quinta-feira, 24 de maio de 2007

Emissão #43 - 26 Maio 2007

A 43ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 26 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 30 de Maio, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (16 e 20 de Junho) nos horários atrás indicados.

"Xotiska", Uxu Kalhus (Portugal) - trad-folk-rock, folk fusion

A abrirem a emissão, os Uxu Kalhus com o tema “Xotiska” – um cruzamento entre a chotiça (dança circular, também conhecida por polca alemã) e o ska jamaicano – extraído do álbum “A Revolta dos Badalos”, editado em 2006. A revolta faz-se precisamente pela subversão do folclore e pela reinvenção radical das raízes tradicionais à mistura com sons e instrumentos de todo o mundo. Neste seu último álbum, o grupo de folk fusionista, formado por Paulo Pereira, Celina Piedade, Vasco Casais, Hugo Meneses e Nuno Patrício, apresenta composições próprias e arranjos de temas tradicionais portugueses e europeus. Os sons das mazurcas, valsas, polcas ou marchas cruzam-se então com influências africanas ou com géneros como o jazz, o rock, o drum & bass ou o hip-hop. Acrescem ainda os timbres da flauta, acordeão, rauschpfeife (aerofone medieval de palheta dupla), guitarra eléctrica e acústica, baixo ou metalfone, os ritmos exóticos das percussões (bateria, bouzouki, darabuka, djembé, bombo, pandeiro ou didgeridoo), e, claro está, os chocalhos. Eles surgiram em 2000 em Gennetimes com o objectivo de levar as danças portuguesas até França. Hoje, o público é convidado a bailar não só ao som de viras, corridinhos e regadinhos, mais também de danças israelitas, sérvias ou austríacas. Em Junho, os Uxu Kalhus vão estar em Tavira (dias 2 e 27), Faro (dia 9), Abrantes (dias 10 e 22), Proença-a-Nova (dia 12) e São Pedro do Sul (dia 31).

"Nova Galicia", Luar na Lubre (Espanha) - celtic folk/folk-rock
As músicas do mundo prosseguem com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trazem-nos “Nova Galicia”, tema retirado do álbum “Saudade”, lançado no ano passado. O mexicano Manuel María Ponce, um dos grandes compositores para guitarra a nível internacional, recriou este tema tradicional da Galiza, provavelmente influenciado pela comunidade galega existente no seu país. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"La Chanson du Quéteux", La Bottine Souriante (Canadá) - trad folk, world beat
Os La Bottine Souriante trazem-nos “La Chanson du Quéteux” (A Canção do Mendigo), tema extraído do álbum “Jusq’Aux P’Tites Heures”, editado em 1991. Um trabalho recheado de reels e canções tradicionais do Quebeque, onde se fala sobretudo de álcool. Este grupo, que em português se chamaria “A Bota Risonha” (o nome refere-se mesmo a umas botas com as solas descoladas), foi criado em 1976 por Mario Forest, Yves Lambert e André Marchand, aos quais se juntaram Gilles Cantin e Pierre Laporte. No entanto, com o passar dos anos, os La Bottine Souriante foram sofrendo mudanças na formação e no som. Se inicialmente se apresentavam com toque franco-canadiano, suportado pela guitarra, acordeão e violino, mais tarde estes passaram a incluir outros instrumentos como o piano, o contrabaixo, o bandolim, o bouzouki e uma secção de sopro em que se incluem o trompete, o trombone, a tuba, a corneta, o clarinete, o saxofone, a harmónica ou a flauta transversal. Os La Bouttine Souriante procuram então preservar as tradições musicais daquela província canadiana, misturando uma folk com raízes em França, Inglaterra, Irlanda e Escócia com estilos como a salsa e o jazz. Um cocktail enérgico e explosivo, cujo ritmo é suportado pelos batimentos de pés e mãos.

"Cuchara del Poder", Terrakota (Portugal) - afrobeat, reggae, gnawa
A jornada continua agora com os Terrakota e o tema “Cuchara del Poder” (Colher do Poder), retirado do álbum “Oba Train”, terceiro e último da banda portuguesa, editado este mês de Maio. O comboio da vida é uma nova mestiçagem sonora onde se apela ao entendimento entre povos, celebrando as músicas do mundo num ambiente de festa. Criados em 1999, os Terrakota empreenderam então uma viagem pela África Ocidental. Na bagagem trouxeram ideias e instrumentos acústicos cujo som viriam a misturar com o poder dos instrumentos eléctricos. Aos três elementos do grupo juntaram-se depois mais quatro músicos e a actual vocalista, os quais viriam a assimilar géneros como o reggae e o gnawa. Depois de três anos de concertos, digressões em Portugal e na Europa, e viagens por Marrocos, Mauritânea, Mali, Burkina-Faso e Brasil, onde recolheram inspiração, os Terrakota juntam agora toda essa energia musical num trabalho que abrange várias geografias (Jamaica, Caraíbas, Cuba ou Brasil), sonoridades (árabes, flamencas ou indianas) e línguas (português, yoruba, wolof, francês, inglês ou castelhano). No seu último disco, uma fusão sem confusão, destacam-se as participações de Ikonoklasta e Conductor, ambos pertencentes ao angolano Conjunto Ngonguenha/Buraka Som Sistema, e do jamaicano U-Roy. A 14 de Julho, os Terrakota vão estar no Festival Serra da Estrela, em Valhelhas (Guarda).

"Life", Dub Incorporation (França) - dub-reggae, dancehall
Viagem até França com os Dub Incorporation e o tema “Life”, extraído do álbum “Diversité”, editado em 2003 e sucessor dos dois EP’s com que o grupo se estreou. Um trabalho que fez dos Dub Incorporation um dos principais representantes da dub e do reggae franceses. Em 1997, um grupo de amigos de Saint-Étienne decidiu juntar-se para partilhar o gosto comum pela música. Graças ao rápido sucesso alcançado, a banda acabaria por atravessar as fronteiras do Rhône e dos Alpes, actuando em todo o país. Para além dos dois géneros que os caracterizam, os Dub Incorporation combinam outras influências que vão dos ritmos tradicionais de Leste ao hip-hop e ao electro-dub. Uma esfera sonora que tem como base uma guitarra rítmica, um saxofone, uma bateria e um teclado. As letras, interpretadas por um toaster (alguém que canta fazendo saltar as palavras), falam subtilmente sobre a imigração clandestina e sobre os jovens dos bairros dos subúrbios, tudo sem recorrer a moralismos e clichés, deixando uma mensagem de paz e fraternidade. Neste tema misturam-se três vozes, uma delas pertencente ao conhecido Tiken Jah Fakoly, figura de proa do reggae do oeste africano e porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim.

"Tamatantelay", Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues
Viagem até ao deserto com os Tinariwen e o tema “Tamatantelay”, retirado do álbum “Aman Iman” (Água é Vida), gravado em Bamako e editado em Fevereiro deste ano. Este clã apareceu em 1982 na Líbia num campo de acolhimento de rebeldes tuaregues (povo nómada descendente dos berberes do norte de África e que vagueia entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia), tocando para a comunidade de exilados naquele país e na Argélia. Três jovens encarnam a Ishumaren, a música dos ishumar desempregados, uma geração que sonha com a liberdade e a auto-determinação. São sobretudo melodias tradicionais, inspiradas nas guitarras do norte do Mali ou nos alaúdes (ngoni para os songhai, teherdent para os tuaregues) dos griots, e canções nostálgicas que apelam ao despertar político das consciências e à rebelião da alma. Em 1990, dois elementos dos Taghreft Tinariwen (literalmente, os "reconstrutores dos desertos") integraram o grupo de guerrilheiros separatistas que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira com o Níger, inaugurando um novo conflito com o governo do Mali. Seis anos depois, quando a paz chegou finalmente ao sul do Sáara, voltaram-se apenas para a música do seu povo, em geral acompanhada pelo tindé (instrumento de percussão tocado por mulheres) ou pela flauta t’zamârt. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen, percussores dos blues do deserto, estão presentes também a guitarra eléctrica e a asoüf, solidão característica da poesia tuaregue que, tal como os blues, incorpora um sentimento de desamparo universal. A 29 de Junho, eles vão estar no Festival Mediterrâneo de Loulé, a 5 de Julho no Africa Festival de Lisboa e a 6 de Julho em Évora.

"Mon Amour de Saint-Jean", Les Boukakes (França) - raï n'rock, afrobeat, reggae

Seguem-se Les Boukakes com o tema "Mon Amant de Saint-Germain", extraído do seu primeiro álbum "Makach Mouch’Kil" (Não Há Problema), editado em 2001. Este septeto masculino, nascido no exílio em 1998, é liderado pelo cantor argelino Bachir Mokhtare, incluindo músicos tunisinos e franceses. Os Boukakes foram buscar o nome à contracção de dois típicos insultos racistas: bougnoule (nome outrora dado aos africanos e magrebinos) e macaque (macaco). Uma reacção às referências menos abonatórias que costumavam receber quando se estrearam nas ruas. Sem fazerem comentários políticos ostensivos nas suas canções, os Les Boukakes apelam deliberadamente à resistência ao status quo e à ignorância generalizada. Letras que são combinadas com melodias orientais e instrumentos diversos como o karkabou/qarqabou (grandes castanholas metálicas marroquinas), a derbouka (instrumento de percussão magrebino), o bendir (outro instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), o duf (espécie de pandeireta), a tabla, o banjo, a guitarra ou o baixo. O raï argelino ou o gnawa marroquino misturam-se então com géneros ocidentais como o rock, o groove e a música electrónica. Ao passar para os bares e festivais, o seu raï n'rock celebrizou-se, surgindo lado a lado com músicos e bandas como os Zebda, The Wailers, Manu Chao, Natacha Atlas, Taraf De Haïdouks, Cheikha Rimitti ou Rachi Taha.

"Afruvva",
Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues

A
norueguesa Mari Boine Persen apresenta-nos o tema “Afruvva” (A Sereia), extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em 2006. Com mais de vinte anos de carreira, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, povo que habita a Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica, assente numa escala pentatónica, da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo, as batidas e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, a pop, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evoca a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Kielo", Kimmo Pohjonen (Finlândia) - folk-rock, electronic folk

O
finlandês Kimmo Pohjonen traz-nos “Kielo”, um tema a solo retirado do álbum do mesmo nome, lançado em 1999. Com uma carreira repartida entre a folk, a música clássica e o rock, o músico e compositor Kimmo Pohjonen mistura de forma única o acordeão com amostras de som e percussões, levando-o para universos como a dança contemporânea ou o teatro musical. Pohjonen, que nasceu na aldeia de Viiala, começou a tocar acordeão aos oito anos. Na Academia Sibelius, em Helsínquia, absorveu a folk e misturou-a com outros estilos. Para expandir a sonoridade do fole diatónico, Kimmo adicionou ao acordeão cromático composições originais que integravam samples e loops do islandês Samuli Kosminen, com quem viria a formar o duo Kluster. Mais tarde, juntaram-se-lhes Pat Mastrelotto e Trey Jun, dando lugar ao quarteto Kluster TU. Entretanto, Pohjonen tem vindo a colaborar com músicos finlandeses como Heikki Leitinen, Maria Kalaniemi, Alanko Saatio ou Arto Järvellä, integrando ainda os grupos de new folk Pinnin Pojat e Ottopasuuna. Apesar dos mais de 13 quilos do acordeão, em palco Pohjonen movimenta-se energicamente, extraindo camadas de som a que adiciona a própria voz. Mais voltado para o formato acústico, Kimmo Pohjonen mantém como base as raízes e os cantos populares da Finlândia, tocando outros tipos de acordeão, a harmónica e a marimba. Tradição e improviso unem-se assim na busca de novos sons através da música experimental e electrónica.

"Acción!", Kevin Johansen (Argentina) - rumba, cumbia, world fusion

Kevin Johansen fecha o programa com o tema “Acción!”, retirado do seu segundo disco a solo “Sur o no Sur”, editado em 2002. Álbum onde o músico argentino, nascido no Alaska, envereda por canções que predominam sobre géneros tipicamente americanos mas, como ele próprio diz, “desclassificados”: o tango, o bolero, a ranchera mexicana, a rumba catalã, o samba celta, a bossanova, a cumbia flamenca, o tex-mex, o zydeco ou a milonga, habilmente cruzados com a pop, o hip-hop ou o funk. Kevin Johansen passou a sua adolescência em Buenos Aires, mas desde muito cedo que começou a percorrer o mundo de guitarra debaixo do braço. Depois de ter vivido alguns anos em São Francisco, Manhattan e Nova Iorque, no final dos anos 90 o compositor decidiu então regressar à Argentina e explorar as suas referências folclóricas, deixando para trás uma breve experiência pop-rock no grupo Instrucción Cívica. Hoje, juntamente com a sua banda The Nada, Kevin Johansen interpreta temas em castelhano, inglês ou mesmo “espanglês”, mistura de estilos e linguagens onde o humor, o sarcasmo e a ironia estão sempre presentes. Um desenraizamento sonoro, imagem de marca da Argentina actual, onde se prova que o futuro da música passa mesmo pela mistura.

Jorge Costa

quarta-feira, 23 de maio de 2007

FMM de Sines apresenta cartaz para 2007

Entre 20 e 28 de Julho, em Sines e Porto Covo, a nona edição do Festival Músicas do Mundo promove no litoral alentejano mais de três dezenas de concertos com artistas dos cinco continentes

Eleitos na última edição dos mais prestigiados prémios de world music - os BBC Radio 3 World Music Awards - como melhor grupo das Américas, melhor artista africano e revelação de 2006, Gogol Bordello (EUA/Ucrânia), Mahmoud Ahmed (Etiópia) e K’Naan (Somália) são três dos grandes destaques do programa da nona edição do
Festival Músicas do Mundo de Sines (FMM), uma organização da autarquia local, e que se realiza entre 20 e 28 de Julho.

Bellowhead, o mais importante grupo da folk britânica do séc. XXI, Rachid Taha, uma das maiores figuras da música com raízes no Magrebe, e Darko Rundek, o grande cantautor croata, são outros três espectáculos em evidência entre os 32 programados para o mais extenso cartaz de sempre do maior festival português deste género, repartido por quatro palcos, um na aldeia de Porto Covo (junto ao Porto de Pesca) e três na cidade de Sines (Castelo, Avenida da Praia e Centro de Artes).

SEXTA, 20 DE JULHO
O festival abre sexta-feira, dia 20 de Julho, às 21h30, em Porto Covo, com um dos mais interessantes projectos do folclore português. Partindo da música, dança e língua das terras de Miranda, os Galandum Galundaina prometem um espectáculo divertido e fiel à tradição. Darko Rundek é o grande cantor e compositor da Croácia. No segundo concerto do dia, às 23h00, apresenta-se com os oito instrumentistas da Cargo Orkestar uma música doce e miscigenada, em canções que tratam as viagens e a solidão no mundo globalizado. Às 00h30, uma das revelações da world music em 2006. Etran Finatawa reúne músicos de dois povos nómadas do Níger, tuaregues e “wodaabe”, para um concerto em que vozes, guitarra eléctricas e percussões se unem para cantar a vida na savana.

SÁBADO, 21 DE JULHO
No segundo dia de música em Porto Covo, Às 21h30, o americano Don Byron, um dos mais importantes clarinetistas do jazz do mundo, leva a Porto Covo o disco de 2006 “Do The Boomerang”, onde visita a música de Junior Walker, pioneiro da soul dos anos 60. Às 23h00, a música sempre surpreendente do Mali, com a cantora mandinga Mamani Keita, uma das melhores vozes africanas actuais, apoiada pelo guitarrista francês Nicolas Repac. O Leste contemporâneo fecha a noite, às 00h30. Eleitos melhor nova banda da Rússia em 2002, os Deti Picasso fundem melodias de canções tradicionais da Arménia com rock russo.

DOMINGO, 22 DE JULHO
O último dia do festival na aldeia retoma a Europa Oriental. Entre os grupos mais interessantes do jazz centro-europeu, os húngaros Djabe abrem a noite, às 21h30, com o seu encontro de música improvisada, tradição popular húngara, ritmos de todo o mundo e referências do rock progressivo. Às 23h00, um espectáculo em estreia mundial. Karl Seglem é um dos melhores saxofonistas noruegueses. Rão Kyao foi o músico que levou o saxofone ao fado e trouxe a flauta oriental à música portuguesa. Juntam-se, pela primeira vez, no FMM 2007. A música termina com o escaldante “Ska dos Cárpatos” dos ucranianos Haydamaky. Às 00h30, um cruzamento de reggae, punk e música tradicional vai pôr o público a dançar.

SEGUNDA, 23 DE JULHO
Segunda-feira, o festival transita para Sines. Marcel Kanche e Ttukunak preenchem a primeira noite, às 21h30, no Auditório do Centro de Artes de Sines.O cantautor Marcel Kanche é uma figura especial da música de França. Entre a chanson française, o jazz e o rock experimental, tem recebido elogios entusiásticos da imprensa do seu país e internacional. Ttukunak são duas irmãs gémeas do País Basco exímias tocadoras da txalaparta, instrumento de percussão com uma história de dois mil anos e que tratam de uma forma elegante, vigorosa, tradicional e inovadora. Às 23h00.

TERÇA, 24 DE JULHO
Dia 24, ainda no Auditório do Centro de Artes, seguem-se Lula Pena e o Jacky Molard Acoustic Quartet. Com uma carreira quase toda feita fora do nosso país, Lula Pena é uma das mais intensas e misteriosas artistas portuguesas. Entre o fado e a pop, entre a música brasileira e a música árabe, ouve-se, a partir das 21h30, a alma universal de uma cantora de voz única. O violinista Jacky Molard é uma instituição musical da Bretanha. Regressa a Sines em 2007, pela primeira vez num grupo com o seu nome, onde aproxima a música bretã da música irlandesa, do jazz manouche e de sons orientais. Às 23h00.

QUARTA, 25 DE JULHO
Dia 25, a música arranca no Castelo, e, este ano, um dia mais cedo, logo na quarta-feira. O maior percussionista do mundo, o indiano Trilok Gurtu, é o primeiro a subir ao palco, às 21h30, com o quarteto de cordas italiano Arkè String Quartet e a cantora Reena Bhardwaj. Uma fusão indo-mediterrânica, com o lirismo das cordas e o fogo das percussões. Eleitos melhor grupo e espectáculo nos Folk Awards da BBC Radio 2, os Bellowhead são a maior revelação da folk britânica no século XXI, responsáveis por uma riqueza tímbrica e harmónica nunca antes ouvida na música tradicional inglesa. Às 23h00. O último concerto do dia no Castelo (00h30) à mailana Omou Sangaré. Aquela que uma das maiores divas da música africana cruza os ritmos “wassoulou” com funk, rhythm n’ blues e afrobeat, géneros pontuados pela nostalgia de um violino e pelo fumo do seu timbre excepcional. Na Avenida da Praia, às 2h30, uma nova visão da tradição musical do mais antigo povo do Japão. A Oki Dub Ainu Band cruza a tradição acústica Ainu, o dub-reggae, a electrónica e a música afro-americana num som de dança completamente inesperado.

QUINTA, 26 DE JULHO
É na praia que começa a música, quinta-feira, 26 de Julho. Harry Manx, britânico radicado no Canadá, é um bluesman singular. Com o seu instrumento híbrido de guitarra e setar, a música que faz é um encontro entre a canção americana e as texturas musicais da Índia. Às 19h30. Já no Castelo, lugar ao contrabaixista português Carlos Bica, um dos melhores músicos de jazz da Europa. Acompanhado pelos americanos Frank Möbius e Jim Black e pelo DJ alemão Ill Vibe, apresenta-se às 21h30 com o seu projecto mais emblemático, “Azul”. Oriundos de um raro matriarcado da África de influência árabe, os malianos Tartit são um dos mais comoventes grupos em actividade. Juntando homens e mulheres, canto e dança, eléctrico e acústico, os seus blues do deserto são absolutamente a não perder, às 23h00. A fechar o Castelo, às 00h30, um mito. Melhor artista africano de 2006, eleito pela BBC, o etíope Mahmoud Ahmed é um dos mais extraordinários cantores do mundo. Os ritmos circulares da tradição etíope, pop e jazz, num dos concertos mais esperados do FMM. A noite de quinta acaba, às 2h30, na Av. Praia. Considerado um dos cantores com mais soul do reggae actual, o britânico Bitty McLean actua no FMM com a secção rítmica mais importante da história do género, Sly & Robbie, os génios jamaicanos do drum n’ bass.

SEXTA, 27 DE JULHO
Sexta-feira, 27, a Oceania estreia-se no festival. O pianista neo-zelandês Aron Ottignon está em Sines com o grupo Aronas para um concerto de jazz com um caldeirão de influências, entre elas os ritmos das ilhas da Polinésia. A ouvir na praia, às 19h30. No Castelo, há Brasil, Estados Unidos e Argélia. Com pouco mais de 30 anos, Hamilton de Holanda foi considerado pelo mestre Hermeto Pascoal “o maior bandolinista do mundo”. Animal de palco, toca de forma vertiginosa um repertório de música popular, erudita e jazz. Às 21h30, com o seu quinteto. Às 23h00, o mais famoso quarteto de saxofones do mundo, o World Saxophone Quartet, regressa a Sines com “Political Blues”, jazz condimentado de blues e muito funk, com letras que criticam o clima político actual dos Estados Unidos. Às 00h30, Rachid Taha. Porta-voz de uma geração de músicos árabes a viver na Europa, este cantor argelino cruza ritmos do Norte de África, música de dança e atitude punk para criticar as hipocrisias dos dois lados do Mediterrâneo. Na praia, a partir das 2h30, uma big band empenhada em encontrar novos caminhos para a música tradicional italiana. La Etruria Criminale Banda une, sem chocar, estilos tão diferentes quanto a tarantela, música de circo, tango, ska e swing.

SÁBADO, 28 DE JULHO
O último dia de música tem a Bretanha como ponto de partida. Liderada por Erik Marchand, a orquestra Norkst parte em busca da recuperação da riqueza modal da música bretã, reencontrando parentescos com o Oriente e os Balcãs. Na Av. Praia, às 19h30. Às 21h30, já no Castelo, uma cantora desconcertante, Erika Stucky. Tradição suíça, rock, pop alternativa e jazz vanguardista desaguam num imaginário muito pessoal. Acompanha-a para a estreia em Portugal o grupo Roots of Communication. Eleito pela BBC Radio 3 revelação das músicas do mundo de 2006, o rapper somali K’Naan volta a Sines para a entrada decisiva do género no coração histórico do festival, o Castelo. Hip-hop com sabor acústico e africano, num concerto fundamental, a ouvir, às 23h00. Também premiado pela BBC, neste caso como melhor grupo das Américas, os Gogol Bordello estreiam-se em Portugal para um espectáculo efervescente. Entre os Estados Unidos e a Ucrânia, o festival encerra no Castelo, às 00h30, com punk cigano e fogo-de-artifício. Mais uma estreia absoluta no nosso país. Para gastar as últimas energias, às 02h30, uma descida à praia, para ouvir e dançar com um dos grupos mais originais do momento. Partindo de referências da pop alemã e japonesa, Señor Coconut and His Orchestra feat. Argenis Brito constrói com arranjos latinos um espectáculo contagiante.

INICIATIVAS PARALELAS
Além da programação musical, o FMM prolonga-se num conjunto de iniciativas paralelas. No Centro de Artes, dia 1 de Julho, é inaugurada a exposição “N’Gola”, do fotógrafo angolano Kiluanji, patente até 30 de Setembro. Também no Centro, tem lugar um ciclo de cinema com o tema “Música e Trabalho”, um conjunto de conversas com artistas do festival e workshops para os mais novos. Depois dos concertos nocturnos no palco da Avenida da Praia, a música continua, até ao sol nascer, em quatro sessões de DJ.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Considerações acerca da música do mundo

A propósito do desafio lançado por uma finalista da licenciatura em Jornalismo, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que se encontra a preparar uma reportagem escrita acerca do interesse crescente pelas músicas do mundo, aqui ficam as respostas às questões que me foram colocadas pela jovem estudante:

MARTA POIARES: É um facto que as músicas do mundo suscitam um interesse crescente e amplo, hoje em dia. Porque é que acha que tal está acontecer?

JORGE COSTA: Antes de mais o conceito de “músicas do mundo” é algo ambíguo, dado que por vezes serve para caracterizar géneros que pouco ou nada têm a ver com a música de raiz tradicional ou étnica, independentemente desta cada vez mais ser alvo de experimentação e de fusão com sonoridades actuais e urbanas. No entanto, essa mescla é extremamente salutar, não só porque a música é um organismo vivo, em mutação e em interacção permanente, mas também porque num mundo “glocalizado”, realidade tornada possível pelas redes globais de comunicação, o multiculturalismo e as identidades culturais minoritárias ou de menor expressão tiveram finalmente a oportunidade de ser mostrar e de rivalizar com as expressões culturais dominantes, ainda que por vezes, nesse gesto de colagem aos padrões universais, percam parte da autenticidade que as distingue.

É uma fuga à ditadura cultural anglo-saxónica ou a simples procura de um novo fenómeno musical?
Essas serão duas das muitas causas possíveis. Parte do interesse despertado, sobretudo junto dos jovens, mais permeáveis a novas experiências sonoras, creio que se deverá não só à saturação causada pela arrogância e inércia do mercado discográfico e radiofónico, que cada vez menos investe em fórmulas e formatos diferentes e alternativos, mas também à curiosidade demonstrada por estes perante universos musicais até há pouco tempo desconhecidos e que mantêm ainda um certo grau de pureza, organicidade e frescura. Num mundo inundado por matéria sonora de toda a espécie, creio que o público sente cada vez mais a necessidade de ter um filtro, referências mais duráveis no tempo e uma visão crítica acerca do que ouve. E o facto de as músicas do mundo não poderem ser desligadas de um contexto social e cultural específicos faz delas um material com alma e uma identidade bem vincadas, o que as diferencia claramente das fórmulas mais sintéticas e analíticas, acusticamente complexas, mas por vezes sem qualquer tipo de densidade.

O que é que distingue as músicas do mundo das outras?
Convém lembrar que no caso das músicas do mundo, o exercício de escuta continua a ser, de certa forma, um exercício antropológico. É sobretudo isso que as diferencia e que acaba por justificar a nossa tendência em criar pontos de referência que nos permitam identificar e relacionar um tema ou um autor com um género musical específico. No entanto, tal nem sempre é fácil de fazer. As sub-categorias criadas por musicólogos e investigadores, e as combinações moleculares de géneros com que artistas ou grupos se tentam diferenciar dos restantes, como se se tratasse de um processo de catalogação de espécimes musicais únicos, acabam por vezes por ser contraproducentes ou por gerar alguma confusão junto do público menos habituado a esta incomensurável panóplia de termos. É um terreno pantanoso, em grande parte ainda inexplorado, mas que por isso mesmo torna as músicas do mundo tão únicas e apetecíveis.

António Pires, autor do blogue “Raízes e Antenas”, diz ser impossível formular uma enciclopédia de músicas do mundo. Onde começa e acaba esta categoria?
Provavelmente, nem músicos nem especialistas na matéria saberão muito bem onde se situam claramente as fronteiras da música do mundo. É um universo aberto e em permanente mudança, que por isso mesmo escapa a convenções e a pressupostos fixos.

A música dita tradicional inclui-se nas músicas do mundo?
Todas as expressões populares, étnicas e de raízes tradicionais podem ser incluídas no universo das músicas do mundo, que no entanto cada vez mais são uma manta de retalhos sonoros, uma mistura de misturas, um fractal musical. Creio que é sobretudo por esta razão que se torna difícil ter uma visão enciclopédica acerca da world music, embora seja possível encontrarmos pontos em comum se regredirmos ligeiramente na sua cadeia evolutiva. Existem no mercado algumas publicações onde se tenta fazer uma aproximação semelhante, como é o caso do “Rough Guide to World Music”, com dois extensos volumes: um dedicado à África, Europa e Médio Oriente, e o outro à América, Ásia e Pacífico.

Nota que as publicações culturais, em Portugal, esquecem a world music?
Não só as publicações culturais, mas também os meios de comunicação em geral. Em Portugal continua a olhar-se com alguma desconfiança para os géneros musicais mais orgânicos e apegados à terra. Creio que os portugueses se relacionam mal não só com o seu mundo físico e com a natureza, mas também com a sua história (basta compararmo-nos com os galegos para perceber melhor a fonte do problema). E são estes os principais focos da música do mundo: identidade e culturalidade. Os media, em particular as rádios e televisões públicas, com responsabilidades acrescidas na matéria, insistem em ignorar isto. É inconcebível que a Antena 3, uma rádio estatal destinada a um público jovem, à revelia do que acontece com as restantes congéneres europeias, se dê ao luxo de ter apenas uma hora de músicas do mundo por semana (0,6 por cento da sua programação!). É completamente residual e uma afronta aos portugueses que todos os meses são obrigados a pagar a taxa audiovisual. Para além desta amostra de world fusion, existe um programa diário na Antena 2, se bem que com uma visão mais etnomusicológica e orientada para as raízes tradicionais. No que toca a rádios nacionais, a coisa fica por aqui. Apesar de tudo, existem alternativas, não só nas emissoras locais, com os programas de autor dedicados ao género, mas também na Internet, onde sítios, blogues, podcasts e fóruns, pouco a pouco, vão contribuindo para o crescente interesse pelas músicas do mundo.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

World Music Charts Europe - Maio 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Maio dos 177 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a nova liderança e as nove novas entradas no topo do painel: sete em estreia absoluta no WMCE e duas a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- AMAN IMAN, Tinariwen (Mali) – Independiente
mês passado: 2ºlugar

2º- WATINA, THE UNIQUE AND SOULFUL SOUND OF AFRICA IN CENTRAL AMERICA, Andy Palacio and the Garifuna Collective Belize (Guatemala,Honduras) - Cumbancha

mês passado: 5ºlugar
3º- SEGU BLUE, Bassekou Kouyate & Ngoni Ba (Mali) – Outhere

mês passado: 4ºlugar
4º- MI SUENO, Ibrahim Ferrer (Cuba) - World Circuit

mês passado: 6ºlugar
5º- QUEENS AND KINGS, Fanfare Ciocărlia (Roménia) - Asphalt Tango

mês passado: 1ºlugar
6º- CAFE NOIR, Bana Congo & Papa Noel (RD Congo, Cuba) - Tumi

mês passado: 9ºlugar
7º- TAXIDOSCOPIO, Kristi Stassinopoulou (Grécia) - Heaven & Earth
mês passado: 3ºlugar
8º- DJIN DJIN, Angelique Kidjo (Benim, França) - EMI

estreia na tabela
9º- TRAKYA DANCE PARTY, Burhan Öcal & Trakya All Stars (Turquia) – Doublemoon
estreia na tabela

10º- RROMANO SUNO VOL. 2, vários - B92
mês passado: 12ºlugar

11º- SEVENTH TRIP, Kroke (Polónia) - Oriente Musik
estreia na tabela

12º- A DEVLA, Viorica & Ionitsa - Clejani Express (Roménia) - Network
estreia na tabela
13º- OULAD FULANI GANGA, Abdeljalil Kodssi (Marrocos) – Ventilador
estreia na tabela

14º- TALES OF TSOTSI BEAT, vários (África do Sul) - Sheer Sound
estreia na tabela

15º- WHAT...IS IN BETWEEN, David Lowe's Dreamcatcher (Reino Unido) - Oval Records
mês passado: 68ºlugar

16º- MUSICA I CANTS SEFARDIS D'ORIENT I OCCIDENT, Aman Aman (Espanha) - Galileomês passado: 11ºlugar
17º- SEASON OF VIOLET, Rim Banna (Palestina) - Kirkelig Kulturverksted
estreia na tabela

18º- MY NAME IS BUDDY, Ry Cooder (EUA) - USA Nonesuch
mês passado: 29ºlugar

19º- ROMANO HIP HOP, Gipsy.cz (República Checa) - Indies Records
mês passado: 8ºlugar
20º- FRIENDS & FAMILY, Ayhan Sicimoglu (Turquia) - Doublemoon
mês passado: 15ºlugar