quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Emissão #27 - 30 Setembro 2006

A 27ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 30 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 2 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (21 e 23 de Outubro) nos horários atrás indicados.

"Ghole Pamtschal", Schäl Sick Brass Band
(Alemanha) - brass band, jazz, folk
Os Schäl Sick Brass Band a abrirem a emissão com o tema "Ghole Pamtschal", extraído do álbum "Tschupun", editado em 1999. O grupo surgiu em Colónia, capital cultural da província da Renânia e fortaleza mediterrânica da Alemanha. Um dos muitos emigrantes e visitantes de todo o mundo que a encheram de sons coloridos foi Raimund Kroboth, que em 1977 se instalou na margem direita do Reno. No dialecto local, aquela parte da cidade é conhecida precisamente por "Schäl Sick" (lado errado). Isto porque está do lado contrário à catedral e ao centro de Colónia, e porque é um enclave protestante na católica Renânia. Partindo de uma secção de ritmo que tem por base a tuba, a cítara popular e as percussões, os Schäl Sick Brass Band utilizam o som das fanfarras da região alemã da Bavaria e da Boémia checa para explorarem com inovação e versatilidade a música de outras culturas. Eles combinam elementos de jazz com o rock, o funk, o hip-hop o rap ou a folk. Um universo sonoro influenciado pela Europa central e de Leste e pelo norte de África, onde convivem ritmos cubanos, gregos, latinos, africanos e orientais, e instrumentos de todo o mundo - tavil, kanjira, dhol, dolki, omele, sekere, gangan, thereminvox, entre muitos outros. Um ambiente festivo em que se celebra a música de todo o planeta e onde o lema é "pensar global, soprar local"...

"Morning Nightcap",
Lúnasa (Irlanda) - celtic
As músicas do mundo prosseguem com os Lúnasa e o tema "Morning Nightcap", extraído do álbum "The Merry Sisters of Fate", lançado em 2001. Na Irlanda, ainda hoje o mês de Agosto é conhecido por Lúnasa - o termo original era Lughnasadh -, uma alusão ao antigo festival celta outrora realizado no primeiro dia de Outono em honra do deus irlandês Lugh, patrono das artes. Este quinteto instrumental, criado em 1997, contraria a tendência de fundir a música tradicional com o rock, a pop ou a música electrónica. No enteder dos Lúnasa, a renovação da música celta passa pela tradição, embora eles não fechem portas a novas sonoridades. O grupo transporta a música acústica do seu país para novos territórios, acudindo directamente ao coração dos ritmos. Inspirados pela The Bothy Band, referência dos anos de 1970, os novos deuses da música irlandesa juntam de maneira singular o violino, a flauta, o whistle, o baixo e a guitarra acústica, explorando também as raízes bretãs e galegas. Ao baixista Trevor Hutchinson (ex-Waterboys) e ao guitarrista Paul Meehan (que veio substituir Donogh Hennessy, antigo membro da Sharon Shannon Band) juntam-se então o violinista Seán Smyth e as flautas e gaitas irlandesas de Kevin Krawford e Cillian Vallely. Graças aos seus arranjos inventivos e ao som enérgico com influências do jazz, blues, rock, country e outras formas de improviso, os Lúnasa definiram um novo standard para a música irlandesa de raízes tradicionais.

"Per la Boca", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) regressam ao programa, desta feita com “Per la Boca”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Khululuma", African Rhythm Travellers
(África do Sul) - african dance
A viagem prossegue com os African Rhythm Travellers e o tema "Khululuma", extraído do album "Putumayo Presents African Groove", editado em 2003. Os African Rythm Travellers nasceram em Joanesburgo, na África do Sul, em 2001, fruto da colaboração entre os membros dos Colorfields, uma banda performativa da Cidade do Cabo, e os The Branch, um grupo local de afro-reggae. Eles juntam o kwaito com o funk, o reggae, a dub, a house e a música electrónica, criando uma mistura única de ritmos e melodias africanas a que chamaram de african dance. São sons tribais que se cruzam com géneros urbanos. Os African Rhythm Travellers são formados por Ben Amato (teclados, guitarra, saxofone e flauta), Eric Michot (baixo), Ash Read (tambores), Lennox Olivier (percussões), Danial "Dials" Gous (guitarra), Judah (vozes) e Kirsten Olivier (teclados), incorporando no seu repertório a sonoridade do bongo, do saxofone e mesmo da flauta. As letras são apimentadas com comentários sociais e espiritualidade rastafari. O objectivo da sua música é dar algo positivo ao mundo e abrir o seu universo musical a toda a gente, numa mensagem que apela à consciencialização.

"Let Them Talk", Geraldo Pino & The Heartbeats (Serra Leoa) - afro soul funk
Seguimos até à Serra Leoa com Geraldo Pino e os The Heartbeats. Eles trouxeram-nos o tema “Let Them Talk”, extraído da antologia "Afro Soco Soul Live". Um CD editado no ano passado para resgatar do desconhecimento o álbum “Heavy Heavy Heavy”, gravado entre 1962 e 1967. Cantor, guitarrista e líder dos The Heartbeats, Geraldo Pino, cujo verdadeiro nome é Gerald Pine, foi o herói do afro soul funk e um dos pioneiros da afrobeat na África Ocidental nas décadas de 60 e 70. Em 1961, com a explosão do rock'n'roll, ele e a sua banda começam por interpretar sucessos da soul e da pop inglesa e americana, tornando-se a primeira orquestra do género na região. Quatro anos depois partem para Monróvia, capital da Libéria, o primeiro país africano em se popularizaram os discos de James Brown, Ray Charles, Otis Redding e Wilson Pickett. Marcas que a banda levaria consigo nas tournées pelo Gana e Nigéria. Com a crescente influência do funk latino, a música de Gerald Pino e dos The Heartbeats africaniza-se, ganhando energia, ritmo e slogans políticos. Na sua primeira actuação em Lagos, na Nigéria, o estilo inovador de Geraldo Pino influenciou de tal forma Fela Kuti, então dedicado ao jazz e ao highlife, que este evitou actuar em locais onde ele já tivesse passado. Isto porque acreditava que nada poderia superar o James Brown africano.

"Hakmet Lakdar", Hasna El Becharia
(Argélia) - gnawa music
A jornada musical prossegue com Hasna El Becharia e o tema “Hakmet Lakdar”, extraído do álbum “Djazaïr Johara”, editado em 2001. Os ritmos e melodias dos escravos negros africanos e dos imigrantes e seus descendentes são parte da cultura musical do norte de África. Uma herança que em Marrocos tem o nome de gnawa, e na Argélia é chamada de diwan de Bechar. É precisamente em Bechar, cidade situada no sul da Argélia, junto ao deserto do Sáara, que vive Hasna El Becharia, a rainha do diwan e da vibrante música de casamentos. Em 1972 ela formou um grupo com três amigos, começando por tocar na guitarra acústica os ritmos tradicionais do deserto. O sucesso nas festas não se faz esperar, e para se destacar das vozes do público, que cantava em coro as suas canções, Hasna El Becharia decide enveredar pela guitarra eléctrica. A fama estende-se então a todo o sul da Argélia. Apesar de dominar a utilização de instrumentos afro-magrebinos como o gumbri (baixo de três cordas do Sáara) ou a krakesh (espécie de castanholas de metal), e de tocar também oud, derbouka, bendir e banjo, a guitarra é a sua vida. Em mais de cinquenta anos de carreira, Hasna El Becharia gravou apenas um trabalho. Tudo porque os produtores argelinos nunca lhe inspiraram confiança. Neste disco, em que participam músicos da Argélia, Marrocos, Tunísia e Níger, Hasna El Becharia explora o som das guitarras e dos timbres vocais, deixando transparecer o seu profundo sentido de improviso e composição.

"Sahra Saidi", Gamal Goma (Egipto) - bellydance
O percusionista Gamal Goma traz-nos o tema “Sahra Saidi”, extraído do álbum “Shake Me Ya Gamal”, lançado em 2003. Gamal Goma nasceu em Giza, no Egipto, e graduou-se na Academia de Música do Cairo, acumulando duas décadas de experiência com os mais famosos ensembles do Médio Oriente e América. Na capa deste disco, uma colecção de solos de percussão, cada um baseado num ritmo particular – saidi, malfoof, maqsum, ayyoub, khaliji ou fallahi –, ele surge ao lado da dançarina Fifi Abdou. Especialista na tabla (tambor indiano), Gamal Goma toca também doholla (tabla grave), mazhar (pandeireta gigante), riqq (pandeireta árabe), sagat (timbales de dedo) e dufs (espécie de pandeireta). Neste trabalho podemos conhecer algumas composições para raqs sharki, termo árabe para dança do ventre, e que traduzido literalmente equivale a “dança do Oriente”. Um género enraizado numa dança levada a cabo em celebrações comunitárias e dançada por todos os membros da comunidade. Com o crescimento do Islão veio a segregação entre homens e mulheres, mas no século XX o desenvolvimento dos media precipitou a sua dissolução. Com a introdução da dança do ventre nos Estados Unidos pelo vaudeville e pelos espectáculos burlescos, esta popularizou-se em todo o mundo. Se no Egipto e Líbano a dança do ventre é acompanhada pelo oud (alaúde), a kanoun (cítara arménia), o kaman (violino árabe), a nay (flauta egípcia de bambu), o rabab (cordofone de arco, principal instrumento da música afegã), o mizmar (clarinete árabe), o dumbek (tambor egípcio), a tabla ou a riqq, nas danças turcas têm lugar o saz (instrumento de cordas), o azoukie (alaúde comprido), a kanoun, o dumbek e a zurna (flauta de montanha).

"Min Man", Garmarna (Suécia) - folk-rock
Os suecos Garmarna trazem-nos o tema "Min Man" (O Meu Marido), extraído do álbum “Live”, editado em 2002. Esta banda de rock, formada em 1990, canta velhas lendas da música tradicional do seu país, falando de bruxas más, madrastas tenebrosas e de princesas indefesas. Convém explicar que na mitologia sueca os Garmarna eram os cães que guardavam a porta do inferno. Uma imagem metafórica que se transpõe facilmente para os cenários sonoros criados por este quinteto, que oscila entre as estéticas anglo-saxónicas e os ambientes da música tradicional sueca. No entanto, os Garmarna não fazem questão de perpetuar tradições. O que eles querem é tocar com a vontade do momento, com tudo o que isso tenha de eterno ou de efémero. Um som único, influenciado pelo rock, e que remistura a instrumentação antiga com amostras de batidas, harpas, violinos e guitarras distorcidas.

"Lovelight", Stereo Action Unlimited (França, Suiça) - acid jazz, latin lounge
A fechar a emissão os Stereo Action Unlimited com o tema "Lovelight", extraído do LP do mesmo nome e parteintegrante da colectânea"Paris Lounge", lançada em 2001. Os Stereo Action Unlimited são formados pelo francês Philippe Cohen Solal e pelo suíço Christophe Müeller, uma dupla que partilha outras experiências musicais como os The Boyz From Brazil, ligada às pistas de dança, e a mais popular delas todas, os Gotan Project, a qual envolve também o guitarrista Eduardo Makaroff e cria uma síntese entre o tango e a música electrónica. Desde 1997 que estes escultores do vinil e artesãos dos sons trabalham conjuntamente em projectos que combinam música e imagem, explorando paixões como a música sul-americana e os novos territórios electrónicos.

Jorge Costa

sábado, 16 de setembro de 2006

Multipistas adopta emissão quinzenal

Devido ao incontornável número de compromissos profissionais que se têm vindo a acumular nos últimos tempos, e dado ter a meu cargo a produção e realização integral do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO, vai-se tornando cada vez mais difícil assegurar a produção do programa, tarefa que me ocupa largas horas em pesquisa, gravação e edição, e que por isso mesmo me tem roubado muitas horas de sono.

Dadas as cada vez maiores limitações de tempo que tenho, não me será possível manter o programa com a habitual regularidade. Nesse sentido, e para evitar que este se viesse a tornar uma mera fórmula musical ou simplesmente desaparecesse, decidi reduzir-lhe a peridiocidade, passando de semanal a quinzenal. Foi a única forma viável que encontrei para manter a qualidade em termos de conteúdos e o grau de exigência que inicialmente propus aos ouvintes, única razão de ser do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO.

Sendo assim, na versão podcast as emissões passarão a ser actualizadas de 15 em 15 dias, não havendo nenhuma outra alteração na estrutura do blogue. Já na versão radiofónica mantém-se o horário de sempre, com a transmissão a ser feita na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM) aos sábados, entre as 17 e as 18 horas, e às segundas-feiras, entre as 19 e as 20 horas. A única diferença é que as edições serão intercaladas, pelo que para além do horário habitual de repetição, cada programa será reposto três semanas depois da sua primeira emissão. Desta forma, cada programa poderá ser ouvido um total de quatro vezes, o que permitirá aos ouvintes uma maior familiariedade com os temas e os autores analisados. Eis o novo esquema de difusão:


Semana A – programa 2
Semana B – programa 1
Semana C – programa 3
Semana D – programa 2
Semana E – programa 4
Semana F – programa 3
...

Por fim, agradeço o encorajamento dado nestes primeiros seis meses por muitos dos ouvintes que o programa conquistou em diversas partes do globo. É por eles que o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO continuará a ter a cor e o ritmo de sempre. Um bem-haja a todos.

Jorge Costa

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Emissão #26 - 16 Setembro 2006

A 26ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 16 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira,18 de Setembro, entre as 19 e as 20 horas.

"Jaga Ode [dubtronik]", Alpendub
& The Man Cable (Alemanha, Canadá) - yodel, dub
Os Alpendub e o produtor The Man Caple a abrirem a emissão com uma nova remistura do tema “Jaga Ode”, extraída do álbum “The Rough Guide to Yodel”, trabalho que será lançado em todo o mundo a 25 de Setembro. Para recuperarem a magia da música alpina alemã, eles misturam o yodelling com a dub, cruzamento raro a que chamaram precisamente Alpendub. O yodel, que começou por ser uma espécie de código morse das montanhas, é uma vocalização quase sem texto que se distingue pela quebra acentuada entre duas notas. Ele existe não só na Suiça, Áustria e Alemanha, mas também em certas regiões da Europa, África, Ásia, América e Oceânia, misturando-se hoje com géneros como o hip-hop, o rock, a pop, o reggae, a house e o techno. Tons mágicos que são combinados com a mística de palavras, por tradição nomes pessoais atribuídos a vacas. Os Alpen Dub arrancaram em Berlim, em 2001, com o canadiano The Man Cable, produtor do projecto de cinco músicos, entre eles a actriz Kutzkelina, que começou a cantar yodel aos seis anos. Eles complementam a instrumentação típica com percussões e instrumentos como o banjo alpino e a dulcimer (cordofone índio norte-americano).

"Sátiro",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo prosseguem com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem “Sátiro”, tema que dá nome ao seu último álbum, editado em Junho. Cada vez mais voltados para o Mediterrâneo, neste seu quarto trabalho de originais os Gaiteiros de Lisboa abarcam desde os sons de Trás-os-Montes às polifonias alentejanas, passando pelo fado. Nele são convidados Mafalda Arnauth e o violinista Manuel Rocha, da Brigada Vítor Jara. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. O experimentalismo deste grupo, que utiliza ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, leva-o a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Neste trabalho juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares.

"Pandero", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) apresentam-nos “Pandero”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Ndima Ndapedza", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com “Oliver ‘Tuku’ Mtukudzi e o tema “Ndima Ndapedza”, extraído do álbum “Tuku Music”, editado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Thandaza", The Soul Brothers (África do Sul) - mbaqanga, soul
Seguem-se os The Soul Brothers e o tema “Thandaza”, extraído do álbum “Amanikiniki”, lançado em 1999. Grupo que é o exemplo supremo das típicas harmonias mbaqanga, próximas do gospel, que durante três décadas dominaram a música urbana sul-africana. Na luta dos jovens africanos contra o Apartheid, a pop tradicional e o mbaqanga deram espaço à música modelada pela soul americana e mais tarde pela disco. O som dos Soul Brothers, banda que melhor encarnou o conceito da soul sul-africana, cativou sobretudo os trabalhadores que então foram obrigados a deixar o campo para procurar trabalho na cidade. Desde a sua formação, em 1974, que eles já gravaram mais de trinta álbuns. A banda foi construída com o baixista Zenzele "Zakes" Mchunu, o percusionista David Masondo e o guitarrista Tuza Mthethwa, que tocaram pela primeira vez juntos nos Groovy Boys em Kwazulu Natal, e mais tarde nos Young Brothers. Em Joanesburgo junta-se-lhes o teclista Moses Ngwenya, enquanto que David Masondo troca as percussões pela voz, surgindo então os Soul Brothers. Da formação original restam apenas Masondo e Ngwenya. Hoje são cinco cantores e três saxofones liderados por Thomas Phale, sendo os Soul Brothers a única banda jive que sobreviveu ao nascimento da disco, a antiga bubblegum que hoje se designa por música kwaito.

"Huo", Mercan Dede (Turquia) - sufi music, electronic
A jornada musical prossegue com Mercan Dede, um dos mais importantes artistas turcos, e o tema “Huo”, extraído do álbum “Nefes”, editado em Junho. Radicado em Montreal, no Canadá, Mercan Dede mistura a música tradicional com batidas electrónicas. Ele desenvolve duas carreiras paralelas: como Arkin Allen é um DJ especializado em hard techno; como Mercan Dede mistura a tradição do sufismo com estilos contemporâneos. Com o seu ensemble de músicos turcos e canadianos, fundado em 1998 e formado pelos músicos Mohammad, Farokh Shams e Ben Grossman e pela dançarina Isaiah Sala, Mercan Dede funde as tradições espirituais da música sufi com sons actuais, criando uma mistura única entre o Oriente e o Ocidente. Nas suas actuações, ele utiliza instrumentos de origem turca como a ney (flauta de cana) e a kanun (cítara), e mistura as percussões do Médio Oriente com sons electrónicos, tudo isso enquanto que um dervish dança em palco. No álbum “Nefes” (Respiração), o terceiro de uma série de quatro que começou com Nar (Fogo) e continuou com Su (Água), Mercan Dede cria uma fusão que captura a magia do Oriente, os elementos místicos, a instrumentação tradicional e os sons electrónicos.

"Ghali Ya Bouy", Smadar Levi (Israel, EUA) - bellydance
Smadar Levi traz-nos “Ghali Ya Bouy”, tema extraído do álbum “Smadar”, editado em 2004. Uma visão diferente da raqs sharki, tradução literal do termo árabe para dança do ventre, que quer dizer “dança do Oriente”. Um género que se popularizou em todo o mundo depois da sua introdução nos Estados Unidos pelas mãos do vaudeville e dos espectáculos burlescos. Filha de pais marroquinos, Smadar Levi cresceu em Israel a ouvir música egípcia e tunisina. A sua música, que combina temas originais e tradicionais, reflecte a diversidade do povo judaico, incorporando tradições israelitas, espanholas, africanas e gregas. Ela canta em hebreu, árabe, grego e ladino, a língua medieval dos judeus em Espanha. Entretanto, depois de ter tocado com músicos ciganos na Roménia, Espanha e Turquia, ela decidiu também misturar a sua música com sons ciganos. Foi em 2000, depois de se ter mudado para os Estados Unidos, que Smadar Levi conheceu o cantor e violinista marroquino Rashid Halihal, com quem formaria um trio. Quatro anos depois formava a sua própria banda, juntando músicos de Israel, Líbano, Turquia, Marrocos e Palestina. Actualmente, Smadar Levi vive em Nova Iorque, onde trabalha com músicos como Uri Sharlin, Emmanuel Mann, um dos melhores baixistas israelitas, e o português Pedro da Silva, que a acompanha com a cítara e a guitarra clássica.

"The Beat Of Love", Trilok Gurtu (Índia) - world, jazz, khylal
A jornada prossegue com Trilok Gurtu e “The Beat of Love”, tema extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2001. Gurtu, cujo avô era um conhecido tocador de cítara e a mãe uma estrela do canto clássico, tornou-se conhecido como membro dos Oregon, uma banda de fusão world/jazz. Cinco vezes eleito o melhor percussionista do planeta pela revista “Downbeat”, título ganho pela ponte que criou entre a música do Oriente e Ocidente, Trilok Gurtu mistura ritmos indianos, executados com a tabla, com elementos do jazz, da música de dança, do rock, da música clássica e da música étnica de todo o planeta. Este ano, ele regressou à tradição indiana, apoiado pelos cantores Rajan e Sajan Misra, e apresentando o khylal, espécie de cântico hipnótico. O virtuosismo deste indiano, natural de Bombaim, transformou-o num dos grandes vultos do post-jazz, do jazz de fusão e do avant-garde. Ele tem colaborado com génios da música como Jan Garbarek, Ravi Shankar ou David Gilmour, destacando-se na comunidade jazzística por surgir ao lado de nomes como Don Cherry, John McLaughlin, Joe Zawinul ou Pat Metheny.

"Natacha", Gregori Czerkinsky (França) - french pop, rock
A fechar a emissão o francês Gregori Czerkinsky e o célebre “Natacha”, tema extraído do álbum “Czerkinsky”, editado em 1998. O cantor, nascido em Oran em 1954, foi compositor no grupo Mikado com Pascale Borel, tendo mais tarde enveredado por uma carreira a solo. Um fundamentalista do amor, até porque não é de extranhar que nos seus concertos se abalance sobre alguma rapariga do público, fazendo prova do seu dom de amante infinito e de gigoló, e transpondo para a realidade as palavras que se podem ouvir numa das suas músicas: "Para ser amado é necessário ser amável”. E as suas canções falam precisamente de amabilidade e de amor, sobre diferentes perspectivas, desde a do triunfador à do desgraçado. Um romanticismo radical e algo cínico, num ambiente sonoro que se cruza entre Jay-Jay Johanson e Serge Gainsbourg. São temas recheados de frescura e bom humor, que vão da música clássica, à pop e ao rock, e trazem muitos sonhos à mistura.

Jorge Costa

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Emissão #25 - 9 Setembro 2006

A 25ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, que marca o início de uma nova temporada do programa, é difundida no sábado, 9 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), indo de novo para o ar na segunda-feira,11 de Setembro, entre as 19 e as 20 horas.

"Kekko", Kimmo Pohjonen
(Finlândia) - folk-rock, electronic folk
O finlandês Kimmo Pohjonen a abrir a emissão com o tema “Keko”, extraído do álbum “Kluster”, editado em 2002. Com uma carreira de vinte anos, repartida entre a folk, a música clássica e o rock, Kimmo Pohjonen mistura de forma única o acordeão com amostras de som e percussões, levando-o para universos como a dança contemporânea ou o teatro musical. Pohjonen, que nasceu na aldeia de Viiala, começou a tocar acordeão aos oito anos por influência do pai. Na Academia Sibelius, em Helsínquia, foi encorajado a absorver a folk e a misturá-la com outros estilos. Para expandir a sonoridade do fole diatónico, em 1996 Kimmo apresentou-se em palco com um acordeão cromático e com composições originais que integravam samples e loops do islandês Samuli Kosminen, com quem formou o duo Kluster. Mais tarde, a eles juntaram-se Pat Mastrelotto e Trey Jun, dando lugar ao quarteto Kluster TU. Entretanto, Pohjonen tem vindo a colaborar com músicos finlandeses como Heikki Leitinen, Maria Kalaniemi, Pinnin Pojat, Alanko Saatio ou Arto Järvellä. Os sons que este extrai do acordeão, a sua voz, misturam harmonia e ruído. Actualmente mais voltado para o formato acústico, Kimmo Pohjonen mantém no entanto como base as raízes e os cantos populares da Finlândia. Tradição e improviso estão assim unidos, numa busca de novos sons através da música experimental e electrónica.

"Feunteun Wenn", Jacques
Pellen & Celtic Procession (França) - jazz rock, celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Jacques Pellen, um dos melhores guitarristas bretões e um talentoso músico de jazz, e o colectivo Celtic Procession. Eles trazem-nos o tema “Feunteun Wenn”, extraído do álbum “Celtic Procession Live – Les Tombées de la Nuit”. Um trabalho gravado em Rennes por doze músicos a propósito do décimo aniversário daquela big band de geometria variável, criada em 1988. Um colectivo que reúne uma dezena de músicos tradicionais bretões e de jazz com a mesma paixão de Jacques Pellen pelo improviso. Com referências tão diferentes quanto o pianista de jazz Keith Jarrett, o compositor clássico Schönberg ou o o guitarrista bretão Dan Ar Braz, eles tentam misturar o jazz com temas e instrumentações de inspiração celta bretã, adicionando-lhes mesmo o rock e sons africanos.

"Hebden Bridge", Kíla (Irlanda) - celtic music, world fusion
Os irlandeses Kíla trazem-nos “Hebden Bridge”, tema extraído do seu sexto álbum “Luna Park”, editado em 2003. O nome deste trabalho refere-se a um parque de diversões que outrora existiu em Coney Island, em Nova Iorque, península onde eles tocaram uma vez. Um exemplo da forma como esta banda, criada em Dublin em 1987, ousou aventurar-se em novos territórios sem no entanto deixar de preservar o essencial da sua identidade e de homenagear os seus antepassados. Ao fundirem ritmos da música tradicional irlandesa e do sul da Europa com sonoridades provenientes de outras paragens, os Kíla conquistaram um lugar próprio no panorama cultural anglo-saxónico, revigorando assim as tradições musicais do seu país e criando um som contemporâneo distinto. Para o conseguirem, eles servem-se de um conjunto eclético de instrumentos, não muito para além dos habitualmente presentes na música celta, mas também de outras referências que vão dos coros do Médio Oriente aos sons africanos. Uma espiral em que dão novas direcções e territórios a uma música ancestral, e no entanto enérgica, a qual parece vir não do passado mas antes de uma Irlanda imaginária.

"Andaina Kau Sudi", Malek Ridzuan (Malásia) - asli, malaysian folk, pop
A viagem prossegue com Malek Ridzuan e o tema “Andainya Kau Sudi”, extraído do álbum “10 Best of The Best”. Veterano da actual cena musical malaia, Malek Ridzuan canta uma mistura de pop e melodias tradicionais da Malásia, tendo na década de 80 enveredado pelo asli, um conhecido género de dança. Um país asiático onde se combinam as influências das vizinhas Indonésia e Tailândia e também do Ocidente, criando uma mistura de culturas e estilos musicais. A existência de quatro grandes etnias na Malásia – malaia, árabe, indiana, chinesa e ocidental – fez igualmente com que a música local se diversificasse em géneros tradicionais e modernos, servindo estes de caminho a muita da pop e música comercial daquele país. Do ghazal (“poema de amor” em árabe) tocado nos casamentos, ao masri, ritmo do Médio Oriente, passando pelos cinco tipos de ritmo de dança: tarian melayu, asli, inang, joget e zapin. Uma mistura incrementada com a chegada a Malaca dos portugueses no início do século XVI, que para aí levaram o violino, o acordeão e a rebana (um membrafone cónico de grandes dimensões), e com a colonização britânica no final do século XIX. Por volta de 1920 aparece então a bangsawan (ópera malaia), cujos músicos começam a modernizar os estilos tradicionais de dança da Malásia.

"Purim Dnigun", Djamo (França) - gypsy music
Atrás no programa Djamo com “Purin Dnigun”, tema extraído do álbum “Chants Tziganes Métissés”. Um ensemble françês que tem como repertório principal os cantos e a música cigana mestiça. Este jovem grupo originário da região de Poitou-Charentes, localizada no centro-oeste de França, leva-nos à descoberta das músicas ciganas e magrebinas. Neste álbum, eles são acompanhados por outros embaixadores dos sons mestiços, entre eles os Dikès e os Opa Tsupa, quinteto acústico que cruza igualmente diferentes influências como o gypsy swing, o jazz, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française.

"Sauver", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
A jornada prossegue com Tiken Jah Fakoly e o tema “Sauver”, extraído do seu sétimo álbum “Coup de Gueule”, lançado em 2004. Um disco em que Tiken Jah Fakoly segue os caminhos do reggae africano de Alpha Blondy, fazendo uma ponte com a Jamaica, e mergulhando na tradição mandingo sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Neste álbum, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim, exilado entre Bamako e Paris, ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem no continente, bem como a hipocrisia das religiões monoteístas. Fakoly apresenta temas em francês e em dioula, a língua da sua etnia e que é falada no norte da Costa do Marfim, na Guiné-Conacri, no Mali e no Burkina-Faso. Um trabalho de novo realizado por Tyrone Downie, e que conta com os ritmos de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, que nos trazem os inconfundíveis sons do balafon, da kora e do ngoni. Outros artistas do mundo ajudam o rebelde tranquilo a alargar a sua música a outros horizontes. Entre eles estão Didier Awadi, dos Positive Black Soul e um dos fundadores do hip-hop senegalês, e os irmãos Amokrane de Zebda e Magyd Cherfi.

"African Convention", Miriam Makeba (África do Sul) - soul jazz, afro-pop
Para já segue-se a sul-africana Miriam Makeba, que nos traz o tema “African Convention”, extraído do álbum “Hits & Highlights”. Ela foi a primeira mulher negra exilada por causa do apartheid e a primeira artista a colocar a música africana no mapa internacional. Miriam, que já gravou mais de 40 discos, cresceu a ouvir Duke Ellington, Billie Holiday e Ella Fitzgerald, sendo hoje capaz de cantar em nove línguas (francês, inglês, arábico, xhosa, kikongo, maninka, fula, nyanja e shona). Exilada por ter aparecido no filme “Come Back Africa”, a imperatriz da música africana passou 31 anos longe do seu país, lutando pelos direitos civis dos negros.
A sua carreira começa na década de 50 nos Cuban Brothers. Miriam torna-se conhecida como vocalista da formação de jazz Manhattan Brothers, juntando-se mais tarde ao grupo vocal feminino Skylarks. Em 1959 o realizador americano Lionel Togosin convida Miriam a apresentar um documentário sobre a África do Sul no festival de Veneza, o que enfureceria as autoridades sul-africanas. Miriam Makeba exila-se então nos Estados Unidos, criando sucessos como “Pata Pata", "The Clique Song" ou "Malaika". O seu casamento com Stokely Carmichael, o líder radical dos Panteras Negras, traz-lhe problemas com as autoridades americanas. Exila-se então na Guiné-Conacri, até que em 1990 Nelson Mandela a convence a regressar ao seu país.

"El Wejda", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music
A jornada musical prossegue com o tema “El Wedja”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de
grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Hininga", Mercan Dede (Turquia) - sufi music, electronic
Mercan Dede, um dos mais importantes artistas turcos, traz-nos o tema “Hininga”, extraído do álbum “Nefes”, editado no passado mês de Junho. Radicado em Montreal, no Canadá,
Mercan Dede mistura a música tradicional com batidas electrónicas. Ele desenvolve duas carreiras paralelas: como Arkin Allen é um DJ especializado em hard techno; como Mercan Dede mistura a tradição do sufismo com estilos contemporâneos. Com o seu ensemble de músicos turcos e canadianos, fundado em 1998 e formado pelos músicos Mohammad, Farokh Shams e Ben Grossman e pela dançarina Isaiah Sala, Mercan Dede funde as tradições espirituais da música sufi com sons actuais, criando uma mistura única entre o Oriente e o Ocidente. Nas suas actuações, ele utiliza instrumentos de origem turca como a ney (flauta de cana) e a kanun (cítara), e mistura as percussões do Médio Oriente com sons electrónicos, tudo isso enquanto que um dervish dança em palco. No álbum “Nefes” (Respiração), o terceiro de uma série de quatro que começou com Nar (Fogo) e continuou com Su (Água), Mercan Dede cria uma fusão que captura a magia do Oriente, os elementos místicos, a instrumentação tradicional e os sons electrónicos.

"El Duende Orgánico", Solar Sides (Espanha) - flamenco nuevo
A fechar o programa os espanhóis Solar Sides e o tema “El Duende Orgánico”, extraído do álbum “Ibiza Chill & Deep Collection”. Formados por Tomi del Castillo e Esteban Lucci, os Solar Sides provam que em Ibiza também há lugar para o flamenco, um género que materializa a alma cigana na Andaluzia. Mas nas últimas décadas este tem vindo a regenerar-se. É que hoje é habitual fundir-se a estrutura básica do flamenco com o rock e a música electrónica, algo a que se convencionou chamar de nuevo flamenco. E é precisamente isso que os Solar Side fazem, já que mantêm uma inteligente mistura de elementos jazz e funky no seu groove electroacústico, apelando tanto aos fãs do acid jazz como aos aficionados do deep-house dance.

Jorge Costa

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

Emissão #24 - 2 Setembro 2006

A 24ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 2 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 4 de Setembro, entre as 19 e as 20 horas.

Uma edição em que mais uma vez se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas árabes e orientais que até agora passaram neste programa. Eis a listagem:

"Mahli [Remix]", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi, raï

Lemen, Cheb Khaled (Argélia) - raï, chaâbi

"Leiley [Transglobal Underground Remix]", Dania (Líbano) - arabic music

"Ne Me Jugez Pas [Volodia Remix]", Sawt el Atlas (Marrocos) - raï funk


"Mani", Cheba Fadela & Cheb Sahraoui (Argélia) - raï-pop

"L'Histoire", Cheb Tarik (Argélia) - raï hip hop, reggae

"N'Kodo", Djamel Laroussi (Argélia) - rap, raï


"Paisa", Manak-E (Reino Unido) - bhangra, punjabi music

"Rail Gaddi", Four For a Kind (Reino Unido) - bhangra

"Red Sun", Anoushka Shankar (Índia) - indian music

"Jumpin'Jack Flash", Ananda Shankar (Índia) - indian funk, chill-out

"Shiva's Daughter", Arling & Cameron (Holanda) - pop, drum'n'bass, bossa nova

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa