segunda-feira, 22 de maio de 2006

Emissão #10 - 27 Maio 2006

A décima emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 27 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 29 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

"Lovers Of Light", Afro Celt Sound System (Reino Unido) - afro-celt rock, world pop music
Os futuristas Afro-Celt Sound System trazem-nos um tema extraído do álbum “Release”, lançado em 1999. Neste seu segundo trabalho, a banda mistura a harpa, a kora, a tama, o bodhrán, o djembee, o tin whistle e a guitarra com vozes gaélicas e africanas, colocando-os num contexto pan-europeu. E é precisamente neste disco que os Afro Celt Sound System afirmam pela primeira vez o seu estilo único, enraizado em antigas tradições musicais mas às quais acrescentam sons e batidas futuristas. Exemplo disso, o tema “Lovers Of Light” actualiza o conceito do reel (o mais comum e rápido tipo de melodia celta) sem perder o espírito de pioneiros deste género musical como The Bothy Band e Moving Hearts. Os Afro Celt Sound System, que em 2003 encurtaram o nome para “Afro Celts” até acabarem por readquirir a anterior designação, criaram um mundo musical onde vozes africanas, irlandesas e escocesas se misturam com a estrutura da pop, a força do rock e a euforia da dança, combinando outros géneros modernos como o trip-hop e o techno com a energia e a alegria dos ritmos celtas, africanos, marroquinos e do leste da Europa. É desta forma que os nómadas Afro-Celt Sound System, um dos mais inovadores e ecléticos grupos dos anos 90, dão sentido à expressão world pop music.

"Olla Meu Irmau",
Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk
Viagem até à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea. Os galegos Luar Na Lubre, naturais da Corunha, trazem-nos um tema extraído do seu último álbum “Saudade”, editado em 2005. Este grupo, com nove trabalhos editados, defende a cultura, a tradição e a música galegas, sem deixar de integrar no seu processo criativo as influências externas. Os Luar Na Lubre são uma presença constante em muitos festivais em Espanha e na Europa, mas a sua aposta centra-se agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste seu último trabalho, os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há ano e meio, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Está assim consolidada a intenção do grupo em sublinhar a influência portuguesa para melhor definir a sua identidade galega, neste Portugal além-Minho. Um álbum onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas. “Saudade” é uma homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a sua cultura sem deixar de parte as suas raízes celtas. Divididos entre o território celta e a folk festiva, neste trabalho os Luar na Lubre resgatam poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade.

"Sodade", Cesária Évora (Cabo Verde) e Eleftheria Arvanitaki (Grécia) - morna, coladera
Cesária Évora em dueto com Eleftheria Arvanitaki, num tema extraído do álbum “Cesária Évora – Best Of”, editado em 1999. Esta versão da melodia escrita pelo poeta Teófilo Chantre foi gravada ao vivo em Atenas e adaptada para o grego por Mihalis Ganas. A famosa cantora cabo-verdiana, nascida no Mindelo e apelidada de diva dos pés descalços – visto que se apresenta assim em palco num gesto de solidariedade com os sem abrigo do seu país – mistura a melancólica morna, profunda em sentimentos e descendente do fado cantado em crioulo, com sons acústicos de violão, do cavaquinho, do violino, do acordeão e do clarinete. Uma espécie de blues cabo-verdiano, onde Cesária Évora fala da amarga história de isolamento do país, do comércio de escravos e da emigração – a maior parte dos cabo-verdianos vivem na diáspora. Algo que se combina na perfeição com os versos da grega Eleftheria Arvanitak, os quais falam de amor, da amizade e dos sonhos. Eleftheria (nome que em grego quer dizer liberdade), tenta aproximar-se às suas raízes, enveredando por novas experiências acústicas. À semelhança de muitos jovens que começaram a tocar guitarra, a sua entrada na música deu-se por casualidade quando a juventude grega começou a descobrir os sons tradicionais do seu país, juntamente com a influência ocidental do rock.

"Sabolan", Ba Cissoko (Guiné-Bissau) - kora music
Os Ba Cissoko trazem-nos um tema extraído do álbum do mesmo nome, um trabalho incandescente, produzido pelo músico eclético Malagasy Tao Ravao. Os Ba Cissoko são quatro jovens guineenses de ascenção griot - os conhecidos contadores de histórias que imemorialmente percorrem a savana africana para transmitirem ao povo a sua história. Eles treinaram em Conacri, na Guiné, com o mestre da kora M’bady Kouyate, e vivem actualmente na cidade francesa de Marselha, tendo tocado em inúmeros espectáculos e festivais. Comparada aos sucessos pioneiros de Mory Kanté, a sua música mistura bonitas canções da era de ouro da cultura mandingo com sons únicos urbanos, cáusticos e cheios de groove. A formação instrumental dos Ba Cissoko consiste em duas koras, um tocador de baixo e um percussionista.

"Ya Man", Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Atrás os Balkan Beat Box e o tema “Ya Man”, extraído do seu álbum de estreia, editado em 2005. Uma mistura enérgica e ousada de melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs e Europa de Leste, de letras bizarras e de batidas electrónicas. A banda, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. E assim eles juntam a música electrónica e os sons tradicionais dos Balcãs, bem como o hip-hop e as sonoridades do norte de África e do Médio Oriente. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.

"Behind De Mi House", Polvorosa (Chile, Alemanha) - elektrolatino, latin groove
Os Polvorosa apresentam-nos o tema “Behind de Mi House”, extraído do álbum “Radical Car Dance”. Para Daniel Puente o idioma nunca foi um obstáculo. E é por isso que desde que chegou à Alemanha que o músico chileno se encarregou de dar destaque às suas raízes latinas: primeiro com o grupo “Niños con Bombas”, o qual se dissolveu em 1999; e mais tarde, de novo em Hamburgo, com os “Polvorosa”, banda que formou juntamente com os alemães Trillian e Norman Jankowski. Este trio multicultural, residente em Barcelona, mistura a pop, o rock alternativo, a música electrónica e o latin groove para dar vida ao que chamam de elektrolatino. Para além dos ritmos baseados na tradição e nas raízes latinas, neste álbum eclético os Polvorosa não esquecem o funk, o hip hop e o pop-rock alternativo.

"Latin Geisha", Illya Kuryaki & The Valderramas (México) - funk, kuryaki music
Os Illya Kuryaki & The Valderramas apresentaram-nos o tema “Latin Geisha”, extraído do álbum “Leche”, gravado em Buenos Aires. Em 1991, quando nenhum grupo latino-americano tinha pensado criar uma música e fazer um rap com ela, eis que surge o duo de rapper's Dante Spinetta e Emmanuel Horvilleur, uma carreira comum que se prolongaria por dez anos. Preocupados em romper tradições, eles começaram por embarcar no rap e no acid jazz, criando letras irónicas e melodias inesquecíveis. Posteriormente inclinar-se-iam também para a soul e para o funk. Em 1987, quando tinham 11 e 12 anos, Dante Spinetta e Emmanuel Horvilleur decidem formar com os seus três irmãos mais pequenos os Pechugo, uma versão roqueira dos Menudo. Mais tarde, afastam-se e formam então os Illya Kuryaki & The Valderramas. O álbum “Leche”, editado em 1999 e que vendeu 30 mil cópias no México, é um disco feito de música negra, calentura funk e baladas kuryaki. São canções transpiradas, com muito sexo e muita carne, num trabalho em que contaram com a colaboração do mítico Bootsie Collins, baixista dos Funkadelic, de Tom Russo e de Tom Tucker. Quando se pensa no rock sul-americano dos anos 90, há nomes que nunca se poderão esquecer. E um deles é o dos Illya Kuryaki & The Valderramas.

"W Boru Kalinka (In The Forest)", Warsaw Village Band (Polónia) - new folk
A melhor música do mundo vem agora da Polónia com os Warsaw Village Band, e o tema “W Boru Kalinka” (Na Floresta), extraído do álbum “Uprooting”, editado em 2004. Um exemplo da herança musical polaca, feita de vozes selvagens e de timbres crus, mas orientadas para a modernidade com o dub, a trance e o reggae. Aqui a experimentação não é uma restauração das componentes rítmicas e melódicas do passado, mas antes um itinerário estilístico a que alguns críticos chamaram de new folk. A Warsaw Village Band foi fundada em 1997 por seis jovens que tocavam violino, suka (violino polaco do século XVI), violoncelo e vários instrumentos de percussão. O seu reportório consiste em melodias de dança folk, baladas e canções rurais, dando-lhes uma estética mais moderna. O resultado é um novo estilo de música chamado de bio-techno ou mesmo hip-hopsasa (o que em polaco quer dizer “vamos dançar”). Algo que também pode ser descrito como hard'cora of obora (hard-core da vacaria). Os Warsaw Village Band foram já galardoados em muitos festivais folk na Polónia, tendo ganho em 2004 o BBC Radio 3 World Music Award na categoria de revelação. Para além da música, eles preocupam-se em rebuscar as raízes polacas condenadas ao esquecimento e que podem enriquecer a cultura contemporânea. A sua paixão é viajar até pequenas aldeias e visitar velhos músicos para os ouvirem falar sobre as suas tradições e costumes, principal inspiração para o seu trabalho, que pretende apresentar-se aos jovens como uma alternativa à cultura de massas.

"Køb Bananer", Kim Larsen
(Dinamarca) - danish rock, folk
Kim Larsen dá-nos a conhecer o divertido “Køb Bananer”, um tema extraído do álbum “Kim I Circus”, gravado ao vivo em 1985. Este músico dinamarquês nasceu em 1945 em Copenhaga, sendo um dos mais populares do seu país. Inspirado pelos Beatles e pelo rock’n’roll, Kim Larsen começou a compor e a tocar guitarra. Em 1969 conhece Franz Beckerlee e Willi Jønsson, com quem funda os Gasolin, agrupamento a que mais tarde se juntaria o percussionista Søren Berlev, tornando-se numa das mais conhecidas bandas de rock da Dinamarca, a qual desapareceria no final dos anos 70. Em 1986 o músico funda a banda Kim Larsen & Bellami, com a qual lança quatro trabalhos até esta desaparecer em 1992. Em 1995 muda-se para Odense, a terceira maior cidade dinamarquesa, alcançando novos sucessos com a sua nova banda Kim Larsen & Kjukken e o produtor sueco Max Lorentz. Nos anos 70, fruto das influências anglo-saxónicas, os géneros populares da música dinamarquesa começam a divergir. Muitos músicos de rock adoptam então composições que reflectem de forma mais realista os ideais e a realidade social da Dinamarca. Foi esse o caso dos Gasolin, que deram à música dinamarquesa um ritmo e lhe devolveram a sua língua nativa. Desde os anos 80 que Kim Larsen lançou vários álbuns a solo e que tiveram grande sucesso. Ao todo, estes representam cerca de 3 milhões de discos. Um feito extraordinário, já que a actual população dinamarquesa ronda os 5,4 milhões de habitantes.

"Herr Rossi Sucht Das Glück (Beach Barbecue Mix)", Die Moulinettes
(Alemanha) - pop
Despedimo-nos com os Moulinettes e a versão beach barbecue do tema “Herr Rossi Sucht Das Glück”, um dos singles mais conhecidos desta formação alemã. Claudia Kaiser, Barbara Streidl e Kiki Lorrig-Wossagk são três raparigas de Munique, cujo estilo sonoro sofisticado aconchega e acalma. O nome desta música, para a qual criaram três versões diferentes, pertence a um desenho animado famoso. Depois do seu álbum de estreia "20 Blumen" e do single "Herr Rossi Sucht Das Glück", que curiosamente foi um grande êxito no Japão, as três senhoras juntaram-se a Martin Lickleder. Nas letras, para além do alemão, atrevem-se ainda pelos caminhos linguísticos do inglês e do italiano. A sua música, divertida, dançável e repleta de vozes em coro, bebe influências da pop dos anos 60. Uma boa banda sonora para as tardes e noites de verão...

Jorge Costa

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Emissão #9 - 20 Maio 2006

A nona emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 20 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 22 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

"Vargtimmen", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Viagem até à Escandinávia com os Hedningarna e o tema “Vargtimmen”. Ao longo dos anos 90, os Hedningarna estiveram na linha da frente no que toca à renovação da folk sueca. Outro dos feitos dos quatro elementos deste
grupo, formado em 1987 e que até agora editou seis álbuns mais um compilatório, foi o de terem chegado às 150 mil cópias vendidas. O álbum Trä, lançado em 1994, continua a ser um dos que maior sucesso alcançou, como o comprova a força sonora deste tema.

"Synti",
Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
Nova incursão até ao norte da Europa, desta feita com os embaixadores do suomirock. Os Värttinä, a mais conhecida banda da folk filandesa, trouxeram-nos o tema “Synti” (O pecado), trabalho extraído do álbum “Miero”, editado este ano. Com mais de vinte anos de carreira, os Värttinä são conhecidos por terem inventado um estilo baseado nas raízes rúnicas e carélicas, nos cantos femininos de várias tribos ocidentais e na poesia antiga. Da imagem do grupo fazem parte a instrumentação acústica tradicional e contemporânea, os ritmos complexos, bem como as composições e os arranjos originais. Uma palete sonora que tem vindo a crescer. Neste seu último álbum, os Värttinä exploram melodias ciganas e a música klezmer, entre outras, deixando para trás os arranjos pop.

"Sideral", Macaco (Espanha) - pop-rock latino
Dani Macaco, traz-nos o tema “Sideral”, extraído do álbum “Ingravitto”, um dos grandes êxitos sonoros da actualidade em Espanha. Um álbum que junta catorze canções para serem escutadas com os pés no chão e as mãos bem levantadas, e onde o músico conta com as colaborações dos rappers B-Negao e Caparezza, da cantora LaMari de Chambao, de Muchachito Bombo Infierno ou de Juanlu 'el canijo', ex-baterista dos Ojos de Brujo. O ambiente dos bairros antigos de Barcelona levou Dani Carbonell, o vocalista da banda “El Mono Loco”, a criar a figura do macaco louco. Depois de ter colaborado com bandas e artistas como Suicidal Tendencies, Dr. No e Amparanoia, este cria o projecto Macaco, transformando o colectivo La Hermandad Chirusca num grupo que incorpora músicos de diversas procedências. Em 2006 reaparece com Ingravitto, um álbum potente, moderno e atemporal, onde o músico presta homenagem ao sul. E se com os três anteriores trabalhos Dani Carbonell viajou por toda Europa, América do Sul e Ásia, neste seu último disco cumpre o sonho de tocar pela primera vez em África. O músico Dani Macaco guia-se pelo instinto, cruzando fronteiras e aliando os meios técnicos à criatividade e à solidariedade, numa música crítica e reivindicativa, mas não panfletária, onde se destacam as influências das cadências sincopadas do reggae, do raggamuffin e do sound-system jamaicano. Uma mestiçagem onde também estão presentes o rap, a música latina e electrónica ou a rumba catalã. E fazendo fé nas suas palavras: se uma canção não pode mudar o mundo, muitas músicas podem fazer pensar as pessoas...

"Gmbader", Kween Kahina (França, Argélia) - ragga-chaoui-oriental
As Kween Kahina e o tema “Gmbader”, extraído do álbum do mesmo nome e que integra o célebre “Barcelona Raval Sessions”, editado em 2005. Uma selecção de temas levada a cabo por Alex Van Looy e Enric Pedascoll, alusiva aos muitos artistas musicais de diversas origens que marcaram as ruas de Raval, o antigo bairro chinês de Barcelona. As instrumentistas e cantoras das Kween Kahina, um trio trio feminino de Besançon, capital da região francesa da Franche Comté, fundiram o reggae ragga com os cantos chaoui de Auris, na Argélia, criando um estilo original chamado de ragga-chaoui-oriental. Neste trabalho contaram com as colaborações de Rafika Hakkar, cantora de origem argelina que lhes trouxe um cheirinho a jazz e funk, e dos Madioko, que lhe adicionou um toque de afro-funk oriental.

"Dor Biha", Orchestre National de Barbès (França, Argélia) - afro-arabo-berbère music
Agora chega-nos a nova corrente da world music magrebina com a Orchestre National de Barbès, e o tema “Dor Biha”, extraído do álbum “En Concert”, gravado ao vivo em 1996 no teatro de Agora, em Evry. Composta por cerca de vinte elementos, entre eles Youcef Boukella e Aziz Sehmaoui, a Orchestre National de Barbès faz uma síntese de diferentes idiomas musicais. E porquê este nome? Barbès é o nome de um bairro parisiense, maioritariamente de população árabe e africana, localizado junto ao Sacré-Cœur. Em palco, os músicos apresentam de forma festiva a sua herança musical, combinando dezenas de estilos – acústico, eléctrico ou traditional –, com o espírito pop. Por entre o raï, o jazz, a funk e os cantos tradicionais, os sons do Magrebe encontram-se com a afro-beat, as percursões árabes e a salsa, misturando ainda os balafons sul-africanos, as guitarras eléctricas, os acordeões e a voz abrasadora de Larbi Dida, lenda do raï.

"Minuit",
Khaled (Argélia) - raï, chaâbi
O célebre Cheb Khaled traz-nos o tema “Minuit”, extraído do álbum “Kutche”, editado em 1989. O músico estreou-se no primeiro festival de raï de Orán, em 1985, altura em que o regime argelino tentava suavizar-se, resgatando da clandestinidade este género do folclore nacional. Um ano depois, Khaled muda-se para França. Em “Kutche”, o seu primeiro álbum, evolui para o mundo do jazz e da pop. Neste tema, um infernal tango raï, o melodista de bigode dá uma amostra do que se seguiria nos anos seguintes: um universo festivo onde a pop se combina com as raízes do raï e do chaâbi. Às improvisações vocais de Khaled, que conta com o apoio do compositor argelino Safy Boutella e do produtor francês Martin Meisonnier, juntam-se instrumentos tradicionais como o alaúde árabe, o violino ou o acordeão, bem como diferentes tipos de percussão.

"Lap Mnie Bejbe", Blue Café (Polónia) - blue jazz, bluegrass
Os polacos Blue Café trazem-nos o tema “Łap Mnie Bejbe”. Precisamente o segundo single do grupo que é acompanhado pela voz de Tatiana Okupnik. A música seria integrada no álbum “Fanaberia”, editado em 2002. Do blue jazz ao bluegrass, os Blue Café misturam géneros e influências como o funky e o hip-hop. Em 2001 eles receberam o prémio Fryferyk de revelação do ano. Depressa o seu talente ultrapassaria as fronteiras polacas, país onde um dos seus discos vendeu mais de 70 mil cópias, algo que já não acontecia desde o sucesso de Kayah & Goran Bregovic. Já em 2003, lançam um álbum de temas em polaco, inglês, francês e castelhano, onde se inclui a "Love Song", canção que integrou a lista dos temas escolhidos para representar a Polónia no Festival da Eurovisão. Em Maio de 2004, o grupo esteve em Bruxelas e em Lille nos concertos de celebração da entrada da Polónia na União Europeia.

"Russian Sailor's Trip In Brazil", Igor Vdovin (Rússia) - future jazz, jazzdance, electro
Atrás Igor Vdovin com “Russian Sailor’s Trip In Brazil”, um tema extraído do álbum “Gamma”, editado em 2003. São sons que misturam o future jazz, a jazzdance e a música electrónica. Em 1997, Igor Vdovin fundou com Sergei Shnurov a lendária banda de ska e folk punk Leningrad. Decorrido apenas um album, o ex-vocalista abandona o projecto. Em 1999 foi então convidado pelo amigo Oleg Gitarkin para integrar como teclista a banda Messer Chups. Mas mais uma vez, este não é o rumo de Igor Vdovin, que se dedica então à música electrónica, gravando um primeiro álbum em 2001 com uma editora japonesa. Uma opção que viria a dar os seus frutos, isto porque na Rússia Igor Vdovin se tornaria um dos mais respeitados e solicitados músicos do campo da electrónica.

"Horra Hor Goiko",
Oskorri (Espanha) - folk
Rumamos agora até ao Pais Basco com os Oskorri e o tema “Horra Hor Goiko”, extraído do álbum “25 Kantu Urte” (25 anos de música), gravado ao vivo em 1996 no Festival Folk de Getxo. Um espectáculo em que participaram também músicos como Kepa Junkera (País Basco), Gabriel Yacoub (França), Martin Carthy (Inglaterra), Patrick Vaillant (Provença) ou Anton Reixa (Galiza). Os membros dos Oskorri, que começaram por ser um grupo universitário, são originários de universos sonoros tão distintos como o jazz, a pop ou a música brasileira. E mesmo sem conhecerem a língua euskera, aceitaram o desafio de fazer renascer o folclore basco. Nas suas letras e canções, o emblemático grupo de Bilbao baseia-se sobretudo em fórmulas rítmicas e métricas tradicionais.

"Ondulé",
Mathieu Boogaerts (França) - french pop
Mathieu Boogaerts, que nos traz o tema “Ondulé”, extraído do álbum do mesmo nome, o qual foi editado em 1995, é um jovem atípico no universo da música francesa. Ele cultiva um repertório intimista e minimalista, de certa forma ingénuo e quase infantil, mas recheado de poesia, ligeireza sonora e canções subtis. O jovem, que formou o seu primeiro grupo aos 13 anos e aos 18 abandonou a escola para fazer música na cave dos seus pais, partiu então em viagem pelo mundo, centrando-se no continente africano. Durante uma estadia de 6 meses no Quénia, acaba finalmente por escrever alguns temas. Entre eles está uma canção de ritmo simples e com balanço: "Ondulé". De regresso a Paris, concebe com alguns amigos um videoclip em redor deste título, onde lhe irão cortar o cabelo e a barba diante da câmara. O tema acaba por agitar a paisagem musical das rádios, e inúmeros festivais disputam então as atenções do cantor.

Jorge Costa

sábado, 13 de maio de 2006

Emissão #8 - 13 Maio 2006

A oitava emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 13 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 15 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

" Citty of Walls",
Paul Mounsey (Escócia) - folktrónica
O escocês Paul Mounsey traz-nos o tema que serve de título ao álbum “City of Walls”, um dos quatro trabalhos que o músico editou enquanto esteve a viver no Brasil. O nome da faixa baseou-se no livro “Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo”, de Teresa Caldeira, obra onde a escritora reflecte sobre o estado da sociedade e da democracia brasileiras. Paul Mousey pega então em amostras da música tradicional escocesa, brasileira e nativa americana, combinando-as com o som da guitarra, dos teclados, da gaita de foles e das flautas, adicionando-lhes ainda uma amostra de precursão japonesa e de sonoridades electrónicas.

"Navicularia", Berrogüetto (Espanha) - celtic music
Este grupo galego traz-nos o tema que dá nome ao seu primeiro álbum “Navicularia”, editado em 1996. Este trabalho, em que os Berrogüetto trabalharam lado a lado com músicos como o arménio Jivan Gasparian, o sueco Markus Svensson ou o húngaro Kalman Balogh, foi aclamado pela crítica e ganhou vários prémios internacionais. Os “sete magníficos” dizem ser uma fábrica de ideias em que a música se funde com outras artes na busca de elementos sonoros inovadores.

"Kamoukie", Salif Keita (Mali) - afropop, mandingo
Exímio guitarrista, Salif Keita iniciou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Um longo percurso que teve como pontos altos a passagem por Abdijan, Nova Iorque e Paris. Mas foram precisos trinta e cinco anos até que Salif Keita pudesse gravar um álbum no seu país, o Mali. No álbum “M’Bemba” (Antepassado), este conta com a colaboração de músicos como Mama Sissoko na luth ngoni, ou Toumani Diabaté na kora, duas guitarras tradicionais do Mali. Um trabalho onde Salif Keita invoca a memória do seu glorioso antecessor, o imperador Soundiata Keita, fundador do império Mandingue no século XII. Neste disco, Salif Keita regressa à música tradicional mandingo, cruzando sonoridades como o rock, a soul, a chanson française ou os ritmos afro-cubanos, influências acústicas com que o músico inaugurou o conceito de afro-pop.

"Amassakoul 'N' Ténéré",
Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues
Este grupo traz-n
os um tema extraído do álbum “Amassakoul” (viajante), editado em 2004 e que pudemos conhecer na emissão anterior. O nascimento dos Tinariwen no final dos anos 70, o primeiro a surgir das areias do deserto do Saara, está ligado à vida errante dos tuaregues, povo nómada descendente dos berberes do norte de África. A música destes artistas, que vagueiam entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia, apela ao despertar político das consciências e aborda os problemas do exílio e da repressão. Os Taghreft Tinariwen (o grupo dos desertos) transformaram-se numa lenda viva, isto porque no início dos anos 90 Ibrahim e Keddu, dois dos seus elementos, integravam o grupo de gerrilheiros que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira entre o Mali e o Níger, abrindo um novo conflito entre as tropas governamentais do Mali e os separatistas tuaregues do norte. A música deste povo, transposta para a modernidade neste álbum gravado em Bamako, é acompanhada pelo tindé – instrumento de percussão tocado por mulheres –, pela flauta t’zamârt e pela guitarra eléctrica. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen está também presente a asoüf, solidão característica da poesia cantada pelos tuaregues que, tal como os blues, demonstra um sentimento de desamparo universal.

"Surbajo", Etran Finatawa (Níger) - wodaabe and touareg music
Continuando nesta travessia musical pelo deserto, avançamos agora até ao Níger com os Etran Finatawa, e um tema extraído do álbum “Introducing Etran Finatawa”, editado este ano. Em 2004, seis músicos wodaabes e quatro tuaregues juntaram-se e formaram este grupo. Os tuaregues e os wodaabe são dois dos grupos étnicos nómadas que vivem na savana do Sahel, no sul do Sáara. Durante milhares de anos, aquela região foi um ponto de passagem entre os árabes do norte de África e as culturas sub-sarianas. Enquanto que os wodaabe são conhecidos pelos seus rebanhos e gado, os tuaregues são famosos criadores de camelos. E apesar das suas culturas e línguas serem muito distintas, os Etram Finatawa (As estrelas da tradição) ultrapassaram as fronteiras étnicas e o racismo, trabalhando juntos para construírem um futuro melhor para os seus povos. Eles fundaram o seu estilo, combinando instrumentos tradicionais e canções polifónicas com arranjos modernos e guitarras eléctricas. O resultado é um álbum de rara e poderosa beleza, que demonstra como nas suas culturas a música continua a ser um meio terapêutico. Entretanto, a banda tornou-se famosa no Níger e foi convidada para participar em festivais no Mali e em Marrocos, tendo no ano passado feito uma tournée pela Holanda, Alemanha e Suiça.

"Belibik", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi, raï
Este tema é um extra extraído do álbum “Deb”, editado em 2003. Considerada a Tracy Chapman do Magreb, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Desde 1999 que a jovem vive em França. Com a sua guitarra, Souad Massi acompanhou o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.


"Bebe Yaourt", Kekele (RD Congo) - soukous, congolese rumba
Os Kekele trazem-nos um tema extraído do álbum “Congo Life”, editado em 2003. Este grupo de veteranos, liderado pelo guitarrista Papa Noel Nono Nedule, é formado por Syran Mbenza, Nyboma e Wuta Mayi, os quais nos anos 80 fizeram parte dos Les Quatre Étoiles, pioneiros do soukous. Juntam-se a eles Bumba Massa and Loko Massengo, intérpretes em várias bandas congoloesas e performers a solo, bem como o guitarrista Rigo Star e o produtor François Bréant. Os Kekele recriam a rumba congolesa dos anos 60, 70 e 80 com tecnologia moderna, dando uma aparência totalmente acústica ao som eléctrico do soukous dos anos 80 e 90. São sons bem ao estilo da cubana charanga, das orquestras de cordas da Martínica e do barroco europeu, que se encaixam nas delicadas e deliciosas melodias congoloesas.

"La Iguana", Lila Downs (México) - cumbia, ranchera, bolero
Lila Downs trouxe-nos um tema extraído do álbum “Tree of Life”, editado em 1999. A cantora nasceu nas montanhas de Sierra Madre, no sul do México, e passou a sua adolescência em Los Angeles, nos Estados Unidos. Começou por cantar canções mariachi aos oito anos de idade, e ainda pensou ser cantora de ópera, o que é fácil de perceber na sua voz. Ainda chegou a estudar voz e antropologia na universidade, mas abandonou tudo quando decidiu “juntar-se ao mundo”. Foi já nos anos 90, quando lhe pediram para traduzir documentos relacionados com as mortes de pessoas que tinham tentado atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos, que Lila Downs decidiu escrever canções que contassem as suas histórias. Este album inclui várias músicas em náhuatl, zapotec e mixtec – três das mais de 60 línguas indígenas faladas no México –, abarcando o seu reportório também o castelhano e o inglês. Os temas da sua banda abrangem a cumbia e a ranchera mexicana, a valsa, o bolero e composições originais que se aventuram no mundo do rap, jazz e do reggae. Mais recentemente, Lila Downs estreou-se no mundo do cinema. Ela interpreta algumas das suas canções no filme “Frida”, de Salma Hayek, o qual retrata a vida da pintora mexicana Frida Kahlo.

"Quérome salvar", Xosé Manuel Budiño (Espanha) e Lilian Vieira (Brasil) - folk, celtic music
Xosé Manuel Budiño apresenta-nos o seu terceiro álbum “Zume de Terra”, editado em 2004, precisamente o primeiro em que o gaiteiro galego assume integralmente todo o trabalho de composição, arranjo musical, produção e gravação. Um disco de originais, feito com sumo de terra e mel de tradição, onde Budiño tem também como convidados especiais os escoceses Capercaillie e Michael McGoldrick e a portuguesa Sara Tavares. Neste tema, o gaiteiro conta com a participação da brasileira Lilian Vieira, vocalista dos Zuco 103, banda que mistura house com maracatu, drum'n'bass com samba, entre outros ritmos brasileiros e electrónicos, e da qual fazem parte ainda o baterista holandês Stefan Kruger e o teclista alemão Stefan Schmid.

"Ahma", Maria Kalaniemi (Finlândia) - finnish folk, jazz, rock, pop
Maria Kalaniemi traz-nos um tema extraído do álbum do mesmo nome, editado em 1999. Esta maestrina do acordeão começou a tocar aos oito anos. Aos 19, depois de gravar um álbum de temas da música tradicional filandesa, junta-se ao programa de música folk da Academia Sibelius, em Helsínquia, onde, para além do acordeão, estuda violino, bandolim, composição e arranjo. No mesmo ano, Maria Kalaniemi apoia a formação do ensemble acústico Niekku, cuja síntese entre a folk e a contemporaneidade os levou para a linha da frente da nova folk filandesa. Já em 1995 funda os Aldargaz, um sexteto de músicos da mesma academia. Adepta da improvisação, Maria Kalaniemi é também membro do colectivo internacional de acordeonistas Accordion Tribe, do grupo de música sueco-filandesa Ramunder e da orquestra de tango UNTO. O seu reportório vai da música clássica às raízes da folk dance filandesa, passando pelo jazz, rock e pop. No tema “Ahma”, o acordeão de Kalaniemi, instrumento que ela diz ser em simultâneo dinâmico e dinamite, junta-se à guitarra acústica, ao bandolim, ao violino, ao piano, e ainda à trompete, ao trombone e ao saxofone.

"Marcelle et Chrysostome",
Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
O tema é extraído do álbum que a canadiana Claire Pelletier gravou ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (a sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons électrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier (ou melhor, de Claire La Sirène) iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

Jorge Costa

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Emissão #7 - 6 Maio 2006

A sétima emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 6 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 8 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

"Jota da Gheada", Berrogüetto (Espanha) - celtic music
Este grupo galego traz-nos um tema extraído do seu primeiro álbum “Navicularia”, editado em 1996. Neste trabalho, em que os Berrogüetto trabalharam lado a lado com músicos como o arménio Jivan Gasparian, o sueco Markus Svensson ou o húngaro Kalman Balogh, foi aclamado pela crítica e ganhou vários prémios internacionais. Os “sete magníficos” dizem ser uma fábrica de ideias em que a música se funde com outras artes na busca de elementos sonoros inovadores. Para celebrarem os seus dez anos de carreira, ainda este ano deverá ser editado o seu quarto disco: “DeSolASons” (de sol a sons/desolações). A ideia nasceu em 1998 do convite para comporem a banda sonora dum programa sobre energias alternativas num estúdio alimentado a energia solar, construído nas Ilhas Cíes. Ironicamente, quatro anos depois, este paraíso natural foi alvo da pior catástrofe marinha da Europa, quando o petroleiro Prestige se partiu em dois, vertendo 170 mil toneladas de crude ao longo da costa galega. A desolação levou o grupo a transformar o projecto inicial numa suite, interpretada com a Orquestra da Catalunha. Tradição, modernidade e consciência ecológica juntos numa festa para os sentidos.

"Chao - Curuxeiras", Susana Seivane (Espanha) - celtic music
A gaiteira Susana Seivane é neta de Xosé Manuel Seivane, um dos mais conceituados artesãos galegos. Diz a tradição que a madeira de buxo ou buxeiro, utilizada na construção das gaitas de foles galegas, deve ficar mais de cem anos à espera de um artesão que lhe consiga descobrir a alma e transformá-la no instrumento musical. No seu segundo álbum, intitulado “Alma de Buxo” e editado em 2002, a jovem Susana Seivane segue a tradição musical da Galiza com várias xotas, muiñeiras, marchas e outras composições típicas daquela região, adicionando-lhes no entanto a bateria, o baixo e algumas amostras de música pop. E não é de espantar a sua mestria no manejo da gaita-de-foles, até porque começou a tocar este instrumento aos quatro anos. Um álbum onde Susana Seivane é acompanhada por músicos como o ex-Milladoiro Rodrigo Romani e o basco Kepa Junkera, e em que presta homenagem aos gaiteiros da sua terra, como é o caso de Pepe Vaamonde e do próprio avô, já que inclui duas versões do tema “Chao – Curuxeiras”, uma tocada por Xosé Manuel Seivane e a outra, emitida neste programa e interpretada por ela própria. São duas gerações de gaiteiros reunidas num só disco.

"Oualahila Ar Tesninam", Tinariwen
(Mali) - touareg music, rock, blues
Este grupo traz-nos um tema extraído do álbum “Amassakoul” (viajante), editado em 2004. O nascimento dos Tinariwen no final dos anos 70, o primeiro a surgir das areias do deserto do Saara, está ligado à vida errante dos tuaregues, povo nómada descendente dos berberes do norte de África. A música destes artistas, que vagueiam entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia, apela ao despertar político das consciências e aborda os problemas do exílio e da repressão. Os Taghreft Tinariwen (o grupo dos desertos) transformaram-se numa lenda viva, isto porque no início dos anos 90 Ibrahim e Keddu, dois dos seus elementos, integravam o grupo de gerrilheiros que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira entre o Mali e o Níger, abrindo um novo conflito entre as tropas governamentais do Mali e os separatistas tuaregues do norte. A música deste povo, transposta para a modernidade neste álbum gravado em Bamako, é acompanhada pelo tindé – instrumento de percussão tocado por mulheres –, pela flauta t’zamârt e pela guitarra eléctrica. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen está também presente a asoüf, solidão característica da poesia cantada pelos tuaregues que, tal como os blues, demonstra um sentimento de desamparo universal.

"Çigil", Nuru Kane (Senegal) - gnawa, mbalax, mandingo, afro-funk
Nuru Kane traz-nos um tema extraído do álbum do mesmo nome. O músico senegalês nasceu em Medina, um distrito conhecido pelos seus artistas. Aos 15 anos Nuru Kane começou a tocar baixo e guitarra. Na década seguinte, ao juntar-se a várias bandas, inspira-se no afro-funk, no reggae, no jazz, nos blues, no mbalax e no mandingo, mas é em Marrocos que se deixa cativar pelos ritmos dos gnawa (música dos antigos escravos negros levados para Marrocos), os quais acabariam por servir de base às suas enérgicas actuações ao vivo e dariam lugar à sua banda “Bayefall Gnawa”, sedeada em Paris. Acompanhado pelo seu guimbri (uma espécie de baixo acústico arcaico de três cordas), da guitarra acústica e da sanza (lamelofone da África Central), Nuru Kane mistura a música do norte da África com reminescências de Ali Farka Touré. E mesmo que a instrumentação de Sigil seja sobretudo acústica, rodando à volta dos blues, o resultado esse é eléctrico, fundindo um ritmo minimal com uma versão remota de psicadelismo.

"Enta Ma'oltesh Leih", Amr Diab (Egipto) - jeel music, raï
Amr Diab, que nos traz um tema extraído do álbum "Allem Alby", editado em 2003, e cujo verdadeiro nome é Amro Abd Al-Bassit Abd Al-Aziz Diab, nasceu em Port Said, no Egipto, sendo um dos músicos mais populares nos países árabes. O rei da pop árabe, que começou por cantar em anúncios publicitários aos seis anos, estudou na Academia de Artes do Cairo, a capital do Egipto, tendo-se destacado rapidamente pelo seu novo estilo de música árabe pan-mediterrânica, que fundiu com amostras de flamenco, raï, pop ocidental e ritmos tradicionais árabes. Uma prova de que a música do mediterrâneo, tal como a vida nesta região do planeta, é uma mistura de odores, cores e sons. Em 1992 Amr Diab tornou-se o primeiro artista árabe a produzir um videoclip moderno, estreando-se no ano seguinte no cinema, onde chegaria a contracenar com o muldialmente conhecido Omar Sharif.


"Love Trap", Susheela Raman (Índia, Reino Unido) - indian folk, pop
Susheela Raman, que nos traz o tema “Love Trap”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2003, nasceu em Londres, mas a sua família, que emigrou para o Reino Unido e para a Austrália, é natural da região indiana de Tamil. Neste trabalho, Susheela Raman explora o reportório carnático, característico do sul da Índia, e o folk do norte daquele país, cantando músicas originalmente compostas em sânscrito e telegu. E se nos álbums anteriores músicos europeus, asiáticos e africanos tocavam temas indianos, em “Love Trap” músicos indianos interpretam canções em inglês. Com o blues na voz, universo que a influenciou em adolescente, e a presença constante do guitarrista Sam Mills, Susheela Raman junta então a música indiana a melodias pop e influências do jazz, do rock, do funk e do drum ‘n’ bass.


"Malademna", Shukar Collective (Roménia) - ursari music, folktronic
No álbum “Urban Gypsy”, editado em 2005, estes embaixadores da nova geração de músicos ciganos romenos tocam música ursari usando colheres, tambores de madeira ou a darabuka (outra espécie de tambor), criando assim um poderoso som folk que também se aventura no mundo da electrónica. Os três fundadores dos Shukar Collective começaram por tocar num conhecido clube de jazz de Bucareste. O grupo procura misturar peças folclóricas com as tecnologias actuais, mantendo no entanto o seu aspecto original. A música ursari remonta à época em que os tártaros e os mongóis invadiram a antiga Dácia, que é hoje a Roménia. Seguindo a tradição, um pequeno grupo de homens canta e toca instrumentos de percussão enquanto que um urso “dança” à sua volta – ursar quer dizer “domador ou treinador de ursos”. Uma música muito poderosa e agressiva, mas ao mesmo tempo emocional e espirituosa.

"Za Nashov Stodolov", Haydamaky (Ucrânia) - carpathian ska, ukranian dub machine, hutzul punk
Desta feita, os ucranianos Haydamaky trazem-nos “Za Nashov Stodolov” (Atrás do nosso celeiro), um tema extraído do álbum “Ukraine Calling”, editado este ano e que já pudemos conhecer no programa. Eles levam-nos pelos caminhos do ska das montanhas dos Cárpatos, do reggae, do punk hutzul e da dub machine, misturando-os com a folk ucraniana. Para além dos espectáculos que têm feito em toda a Europa de Leste, em 2004 os Haidamaky apoiaram a revolução laranja que mobilizou a Ucrânia, tendo um dos seus temas sido muito rodado nas estações de rádio alternativas. A música dos Haydamaky, caracterizada por energia turbulenta e por uma montanha russa de melodias, combina raízes ucranianas com standards europeus.

"Samba do Gringo Paulista [Zero dB reconstruction]", Suba (ex-Jugoslávia) - brasilian electronica
Este tema original do produtor jugoslavo Suba surge-nos numa versão remisturada pela dupla de DJ’s Zero dB Reconstruction, que lhe adicionaram ainda a voz de Mónica Vasconcelos. A música, extraída do álbum “Tributo”, é uma homenagem ao músico morto em 1999 e cujo verdadeiro nome era Mitar Subotic. No final dos anos 80, Suba trocou a então Jugoslávia pelo Brasil onde, para além de compor para teatro e cinema, se dedicaria à pesquisa de ritmos afro-brasileiros e de música nativa. Ao desenvolver sons e batidas electrónicas com ligações ao funk, à new wave e à ambient, misturando-os com elementos de todos os estilos musicais brasileiros, o compositor influenciou toda uma geração de artistas. Mitar Subotic trabalhou com músicos como Bebel Gilberto, Daniela Mercury, Skank, Mastre Ambrósio, Hermeto Pascoal, Marcos Suzano e Ale Muniz.

"En Algún Lugar", Amparanoia (Espanha) - rumba, reggae, son, bolero, ska
Os espanhóis Amparanoia trazem-nos o tema “En Algún Lugar”, extraído do álbum “Somos Viento”, editado em 2002. Sedeado em Madrid, o grupo foi buscar o seu nome à vocalista Amparo Sánchez. Em 1996, a jovem andaluza criou este projecto musical, que acabaria por nascer no bairro de Lavapies, em Madrid, e viria a crescer e desenvolver-se em Barcelona. Tendo por lema a expressão “rebeldia com alegria”, os Amparanoia misturam a rumba, o reggae, o son, o bolero, o ska e toda uma gama de sons latinos alternativos, onde sobressaem a inspiração e a improvisação. No ano passado eles receberam o prémio de melhor grupo europeu no BBC Radio 3 World Music Awards. Portugal também foi ponto de paragem numa das suas digressões por todo o mundo: em 2004 eles estiveram em Aveiro e em Lisboa, no Rock in Rio.

"Dipama", Richard Bona (Camarões) - afropop
Richard Bona traz-nos o tema “Dipama”, extraído do álbum “Tiki”, editado em 2005. O multi-instrumentista e compositor, nascido nos Camarões, cedo despertou para a música. Como na sua vila natal não havia uma loja de instrumentos, as cordas da sua primeira guitarra artesanal foram feitas com cabos de travões de bicicleta. Mais tarde, na década de 80, Richard Bona desperta para o mundo do jazz e começa a tocar baixo. Vai para Paris, onde aperfeiçoa as suas capacidades de escrever e tocar música e, em 1995, tenta a sua sorte em Nova Iorque. Este contador de histórias mistura as suas raízes musicais africanas com a sensibilidade do jazz, os ritmos afro-cubanos e a pop anglo-saxónica. Um aglomerado de influências que Richard Bona combina neste trabalho com uma voz suave e expressiva, de onde escapa doçura e nostalgia.

Jorge Costa

terça-feira, 2 de maio de 2006

World Music Charts Europe - Maio 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Maio dos discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de):

1º- LA CANTINA, Lila Downs (EUA) - Peregrina/Narada
mês passado: 71ºlugar

2º- LUNATICO, Gotan Project (França, Argentina) - Ya Basta
mês passado: 42ºlugar
3º- KAL, Kal (Sérvia) - Asphalt Tango
mês passado: 1ºlugar
4º- BOULEVARD DE L'INDEPENDANCE, Toumani Diabate & Symmetric Orchestra (Mali) - World Circuit
mês passado: 6ºlugar

5º- TECHARI, Ojos de Brujo (Espanha) - Diquela Records
mês passado: 4ºlugar
6º- PART TWO, Kora Jazz Trio (Senegal) - Ruestendhal
mês passado: 5ºlugar

7º- DESCARGA ORIENTAL / THE NEW YORK SESSIONS, Maurice El Medioni meets Roberto Rodriguez (Argélia, Cuba) - Piranha
mês passado: 3ºlugar

8º- ROGAMAR, Cesária Évora (Cabo Verde) - BMG
mês passado: 23ºlugar
9º- ENTRE CADA PALABRA, Marta Gomez (Colômbia) - Chesky
estreia na tabela
10º- GOREE, Pierre Akendengue (Gabão) - Lusafrica
estreia na tabela
11º- KINAVANA, Kekele (RD Congo) - Stern's
mês passado: 2ºlugar

12º- LUNGHORN TWIST, Accordion Tribe (vários) - Intuition
estreia na tabela
13º- SAKAT, DuOud & Abdulatif Yagoub (Tunísia, Argélia, Iémen) - Label Bleu
mês passado: 14ºlugar
14º- S.O.S., Project (Tunísia, Argélia, Turquia) - Doublemoon

estreia na tabela
15º- HLEB, Leninegrad (Rússia) - Eastbook
estreia na tabela
16º- MIDNIGHT IN MALI, vários (Mali) - Stern's
estreia na tabela
17º- EMBALASSA, Samite (Uganda, EUA) - Rykodisc
estreia na tabela
18º- TIMELESS, Sergio Mendes (Brasil, EUA) - Universal
estreia na tabela
19º- MIERO, Värttinä (Finlândia) - Realworld
mês passado: 17ºlugar

20º- LAGOS STORI PLENTI, vários (Nigéria) - Out Here
estreia na tabela