quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Emissão #55 - 29 Dezembro 2007

A 55ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 29 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 2 de Janeiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (19 e 23 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"S'Agapov", Eli Paspala (Grécia) - greek music
A grega Eli Paspala inaugura mais uma emissão com “S'Agapov” (Eu Amo-te), tema retirado do álbum “Trio”, gravado ao vivo em 2001 em Atenas e lançado no ano seguinte. Uma selecção de músicas onde a conhecida cantora grega é acompanhada pelo seu marido David Lynch – ainda que americano, não se trata do famoso realizador de cinema -, músico de mãe irlandesa e pai checo que aqui toca flauta, saxofone e diversos tipos de percussão; e pelo cipriota Stavros Lantsias, que estudou em Boston e que neste trabalho toca piano, guitarra clássica, melódica e percussões. Apesar das diferentes origens geográficas, em comum os três músicos têm o facto de se terem estabelecido em Atenas. De ascendência grega, Elli Paspala é uma das mais célebres vocalistas daquele país dado o estilo único com que canta desde os temas de grandes compositores internacionais às canções helénicas, interpretadas não só em grego mas também em inglês, italiano, alemão e japonês. Sentimentos e ideias que se misturam na poética de géneros musicais que vão da pop ao jazz. Elli Paspala nasceu em Nova Iorque, onde fez carreira no mundo da ópera, mas em 1982 trocou os Estados Unidos pela Grécia, colaborando durante seis anos com o compositor Manos Hatzidakis. Ao longo do tempo, tem vindo a trabalhar com outros nomes de referência do mundo da composição grega como Stamatis Kraounaki, Mikis Théodorakis, Dionysis Savopoulos, Stamo Semsi ou Léna Platonos, sem esquecer as colaborações com músicos como Dimita Galani ou Yannis Spathas.

"Guardunha", Diabo a Sete (Portugal) - folk
As músicas do mundo prosseguem com "Guardunha" dos Diabo a Sete, um dos temas vulcânicos que fazem parte da “Parainfernália”, álbum de estreia do grupo, lançado este ano, e onde é convidado o músico Hugo Natal da Luz. Surgidos em Coimbra em 2003, os Diabo a Sete dizem ser uma espécie de cozido à portuguesa, embora com menos couves e mais enchidos. Das adaptações do cancioneiro nacional aos originais de inspiração popular, eles procuram reinventar a música tradicional portuguesa tomando como referência principal formações como o GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) e a Brigada Victor Jara. Caminhos escaldantes que depois se alargam a recantos acústicos endiabrados como o rock, o reggae, a música celta ou as danças europeias. Com percursos diferentes mas um gosto comum pela música étnica do seu país, Pedro Damasceno, Celso Bento, Eduardo Murta, Julieta Silva, Luísa Correia, Miguel Cardina e André Moutinho misturam os sons da sanfona, da concertina, da flauta, da gaita-de-foles, do bandolim, do cavaquinho e da guitarra com os da bateria, das percussões e do baixo eléctrico. Um cruzamento entre o passado, o presente e o futuro, onde se reinventam ritmos, melodias e instrumentos de outros tempos. No dia 29 de Dezembro, os Diabo a Sete vão estar no Centro Norton de Matos, em Coimbra, e a 26 de Janeiro nas FNAC's de Almada e Cascais.

"Caminu Polaciones", Luétiga (Espanha) - folk
Os Luétiga apresentam-nos“Caminu Polaciones”, tema retirado do álbum “Nel El Vieju”, editado em 1994. Um disco recheado de letras tradicionais e de composições próprias onde se contam e cantam estórias sobre a história, a sociedade ou o meio ambiente na Cantábria. O projecto (em cántábru ou montañés, Luétiga significa “coruja”) arrancou em 1986 com o objectivo de recuperar e modernizar os ritmos, sons e instrumentos daquela região espanhola recorrendo à investigação e ao estudo da sua música tradicional. Os irmãos Fernando e Roberto Diego e Chema Murillo, elementos iniciais daquele que foi o primeiro grupo a utilizar o idioma cantábrico, começaram por contactar velhos instrumentistas e cantores populares, resgatando assim do passado todo um universo sonoro rico em modas de baile e em cantigas de trabalho. Se de inicio a opção recaiu por um som mais eléctrico, à semelhança de grupos congéneres do Reino Unido, França ou da vizinha Galiza, mais tarde os Luétiga – hoje formados por Maite Blanco, Conchi García, Chema Murillo, Juan Carlos Ruiz, Roberto Diego, Fernando Segura e Fernando Diego – decidiram prescindir do bodhrán, das flautas irlandesas ou da gaita galega de forma a preservarem ao máximo a identidade da folk cantábrica. A preferência recaiu então em instrumentos mais característicos daquela parte da celtibéria atlântica como a requinta (clarinete afinado em Mi bemol, conhecido na Cantábria por pitu montañés, onde é tocado com o tambor, e que em grande parte substituiu a gaita e a dulzaina – aerofone da família do oboé, equivalente à bombarda bretã), a gaita-de-foles cantábrica, a pandeireta, o pandeiro, o violino, a guitarra acústica, a flauta transversal, o baixo, o tambor e o cajón.

"Baay Faal",
Youssou N'Dour (Senegal) - mbalax, afropop
A jornada continua com Youssou N’Dour e "Baay Faal", extraído do álbum “Rokku Mi Rokka” (“Apanhar e Levar”), lançado em 2007. Tema onde o mais famoso cantor senegalês presta homenagem a Cheikh Iba Fall, primeiro discípulo de Cheikh Ahmadou Bamba, fundador da Confraria Mouride. Um trabalho que se aproxima dos cantos religiosos sufi, das percussões dos griots e dos sons do norte do Senegal, num apelo à paz, tolerância e valorização do continente africano. No final dos anos 70, o autor, intérprete e músico, que aprendeu a cantar com a mãe, formou com o cantor El Hadj Faye os L'Etoile de Dakar, e em 1981 os Le Super Étoile de Dakar. Cruzando os ritmos sincopados do mbalax senegalês com a pop internacional, numa fusão que inclui o jazz, a soul e arranjos afro-cubanos, o “rouxinol de Dakar” depressa cativou o público ocidental sem no entanto abdicar das suas raízes, conquistando o estatuto de embaixador da música africana. Nos seus temas em wolof e inglês, Youssou N’Dour retrata o mundo da pobreza, da emigração ou os valores culturais africanos. Um dos mais conhecidos a nível global é “Seven Seconds”, que gravou com Neneh Cherry. Através da música, com que pretende quebrar o silêncio das crianças que sofrem, Youssou N’Dour abraça também as causas humanitárias. Da fundação com o seu nome aos concertos em benefício da Amnistia Internacional, o embaixador da boa vontade para as Nações Unidas e para a UNICEF tem por isso mesmo colaborado com músicos como Peter Gabriel, Axelle Red, Sting, Alan Stivell, Bran Van 3000, Wyclef Jean, Paul Simon, Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Branford Marsalis, Ryuichi Sakamoto ou o camaronês Manu Dibango.

"Gimme Shelter", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
A
ngélique Kidjo e Joss Stone trazem-nos uma nova versão de “Gimme Shelter” - tema celebrizado pelos Rolling Stones, os reis do rock’n’roll -, retirada do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia), trabalho que conta com ainda com a participação de Joy Denelane. A jovem é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As músicas, grande parte inspiradas nas suas missões humanitárias, falam do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.

"Bulgarian Chicks", Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Seguem-se os Balkan Beat Box com “Bulgarian Chicks”, tema retirado do seu álbum de estreia, baptizado com o nome do grupo e editado em 2005. Para além da participação nesta música das Bulgarian Chicks (Valda Tomova e Kristin Espeland), o trabalho conta ainda com as colaborações dos israelitas Boom Pam, bem como de Victoria Hanna, Shushan, Hassan Ben Jaffar, Har-El Shachal e Tomer Yosef. Os Balkan Beat Box misturam de forma enérgica e ousada melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs, Mediterrâneo, Europa de Leste e Médio Oriente com letras bizarras, hip-hop e batidas electrónicas. A fanfarra circense, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.

"Munt", Boom Pam (Israel) - world fusion, surf rock
Os israelitas Boom Pam regressam ao programa com “Munt”, tema extraído do álbum do mesmo nome da banda, editado no ano passado. Formados em 2003, altura em que tocavam em clubes e casamentos, os Boom Pam foram buscar a identidade ao cover da canção grega que tocaram com a estrela de rock Berry Sakharof, êxito que ocupou as tabelas israelitas em 2004, à semelhança do que acontecera em 1969 com o cantor grego Aris San, emigrado em Tel Aviv. Os guitarristas Uzi Feinerman e Uri Brauner Kinrot começaram por experimentar sons orientais, até que se lhes juntaram a tuba de Yuval “Tubi” Zolotov e as percussões de Dudu Kohav. Depois do sucesso alcançado no Médio Oriente, eles chegaram ao público europeu, graças sobretudo ao DJ Shantel, que co-produziu o seu primeiro lançamento internacional e os descobriu numa das suas visitas a Tel Aviv, convidando-os então a participarem em vários espectáculos no seu Bucovina Club em Berlim, Frankfurt, Colónia e Zurique. Onde quer que actuassem, os Boom Pam deixavam o público em brasa com a sua mistura enérgica de rock do Médio Oriente com uma amostra de Balcãs, alguma irreverência e muito groove. Fugindo ao cliché do klezmer, geralmente associado à música judaica, eles criam um cocktail dos diferentes estilos que habitualmente se cruzam em Tel Aviv. Uma fusão única de estilos mediterrânicos, balcânicos e gregos, combinados com melodias judaicas, surf rock e música circense.

"Nadie Te Tira", Ozomatli (EUA) - salsa, cumbia, latin rock
Despedimo-nos com os Ozomatli e o tema “Nadie Te Tira”, extraído do álbum “Street Signs”, editado em 2004. Terceiro trabalho da banda (de que hoje fazem parte Raúl Pacheco, Asdrubal Sierra, Justin Porée, Ulisses Bella, Sheffer Brutton, Wil-Dog Abers, Mario Calire e Jiro Yamaguchi), formada em 1995, e em que participam o virtuoso marroquino do guimbri (alaúde berbere de três cordas) Hassan Hakmoun, os franceses “Les Yeux Noirs”, a Orquestra Sinfónica de Praga, David Hidalgo (Los Lobos), Mario Calire (The Wallflowers) e o pianista Eddie Palmieri. Os Ozomatli foram buscar o nome ao termo nahuatl (dialecto asteca) referente ao símbolo astrológico asteca do macaco e ao deus da dança, fogo e música. O grupo, que já colaborou com Carlos Santana e cujo som serviu de banda sonora a filmes como “Never Been Kissed” ou “Spanglish”, funde géneros como a salsa, a cumbia, o reggae e a dub com o gnawa africano, o funk do Médio Oriente, o punk, a pop, o jazz e os blues. O resultado é um rock latino com sabor ao hip-hop de Los Angeles, recheado de comentários sociais em inglês e castelhano que apelam à justiça social e aos direitos dos imigrantes. Uma energia acústica proporcionada por instrumentos como o tres (guitarra cubana), a jarana (guitarra mexicana), o requinto (grupo de pequenos cordofones e membrafones), o trompete, o trombone, o saxofone ou a tabla.

Jorge Costa

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O corpo sonoro dos Barbatuques

A infinidade de sons e percussões corporais explorados pelo grupo brasileiro serve de base a ritmos e danças orgânicos


Em palco, o colectivo explora a musicalidade do corpo
(imagens:
Jorge Costa/Multipistas)

Palmas, batidas no peito e no rosto, estalares de dedos, bateres de pés, vácuos ou assobios. Estes são alguns dos efeitos e percussões vocais explorados pelos Barbatuques, um grupo de catorze percussionistas (André Hosoi, André Venegas, Bruno Buarque, Dani Zulu, Fernando Barba, Flávia Maia, Giba Alves, Heloiza Ribeiro, João Simão, Lu Horta, Mairah Rocha, Mauricio Mass, Marcelo Pretto e Renato Epstein) de São Paulo, no Brasil, que, partindo do improviso colectivo, se dedicam ao estudo e ensino da música corporal. Sons que depois são combinados com instrumentos como o berimbau de boca, a flauta ou a guitarra, criando cantos, melodias e danças inspirados na cultura popular brasileira – forró, embolada, samba, baião, afoxé e maracatu –, mas que se cruzam com sons fonéticos e ritmos de todo o mundo. Um diálogo experimental que se estende a géneros contemporâneos como a dub, o rock, o funk, a beat box ou a electrónica. Estéticas que ampliam a gama de timbres orgânicos desta “orquestra de roda”.

“Na adolescência, muitas vezes eu percorria longas distâncias a pé. Como uma música estava muito presente na minha cabeça e eu nesses momentos não tinha um instrumento, começou a acontecer uma espécie de batuque [simula], como acompanhamento para alguma coisa em que eu estava a pensar", explica ao MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO Fernando Barba, director musical dos Barbatuques. "Aos poucos, quando percebi que isso trazia um som interessante [simula], comecei a desenvolver e a procurar outros ritmos", prossegue o fundador do grupo, cujo verdadeiro apelido é Barboza.
"Eu fazia tanto isso, que uma amiga [Lu Horta] juntou as palavras “batuque” e “barba”, sem saber que iria baptizar o grupo. Depois, o que os Barbatuques fizeram foi dar forma e explorar melhor isso, mas os sons são talvez os mais antigos da humanidade”.




O movimento e o bom humor associam-se aos sons vocais

O “barbatuquear” minimalista e tribal deste compositor e multi-instrumentista, formado em música popular na Unicamp - Universidade Estadual de Campinas, onde estudou rítmica com José Eduardo Gramani, depressa chamou a atenção de músicos, artistas e investigadores como Miló Martins, André Magalhães e Deise Alves. Com o desenrolar do projecto artístico e pedagógico de Fernando Barba, surgiam o Auê Núcleo de Ensino Musical, fundado em 1993 em São Paulo com André Hosoi e Marcos Azambuja, e em 1995, com o apoio de Stênio Mendes, as oficinas de percussão corporal. No cerne de tudo isto está hoje o Núcleo Barbatuques, centro de pesquisa e registo da música corporal explorada artisticamente pelos Barbatuques, que em 1996 se estrearam nos palcos num concerto de Luiz Gayotto, dando o seu primeiro espectáculo dois anos depois. O grupo tem colaborado com músicos brasileiros como Chico César ou Lenine, e instituições internacionais como a UNICEF, a ONU ou a National Geographic. No currículo, destaca-se ainda a sua participação num vídeo promocional da Heineken para a Liga dos Campeões da UEFA.

“Foi uma consequência natural juntar um grupo de pessoas muito interessadas e pensar se isso poderia ser levado para o palco e virar um número musical. Então, criámos uma espécie de núcleo artístico, onde temos a improvisação e a experimentação que através do grupo podemos colocar em prática no palco, mas também centro de informação, onde vários elementos pesquisam e trazem para o núcleo esse tipo de experiência”, refere Fernando Barba. “Aí, pelo nosso imaginário musical, comecei a trazer outros universos e a ver como os sons desses instrumentos se adaptam e se ficavam bem na voz e no corpo. Ao mesmo tempo, comecei-me a aproximar de certas danças, que são já percussivas e incluem sapateados”, diz o jovem. “No nosso trabalho, é quase impossível saber onde termina o som e começa o movimento”.




Os Barbatuques aliam percussões e improvisos colectivos


Da combinação de timbres e ritmos à sobreposição de vozes, tudo serve para ampliar as formas de expressão musical através do corpo. No Brasil, as influências sonoras dos Barbatuques vão do sapateado do coco a nomes como Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos, Tom Zé, Marku Ribas e Badi Assad. Fora do seu país, acrescem referências como os Stomp, o americano Keith Terry, as palmas do flamenco, os harmónicos vocais de Tuva, a boot dance dos mineiros da África do Sul, a percussão vocal cubana ou os sons fonéticos africanos. Exemplos da capacidade da música corporal em retratar os comportamentos e as tradições dos povos. Para além da música, em palco as atenções voltam-se também para as linguagens cénicas e visuais.

“Por vezes, muitos músicos não se apercebem de que antes de a música vir do instrumento vem de nós e está no corpo. E quanto ao que o corpo pode fazer, não existe nenhum tipo de limite de ritmo ou de estilo musical”, esclarece o músico. “É difícil encontrar um grupo que, como os Barbatuques, se dedique exclusivamente à percussão corporal. Mas grupos que usem elementos, são milhares. Há muitos artistas que têm uma espécie de flirt com a música vocal orgânica, mais percussiva”, acrescenta.



Em cena, o grupo explora sons tribais e ritmos urbanos

O trabalho estende-se aos ateliês pedagógicos, onde os Barbatuques mostram ao público como produzir sons corporais básicos. Exercícios de treino de ritmos facilitam então a assimilação dos sons, a improvisação pela escuta e a criação colectiva, desenvolvendo-se assim a percepção musical, a comunicação gestual e a coordenação motora. De uma forma criativa, crianças, jovens e adultos podem explorar também o som único de cada corpo e as sonoridades tribais produzidas por este “sintetizador humano”, fonte ilimitada de sons.

“Existe uma diversidade tão grande de timbres e podemos manipulá-los de tantas formas, que por vezes sentimos a falta de algo mais básico. Quando trabalhamos mais o silêncio, o ouvido fica mais aberto e podemos captar outras frequências. E isso pode ser também um contraponto ao excesso de informação visual e sonora que temos”, afirma Fernando Barba. “O ateliê permite à pessoa a conhecer vários sons, mas também a fazer música em grupo, escutar o outro, ver como é a reacção de fazer música”, justifica, delineando as vantagens sonoras do corpo.
“Do chuveiro ao andar na rua, não é um instrumento pesado que seja preciso tirar de um estojo e limpar para tocar. Tem também uma plasticidade muito grande”.




Instrumentos como a flauta ou o berimbau juntam-se ao corpo

O corpo transforma-se então na principal fonte sonora, adaptando-se por completo à imaginação dos Barbatuques. Experimentação e improviso aliam-se à exploração dos sons fonéticos e vocais, formas de reforçar a sensibilidade acústica.

“Todos os sentidos são inseparáveis, e ao descobrirmos a nossa forma de fazer música, ligando o imaginário ou o que mais nos apetece fazer, podemos acrescentar novos elementos ao que fizermos, sejamos um profissional da educação física, da dança ou do teatro”, confessa o director musical dos Barbatuques. “A percussão corporal não é a grande solução ou uma magia, mas um ponto de encontro que falta entre várias linguagens”, conclui.

Novas linguagens e sonoridades que se juntam ao universo da música corporal. Um contributo acústico dos Barbatuques para o regresso às origens orgânicas da música do mundo.




Nos ateliês com crianças, explorando as acústicas corporais

VÍDEO...↓
Entrevista Barbatuques + tema ao vivo “Carcará"

Discografia:
- “Corpo do Som” (2002)
- “O Seguinte é Esse” (2005)
DVD:
- “Corpo do Som Ao Vivo”(2007)

Jorge Costa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Emissão #54 - 15 Dezembro 2007

A 54ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 15 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 19 de Dezembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (5 e 9 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

Um programa especial onde se destaca a entrevista exclusiva aos Barbatuques, realizada a 3 de Dezembro no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, na estreia em Portugal do grupo brasileiro.


"Vuoi Vuoi Mu", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
A norueguesa Mari Boine Persen inaugura a emissão com o tema “Vuoi Vuoi Mu”, extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em 2006. Para além dos músicos Svein Schultz, Georg Buljo, Ole Jørn Myklebust, Peter Baden, Juan Carlos Zamata Quispe, Gunnar Augland, Sanjally Jobarteh, Malika Makouf Rasmussen, Sibusisiwe Ncube e Ross Reaver, neste disco colaboram também Terje Rypdal, Anitta Suikkari, Marry Sarre e Kenneth Ekornes. Nascida em Gámehisnjárga, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, os habitantes da Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica, assente numa escala pentatónica, da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo, as batidas e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, a pop, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evocam a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Yapheli'Mali Yami", Busi Mhlongo (África do Sul) - afro pop, maskanda, mbaqanda

Busi Mhlongo traz-nos " Yapheli'Mali Yami" (Acabou-se-me o Dinheiro), tema retirado do álbum "Urbanzulu", editado em 2000. Disco em que colaboraram vários músicos, entre eles, dois da banda Phuzekhemisi, que com ela compuseram este álbum simultaneamente africano e ocidental. A diva do afro pop foi a primeira mulher a internacionalizar a maskanda, género tradicional zulu que expressa a alegria e o lamento presentes na moderna vida da urbana África do Sul, e outrora característico dos trabalhadores e migrantes rurais. No entanto, Busi Mhlongo percorre outros estilos sul-africanos, fundindo-os com o jazz, o funk, o rock, o gospel, o rap e o reggae, e usando coros e instrumentos não tradicionais. Ao longo da sua carreira, actuou com alguns dos melhores nomes do jazz e estrelas da mbaqanga (género vocal, desenvolvido a partir de um estilo negro urbano, em que se destacam as vozes graves masculinas, e que se transformou no mqashiyo, um popular género de dança). Impedida de regressar à África do Sul, o que só aconteceria nos anos 90, Busi Mhlongo passou vários anos em Portugal, cantando temas populares e canções africanas em casinos. Durante o exílio, ela viveu ainda em Londres, no Canadá e em Amesterdão, cidade onde trabalhou com músicos africanos e desenvolveu o seu estilo único. Não é por acaso que, nas suas letras, Busi Mhlongo fala da necessária reconciliação entre sul-africanos com diferentes aspirações políticas.

"Manta", Saba (Somália) - afropop
Saba regressa ao programa com o tema "Manta" (Hoje), extraído do álbum “Jidka”, lançado este ano. Nascida em Mogadíscio, capital da Somália, durante o regime repressivo do general Muhammad Siyad Barre, Saba é filha de pai italiano e de mãe etíope. Com os italianos permanentemente sob suspeita e o conflito com a Etiópia na região de Ogaden, a família foi então obrigada a exilar-se em Itália. Neste seu trabalho de estreia, a cantora cruza a cultura africana com a europeia. Saba mistura então guitarras acústicas, koras e djembés com batidas tradicionais africanas e percussão contemporânea, recordando canções de infância e temas compostos com a própria mãe (recorde-se que ela começou por cantar e dançar com a irmã para entreter os vizinhos, em Addis Abeba). A jovem, que tem trabalhado com autores somalianos como Cristina Ubax Alì Farah e Igiaba Scego, serve-se do dialecto somali de Xamar Weuyne, onde abundam as palavras em inglês e italiano, herança dos tempos coloniais. Nesta aproximação entre culturas, ela conta com as participações do guitarrista e percussionista camaronês Tatè Nsongan, do griot senegalês Lao Kouyatè e da voz de Felix Moungara, do Gabão.

"Korppi", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock

A viagem continua com as Värttinä, que nos trazem o tema “Korppi”, retirado do álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda do folclore contemporâneo finlandês traz-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, naquele que foi o primeiro trabalho onde o grupo tentou juntar a música tradicional com sons modernos. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"Metsän Tyttö", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Seguem-se
os Hedningarna com “Metsän Tyttö” (A Rapariga da Floresta), tema extraído do álbum “Karelia Visa” (Canções da Carélia), lançado em 1999. Depois das incursões pelo mundo do rock, da pop e do techno, os Hedningarna (Os Pagãos), pioneiros na renovação da folk sueca, regressam à música tradicional nórdica. Juntam-se-lhes de novo as vocalistas finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Anita Lehtola, parte do agora sexteto que integra ainda Anders Skate Norudde, Björn Tollin, Hållbus Totte Mattsson e Ulf "Rockis" Ivarsson, e que conta com as colaborações de Johan Liljemark e Wimme Saari. No segundo álbum em que o grupo explora as raízes fino-úgricas da Carélia, homenagem à herança cultural deixada naquela região maioritariamente ocupada pela Rússia, os Hedningarna apresentam canções medievais que remetem para antigas lendas finlandesas, enraizadas no Kalevala (epopeia nacional daquele país, compilada por Elias Lönnrot). Letras e melodias que a banda, formada em 1987, reinterpreta de forma livre e inventiva, criando uma sonoridade etérea capaz de suportar a magia e o arcaísmo dos cantos rúnicos, sem contudo abdicar de influências modernas. Para isso, servem-se de instrumentos de vários países do norte da Europa como o violino, a moraharpa (versão medieval da nyckelharpa, harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas), a stråkharpa (lira nórdica de arco), o lagbordun, o hummel (cordofone sueco, da família da cítara e semelhante ao norueguês langeleik), a mandora (cordofone da família do alaúde), o alaúde, o oud (alaúde árabe), a sanfona, a flauta, a gaita sueca, o acordeão, o didgeridoo e o pandeiro.

Baianá", Barbatuques (Brasil) – body music, a'cappella, experimental
Os Barbatuques apresentam-nos agora “Baianá”, tema retirado do álbum “O Seguinte é Esse”, editado em 2005. No seu último trabalho, produzido por Fernando Barba, André Hosoi e Bruno Buarque, o grupo adiciona novas técnicas e paisagens sonoras ao universo da música corporal. Um retiro musical realizado em Botucatu, no interior de São Paulo, e novos arranjos e composições gravados em estúdio, fruto da aproximação a sonoridades regionais e contemporâneas, servem de base a este disco onde eles exploram em maior profundidade os aspectos melódicos, harmónicos, percussivos e fonéticos da voz. Partindo do “barbatuquear” minimalista e do improviso colectivo, este núcleo de percussionistas e pedagogos explora os inúmeros sons produzidos pelo corpo. As palmas, as batidas, os estalos, os assobios ou os vácuos são então combinados com instrumentos como o berimbau, a flauta ou a guitarra, na produção de ritmos, melodias, danças e cantos inspirados na cultura popular brasileira e que se cruzam com o sapateado do coco, as palmas do flamenco, os harmónicos vocais do Oriente, a percussão vocal cubana ou os sons fonéticos africanos. Uma experimentação global em diálogo com géneros contemporâneos como a dub, a beat box ou a electrónica. Estéticas que ampliam a gama de timbres orgânicos desta “orquestra de roda” que convida o público a explorar também as sonoridades tribais produzidas pelo “sintetizador humano”, fonte ilimitada de sons.

"Papa U Mama", Fufü-Ai (Espanha) - rock, french pop
Despedimo-nos com os catalães Fufü-Ai e o tema “Papa U Mama”, extraído do seu segundo álbum “For Ever”, gravado no verão de 2007. Trabalho onde a pop sensual e ingénua do primeiro disco “Petite Fleur”, lançado no ano anterior, se alarga ao reggae, à bossa nova, ao rock e ao punk. Propostas mestiças que partem do ambiente multicultural do El Raval, o conhecido bairro da Ciutat Vella de Barcelona, num french touch que fica completo com letras em francês, castelhano ou inglês. Em 2004, a vocalista Anouk Chauvet (Color Humano) reencontrou-se com o guitarrista e produtor Tomas Arroyos "Tomasin" (Les Casse-Pieds, La Kinky Beat, Mano Negra, Color Humano, Dusminguet), numa primeira versão acústica de Fufü-Ai, formação a que hoje se juntam a teclista Laia (Brazuca Matraca), o baixista Fernando "dinky" e o baterista Óscar. O projecto da capital catalã conta ainda com as colaborações pontuais de músicos como Yacine (Nour), Miryam ‘Matahary’ (La Kinky Beat), Joan Garriga (La Troba Kung-Fu), Sandro (Macaco), Stefarmo ou Baba (Black Baudelaire).

Jorge Costa

domingo, 2 de dezembro de 2007

World Music Charts Europe - Os melhores álbuns de 2007

Eis os álbuns que se destacam nas primeiras dez posições do TOP 150 relativo aos 974 discos nomeados em 2007 para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de):

1º- WATINA, Andy Palacio and the Garifuna Collective (Belize) - Cumbancha
2º- AMAN IMAN, Tinariwen (Mali) - Independiente
3º- SEGU BLUE, Bassekou Kouyate & Ngoni Ba (Mali) - Outhere
4º- DJIN DJIN, Angélique Kidjo (Benim/França) - EMI
5º- AFRIKI, Habib Koite (Mali) - Cumbancha
6º- QUEENS AND KINGS, Fanfare Ciocărlia (Roménia) - Asphalt Tango Records
7º- TAXIDOSCOPIO, Kristi Stassinopoulou (Grécia) - Heaven & Earth
8º- MADE IN DAKAR, Orchestra Baobab (Senegal) - World Circuit
9º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
10º- MI SUENO, Ibrahim Ferrer (Cuba) - World Circuit


A lusofonia está representada no topo deste painel com uma dúzia de álbuns: quatro portugueses, quatro cabo-verdianos, um moçambicano e três brasileiros:

42º- ALMA LIVRE, Dona Rosa (Portugal) – Jaro
43º- NAVEGA, Mayra Andrade (Cabo Verde) - Sony BMG
45º- BUMPING, Massukos (Moçambique) - Poo
46º- PIRATA, Maria Bethânia (Brasil) - Discmedi
52º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
65º- BONFIRES OF SÃO JOÃO, Forró in the Dark (Brasil) - Nublu
73º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica
80º- MOMENTO, Bebel Gilberto (Brasil) - V2
113º- PARA ALÉM DA SAUDADE, Ana Moura (Portugal) - Universal
118º- CONCERTO EM LISBOA, Mariza (Portugal) - Capitol/EMI
119º- LONJI, Tcheka (Cabo Verde) - Lusafrica
139º- OBA TRAIN, Terrakota (Portugal) - Dunya Records

World Music Charts Europe - Dezembro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Dezembro dos 168 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, para além da estreia do português António Zambujo e da manutenção dos Dona Rosa na mesma posição, as nove novas entradas no topo do painel (três em estreia absoluta no WMCE e seis a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- MADE IN DAKAR, Orchestra Baobab (Senegal) - World Circuit
mês passado: 2ºlugar


2º- AFRIKI, Habib Koite & Bamada (Mali) - Cumbancha
mês passado: 1ºlugar
3º- ROKKU MI ROKKA, Youssou N'Dour (Senegal) - Nonesuch
mês passado: 8ºlugar
4º- THE SOUL OF ARMENIA, Djivan Gasparyan (Arménia) - Network Medien

estreia na tabela
5º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
mês passado: 3ºlugar
6º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 13ºlugar

7º- ALMA LIVRE, Dona Rosa (Portugal) - Jaro
mês passado: 7ºlugar
8º- LONJI, Tcheka (Cabo Verde) - Lusafrica

mês passado: 69ºlugar
9º- MASKARADA, Taraf de Haïdouks (Roménia) - Crammed
mês passado: 5ºlugar
10º- FESTA FARINA E FORCA, Enzo Avitabile & Bottari (Itália) - Il Manifesto
mês passado: 9ºlugar

11º- L'AFRICAIN, Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - Barclay
mês passado: 21ºlugar

12º- TAKSIM TRIO, Taksim Trio (Turquia) - Doublemoon Records
mês passado: 22ºlugar

13º- ISTANBUL'S SECRET, Up, Bustle & Out (Reino Unido, Turquia) - Echobeach
mês passado: 26ºlugar
14º- OUTRO SENTIDO, António Zambujo (Portugal) - Ocarina Records
estreia na tabela
15º- NAVEGA, Mayra Andrade (Cabo Verde) - Sony
mês passado: 33ºlugar

16º- BEL CANTO - BEST OF GENIDIA YEARS, Mbilia Bel (RD Congo) - Sterns
estreia na tabela
17º- LA RADIOLINA, Manu Chao (França) - Because
mês passado: 4ºlugar
18º- MANO SUAVE, Yasmin Levy (Israel) - World Village

mês passado: 35ºlugar
19º- ALBANIAN WEDDING, Fanfare Tirana (Albânia) - Piranha
mês passado: 15ºlugar
20º- LA BONNE HUMEUR, Madilu System (RD Congo) - Sterns
mês passado: 10ºlugar

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Emissão #53 - 1 Dezembro 2007

A 53ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 1 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 5 de Dezembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (22 e 26 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

"Tango Greco/Vrisi", Ale Möller Band (Suécia) - folk, polska
A Ale Möller Band a abrir mais uma emissão com “Tango Greco / Vrisi”, tema retirado do álbum “Bodjal”, lançado em 2004. Trabalho onde o sexteto multicultural – formado pelos suecos Ale Möller e Magnus Stinnerbom, pela grega Maria Stellas, pelo senegalês Mamadou Sene, pelo canadiano Sebastien Dubé e pelo mexicano Rafael Sida Huizar – conta com as participações de Jonas Knutsson, Shirpa Nandy, Kurash Sultan e Mats Oberg. Seja no seu projecto a solo Bouzoukispellman ou em grupos como Filarfolket (O Pessoal dos Violinos), Nordan Project ou o trio Frifot, o multi-instrumentista e compositor Alle Staffan Mölle procura descobrir as histórias que se escondem por entre os sons. Nesta reinvenção da folk escandinava, Alle Mölle recorre ao improviso (liberdade que foi buscar ao jazz, ao swing, ao be-bop e à música grega) e a sons e instrumentos de todo o globo. Para obter os quartos de nota e as escalas apropriadas a esta tarefa, o one man band desenvolveu a sua versão da mandola (instrumento semelhante ao bandolim, com quatro pares de cordas) e do bouzouki, adaptando-os às melodias tocadas com o violino, presença habitual no folclore da região de Darlarna. Juntam-se-lhes a harpa, o saltério, a flauta, a charamela (aerofone antecessor do oboé), o acordeão, a harmónica, os zils (pratos de dedo), o riti (violino senegalês) e a guitarra. O resultado é um cruzamento das diferentes tradições regionais e das polskas suecas com os ritmos noruegueses, gregos, brasileiros, africanos, afro-cubanos e indianos.

"Santa Moura", Júlio Pereira (Portugal) - folk, acoustic, fusion
As músicas do mundo prosseguem com Júlio Pereira e o tema "Santa Moura", extraído do seu último álbum “Geografias”, editado este ano. Um conjunto de inéditos instrumentais baseados em memórias de viagens e experimentações sonoras, e que resulta da combinação entre bandolim, guitarra portuguesa, viola braguesa, bouzouki e sintetizadores. Depois de muitos anos ligado ao cavaquinho, Júlio Pereira volta-se agora para outro cordofone pequeno, o bandolim, instrumento que o acompanha desde a infância. São sons tradicionais portugueses à mistura com ritmos africanos e orientais, num trabalho que conta com as vozes de Sara Tavares, Isabel Dias (grupo minhoto Raízes) e Marisa Pinto (Donna Maria), e com Miguel Veras na viola acústica e guitarra e Bernardo Couto na guitarra portuguesa. Júlio Pereira começou no rock nos anos 70 com grupos como os Petrus Castrus e os Xarhanga. Da inovação musical dos anos 60/70, à revitalização dos instrumentos tradicionais, a partir dos anos 80/90 Júlio Pereira associou-os a soluções acústicas contemporâneas. Ao longo de mais de três décadas de carreira, o multi-instrumentista, compositor e produtor tem colaborado com músicos como Carlos do Carmo, Amélia Muge, Pedro Burmester, Eugénia Melo e Castro, Zeca e João Afonso, José Mário Branco, Jorge Palma, Janita Salomé ou Fausto, bem como os The Chieftains, Pete Seeger, Kepa Junkera, Xosé Manuel Budiño, Uxia ou Na Lúa.

"Kabir Kouba", Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
Claire Pelletier regressa ao programa, desta feita com o tema “Kabir Kouba” (nome grosseiro atribuído ao rio St-Charles, que desagua no Saint-Laurent, na cidade do Quebeque), retirado do álbum “En Concert Au St-Denis”, gravado ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (A Sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons electrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

"Neria", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku
music
A jornada continua com Oliver Mtukudzi e o tema "Neria", extraído do álbum com a banda sonora do filme do mesmo nome, reeditado em 2001. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista anda perto das quatro dezenas de trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Arouna", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
Angélique Kidjo traz-nos “Arouna”, tema retirado do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia), e que conta com a participação de Joy Denelane. A jovem é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As músicas, grande parte inspiradas nas suas missões humanitárias, falam do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.

"Lume, Lume", Fanfare Ciocărlia (Roménia) – gypsy brass band, balkan music
A Fanfare Ciocărlia (“laverca”, em romeno) apresenta-nos “Lume, Lume”, tema retirado do álbum “Gili Garabdi – Ancient Secrets of Gypsy Brass”, lançado em 2005. Esta orquestra de metais, fundada pelo clarinetista Ioan Ivancea, falecido no ano passado, é célebre pelo improviso e pela interpretação acelerada de solos de clarinete, saxofone e trompete, por vezes com mais de 200 batidas por minuto. Eles começaram por tocar em cerimónias populares, até que o produtor discográfico e engenheiro de som alemão Henry Ernst (seu actual manager) os descobriu em 1996. Oriundos da aldeia de Zece Prăjini (“Dez Campos”), no nordeste da Roménia, junto à fronteira com a Moldávia, os demónios acelerados do gypsy brass cruzam a tradição balcânica com influências globais, adaptadas ao seu estilo enérgico e festivo. Danças tradicionais romenas e moldavas como a sîrba (“dança” em romeno), a hora (dança de círculo) ou a geamparale (popular dança da região de Dobrogea, caracterizada por ritmos balcânicos e turcos), bem como os ritmos turcos, húngaros, búlgaros, sérvios e macedónios são apresentados ao som de instrumentos de sopro (trompa, tuba, trompete, clarinete, requinta, saxofone e corneta) e percussão (tímpano e bombo, tarola e bongo). Juntam-se-lhes histórias sobre a vida, cantadas em romeno ou em romani (dialecto cigano). O grupo tem colaborado com expoentes máximos da música cigana como a macedónia Esma Redzepova, o sérvio Šaban Bajramović, estrelas da pop romena e búlgara como Dan Armeanca e Jony Iliev, bem como Florentina Sandu (Roménia), Mitsou (Hungria), Ljiljana Butler (Bósnia), Kal (Sérvia) ou os Kaloome (França).

"Abre Ramce", Esma Redzepova (Macedónia) -gypsy music
Segue-se Esma Redzepova, com “Abre Ramce”, tema extraído do álbum “Čhaje Šhukarije”, editado em 2001. Trabalho produzido pelo trompetista klezmer Frank London, e que juntou músicos de todo o mundo. Esma nasceu em 1943 numa pequena povoação perto de Skopje, a capital da Macedónia, precisamente a cidade onde Emir Kusturica rodou “O Tempo dos Ciganos”. Na escola, aos 14 anos, a cantautora foi convidada a cantar num concurso da Radio Skopje. Concerto onde conquistou o primeiro lugar e a atenção do músico e futuro marido Stevo Teodosievski. Esma começa então uma tournée com o seu ensemble musical. Num festival no norte da Índia é baptizada como “Rainha dos Ciganos”, alcançando a partir daí grande popularidade. As suas canções, semelhantes às melodias típicas dos Balcãs, são a expressão musical do seu amor pela Macedónia. Uma voz vibrante a que se juntam o violino, o clarinete e o acordeão, sem esquecer as influências da Índia, Pérsia e Espanha, num ambiente alegre e sensual. A diva dos Balcãs tem actuado nos palcos mais importantes do mundo, sendo hoje a grande embaixadora da cultura cigana da Macedónia. Até agora já foram mais de oito mil concertos e 500 canções, o que inclui 108 singles, 20 álbuns e 6 filmes. Nomeada por duas vezes para o prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho humanitário, ela e o seu falecido marido adoptaram 47 dos rapazes órfãos que encontraram nas suas viagens, treinando-os para serem músicos.

"Era D'Aqui I D'Allà", Xazzar (Espanha) - gypsy klezmer jazz, folk rock
A emissão chega ao fim com os Xazzar e “Era D’Aqui I D’Allà”, tema extraído do álbum “Que No S’Escapin Els Gossos” (Que Não Fujam os Cães), editado este ano. O projecto arrancou em 2005, quando alguns estudantes da Escola de Música da Catalunha decidiram criar um grupo que tocasse temas originais, inspirados na música klezmer. No seu disco de estreia, o jovem septeto, formado por Angela Llinarés (clarinete), Ildefons Alonso (bateria), Toni Vilaprinyó (baixo), Clara Peya (piano e acordeão), Noemi Rubio (violino), Miranda Gás (voz) e Laia Serra (violino), mistura melodias inspiradas na folk com ritmos variados que vão do jazz ao swing, passando pelo charleston e pela chanson française, sem esquecer os sons endiabrados da música cigana. São composições próprias, cantadas em catalão, castelhano e francês, que apelam ao baile e à festa. Muito ritmo a marcar passo num trabalho onde os Xazzar contam com as colaborações de músicos como Helena Cases de Conxita (pandeireta), Jordi Cristau (coros) ou Francesc Vives de Dumbala Canalla (trompete).

Jorge Costa

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Emissão #52 - 17 Novembro 2007

A 52ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 17 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 21 de Novembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (8 e 12 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

"Ostinato & Romanian Dance", Taraf de Haïdouks (Roménia) - gypsy music
Os Taraf de Haïdouks a abrirem mais uma emissão com a “Ostinato & Romanian Dance”, tema original de Béla Bártok e que inaugura “Maškaradă”, trabalho inventivo e enérgico, lançado este ano. Neste álbum, onde é convidada Virginica Dumitru, os Taraf de Haïdouks apresentam temas próprios e versões de clássicos do início do século XX. Entre os compositores que serviram de base a este disco estão os húngaros Béla Bártok e Joseph Kosma, o arménio Aram Khachaturian, os espanhóis Isaac Albéniz e Manuel de Falla ou o inglês Albert Ketèlbey, eles próprios influenciados pelo folclore balcânico e pela tradição cigana. Os Taraf de Haïdouks ("banda de bandidos") são originários de Clejani, cidade localizada a sudoeste de Bucareste, na Roménia. Esta dezena de instrumentistas e cantores, em que convivem quatro gerações de lăutari (músicos), foi descoberta em 1990 por dois jovens músicos belgas que se apaixonaram pela sua sonoridade e decidiram dá-los a conhecer ao mundo. A música dos Taraf de Haïdouks, que varia entre as baladas e as danças, é uma mistura de estilos locais, representando na perfeição a riqueza da folk romena.

"The Stride Set",
Solas (EUA) - celtic, irish folk
As músicas do mundo prosseguem com os Solas (termo que em gaélico significa “luz”). Eles trazem-nos "The Stride Set", um agrupamento de temas (“The Stride”, “Tom Doherty's”, “The Contradiction” e “Viva Galicia”), extraído do terceiro álbum da banda, “The Words That Remain”, editado em 1998. Uma visão contemporânea da folk irlandesa e dos sons tradicionais celtas, a que o quinteto de Nova Iorque, formado em 1996, adiciona elementos da música country, do blues, do bluegrass, do jazz, bem como outros ritmos globais. Apesar de americanos, o virtuosismo e a versatilidade dos Solas fá-los levar a música tradicional irlandesa para além dos típicos jigs e reels. São arranjos imaginativos de melodias e danças do velho continente, mas também composições próprias do grupo, formado por Seamus Egan, Winifred Horan, Mick McAuley, Deirdre Scanlan e Eamon McElholm. Neste trabalho, onde são convidados o mestre do banjo canadiano Bela Fleck e a vocalista Iris de Ment, os Solas apimentam a folk irlandesa com instrumentação menos convencional. À flauta, gaita, whistle, bodhrán, acordeão, guitarra, banjo, bandolim, violino e concertina juntam-se então a guitarra eléctrica, os teclados e o sintetizador.

"Boy In The Boat ", Lúnasa (Irlanda) - celtic
Os Lúnasa apresentam-nos o medley “Boy In The Boat” (integra “The Ballivanich Reel”, “The Boy in the Boat” e “The Stone of Destiny”), retirado do disco “Sé” (em irlandês lê-se ‘shay’), lançado em 2006. Trabalho onde Trevor Hutchinson, Paul Meehan, Seán Smyth, Kevin Krawford e Cillian Vallely contam com as colaborações dos guitarristas Tim Edey, do teclista Pat Fitzpatrick e do trombonista Karl Ronan. Na Irlanda, ainda hoje o mês de Agosto é conhecido por Lúnasa – o termo original era Lughnasadh –, uma alusão ao antigo festival celta outrora realizado no primeiro dia de Outono em honra do deus irlandês Lugh, patrono das artes. Este quinteto instrumental, criado em 1997, contraria a tendência de fundir a música tradicional com o rock, a pop ou a música electrónica. Para os Lúnasa, a renovação celta passa antes pela tradição, embora eles não fechem portas a novas sonoridad
es. Inspirados pela The Bothy Band, referência dos anos de 1970, os novos deuses da música irlandesa juntam o violino, a flauta e a gaita irlandesa, o whistle, o contra-baixo e a guitarra acústica, explorando também as raízes bretãs e galegas. Graças aos arranjos inventivos e ao seu som enérgico, influenciado pelo jazz, blues, rock e country, os Lúnasa abriram um novo caminho para a música tradicional irlandesa.

"Jidka", Saba (Somália) - afropop
A jornada continua com Saba e o tema "Jidka" (A Linha), extraído do álbum do mesmo nome, editado este ano. Termo que se refere ao lado mestiço da cantora, a qual cruza a cultura africana com a europeia. Nascida em Mogadíscio, capital da Somália, durante o regime repressivo do general Muhammad Siyad Barre, Saba é filha de pai italiano e de mãe etíope. Com os italianos permanentemente sob suspeita e o conflito com a Etiópia na região de Ogaden, a família foi então obrigada a exilar-se em Itália. Neste trabalho de estreia, a jovem mistura guitarras acústicas, koras e djembés com batidas tradicionais africanas e percussão contemporânea, recordando canções de infância e temas compostos com a própria mãe (recorde-se que ela começou por cantar e dançar com a irmã para entreter os vizinhos, em Addis Abeba). Saba, que tem trabalhado com autores somalianos como Cristina Ubax Alì Farah e Igiaba Scego, serve-se do dialecto somali de Xamar Weuyne, onde abundam as palavras em inglês e italiano, herança dos tempos coloniais. Nesta aproximação entre culturas, ela conta com as participações do guitarrista e percussionista camaronês Tatè Nsongan, do griot senegalês Lao Kouyatè e da voz de Felix Moungara, orginária do Gabão.

"Mini Kusuto", Colombiafrica - The Mystic Orchestra (Colômbia, Congo, Nigéria, Bolívia) - champeta, afrobeat, soukous, highlife
A Colombiafrica – The Mystic Orchestra estreia-se no programa com “Mini Kusuto”, tema retirado do álbum “Voodoo Love Inna Champeta Land”, lançado este ano. Depois de séculos de colonização, Colômbia e África juntam-se finalmente através da champeta criolla, o primeiro género afro-colombiano contemporâneo. São versões locais de ritmos africanos como o soukous congolês, o highlife ganês, a afro-beat nigeriana ou o sul-africano mbaqanga, que se misturam com a cumbia, o bullerengue, a chalupa, o lumbalú (canção funerária) e outros estilos caribenhos, num diálogo permanente entre as percussões, as guitarras e as vozes. Neste trabalho, as estrelas da champeta Viviano Torres, Luís Towers e Justo Valdez, originários da cidade de San Basilio de Palenque, juntamente com o produtor Lucas Silva (“Champeta-Man Original”), devolvem a África os ritmos afro-colombianos. Uma jornada em que contam com talentos oriundos do Congo, Guiné, Angola e Camarões, tais como Dally Kimoko, Diblo Dibala, Nyboma, Sékou Diabaté, Rigo Star, Bopol Mansiamina, Caien Madoka, Ocean, 3615 Code Niawu, Hadya Kouyate, Son Palenque, Las Alegres Ambulancias, Batata e Guy Bilong.

"Mesechina", Dragan Dautovski Quartet (Macedónia) - macedonian folk
Segue-se o Dragan Dautovski Quartet com “Mesechina”, tema retirado do álbum “Patot Na Sonceto” (O Caminho do Sol), lançado em 2001. Para além de Dragan Dautovski, fazem parte desta formação Aleksandra Popovska, Ratko Dautovski e Bajsa Arifovska. Ao longo das últimas três décadas, o artista tem trabalhado com mais de vinte instrumentos tradicionais da Macedónia e composto para diversos vocalistas e orquestras. Neste quarteto, destacam-se a gajda (gaita-de-foles dos Balcãs), a kaval (pequena flauta diatónica), a zurla (espécie de oboé, comum na Macedónia e nos países dos Balcãs), o tapan (tambor duplo comum nos Balcãs e originário da Turquia, onde é conhecido por davul) e a tambura (versão balcânica do alaúde indiano, com cordas dedilhadas e braço sem trastos). Professor de música tradicional em Skopje, a capital daquele território, Dautovski é o único flautista neolítico do planeta. Tudo porque foi o primeiro a estudar uma ocarina com cerca de seis mil anos, encontrada perto da cidade de Veles. Um instrumento de sopro de forma oval, feito de porcelana, terracota ou pedra, e que é um dos mais antigos do mundo. Em 1992, o compositor formou o ensemble tradicional Mile Kolarovski, com que tem tocado e feito várias gravações para a radiotelevisão macedónia, e três anos depois o DD Synthesis, projecto cujo objectivo é o de explorar em profundidade a folk daquele país.

"Min Perimenis Pia", Glykeria (Grécia) - greek music, rock, pop
Segue-se Glykeria, que nos traz “Min Perimenis Pia”, tema extraído do álbum “15 Greek Classics”, editado em 1998. Nascida em Agio Pnevma, na Macedónia grega, Glykeria Kotsoula é conhecida pela interpretação de canções da música rebética. Ela apresenta-nos uma amostra da dança do ventre, género popular na Grécia, onde é conhecido por tsifteteli, e que ali recebeu a influência da herança cigana e dos gregos regressados da Turquia aquando a independência daquele território. Glykeria começou por trabalhar em clubes de noite tradicionais de Plaka, no centro de Atenas, até que em 1978 o compositor Apóstolos Kaldaras a convidou a interpretar uma selecção de temas. Hoje são quase três dezenas de discos, cantados em 14 línguas, entre elas o sérvio, o hebreu, o turco, o inglês, o francês, o italiano, o espanhol e o japonês. O estilo profundo e melancólico de Glykeria cativou também os corações dos israelitas. Em 1998, ela foi a única artista estrangeira a marcar presença em Tel Aviv numa homenagem a Yitzhak Rabin, cantando diante de 200 mil pessoas. Ao longo dos anos têm vindo a somar-se as colaborações com outros artistas, entre eles Natacha Atlas, Omar Faruk Tekbilek, Loukianos Kilaidonis, Mary Linda, Sotiria Bellou, George Dalaras, Ofra Haza, Ricky Gal, Chava Alberstein, Amal Markus, Paschalis Terzis, Ilias Aslanoglou, Antino Vardis e Sarit Hadad.

"Desde Cuba Hasta Afghanistan", Bakú (Porto Rico) - salsa, flamenco, pop, rock
A emissão chega ao fim com os Bakú e o tema “Desde Cuba Hasta Afganistán”, extraído do álbum “Somos”, editado em 2006. Uma faixa que fala de alguém de tal forma obcecado, que seria capaz de se converter ao Islão para conquistar o coração de uma moura. Depois de terem trabalhado juntos durante cerca de cinco anos noutro projecto, em 2006 Farrel, Dabí Marrero, Martín Cerame, "Joey" González e Davo Ayala decidiram formar um novo grupo. Este quinteto porto-riquenho, que foi buscar o nome a uma árvore de madeira extremamente dura, mistura a música afro-caribenha, a salsa clássica, o cubano son montuno, o flamenco e a música do Médio Oriente com o funk, a pop e o rock latinos. Para criarem um repertório único e dinâmico, os Bakú servem-se de uma secção de metais (trompete, saxofone e trombone) e de uma secção rítmica que inclui a bateria, os timbales, as congas, os tambores e o cajón. A instrumentação fica completa com as guitarras acústica e eléctrica, o baixo e os teclados, havendo lugar ainda para a sitar e as gaitas de foles.

Jorge Costa

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Emissão #51 - 3 Novembro 2007

A 51ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 3 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 7 de Novembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (24 e 28 de Novembro) nos horários atrás indicados.

Programa em que se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas que passaram nas últimas dez edições do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO:

"Tri Martelod", Claire Pelletier (Canadá) - celtic music


"Pasodoble do Azulejo", Uxu Kalhus (Portugal) - trad-folk-rock, folk fusion

"Psycoceltic",
Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock

"Papa", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat

"Château Rouge",
Emmanuel Santarromana (França) e Hadja Kouyaté (Guiné-Conacri) - electro, afropop, mandingo

"Maïna Raï",
Les Boukakes (França) - raï n'rock, afrobeat, reggae

"Tamatantelay",
Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues

"Gross",
Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk

"Duj Duj",
Fanfare Ciocărlia (Roménia) – gypsy brass band, balkan music

"Papirosn", Nina Stiller (Polónia) - jewish music

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

World Music Charts Europe - Novembro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Novembro dos 177 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, para além da subida de oito posições dos portugueses Dona Rosa, as oito novas entradas no topo do painel (três em estreia absoluta no WMCE e cinco a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- AFRIKI, Habib Koite & Bamada (Mali) - Cumbancha
mês passado: 2ºlugar


2º- MADE IN DAKAR, Orchestra Baobab (Senegal) - World Circuit
estreia na tabela

3º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
mês passado: 1ºlugar
4º- LA RADIOLINA, Manu Chao (França) - Because
mês passado: 3ºlugar
5º- MASKARADA, Taraf de Haïdouks (Roménia) - Crammed
mês passado: 40ºlugar
6º- THE VOICE OF LIGHTNESS, Tabu Ley Rochereau (RD Congo) - Sterns
mês passado: 4ºlugar
7º- ALMA LIVRE, Dona Rosa (Portugal) - Jaro
mês passado: 15ºlugar
8º- ROKKU MI ROKKA, Youssou N'Dour (Senegal) - Nonesuch
mês passado: 59ºlugar
9º- FESTA FARINA E FORCA, Enzo Avitabile & Bottari (Itália) - Il Manifesto

mês passado: 131ºlugar
10º- LA BONNE HUMEUR, Madilu System (RD Congo) - Sterns
estreia na tabela
11º- THE VERY BEST OF ETHIOPIQUES, vários (Etiópia) - Union Square Music
mês passado: 9ºlugar

12º- GO MARKO GO, Boban i Marko Markovic Orkestar (Sérvia) - Piranha
estreia na tabela
13º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 18ºlugar

14º- SEN, Sevara (Uzebequistão) - Realworld
mês passado: 14ºlugar

15º- ALBANIAN WEDDING, Fanfare Tirana (Albânia) - Piranha
mês passado: 39ºlugar
16º- EIXOS, Miquel Gil (Espanha) - Temps
mês passado: 6ºlugar

17º- SUONO GLOBAL, Roy Paci & Aretuska (Itália) - V2
mês passado: 8ºlugar
18º- THE CLASSICAL GUINEAN GUITAR GROUP, African Virtuoses (Guiné-Conacri) - Stern's
mês passado: 7ºlugar

19º- SPIEWAM ZYCIE, Edyta Geppert & Kroke (Polónia) - Oriente
mês pasado: 131ºlugar

20º- SOFERA, Rajery (Madagáscar) - Marabi
mês passado: 5ºlugar