRANEOS, Caravasar (Espanha) - Resistencia
mês passado: 9ºlugar

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Emissão #31 - 25 Novembro 2006

A 31ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 25 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 27 de Novembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (16 e 18 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

Uma edição em que se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas que passaram nas últimas dez emissões deste programa. Eis a listagem do melhor dos melhores temas do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO:

"Ghole Pamtschal", Schäl Sick Brass Band (Alemanha) - brass band, jazz, folk

"Iddjagieđas", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues

"Kekko", Kimmo Pohjonen (Finlândia) - folk-rock, electronic folk

"Olhos de Maré", Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion

"Per la Boca", L'Ham de Foc (Espanha) - traditional folk

"Todii", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music

"Françafrique",Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae

"Ghali Ya Bouy", Smadar Levi (Israel, EUA) - bellydance

"El Wejda", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music

"The Beat Of Love", Trilok Gurtu (Índia) - world, jazz, khylal

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa

sábado, 11 de novembro de 2006

Emissão #30 - 11 Novembro 2006

A 30ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 11 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 13 de Novembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (2 e 4 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

"Mile Marbshaisg Air A Ghaol", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie a inaugurarem a emissão com o tema “Mile Marbhaisg Air A Ghaol” (Mil Feitiços no Amor), extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Tristos Ulls", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) regressam mais uma vez ao programa, desta feita com “Tristos Ulls”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Eixe Elástico",
Xosé Manuel Budiño (Espanha) - folk, celtic music
O galego Xosé Manuel Budiño com "Eixe Elástico", mais um tema extraído do seu segundo álbum "Arredor", lançado em 2000. Um trabalho eclético e vanguardista, em que este jovem de Moaña - localidade com grande tradição gaiteira, situada junto a Pontevedra - pretendeu dar um salto definitivo na sua carreira artística. O álbum aproxima-se de géneros como o funky, o drum'n'bass, o rock, a new age e a folk, numa panóplia de ritmos e timbres que fazem dele um dos mais ousados tendo como protagonista um instrumento tradicional. Xosé Manuel Budiño procura então adaptar a gaita-de-foles à era da música electrónica, servindo-se da técnica para extrair dela e de outros instrumentos um universo infinito de harmonias, melodias e ritmos. Outro objectivo de Budiño é o de dar a conhecer a música criada na Galiza, numa viagem em redor de territórios físicos e sonoros. Entre outros instrumentos, nos doze temas deste disco fazem-se ouvir as gaitas galega e irlandesa, o low whistle, o bouzouki, o baixo, o acordeão e o clarinete. Um trabalho onde participam os músicos Leandro Deltell, Xan Hernández, Pedro Pascual, Xavier Díaz e Pablo Alonso, e em que são convidados especiais José Climent, o bretão Jacky Molard, as galegas Leilía e Mercedes Peón, os escoceses Donald Shaw e Tony McManus, bem como Ove Larsson, Paco Ibáñez e William Gibbs.

"Yekanini", Shiyani Ngocobo
(África do Sul) - maskanda
Avançamos agora até à África do Sul com o tema "Yekanini" (Tudo Está Perdido), extraído do álbum "Introducing Shiyani Ngcobo", lançado em 2004. O mestre da maskanda nasceu em Umzinto, na costa sul de KwaZulu-Natal, região marcada pela pobreza e pelo êxodo urbano. Na infância, foi com o irmão mais velho que Shiyani Ngcobo construiu a sua primeira igogogo, uma guitarra feita a partir de uma lata de óleo. Fiel à estética inicial da maskanda, há mais de três décadas que o músico se dedica a este género, associando-lhe no entanto uma variedade de ritmos provenientes de outros estilos musicais. Com uma precisão elástica e um repertório diversificado, Shiyani Ngcobo dá voz aos dilemas e sonhos de uma geração de sul-africanos dos tempos do apartheid, sem no entanto cair nos seus estereótipos. A maskanda é um estilo tradicional zulu, surgido no início do século XX e associado aos trabalhadores e migrantes rurais, os quais cantavam sobre a sua nova vida na cidade e lembravam com nostalgia o passado no campo. Originalmente consistia numa técnica musical, conhecida por ukupika, que mais não era senão uma forma de adaptar ritmos tradicionais à guitarra acústica. Um género identificável pelas secções rápidas faladas ao estilo da izibongo, a poesia religiosa zulu. Na maskanda, em que subsistem reminescências dos tempos pré-coloniais, cada variante surge associada a uma comunidade regional sul-africana, diferenciando-se de acordo com os ritmos ou diferentes padrões de dança.

"Saye Mogo Bana",
Issa Bagayogo (Mali) - mandig, wassoulou, afro-electro
Uma viagem até ao Mali com Issa Bagayogo e o tema “Saye Mogo Bana”, extraído do álbum “Timbuktu”, o segundo deste cantautor e editado em 2002. Issa Bagayogo cresceu numa pequena aldeia isolada, tendo então aprendido a tocar a kamele n’goni (uma harpa de caçador, equipada com seis cordas). Nos anos 90 foi até à capital, Bamako, onde conheceu o produtor Yves Wernert e o guitarrista Moussa Kone. Juntos decidiram fundir dois géneros tradicionais da música do Mali – o mandig e o wassoulou – com o techno (no seu país, Bagayogo é mesmo conhecido por “Techno-Issa”). O resultado é um género chamado de afro-electro. As sonoridades griot e as velhas melodias do deserto cruzam-se então com a dub e com a música electrónica de dança. Um híbrido entre sons tradicionais e electrónicos que abre novas fronteiras às centenárias raízes Wassulu do sudoeste do Mali. O nome escolhido para este trabalho presta homenagem à cidade maliana que outrora integrou a rota de caravanas que atravessava o Saára e que foi um importante centro de expansão do Islão. Nas letras deste disco, Issa Bagayogo deixa mesmo clara a esperança de que Timbuktu, capital intelectual e espiritual no final da dinastia Mandingo Askia (século XVI) seja uma cidade multi-étnica, onde muçulmanos, cristãos e vários grupos étnicos do Mali consigam viver em tranquilidade. Acompanhado por um coro feminino, Issa Bagayogo aborda assuntos como a comunidade, o casamento, a tolerância racial, a globalização e a toxicodependência. No tema que escutámos, a morte é a principal referência. Uma canção antiga, à mistura com percussão e cordas eléctricas, onde se recorda que "a morte leva-nos a carne mas não o nome”…

"Sahara Neb Gija", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music
Os sons deste planeta musical continuam com o tema “El Wedja”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Maname Diname", Cheb I Sabbah (Argélia, EUA) - hindustani music
A viagem prossegue com Cheb I Sabbah, que nos traz "Maname Diname", tema extraído do álbum "Krishna Lila", lançado em 2002. Terceiro trabalho deste DJ argelino de ascendência judaica, que deixou o seu país na década de 60 e actualmente vive em São Francisco, nos Estados Unidos. Chebijii, nome pelo qual Cheb I Sabbah gosta de ser tratado, passou várias décadas a reunir sons nativos de Marraquexe, Nova Iorque e Nova Deli, sendo um grande apreciador e estudioso da música clássica hindu. Tal como acontece noutras religiões, no hinduísmo o canto é considerado uma prática de fé que permite uma aproximação com Deus. "Krishna Lila" é precisamente uma recolha de nove bhajans (canções de devoção) que para além de serem acompanhadas por instrumentos tradicionais hindus como a tabla, são misturados com ritmos de dança e batidas electrónicas. Neste álbum mais introspectivo, gravado em cinco dialectos hindus, Chebijii conta com a participação de Karsh Kale e Bill Laswell. Grande parte do disco baseia-se nas tradições da folk clássica indiana, com predominância da cítara de Ravi Shankar ou Ashwin Batish, e nos ritmos da tabla do Médio Oriente, em que têm especial influência percussionistas como Zakir Hussain. Mesmo não sendo indiano, Cheb I Sabbah é um dos maiores representantes do chamado asian underground, um movimento de artistas com origem étnica na Índia e Paquistão que vivem em grandes cidades do ocidente como Londres, Paris, Nova Iorque e São Francisco, e que fundem a sua cultura original com influências ocidentais e elementos electrónicos.

"l'Orient Est Rouge", Koçani Orkestar
(Macedónia) & Lightning Head (Reino Unido) - gypsy brass band, gypsy oriental music
A fechar o programa, despedimo-nos com a Koçani Orkestar, que nos traz o tema "L'Orient Est Rouge". Uma versão remisturada por Lightning Head e extraída da colectânea "Electric Gypsyland", editada no ano passado. Originários da cidade macedónia do mesmo nome, os Koçani Orkestar são uma das mais conhecidas fanfarras ciganas daquele país (na Macedónia estes agrupamentos são conhecidos por duvaçki orkestar), bandas criadas originalmente século XIX para imitar as fanfarras militares turcas, e que acabariam por substituir os tradicionais ensembles. Liderada pelo trompetista Naat Veliov e com um repertório simultaneamente tradicional e contemporâneo, a Koçani Orkestar mistura o som das fanfarras com ritmos de dança turcos e búlgaros e melodias ciganas dos Balcãs. O resultado é uma frenética festa sonora, bem ao estilo de um género descrito localmente como romska orientalna musika (música cigana oriental), e composta por uma poderosa secção rítmica, encabeçada por quatro tubas e acompanhada pelo saxofone, pela trompete, pelo clarinete e pelo acordeão. Com a sua crescente projecção mundial, o ritmo da música cigana dos Balcãs acabou por chamar a atenção de produtores de música electrónica como Lightning Head, nome artístico do inglês Glyn "Bigga" Bush. Tornar a música sensual é o objectivo deste DJ, habituado a misturar ritmos da música brasileira, como o samba e a batucada, com géneros jamaicanos como o reggae, a dub, o ska, o rocksteady e a ragga, ou mesmo o boogaloo e a salsa. Energia e sensualidade estão assim combinadas neste “oriente vestido de vermelho”…

Jorge Costa

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Entrelaços: o reduto da música tradicional

Na sua sétima edição, o Entrelaços é um dos poucos redutos regulares de música do mundo na Beira Interior. O fraco orçamento levou a que este ano a aposta se limitasse aos grupos portugueses e à tradicional prata da casa. Memos assim, houve revelações: os CoMcORdAs, trio de cordas de Alcains que funde o swing com o jazz e a música cigana, e os bem dispostos Mu, banda folk inspirada nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo.


A música e a dança dos Mu animaram o Entrelaços
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

De regresso do Cine-Teatro Avenida, o Entrelaços – Festival Internacional de Música Tradicional de Castelo Branco continua a ser um dos poucos redutos regulares de música do mundo na Beira Interior. De resto, na região quase só há a recordar a tímida mas ousada experiência do Ethnicu, o Festival Internacional de Música Étnica da Beira Interior, então integrado na semana académica da Covilhã, e que entre 1999 e 2003 varreu vários quadrantes das músicas do mundo, englobando ainda a exibição de documentários bem como a realização de ateliês e exposições sobre a música tradicional. No entanto, nem tudo são reminiscências. Este ano surgiu no Sabugal o Festival de Música Tradicional do Alto-Côa, sinal de que na Beira Interior existe gente com vontade de apostar na área.

O orçamento disponível não permitiu grandes voos à organização do Entrelaços, que este ano se ficou pelos grupos portugueses e pela já habitual prata da casa. Mesmo assim, houve lugar a duas revelações: os CoMcORdAs, trio de cordas de Alcains que funde o swing com o jazz e a música cigana, e os sempre bem dispostos Mu, banda de folk que se inspirou nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo.

O evento arrancou a 14 de Outubro com a Orquestra de Harmónicas de Ponte de Sôr e com a música irlandesa, galega e portuguesa dos Lumen. A luz fez-se uma semana depois, a 21 de Outubro, com a subida ao palco dos CoMcORdAs e dos portuenses Mu. A encerrar o festival, a 28 de Outubro, estiveram a Orquestra Típica Albicastrense e a música popular dos Musicalbi, estes últimos anfitriões do certame.


No entender de Carlos Salvado, o festival é uma aposta ganha
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

Carlos Salvado, da organização, reconhece as alterações feitas ao formato original do festival, uma ponte de criação de laços de amizade, inaugurada em 2000. No entanto, e apesar da programação ter de seguir à risca a linha permitida pelo orçamento, este acredita que o festival encontrou a sua identidade e o seu público. “A qualidade dos grupos é notória e tem vindo a subir”, explica o porta-voz dos Musicalbi. “Felizmente que temos tido cada vez mais a adesão do público”.

Dar a conhecer a música do planeta é o objectivo deste festival. "Queremos mostrar às pessoas um pouco da cultura musical que se faz no mundo. Se pudermos fazer isso com grupos portugueses, fica-nos mais barato”, confessa Carlos Salvado. “Logicamente que gostaríamos de ter aqui músicos dos mais variados sítios, mas felizmente que em Portugal vamos tendo grupos que representam muito bem este género, só que ainda são totalmente desconhecidos pelo público".

O evento começou por se posicionar no âmbito da música tradicional, mas quer abrir as portas a novas tendências, em particular àquelas onde a folk se mistura com outras paragens sonoras. “O Entrelaços começa a ter uma abertura tão grande no mercado nacional, que já são os próprios grupos que fazem questão de vir tocar a este festival”, refere o mesmo responsável, que em 2007 espera que os apoios institucionais – o da autarquia e o da junta de freguesia – se mantenham. O desafio, esse é o mesmo: o de melhorar a qualidade do evento para que este continue por muitos anos.


Os discípulos de Django Reinhardt
Os
CoMcORdAs, que como o próprio nome indica se trata de uma formação de cordas, são o mais recente rebento dos Ventos da Líria, um grupo de música celta irlandesa de Alcains. O nome não podia ser mais apropriado, visto que os três músicos que o integram tocam duas guitarras e um baixo.

Gil Duarte (guitarra ritmo), António Preto (guitarra solo) e Gonçalo Rafael (baixo acústico), que já faziam parte da primeira banda, fundem então o swing com o jazz e a música cigana e levam-nos numa viagem acústica pelo reportório de Django Reinhardt, pioneiro do jazz manouche, género que nas décadas de 1930 e 1940 introduziu a guitarra e a música cigana no jazz e nas big bands europeias. “Começámos a brincar com um CD manouche, que achámos muito giro, e vimos que poderíamos fazer um grupo diferente, porque é um estilo de música pouco usual”, refere Gil Duarte.


Gil Duarte acredita que o grupo está no bom caminho
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

Inicialmente, a ideia do grupo era a de participar apenas com três ou quatro temas num ciclo anual de cinema em Alcains, mas o rumo depressa se alterou. “Fomo-nos entusiasmando e arranjando mais temas”, conta o guitarrista. “Em pouco mais de um mês conseguimos arranjar os doze temas que estreámos nesse dia".

Os CoMcORdAs estrearam-se em Julho do ano passado, mas entretanto já estiveram no Outonalidades, da associação D'Orpheu, em Évora, e no festival Etnias, no Contagiarte, no Porto. Um sinal claro da boa aceitação do grupo, que entretanto tem vindo a expandir as suas actuações. “Em Castelo Branco, por exemplo, estamos a ser solicitados para tocar nos bares, e é bom termos os dois grupos diferentes, podermos ir com um e no outro dia com o outro”, acrescenta Gil Duarte. “Cremos que estamos no bom caminho e que temos um público, tanto nos Ventos da Líria, como nos Comcordas, ao qual agradam os nossos espectáculos”.

A amadurecerem ainda o seu novo formato musical, os CoMcORdAs não querem acelerar as coisas e preferem antes cimentar ainda mais a formação. Para já, na calha está a intenção de introduzirem outro tipo de instrumentos no grupo, mais ao nível da percussão.

VÍDEO...↓
Entrevista CoMcORdAs + tema ao vivo “Les Nababe”


Folk roufenha Made in Porto
Os portuenses
Mu são uma jovem banda folk cuja alegria não deixa ninguém indiferente. Criados em 2003, eles inspiraram-se nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo. “Estamos abertos a todo o planeta, mas o nosso ponto de partida é a Europa”, refere Hugo Osga, dos Mu. Os ritmos e vozes tradicionais servem então de referência a este grupo que procura reinventar sobretudo danças balcânicas e eslavas – “muito graças à nossa acordeonista Sophie, que viveu algum tempo na Roménia”, explica o jovem – mas em cuja palete sonora não faltam também os sons ciganos, bretões, irlandeses ou mesmo africanos. ”Os instrumentos é que lhe vão dar uma nova roupagem musical, que depois ao ouvinte pode parecer mais árabe ou asiático”.


Hugo Osga, dos Mu, reclama por uma maior divulgação musical
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

Os Mu nasceram num bar numa jam session surgida a partir do ‘diálogo’ casual entre o didgeridoo de Hugo Osga e a tabla de Nuno Encarnação. ”A primeira vez que tocámos juntos nem nos conhecíamos”, lembra o multi-instrumentista do grupo. “Havia um DJ que punha música e nós improvisávamos. Fizemos uma brincadeira chamada World Beat Sessions, e às terças-feiras lá estávamos”. Surge então o nome da banda que, de acordo com Hugo Osga, se refere a “um caracter chinês que representa um portão, e quando este é atravessado, não se sabe bem onde está o lado de dentro e o lado de fora”. Entretanto, os dois músicos começaram a tocar noutros bares e sítios, até que novos elementos integram a formação.

Surgem então outros caminhos sonoros, que irão influenciar as composições dos Mu. Uma banda jovial, de estilo “roufenho, nómada e circense", conforme já lhes chamaram, e que tem feito sucesso em festivais como o Andanças, em S. Pedro do Sul, o Intercéltico de Sendim, ou o Danzas sin Fronteras, em Espanha. “Se cá dentro não tiveres nada para dar, de que serve um instrumento e a música?”, questiona-se Hugo Osga, lembrando o convívio que se vive dentro do grupo. Já na sua quarta formação, este integra ainda os músicos Diana Azevedo, Sophie Kalisz, Sérgio Calisto e Sara Barbosa, contando ainda com a colaboração da acordeonista Dulce Cruz. “É uma alegria brutal tocarmos juntos”, conclui o músico portuense, que para trás deixou sonoridades mais contemporâneas. “Eu fui baterista imensos anos, e há aqui malta que tocou guitarra eléctrica, mas para a expressão musical que queremos transmitir, estes são os instrumentos ideais”.

Como referências musicais para o seu projecto, os Mu citam os nomes dos Gaiteiros de Lisboa (“um dos grandes projectos de música tradicional portuguesa”, diz Hugo Osga), Dazkarieh (“apesar das muitas transformações que têm tido ao longo da carreira, continuam actualíssimos”) e os Uxu Kalhos (que no seu entender “têm uma abordagem radical à música tradicional portuguesa”). Entre as influências assumidas constam ainda a Fanfare Ciocărlia, os Hedningarna, os L’Ham de Foc, La Musgaña, Taraf de Haïdouks e os portugueses Galandum Galundaina. Em 2005 surgia finalmente o primeiro álbum do grupo: “Mundanças”. O título deste trabalho, em que também participam os Dazkarieh, mais não é do que um trocadilho de palavras que descreve na perfeição o mundo em mutação e recheado de alegria e dança em que os Mu estão mergulhados.

No entanto, nem tudo são rosas. “Em Portugal, há uma carência brutal na divulgação”, avisa o jovem, lamentando a fraca expressão da música do mundo nos meios de comunicação portugueses. “Para saber o que se está a passar, tenho de estar atento à Internet. Não há um programa na televisão, só o Top Mais. E o Blitz, jornal que até tinha alguma coisa, transformou-se numa revista e não sai nada acerca da world music, confessa Hugo Osga. Mas as coisas estão a mudar, e são cada vez mais os grupos de folk e os eventos dedicados ao género. “Hoje em dia há imensos festivais e isso contribui muito para a formação de públicos”, acrescenta o jovem, dando como exemplos o Festival de Músicas do Mundo de Sines, o Andanças (“que é um pouco o berço dos Mu”) ou o Intercéltico de Sendim. No entanto, este apela a um aumento da dinâmica e dos curiosos e interessados por esta área. “Enquanto músico folk e divulgador da música tradicional gostava que houvesse muito mais gente, porque é na world music que está a raiz da nossa existência”.

VÍDEO...↓
Entrevista Mu + tema ao vivo “Nupcial Croata”

Jorge Costa







Os CoMcORdAs foram a grande surpresa do Entrelaços
(imagens: Jorge Costa/Multipistas)











A folk descontraída e animada dos Mu conquistou o público

(imagens: Jorge Costa/Multpistas)

terça-feira, 31 de outubro de 2006

World Music Charts Europe - Novembro 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Novembro dos 171 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a manutenção da liderança pelo segundo mês consecutivo e as onze novas entradas no topo do painel: oito em estreia absoluta no WMCE e três a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar

2º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 27ºlugar
3º- PASJA LEGENDA, Brina (Eslovénia) - DruGod
mês passado: 6ºlugar
4º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 42ºlugar
5º- BREATH, Mercan Dede (Turquia, Canadá) - Doublemoon
mês passado: 4ºlugar
6º- BOOM PAM, Boom Pam (Israel) - Essay Recordings
mês passado: 10ºlugar
7º- GOLDEN AFRIQUE VOL. 3, vários - Network Medien
mês passado: 2ºlugar

8º- SHTETL SUPERSTARS, vários - Trikont
estreia na tabela
9º- ALMINARES MEDITERRANEOS, Caravasar (Espanha) - Resistencia
estreia na tabela
10º- MUSIQUES METISSES, vários - Marabi
mês passado: 3ºlugar

11º- IDJAGIEĐAS, Mari Boine (Noruega) - Emarcy (Universal)
mês passado: 5ºlugar

12º- EOLH, Almasala (Espanha) - Ventilador
estreia na tabela
13º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
estreia na tabela
14º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica
estreia na tabela
15º- DA QUESTA PARTE DEL MARE, Gianmaria Testa (Itália) - Harmonia Mundi
estreia na tabela
16º- RIMFAXE, Gjallarhorn (Finlândia, Suécia) - Vindauga/Westpark
mês passado: 11ºlugar
17º- ABACABOK, Tartit (Mali) - Crammed

mês passado: 107ºlugar
18º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
estreia na tabela

19º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 15ºlugar

20º- EL EVANGELIO SEGUN MI JARDINERO, Martin Buscaglia (Uruguai) - Love Monk
estreia na tabela

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Emissão #29 - 28 Outubro 2006

A 29ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 28 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 30 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (18 e 20 de Novembro) nos horários atrás indicados.

"Breaking The Ethers/Serengeti", Tuatara
(EUA) - funk, jazz, rock, lounge
A abrir a emissão os Tuatara com o tema "Breaking The Ethers/Serengeti", extraído do seu primeiro álbum "Breaking The Ethers", lançado em 2001. Um trabalho instrumental que foi bem acolhido pela crítica devido à sua originalidade e expressão musical. Nele são reunidas várias jam sessions em que o quarteto utiliza instrumentos exóticos como o didgeridoo, os tambores de aço, as percussões africanas, o bandolim e o alaúde. O disco abre com sons étnicos que rapidamente ganham ritmo e percussão. Esta banda experimental mistura referências como o rock, o bebop, o jazz, o funky ou o lounge, criando um som em que extravasa a diversão e que se tornou conhecido sobretudo pela sua utilização em bandas sonoras para cinema e televisão. Entretanto os Tuatara têm vindo a cruzar a instrumentação ao vivo com as misturas electrónicas de vários DJ's. Este colectivo de compositores norte-americanos nasceu em Seattle, em 1997. Integram o grupo Barrett Martin (ex-percussionista dos Screaming Trees), Mad Season, Steve Berlin (dos Los Lobos), Justin Harwood (antigo baixista dos Luna), Scott McCaugghey, Peter Buck (ambos dos REM) e Skerik (lendário saxofonista de Seattle). A título de curiosidade, a tuatara - nome que em maori significa "dorso espinhoso" - é um réptil da Nova Zelândia, praticamente extinto, e que pouco mudou nos últimos 220 milhões de anos.

"Baline",
Urban Trad (Bélgica) - techno folk
As músicas do mundo prosseguem com os belgas Urban Trad e o tema "Baline", extraído do seu trabalho de estreia "One O Four", editado em 2001. Como o próprio nome indica, os Urban Trad combinam a melhor música tradicional com ritmos modernos, criando uma folk urbana, influenciada por um ambiente techno. O projecto arrancou em 2000, quando Yves Barbieux, compositor da banda Coïncidence, decidiu reunir uma vintena de artistas da cena tradicional belga para misturar música celta com sons urbanos. Se inicialmente se tratava de conceber um primeiro álbum, o êxito alcançado encorajou o autor a juntar outros músicos aos Urban Trad. O momento alto da carreira da banda aconteceria no Festival Eurovisão da Canção de 2003, na Letónia. Os oito elementos do grupo conquistaram então um segundo lugar e o grande público com uma canção interpretada num idioma imaginário e que levou pela primeira vez o timbre da gaita-de-foles para a Eurovisão. Volvidos três álbuns, o repertório dos Urban Trad passou a abranger, para além da música celta, a Escandinávia, a França, a Espanha e os países de Leste. Um grupo de inspiração tradicional, mas ancorado no presente, já que acompanha instrumentos acústicos como o acordeão, o violino e a flauta com o canto e uma secção rítmica cheia de energia e musicalidade.

"Fume de Lume", Xosé Manuel Budiño
(Espanha) - folk, celtic music
O galego Xosé Manuel Budiño com "Fume de Lume", tema extraído do seu segundo álbum "Arredor", lançado em 2000. Um trabalho eclético e vanguardista, em que este jovem de Moaña - localidade com grande tradição gaiteira, situada junto a Pontevedra - pretendeu dar um salto definitivo na sua carreira artística. O álbum aproxima-se de géneros como o funky, o drum'n'bass, o rock, a new age e a folk, numa panóplia de ritmos e timbres que fazem dele um dos mais ousados tendo como protagonista um instrumento tradicional. Xosé Manuel Budiño procura então adaptar a gaita-de-foles à era da música electrónica, servindo-se da técnica para extrair dela e de outros instrumentos um universo infinito de harmonias, melodias e ritmos. Outro objectivo de Budiño é o de dar a conhecer a música criada na Galiza, numa viagem em redor de territórios físicos e sonoros. Entre outros instrumentos, nos doze temas deste disco fazem-se ouvir as gaitas galega e irlandesa, o low whistle, o bouzouki, o baixo, o acordeão e o clarinete. Um trabalho onde participam os músicos Leandro Deltell, Xan Hernández, Pedro Pascual, Xavier Díaz e Pablo Alonso, e em que são convidados especiais José Climent, o bretão Jacky Molard, as galegas Leilía e Mercedes Peón, os escoceses Donald Shaw e Tony McManus, bem como Ove Larsson, Paco Ibáñez e William Gibbs.

"Kova", Kimmo Pohjonen (Finlândia) - folk-rock, electronic folk
A viagem prossegue com o finlandês Kimmo Pohjonen e o tema “Kova”, retirado do álbum “Kielo”, lançado em 1999. Uma série de peças a solo, algumas delas acústicas, outras manipuladas, que estabeleceram um novo parâmetro para a nova avant garde. Com uma carreira de vinte anos, repartida entre a folk, a música clássica e o rock, o músico e compositor Kimmo Pohjonen mistura de forma única o acordeão com amostras de som e percussões, levando-o para universos como a dança contemporânea ou o teatro musical. Pohjonen, que nasceu na aldeia de Viiala, começou a tocar acordeão aos oito anos por influência do pai. Na Academia Sibelius, em Helsínquia, foi encorajado a absorver a folk e a misturá-la com outros estilos. Para expandir a sonoridade do fole diatónico, em 1996 Kimmo apresentou-se em palco com um acordeão cromático e com composições originais que integravam samples e loops do islandês Samuli Kosminen, com quem viria a formar o duo Kluster. Mais tarde, a eles juntaram-se Pat Mastrelotto e Trey Jun, dando lugar ao quarteto Kluster TU. Entretanto, Pohjonen tem vindo a colaborar com músicos finlandeses como Heikki Leitinen, Maria Kalaniemi, Alanko Saatio ou Arto Järvellä, integrando ainda os grupos de new folk Pinnin Pojat e Ottopasuuna. Apesar dos mais de 13 quilos do acordeão, em palco Pohjonen movimenta-se de forma enérgica, extraindo de forma electrónica camadas de som a que por vezes adiciona a própria voz. Actualmente mais voltado para o formato acústico, Kimmo Pohjonen mantém no entanto como base as raízes e os cantos populares da Finlândia, tocando com primazia outros tipos de acordeão, harmónica e ainda a marimba. Tradição e improviso estão assim unidos, numa busca de novos sons através da música experimental e electrónica.

"Halla",Värttinä
(Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A jornada musical continua com as Värttinä e o tema “Halla”, extraído do seu sexto álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebrou o seu 23ºaniversário, trouxe-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"M'Bifo",Rokia Traoré (Mali) - malian contemporary music
Segue-se Rokia Traoré com o tema “M’Bifo”, extraído do álbum “Bowmboï”, editado em 2003. Neste seu terceiro álbum, a mais jovem diva do Mali dá uma expressão moderna aos instrumentos tradicionais africanos que habitualmente não surgem juntos, combinando o n’goni com a balaba (grande balafon da região de Beledougou, a terra natal de Rokia) e inovando nas estruturas rítmicas e melódicas da música de raízes étnicas da África Ocidental. Filha de um diplomata maliano, Rokia Traoré construiu a sua carreira em França antes de regressar ao seu país. Mesmo não sendo uma griot – ela pertence ao grupo étnico Bamana, a maioria dos Bambara – ela decidiu escolher o canto como carreira. Durante a adolescência integraria várias bandas, até que em 1996, aos 22 anos, resolveu encarar a música de forma profissional. A voz de Rokia Traoré não possui a força de Oumou Sangare ou a profundidade de Kandia Kouyate, mas é delicada e intensa, apresentando-se cheia de nostalgia e de esperança. Co-produzido por Rokia e Thomas Weill, este disco escapa aos estereótipos com que por vezes o ocidente olha para a música africana. Os dez temas foram compostos em bamana, a língua nativa de Rokia Traoré. Nas músicas, onde esta canta a solo ou lado a lado com Ousmane Sacko e Charlotte Dipanda, Rokia Traoré fala sobre a infância, as fragilidades dos relacionamentos, os direitos das mulheres, a pobreza, a discriminação racial ou a vida diária no Mali. Grande parte do trabalho foi gravado naquele país, à excepção dos dois temas em que participa o grupo de cordas Kronos Quartet, os quais foram registados em São Francisco.

"Dery", Salif Keita
(Mali) - afropop, mandingo
A jornada prossegue com Salif Keita e o tema “Dery”, extraído do álbum “M’Bemba”, editado no ano passado. Exímio guitarrista, Salif Keita começou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Um longo percurso que teve como pontos altos a passagem por Abdijan, Nova Iorque e Paris. Mas foram precisos trinta e cinco anos até que Salif Keita pudesse gravar um disco no seu país, o Mali. No álbum “M’Bemba” (Antepassado), este conta com a colaboração de músicos como Mama Sissoko na luth n’goni, ou Toumani Diabaté na kora, duas guitarras tradicionais do Mali. Um trabalho onde Salif Keita invoca a memória do seu glorioso antecessor, o imperador Soundiata Keita, fundador do império Mandingue no século XII. Neste disco, Salif Keita abandona um estilo orientado para a pop, antecipando o renascimento da música tradicional mandingo e dos seus principais instrumentos, como a n’goni (espécie de guitarra mourisca), o balafon (xilofone ancestral) ou o calabash (instrumento de percussão). A voz de ouro do Mali cruza então sonoridades como o rock, o jazz, a soul, a chanson française ou os ritmos afro-cubanos, influências acústicas com que o músico inaugurou o conceito de afropop.

"No Agreement", Fela Kuti (Nigéria) - afrobeat
A fechar o programa, despedimo-nos com Res, Tony Allen, Ray Lema, Baaba Maa, Positive Black Soul e Archie Shepp. Todos eles se juntam no tema “No Agreement”, parte integrante do álbum "Red Hot +: The Music and Spirit of Fela Kuti”, um tributo gravado em 2002 pela Red Hot com o objectivo de angariar dinheiro para os 25 milhões de africanos infectados com o HIV. São novas versões das músicas de Fela Kuti, aqui interpretadas por quase quarenta grupos e artistas, que as resgataram do passado e remisturaram de acordo com o seu estilo. Praticamente irreconhecíveis em relação aos originais, estes temas cobrem um vasto especto musical que passa pelo hip-hop, jazz, soul, afrobeat, world music, electronic e rock. Percursor da afrobeat e considerado o maior nome da música africana, Fela Kuti transformou-se num ícone da luta contra a sida em África ao ter morrido em 1997 devido a complicações relacionadas com a doença. Algo irónico tendo em conta que o músico nigeriano acreditara durante muito tempo que a sida não existia.


Jorge Costa