sábado, 20 de janeiro de 2007

Emissão #35 - 20 Janeiro 2007

A 35ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 20 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 22 de Janeiro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (10 e 14 de Fevereiro) já nos novos horários (sábados, entre as 17 e as 18 horas, e quartas-feiras, entre as 21 e as 22 horas).

"Westindie", Schäl Sick Brass Band
(Alemanha) - brass band, jazz, folk
Os Schäl Sick Brass Band a abrirem a emissão com o tema "Westindie", um hipnótico instrumental indiano extraído do álbum “Tschupun”, editado em 1999. O grupo surgiu em Colónia, capital cultural da província da Renânia e fortaleza mediterrânica da Alemanha. Um dos muitos emigrantes e visitantes de todo o mundo que a encheram de sons coloridos foi Raimund Kroboth, que em 1977 se instalou na margem direita do Reno. No dialecto local, aquela parte da cidade é conhecida precisamente por "Schäl Sick" (lado errado). Isto porque está do lado contrário à catedral e ao centro de Colónia, e porque é um enclave protestante na católica Renânia. Partindo de uma secção de ritmo que tem por base a tuba, a cítara popular e as percussões, os Schäl Sick Brass Band utilizam o som das fanfarras da região alemã da Bavaria e da Boémia checa para explorarem com inovação e versatilidade a música de outras culturas. Eles combinam elementos de jazz com o rock, o funk, o hip-hop o rap ou a folk. Um universo sonoro influenciado pela Europa central e de Leste e pelo norte de África, onde convivem ritmos cubanos, gregos, latinos, africanos e orientais, e instrumentos de todo o mundo - tavil, kanjira, dhol, dolki, omele, sekere, gangan, thereminvox, entre muitos outros. Um ambiente festivo em que se celebra a música de todo o planeta e onde o lema é "pensar global, soprar local"...

"Teu Nome, Amarante", Luar Na Lubre
(Espanha) - celtic folk
A jornada musical prossegue com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trazem-nos o tema “Teu Nome, Amarante”, extraído do álbum “Saudade”, editado no ano passado. Amarante é o nome de várias aldeias galegas, muitas delas abandonadas por causa do envelhecimento e da emigração. Uma música onde este nome representa também o idioma galego, uma das ligações mais importantes da Galiza a Portugal e ao Brasil. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"Terra de Ninguém",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo continuam com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem o tema “Terra de Ninguém”, retirado do álbum “Macaréu”, compilação editada em 2000. Uma música escrita e cantada por Carlos Guerreiro, a quem se junta Pacman, dos Da Weasel, fundindo o hip-hop com a folk. Neste álbum, o grupo traz-nos ladaínhas populares ou os poemas de Fernando Pessoa, Alexandre O'Neill e Amélia Muge. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. Os músicos deste grupo, que utilizam ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, têm colaborado em projectos de rock, jazz ou música clássica com José Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino, Amélia Muge, Carlos Barretto, Rui Veloso, Sétima Legião ou Adufe. O seu experimentalismo constante leva-os a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Criando um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares, os Gaiteiros de Lisboa ressuscitaram o gosto por uma certa música portuguesa de raiz tradicional, arrastando para os seus concertos verdadeiras multidões de pessoas a quem estas músicas pouco ou nada diziam.

"Justice", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
De regresso, mais uma vez, ao programa, Tiken Jah Fakoly apresenta-nos agora o tema "Justice", extraído do álbum “Françafrique”, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy (cuja voz acompanha Fakoly neste tema) e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.

"Riongere", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com Oliver 'Tuku' Mtukudzi e o tema "Riongere", retirado do álbum "Tuku Music", lançado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Jhullay Lal", Sajjad Ali
(Paquistão) - sufi music, ethno pop
Seguimos agora até ao Paquistão, país cuja herança musical é partilhada com o norte da Índia. Sajjad Ali traz-nos então o tema “Jhullay Lal”, retirado do álbum “Aik Aur Love Story”, lançado em 1998. Um hino sufi de exaltação, a que foram adicionadas as batidas pop e os ritmos de dança. Uma música incluída no álbum produzido pelo cantor e actor, trabalho que foi também a banda sonora do filme do mesmo nome, o primeiro realizado por Sajjad Ali. Pioneiro da música pop no Paquistão, Sajjad Ali alcançou a fama no final da década de 80, destacando-se como um dos poucos cantores do género com um passado ligado ao canto clássico, uma experiência que dá às suas canções populares uma inconfundível profundidade e textura. Na sua aprendizagem, Sajjad tocou músicas de lendários artistas clássicos como Ustad Bade Ghulam Ali Khan e Ustaad Barkat Husain, familiarizando-se com instrumentos e estilos musicais como a raga, o que lhe permitiu construir uma carreira sólida e ser hoje um cantor aclamado. Para além do cinema, este tem vindo a participar em séries dramáticas. Uma ligação à indústria que já vem da família, isto porque o seu pai era um reconhecido actor e os irmãos Lucky Ali e Waqar Ali também têm carreiras musicais. Numa altura em que os ritmos da bhangra estavam na ordem do dia na música pop paquistanesa, Sajjad Ali teve a ousadia de se aventurar na criação de baladas e temas menos ritmados. Hoje retorna mais ao ambiente clássico, fazendo-se no entanto acompanhar de amostras de jazz e de batidas sufi.

"Khalouni", Cheb Mami
(Argélia) - pop-raï, hip-hop, rock, funk
Cheb Mami traz-nos uma versão do tema “Khalouni” (Deixa-me), retirada do álbum “Dellali” (A Amada), o qual foi editado em 2001. Trabalho onde este mistura uma série de linguagens e influências sonoras, que vão da música africana ao house, flamenco e reggae, e em que são convidados, entre outros, Charles Aznavour, Ziggy (filho de Bob Marley), o famoso guitarrista Chet Atkins ou o London Community Gospel Choir. Um álbum sofisticado e expansivo, onde os registos vocais de Cheb Mami e dos restantes músicos são acompanhados por instrumentos como o acordeão, as guitarras acústica e eléctrica, o baixo, o violino, o violoncelo, o alaúde ou a debourka. Paralelamente às origens de géneros ocidentais como o rock & roll, o punk e o hip-hop, o raï surgiu na Argélia como uma forma de arte recreativa e minoritária. No entanto, depressa ganhou contornos políticos, destacando-se cada vez mais não só pela popularidade, ma sobretudo pela sua controvérsia. Um dos renovadores deste estilo musical, marcado pela atitude provocativa e pela expressão rebeliosa da juventude argelina, foi precisamente Cheb Mami. Refugiado em Paris durante duas décadas, foi aí que este foi construindo a sua carreira, misturando o raï com a dança, o hip-hop, o funk e o rock. Conhecido em grande parte devido à colaboração de Sting no seu tema “Desert Rose”, que se tornou um sucesso em todo o mundo, Cheb Mami pretende então universalizar este género tradicional, abrindo-o às influências ocidentais, sem no entanto perder a suas raízes argelinas.

"Saudade",
Elisete (Brasil) - world electro, bossa nova, samba, forró, baião
A fechar o programa, despedimo-nos com Elisete e o tema “Saudade”, remisturado por Alon Ohana e extraído do álbum “Elisete – Remixes”, editado no passado mês de Dezembro. A compositora, que diz cantar para alegrar as pessoas do mundo, nasceu no Brasil mas desde 1991 que vive em Israel. Enquanto que no primeiro disco enveredava pela bossa nova, samba, forró, baião e por outros ritmos ecléticos, no seu segundo trabalho as suas raízes brasileiras abriram-se finalmente ao mundo. Dois temas seus foram mesmo incluídos na banda sonora do filme israelita “Há Bua” (A Bolha). Agora é a vez das canções em português, acompanhadas por sons electrónicos. Neste seu terceiro álbum, ela apresenta-nos uma colectânea das canções presentes em “Luar e Café” e “Saudade”, desta feita remisturadas por DJ’s e produtores de música electrónica israelitas. Apesar da maioria das suas letras serem em hebraico, o ritmo brasileiro está sempre presente, razão pela qual a música de Elisete tem uma grande aceitação. Nas canções, grande parte da sua autoria, Elisete tenta conciliar o espírito alegre e descontraído do Brasil com a difícil e dura realidade de Israel.

Jorge Costa

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Multipistas altera horário de emissão

Devido a alterações na grelha de programação da Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), até agora a única estação responsável pela transmissão hertziana do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, será necessário proceder a algumas modificações nos horários de emissão do formato, as quais entram em vigor a partir de Fevereiro.

Esta é também uma forma de assegurar a difusão integral das repetições do programa, que por vezes têm surgido com cortes graças aos incontornáveis compromissos informativos ou publicitários daquela rádio.

Enquanto que o horário normal do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO se mantém nos sábados, entre as 17 e as 18 horas, a repetição do programa passa de segunda para quarta-feira, entre as 21 e as 22 horas. Quanto às retransmissões, cada edição do programa continuará a ser reposta três semanas após a primeira difusão, desta feita já no novo horário.

Jorge Costa

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

A minha amiga rádio...

A marcar a estreia da cooperação com os programas de músicas do mundo existentes nas restantes rádios locais e regionais portuguesas, no próximo dia 18 de Janeiro o MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO irá marcar presença, a convite do realizador, na segunda hora do Canto Nómada, o programa de música tradicional portuguesa e do mundo que André Moutinho apresenta às quintas-feiras, entre as 22 horas e a meia-noite, na Torres Novas FM (100.8 FM). Em alternativa, a emissão poderá ser escutada a partir de sexta-feira no podcast oficial.

Eis o texto da crónica:

"Esta semana, no âmbito de um trabalho de introspecção pessoal, uma estudante minha conhecida procurava descobrir alguns objectos que tivessem influenciado a sua vida. Na lista figuravam nomes como a banda desenhada ou o caderno de apontamentos, mas para ajudar a jovem a encontrar outras referências, decidi então juntar-me à reflexão.

Em meia dúzia de segundos dei conta de que uma das coisas que me acompanha desde sempre é a minha amiga rádio. De acesso universal, funcionamento simples e linguagem clara, a rádio é tão versátil e dinâmica como um livro que se abre. Pegando algures no fino espectro electromagnético, e num pequeno virar de frequência, com ela conseguimos atravessar meio mundo, criando cenários tridimensionais imaginários que, apesar de efémeros, não deixam de aspirar à ordem do onírico e do intemporal. Uma obra esboçada pela pena leve da estática, onde cada um pode escrever a sua história recorrendo sobretudo ao vocabulário da acústica.

Esta minha paixão platónica foi materializada no rádio, aliás, num dos muitos rádios que nas duas últimas décadas me foram passando pelas mãos. A pilhas ou eléctricos, com ou sem onda curta, saída estereofónica ou entrada para microfone, a interminável linhagem de receptores foi quase toda ela sacrificada em nome da oitava arte. O motivo era bom – procurar a alma deste dispositivo capaz de transformar electricidade em sons passíveis de significância –, mas o resultado foi apenas um retorcido emaranhado de circuitos integrados, teclas órfãs e fios descarnados, já sem vida.

Na minha infância, o iPod era uma caixa de sapatos onde guardava as cassetes quando ia de férias para o campo, algumas delas meros registos de conversas disparatadas com os primos, outras compilatórios dos sucessos que iam passando no éter. À noite, quando os sons ganhavam autonomia perante a natureza e o pequeno rádio se escondia por debaixo do lençol, deixando acesso unicamente um led vermelho, era a vez dos novos acordes e cacofonias sonoras em modulação de frequência, e das vozes distantes do entendimento em amplitudes imaginárias, tantas quanto os rostos encobertos por elas.

Terminado o breve exercício de introspecção, entre todos os transistorizados que conheço escolhi o leitor de cassetes, hoje desmaterializado no vulgar mas muito prático reprodutor de MP3. A magia que se reproduzia diariamente à minha frente saía reforçada por aquele ronronar de fita e pelo clique mecânico que se ouvia no final da cassete, quando as cabeças de leitura e gravação subiam.

Agora que o audiovisual se desmaterializou numa infinidade de suportes virtuais, discorrer acerca das virtudes da centenária rádio pode parecer puro saudosismo. Mas a saudade aqui é apenas a do futuro da radiodifusão, daquilo a que técnica e arte algum dia hão-de dar lugar. Para além da palavra, âncora da personalidade inclassificável da telefonia, a salvação da rádio será o cruzamento de conteúdos com outros meios e plataformas.

Se no que toca à técnica o podcast se destaca na lista das potencialidades emergentes, já em relação aos conteúdos 2006 foi mesmo o ano dos programas de música do mundo nas rádios locais e regionais portuguesas, género infelizmente ainda raro nas emissoras de cobertura nacional. Apesar da escassez de meios técnicos e de recursos com que todos os obreiros radiofónicos da world music se deparam, é preciso continuar a apostar em conteúdos que extravasem a leviandade musical vingente. Esta é uma oportunidade de ouro para que se criem novos formatos, novos músicos e novos públicos. Analógica por tradição ou revestida pelo cristalino som digital, a minha e a sua amiga rádio continuará então a ser uma construtora de consensos e ponte privilegiada de aproximação entre culturas e saberes."


Jorge Costa

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Emissão #34 - 6 Janeiro 2007

A 34ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 6 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 8 de Janeiro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (27 e 29 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"Natural Fractals", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Os sevilhanos Rarefolk a inaugurarem a emissão com o tema “Natural Fractals”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2006. Quarto e último trabalho dos pioneiros do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Neste disco, os Rarefolk regressam à sua formação original – Ruben Diez, "Mangu" Díaz, Marcos Munné, Pedro Silva, Fernando Reina e Oscar "Mufas" Valero –, contando com a participação especial do violinista Elo Sánchez (dos andaluzes Sila Na Gig) e do saxofonista Nacho Gil (Caponata Argamacho Trio). Desta feita, eles apresentam-nos uma mistura de instrumentos acústicos com sequências de dança, enveredando por géneros como a breakbeat ou o jungle. Bem para trás fica 1992, ano em que os Rarefolk se deram a conhecer na exposição mundial de Sevilha como Os Carallos e começaram a ter uma formação estável.

"Ataun", Kepa Junkera
(Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com Kepa Junkera que nos traz “Ataun”, tema retirado do seu último álbum “Hiri” (cidade), editado no ano passado. No seu disco mais intimista e elaborado, Kepa Junkera leva-nos numa viagem por algumas das cidades e lugares de todo o mundo por onde passou. O exímio executante da trikitixa (fole do inferno), acordeão diatónico basco que em Portugal é conhecido por concertina, dá então destaque à txalaparta (instrumento de percussão, tocado com peças de madeira), à alboka (aerofone tradicional basco, constituído por dois chifres de vaca) e à sanfona. Kepa Junkera tornou-se o mais internacional dos músicos bascos ao fundir a folk da sua terra e a música triki com os ritmos do mundo. Uma palete sonora que começou com uma abertura ao jazz, à música clássica e à folk-rock, e que mais tarde anexou os ritmos do Quebeque, do Mediterrâneo, das Canárias, da Europa Central, de África e da Irlanda. Em “Hiri”, o músico de Bilbao conta com a participação de músicos como o albokari Ibon Koteron, Patrick Vaillant, Glen Velez, Marcus Suzano, Alain Bonnin, os Etxak, o Alos Quartet, Gilles Chabenat, Jean Wellers, Carlos Malta, Lori Cotler, Andy Narell, os catalães Tactequete, Xosé Manuel Budiño, os italianos Enzo Avitabile & I Bottari Di Pórtico e as vozes das Bulgarka, da cantora azeri Aygun, de José António Ramos, Benito Cabrera, Mercedes Peón e Eliseo Parra. Mas se tivermos em conta toda a discografia de Kepa Junkera, há que acrescentar ainda as colaborações de nomes como os Oskorri, o duo de txalapartaris Oreka TX, John Krikpatrick, Riccardo Tessi, Maria del Mar Bonet, Justin Vali, Hedningarna, La Bottine Souriante, Phil Cunningham, Liam O’Flynn, Béla Fleck, Andreas Wollenwaider, Pat Metheny e Caetano Veloso, bem como os portugueses Júlio Pereira e Dulce Pontes.

"Homer's Reel", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie de novo no programa, desta feita com o tema “Homer's Reel”, extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Semena-Wrock", Gigi
(Etiópia) - world fusion, afrofunk
Avançamos agora até à Etiópia com o tema “Semena-Wrock”, extraído do álbum “Gold and Wax”, editado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu último trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos músicos africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.

"Le Pays Va Mal", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
Tiken Jah Fakoly trouxe-nos o tema "Le Pays Va Mal", extraído do álbum “Françafrique”, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.

"Shubra", Natacha Atlas
(Bélgica) - ethno pop, electro, chaâbi
A jornada musical prossegue com Natacha Atlas, que nos apresenta o tema “Shubra”, retirado do álbum “Ayeshteni” (Tu Dás-me Vida), editado em 2001. Trabalho produzido e gravado na cidade do Cairo, no Egipto, e em que também participou o anglo-indiano Nitin Sawhney. A diva do ethno pop mistura as sonoridades tradicionais do Médio Oriente e do norte de África com a pop e a música electrónica. São sons onde não falta a influência do clássico chaâbi mas, como ela própria diz, menos entediante e mais mal comportado. Dona de uma voz poderosa e sedutora, Natacha Atlas cria um sinuoso e hipnótico canto, acompanhado por batidas trip hop e incursões pelo house ou o drum ‘n’ bass. A maior parte do seu repertório é interpretado em árabe, mas ela também canta em inglês, francês e castelhano. Filha de mãe inglesa e pai egípcio, Natacha Atlas nasceu na capital belga, mas as suas raízes estendem-se ainda à Palestina e a Marrocos. Até aos oito anos, ela viveu no bairro muçulmano de Bruxelas, altura em que a sua mãe, depois de se ter divorciado, decidiu mudar-se com os filhos para Northampton, na Inglaterra. A partir dos dezasseis anos, Natacha começa a envolver-se em pequenos projectos musicais e a viajar pela Turquia e Grécia, países onde trabalharia como dançarina do ventre. No início dos anos 90 integra como solista os Transglobal Underground, grupo inglês pioneiro em fundir elementos da música tradicional árabe, africana e hindu com elementos da música electrónica, ocupando o lugar de vocalista e dançarina. Da sua carreira faz também parte a passagem pelos Invaders of the Earth, grupo de Jah Wobble. Em 2001, Natacha Atlas foi nomeada pelas Nações Unidas Embaixadora para a Boa Vontade no âmbito da Conferência Internacional contra o Racismo. O público brasileiro e português certamente se lembrará da sua participação num capítulo da novela da Globo "O Clone", em que a cantora se interpreta a si mesma, cantando e dançando.

"Khalouni", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi
De regresso ao programa, Souad Massi apresenta-nos “Khalouni" (Deixa-me), uma mistura ibérica e norte-africana onde se evocam as raízes do raï e onde a jovem canta lado a lado com Rabah Kaifa. Considerada a Tracy Chapman do Magrebe, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Esta jovem muçulmana, que se recusa a falar em nome do Islão e a ser uma activista da causa berbere, nunca tocou uma nota de raï. O seu gosto, mais orientado para o rock ocidental, o chaâbi e a música andaluza, fê-la criar um estilo único. A nostalgia e a dor do exílio são os temas centrais deste seu último trabalho, o álbum "Mesk Elil", editado em 2005. Desde 1999 que a jovem vive exilada em França. Numa ida à Tunísia para realizar mais um concerto reencontrou os aromas da madressilva, uma planta que lhe fez lembrar a sua infância na Argélia e que daria o nome ao seu terceiro álbum. Na adolescência, Souad Massi acompanhou com a sua guitarra o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.

"Tuva Rock",
Yat-Kha (Rússia) - tuva rock, punk-folk
A fechar o programa, despedimo-nos com os Yat-Kha, que nos trazem o tema "Amdy Bayp", extraído do álbum "Tuva Rock", editado em 2005. Esta banda originária da república russa de Tuva (região situada a sudoeste da Sibéria) foi fundada em Moscovo em 1991 pelo vocalista e guitarrista Albert Kuvezin e pelo compositor electrónico russo Ivan Sokolovsky. Farto de cantar temas xamânicos em grupos típicos como os Huun-Huur-Tu, Kuvezin decidiu então juntar a música moderna do Ocidente com a tradicional do seu país. O duo adoptou o nome de Yat-Kha (lê-se iát-rá), em alusão a uma espécie de pequena cítara da Ásia central semelhante à guzheng chinesa. Aos instrumentos tradicionais juntam-se então as guitarras eléctricas, os instrumentos electrónicos e outros inventados pelo grupo. Com a energia do rock, a banda rejuvenesceu uma das mais extraordinárias tradições vocais do mundo, criando distorções e dissonâncias que se aproximam do punk e do metal. As melodias e ritmos são acompanhados pelas três vocalizações básicas do canto polifónico da Tuva: o khoomei, o kargyraa e o sygyt. Técnica outrora muito utilizada pelos povos da Ásia central para imitar os sons da natureza, e em que uma única voz consegue emitir várias notas em simultâneo.

Jorge Costa