quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

World Music Charts Europe - Janeiro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Janeiro dos 184 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a inversão nos dois lugares cimeiros e as oito novas entradas no topo do painel: duas em estreia absoluta no WMCE e cinco a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar


2º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 1ºlugar

3º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 5ºlugar

4º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
mês passado: 13ºlugar

5º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 4ºlugar

6º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 3ºlugar
7º- MA YELA, Akli D (Argélia) - Because
mês passado: 17ºlugar
8º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
mês passado: 15ºlugar
9º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica

mês passado: 27ºlugar
10º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
mês passado: 14ºlugar

11º- INTRODUCING, Bela Lakatos & The Gypsy Youth Project (Hungria) - World Music Network
mês passado: 32ºlugar
12º- WE ARE THE SHEPHERDS, OMFO (Ucrânia) - Essay Recordings
mês passado: 19ºlugar

13º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 6ºlugar

14º- DIALOGUE, Sondre Bratland & Javed Bashir (Noruega) - Kirkelig Kultur Verksted
mês passado: 16ºlugar

15º- ÄLVDALENS ELEKTRISKA, Lena Willemark (Suécia) - Amigo
mês passado: 39ºlugar
16º- KECE KURDAN, Aynur (Turquia) - Kalan
mês passado: 29ºlugar
17º- DZUMBUS, Slonovski Bal (Sérvia) - Bal Bazar
estreia na tabela
18º- EFFFECTO, Faltriqueira (Espanha) - Resistencia
mês passado: 48ºlugar
19º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 10ºlugar

20º- MARFUL, Marful (Espanha) - Galileo
estreia na tabela

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Emissão #33 - 23 Dezembro 2006

A 33ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, um programa especial que conta com entrevistas exclusivas aos Comcordas e Mu, bandas que em Outubro estiveram no Festival Entrelaços, em Castelo Branco, é difundida no sábado, 23 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), e vai de novo para o ar na segunda-feira, 25 de Dezembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (13 e 15 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"Devoiche Belo, Tsurveno/Povdigni Si Milo Libe/Vasilke, Mlada Nevesto", Angelite (Bulgária)
- bulgarian folk
As vozes búlgaras das Angelite estreiam esta emissão especial com três canções de amor – “Devoiche Belo, Tsurveno”, “Povdigni Si Milo Libe” e “Vasilke, Mlada Nevesto” –, um medley que faz parte do álbum “Balkan Passions”, editado em 2001. À semelhança dos restantes países dos Balcãs, a Bulgária é um território habitado por turcos, ciganos, macedónios, judeus, arménios e romenos, grupos étnicos que ao longo do tempo foram moldando a música desta região. Prova dessa convivência cultural é a lista de músicos que participam neste trabalho: Orchestre Pirin, da Bulgária; Okay Temiz e Sezen Aksu, da Turquia; Fanfare Ciocărlia, da Roménia; e Maria Farantouri, da Grécia. Fundadas em 1952, as Angelite são um grupo de canto vocal composto por duas dezenas de mulheres, e que combina elementos tradicionais da folk búlgara com intervalos microtonais e a justaposição de escalas. São melodias seculares que fazem alusão a elementos da vida diária, incorporando muitas das vezes participações instrumentais e arranjos de compositores clássicos contemporâneos. Dirigido pelo compositor búlgaro Georgy Petkov, o coro colaborou, entre outros, com o saxofonista Jan Gabarek e com o Moscow Arts Trio. O canto vocal é uma importante tradição búlgara, particularmente no Natal, em que se destacam as melodias sacras ortodoxas, outrora cantadas apenas pelos homens, ou os cânticos alusivos à quadra. Um estilo único, de grande riqueza melódica e rítmica, possível graças a um desenvolvido controlo da respiração, e que terá surgido no Médio Oriente na era pré-cristã.

"Rumba Para Susi", Susana Seivane
(Espanha) - galician folk, celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Susana Seivane, que nos traz “Rumba Para Susi”, um tema tradicional que aqui se apresenta numa versão adaptada para gaita e pequena orquestra. Esta gaiteira é neta de Xosé Manuel Seivane, um dos mais conceituados artesãos galegos. Diz a tradição que a madeira de buxo ou buxeiro, utilizada na construção das gaitas de foles galegas, deve ficar mais de cem anos à espera de um artesão que lhe consiga descobrir a alma e transformá-la no instrumento musical. O buxo com que os Seivane fazem gaitas desde 1939 serviu precisamente de inspiração para o nome deste disco "Alma de Buxo". No seu segundo álbum, editado em 2002, a jovem segue a tradição musical da Galiza com várias xotas, muiñeiras, marchas e outras composições típicas daquela região, adicionando-lhes no entanto a bateria, o baixo e algumas amostras de música pop. E não é de espantar a sua mestria no manejo da gaita-de-foles, até porque começou a tocar este instrumento aos quatro anos. Neste álbum, Susana Seivane é acompanhada pela sua banda e por músicos como o ex-Milladoiro Rodrígo Romani, Kepa Junkera, Uxía Senlle, Guadi Galego dos Berrogüetto ou Uxía Pedreira dos Chouteira. Um trabalho em que esta presta homenagem aos gaiteiros da sua terra, como é o caso de Pepe Vaamonde e do próprio avô, que gravou duas composições do seu repertório. São duas gerações reunidas num só disco.

"Pandeirada do Che", Luar Na Lubre
(Espanha) - celtic folk
Regresso à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trouxeram-nos o tema “Pandeirada do Che”, extraído do álbum “Saudade”, editado este ano. Uma música recheada de alusões a Che Guevara, e onde Celso Emilio Ferreiro toca o pandeiro lado a lado com os viguenses Xulio Formoso e Farruco Sesto. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Está assim consolidada a intenção do grupo em sublinhar a influência portuguesa para melhor definir a sua identidade galega, neste Portugal além-Minho. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"Vinavata", Mu
(Portugal) - folk
Os portuenses Mu, uma jovem banda folk cuja alegria não deixa ninguém indiferente, com “Vinavata”, um dos temas gravados em Espanha no Festival Danzas Sin Fronteras, e que faz parte do seu primeiro álbum “Mundanças”, editado no ano passado. O título deste trabalho, em que também participam os Dazkarieh, mais não é do que um trocadilho de palavras que descreve na perfeição o mundo em mutação e recheado de dança em que os Mu estão mergulhados. Eles nasceram no Porto em 2003 e foram procurar inspiração nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo. Os ritmos e vozes tradicionais servem então de referência a este grupo que reinventa sobretudo danças balcânicas e eslavas, mas em cuja palete sonora não faltam também os sons ciganos, bretões, irlandeses ou mesmo africanos. Uma banda jovial, de estilo "roufenho, nómada e circense", conforme já lhes chamaram, que tem feito sucesso em festivais como o Andanças, em S. Pedro do Sul, o Intercéltico de Sendim, ou o Danzas sin Fronteras, em Espanha. Na sua quarta formação, os Mu integram os músicos Hugo Osga, Nuno Encarnação, Diana Azevedo, Sophie Kaliasz, Sérgio Calisto e Sara Barbosa.

"Diamantta Spaillit", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
Avançamos agora até ao norte da Europa com a norueguesa Mari Boine Persen, que nos traz o tema “Diamantta Spaillit” (Rena de Diamantes), extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em Abril deste ano. Com mais de vinte anos de carreira, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, povo que habita a chamada Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evoca a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Kokko", Värttinä
(Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A viagem prossegue com as Värttinä e o tema “Kokko”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 1996. De regresso ao programa, a mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa trouxe-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, naquele que foi o primeiro trabalho onde o grupo tentou juntar a música tradicional com sons modernos. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.


"Ma Betty Boop À Moi", Opa Tsupa (França) - jazz manouche
A fechar o programa, despedimo-nos com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Ma Betty Boop À Moi", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Este quinteto acústico de jazz manouche, nascido em 2000, mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda – bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé – aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.


Jorge Costa

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Emissão #32 - 9 Dezembro 2006

A 32ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 9 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 11 de Dezembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (30 de Dezembro e 1 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"Are You Gyspifiled? (megamix)", Olaf Hund (França) & Koçani Orkestar (Macedónia), Taraf de Haïdouks (Roménia) e Ursari de Clejani (Roménia)
- gypsy brass band, gypsy oriental music
A abrir a emissão, o compositor francês e produtor de música electrónica Olaf Hund com a remistura “Are You Gypsified?”, extraída da colectânea “Electric Gypsyland”, editada no ano passado. Uma série de reinterpretações e de reinvenções poéticas de músicos europeus e americanos, em que o ponto de partida é a música cigana. Neste megamix, Olaf Hund mistura temas de três das mais conhecidas bandas dos Balcãs: os Koçani Orkestar, os Taraf de Haïdouks e os Ursari de Clejani. Originários da cidade macedónia do mesmo nome e liderados pelo trompetista Naat Veliov, os Koçani Orkestar combinam o som das fanfarras com ritmos de dança turcos e búlgaros e melodias ciganas dos Balcãs. O resultado é uma frenética festa sonora, localmente apelidada de Romska Orientalna Musika (música cigana oriental). Já os Taraf de Haïdouks ("banda de bandidos") são originários da cidade romena de Clejani, situada a sudoeste de Bucareste. Uma dezena de instrumentistas e cantores, com idades entre os 20 e os 78 anos, descobertos em 1990 por dois jovens músicos belgas que se apaixonaram pela sua sonoridade e decidiram levá-los até à Bélgica para os darem a conhecer ao mundo. A sua música, que varia entre as baladas e as danças, é uma mistura de estilos locais, representando na perfeição a riqueza das folk romena. Finalmente, e ainda na mesma cidade, encontramos os Ursari de Clejani, representantes do estilo vocal ursari e descendentes de uma família de domadores de ursos, e que no passado colaboraram num dos álbuns dos Taraf de Haïdouks.

"Urrutiko Polkak", Alboka
(Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com os Alboka e o tema “Urrutiko Polkak”, extraído do álbum “Lau Anaiak” (Os Quatro Irmãos), lançado em 2004. Quarto trabalho do grupo que, para além das danças e melodias populares, retiradas dos cancioneiros bascos, integra temas instrumentais – então uma novidade na folk basca, mais habituada a trabalhos vocais – e novas canções, compostas por Allan Grifing e traduzidas para euskera pelo escritor basco Juan Garcia. O agora duo, formado pelo acordeonista Joxan Goikoetxea e pelo multi-instrumentista irlandês Alan Griffin (que há mais de vinte anos vive no País Basco), foi criado em 1994 juntamente com mais dois músicos daquela região autónoma espanhola: Txomin Artola e Josean Martín Zarko. Da sua história fazem também parte as vozes de Benito Lertxundi e Xabi San Sebastián, o violinista Juan Arriola e a cantora húngara Marta Sebestyén, que colaborou num dos álbuns do grupo. Um ensemble cujo objectivo é o de interpretar música tradicional exclusivamente de forma acústica, sua imagem de marca, e que foi buscar o nome à alboka, um aerofone pastoril basco, construído com dois chifres de vaca, e cuja sonoridade, parecida com a da gaita, se situa entre a sanfona e a bombarda francesa. Juntam-se-lhe o acordeão, o bouzuki, o bandolim, o ttun-ttun (tamboril basco, da família do saltério), a guitarra acústica, o violino, a harpa, a gaita, a flauta e as percussões. Uma ponte entre a música tradicional e a folk contemporânea, em que a energia basca se une à pureza irlandesa.

"Sort of Slides: Choice Language/Bring Out the Wilf/Come Ahead Charlie", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie regressam ao programa, desta feita com o medley “Sort of Slides: Choice Language/Bring Out the Wilf/Come Ahead Charlie”, extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Yehlisan'Umoya Ma-Afrika", Busi Mhlongo
(África do Sul) - afro pop, maskanda, mbaqanda
Avançamos agora até à África do Sul com Busi Mhlongo, que nos traz o tema "Yehlisan'Umoya Ma-Afrika", extraído do álbum "Urbanzulu", lançado em 2000. Disco em que colaboraram vários músicos, entre eles, dois da banda Phuzekhemisi, que com ela compuseram este álbum simultaneamente africano e ocidental. A diva da afropop foi a primeira mulher a internacionalizar a maskanda, género tradicional zulu que expressa a alegria e o lamento presentes na moderna vida da urbana África do Sul, e outrora característico dos trabalhadores e migrantes rurais. No entanto, Busi Mhlongo percorre outros estilos sul-africanos, fundindo-os com o jazz, o funk, o rock, o gospel, o rap e o reggae, e usando coros e instrumentos não tradicionais. Ao longo da sua carreira, actuou com alguns dos melhores nomes do jazz e estrelas da mbaqanga (género vocal, desenvolvido a partir de um estilo negro urbano, em que se destacam as vozes graves masculinas, e que se transformou no mqashiyo, um popular género de dança). Impedida de regressar à África do Sul, o que só aconteceria nos anos 90, Busi Mhlongo passou vários anos em Portugal, cantando temas populares e canções africanas em casinos. Durante o exílio, ela viveu ainda em Londres, no Canadá e em Amesterdão, cidade onde trabalhou com músicos africanos e desenvolveu o seu estilo único. Não é por acaso que, nas suas letras, Busi Mhlongo fala da necessária reconciliação entre sul-africanos com diferentes aspirações políticas.

"Les Temps On Changé", Amadou & Mariam
(Mali) - afropop blues
A dupla Amadou & Mariam de volta ao programa, desta feita com o tema “Les Temps Ont Changé”, extraído do álbum “Wati” (Os Tempos, em bambara), editado em 2002. Uma música onde o casal critica o individualismo das novas gerações, utilizando a mais roqueira pop africana. Um afropop blues, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências tão inesperadas como o cavaquinho português ou o violino de Bengala. E como é habitual, não faltam as alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Neste trabalho, Amadou & Mariam prestam homenagem à música tradicional maliana, ainda que embrulhada em sons ocidentais, tendo por convidados os franceses Mathieu Chedid, Jean-Philippe Rykiel, Sergent Garcia, o marroquino Hamid el Kasri e os malianos Cheick Tidiane Seck, Moriba Koïta e Boubacar Dambalé. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na vida e na carreira. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma através da qual recordam não só as suas raízes mandingo, mas também as teias invisíveis que ligam o Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.

"Kadife", Richard Hagopian
(EUA) & Omar Faruk Tekbilek (Turquia) - bellydance
A viagem prossegue com Richard Hagopian e Omar Faruk Tekbilek, que nos trazem "Kadife", tema extraído do álbum "Gypsy Fire", lançado em 1995. Uma recriação do ambiente underground multiétnico da Oitava Avenida em Nova Iorque na década de 1950, onde ciganos, arménios, turcos, judeus, gregos e árabes tocavam juntos. Álbum que reúne alguns dos melhores músicos do Médio Oriente, Europa de Leste e Estados Unidos da América, e em que participam ainda o lendário saxofonista turco Yuri Yunakov; Hasan Iskut, tocador de kanun, o "piano" da música turca; o violinista Harold Hagopian, filho de Richard Hagopian; o percussionista Arto Tunçboyaciyan; o guitarrista Ara Dinkjian e o baixista Chris Marashlian. Considerado um dos melhores tocadores de alaúde do planeta, Richard Hagopian é também um dos mais reconhecidos músicos e etnomusicologistas de ascendência arménia. Ele nasceu na Califórnia, nos Estados Unidos, e aprendeu a tocar violino e clarinete aos oito anos. Mais tarde, estudou com o famoso artista arménio Garbis Bakirgian. Hoje diz tocar mais de cinquenta instrumentos. Omar Faruk Tekbilek é também um virtuoso multinstrumentista. Ele iniciou a sua carreira musical aos oito anos com a kaval (uma pequena flauta diatónica), tendo aprendido a tocar instrumentos como a ney (flauta de bambú), a zurna (tipo de oboé), a baglama (alaúde de braço comprido) ou o oud (alaúde árabe). A sua música, enraizada na tradição turca, foi influenciada por múltiplos estilos e instrumentações árabes e orientais, emanando misticismo, romance e imaginação. Radicado em Nova Iorque, ele colabora sobretudo com o produtor e guitarrista norte-americano Brian Keane, a cujas bases electrónicas acrescenta os sons da flauta e da percussão.

"Sidi H’Bidi", Les Boukakes (França) - raï n'rock, afrobeat, reggae
Os Les Boukakes apresentam-se com o tema "Sidi H’Bidi", extraído do seu último álbum "Bledi", editado em 2004. Um trabalho onde o raï argelino e o gnawa marroquino surgem à mistura com o rock e a música electrónica, provando ser possível e agradável a combinação entre ocidente e oriente. Esta banda masculina de sete elementos, formada em 1998, é liderada pelo cantor argelino Bachir Mokhtare e inclui músicos tunisinos e franceses. Os Boukakes, que no passado mês de Novembro foram nomeados para os BBC Radio 3 Music Awards, foram buscar o seu nome à mistura fonética de dois típicos insultos racistas. Uma reacção - pouco chocante, no entender deles - às referências menos abonatórias que costumavam receber quando se estrearam nas ruas. Sem fazerem comentários políticos ostensivos nas suas canções, os Boukakes apelam deliberadamente à resistência ao status quo e à ignorância generalizada. Letras que são combinadas com melodias orientais e instrumentos diversos, como o karkabou/qarqabou (grandes castanholas metálicas marroquinas), a derbouka (instrumento de percussão magrebino), o bendir (outro instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), o duf (espécie de pandeireta), a tabla, o banjo, a guitarra ou o baixo. Anos depois, eles passaram das ruas para os bares e dos pequenos concertos para os festivais, encontrando finalmente o seu público. Desde então, têm partilhado o palco com músicos e bandas famosas como os Zebda, The Wailers, Manu Chao, Natacha Atlas, Taraf De Haïdouks, Cheikha Rimitti e Rachi Taha. Em 2004, o seu raï n'rock conquistou finalmente grande projecção, ao ganharem diversos prémios profissionais.

"Le Mec Aux Tics", Opa Tsupa (França) - jazz manouche
Os sons deste planeta musical continuam com os Opa Tsupa, que nos trazem o tema "Le Mec Aux Tics", extraído do álbum "Bastringue", editado este ano. Os Opa Tsupa são uma formação de jazz manouche, nascida em 2000. Este quinteto acústico mistura o som de Django Reinhardt, um dos mais importantes guitarristas de jazz de todos os tempos, com o gypsy swing, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française. O seu repertório é composto por criações originais, inspiradas em géneros como o swing dos anos 30, a música judaica e as músicas tradicionais ciganas, e em artistas tão diversos como Jacques Higelin, Paris Combo ou Latcho Drom. Para isso, os Opa Tsupa utilizam diversos instrumentos acústicos de corda - bandolim, contrabaixo, violino, guitarra, banjo, oukoulélé - aliando o swing e o humor a uma sonoridade que se aproxima à da dos Bratsch, dos Primitifs du Futur ou dos Sansévérino.

"Rumelàj", Djamo (França) - gypsy music
Seguem-se os Djamo, que mais uma vez regressam ao programa, trazendo-nos agora o tema "Rumelàj", extraído do álbum "Chants Tziganes Métissés". Um ensemble françês que tem como repertório principal os cantos e a música cigana mestiça. Este jovem grupo originário da região de Poitou-Charentes, localizada no centro-oeste de França, leva-nos à descoberta das músicas ciganas e magrebinas. Neste álbum, eles são acompanhados por outros embaixadores dos sons mestiços, entre eles os Dikès e, precisamente, os Opa Tsupa.

"1000 Mirrors", Badi Assad
(Brasil) - brazilian music
A fechar o programa, despedimo-nos com Badi Assad e o tema "1000 Mirrors", extraído do seu último trabalho "Wonderland", editado este ano. Este foi produzido por Jacques Morenlenbaum, e conta com a participação especial de Seu Jorge, entre outros músicos. Um álbum onde Badi Assad desmonta uma série de espelhos humanos, falando com a voz e com a percussão do próprio corpo sobre a violência doméstica, o alcoolismo ou a prostituição. Badi, cujo verdadeiro nome é Mariângela, foi baptizada em pequena pela mãe com parte do apelido
libanês do pai, o qual em árabe significa Leão Milagroso. A cantora e compositora brasileira, nascida em São João da Boa Vista, no estado de São Paulo, começou como violinista clássica e aperfeiçoou a sua técnica instrumental, deixando para trás a formação académica e o universo da música erudita, que trocou pelo ritmo das canções da música popular. Tal como os irmãos violinistas Sérgio e Odair, que hoje formam o duo Assad, Badi começou a carreira como instrumentista, primeiro ao piano e depois à guitarra (conhecida no Brasil por violão). Em 1998, um problema na mão obrigou-a a ficar dois anos sem tocar, até que acabou pode descobrir outra forma sublime de expressão: o canto.

Jorge Costa

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

World Music Charts Europe - Dezembro 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Dezembro dos 188 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a nova liderança e as oito novas entradas no topo do painel: cinco em estreia absoluta no WMCE e três a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 4ºlugar


2º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 2ºlugar

3º- KETUKUBA, Africando (Senegal, vários) - Stern's
mês passado: 56ºlugar
4º- DIWAN 2, Rachid Taha (França, Argélia) - Barclay/Wrasse
mês passado: 159ºlugar
5º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
mês passado: 18ºlugar

6º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
mês passado: 13ºlugar

7º- IDJAGIEĐAS, Mari Boine (Noruega) - Emarcy (Universal)
mês passado: 11ºlugar

8º- PASJA LEGENDA, Brina (Eslovénia) - DruGod
mês passado: 3ºlugar

9º- ABACABOK, Tartit (Mali) - Crammed
mês passado: 17ºlugar

10º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 19ºlugar

11º- GOLDEN AFRIQUE VOL. 3, vários - Network Medien
mês passado: 7ºlugar

12º- EOLH, Almasala (Espanha) - Ventilador
mês passado: 12ºlugar

13º- THE IDAN RAICHEL PROJECT, The Idan Raichel Project (Israel) - Cumbancha
estreia na tabela
14º- DEDICATION, DAM (Palestina) - Red Circle Music
estreia na tabela
15º- NEFTAKHIR, Maghrebika (Marrocos) - Barraka
estreia na tabela
16º- DIALOGUE, Sondre Bratland & Javed Bashir (Noruega) - Kirkelig Kultur Verksted
mês passado: 22ºlugar
17º- KABYLE MENTAL, Akli D (Argélia) - Because
estreia na tabela
18º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar
19º- WE ARE THE SHEPHERDS, OMFO (Ucrânia) - Essay Recordings

estreia na tabela
20º- ALMINARES MEDITERRANEOS, Caravasar (Espanha) - Resistencia
mês passado: 9ºlugar