segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Emissão #50 - 20 Outubro 2007

A 50ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 20 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 24 de Outubro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (10 e 14 de Novembro) nos horários atrás indicados.

"Dança dos Camafeus", Diabo a Sete (Portugal) - folk
Os Diabo a Sete a abrirem a emissão com a “Dança dos Camafeus”, um dos temas vulcânicos que fazem parte da “Parainfernália”, álbum de estreia do grupo, lançado este ano, e onde é convidado o músico Hugo Natal da Luz. Surgidos em Coimbra em 2003, os Diabo a Sete dizem ser uma espécie de cozido à portuguesa, embora com menos couves e mais enchidos. Das adaptações do cancioneiro nacional aos originais de inspiração popular, eles procuram reinventar a música tradicional portuguesa tomando como referência principal formações como o GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) e a Brigada Victor Jara. Caminhos escaldantes que depois se alargam a recantos acústicos endiabrados como o rock, o reggae, a música celta ou as danças europeias. Com percursos diferentes mas um gosto comum pela música étnica do seu país, Pedro Damasceno, Celso Bento, Eduardo Murta, Julieta Silva, Luísa Correia e Miguel Cardina misturam os sons da sanfona, da concertina, da flauta, da gaita-de-foles, do bandolim, do cavaquinho e da guitarra com os da bateria, das percussões e do baixo eléctrico. Um cruzamento entre o passado, o presente e o futuro, onde se reinventam ritmos, melodias e instrumentos de outros tempos. No dia 27 de Outubro, os Diabo a Sete vão estar na Mostra de Música Tradicional de Moreda de Aller, nas Astúrias (Espanha), e entre 19 e 25 de Novembro no Festival Juvenil Europeu de Ankara, na Turquia.

"Senamou",
Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
As músicas do mundo prosseguem com Angélique Kidjo, que nos traz "Senamou" (É o Amor), tema extraído do disco “Djin Djin” (Apreciem o Dia), trabalho optimista que anuncia uma nova vida para África. Angélique Kidjo é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As músicas, grande parte inspiradas nas suas missões humanitárias, falam do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.

"Kassa", Sekouba Bambino Diabaté (Guiné-Conacri) - mande music, afrobeat, afrozouk
Sekouba Diabaté traz-nos “Kassa”, tema extraído do disco do mesmo nome, lançado em 1997. A voz de ouro da Guiné apresenta-nos um repertório enraizado no folclore tradicional maninka, mas que neste trabalho se mistura com o rock, a soul, os ritmos latinos e a pop africana. Um álbum que conta com as participações de Djanka Diabaté, Kandia Kouyate, Baba Sissiko e Diely Conde, e de outros músicos da Guiné, Mali, Camarões, Cabo Verde e França. O cantautor e multi-instrumentista cruza instrumentos como o balafon (instrumento sul-africano, percursor do xilofone, cuja ressonância se deve a um conjunto de cabaças), a kora (harpa de 23 cordas, cuja caixa de ressonância é uma cabaça) e o ngoni (um alaúde ancestral, predecessor do banjo) com a flauta, o violino, o acordeão, o baixo ou a guitarra eléctrica. Sekouba “Bambino” Diabaté nasceu em Siguiri, junto à fronteira com o Mali. Ele é um descendente de griots (ou djeli, palavra que em mandinga significa “sangue”), uma casta de poetas e trovadores da África Ocidental. Aos 12 anos, o presidente da Guiné Sekou Touré, que o ouvira numa banda, convidou-o a integrar a Bembeya Jazz National, um dos grupos subsidiados pelo governo, recebendo então, devido à sua idade, o apelido de Bambino. Extinta a formação, Sekouba torna-se o líder do colectivo afro-latino Africando, avançando depois para uma carreira a solo. Hoje, com a sua orquestra, a Bouré Band, este faz uma ponte entre a África tradicional e contemporânea.

"Maïna Raï", Les Boukakes (França) - raï n'rock, afrobeat, reggae

A jornada continua com os Les Boukakes, que nos trazem o tema "Maïna Raï", retirado do seu primeiro álbum "Makach Mouch’Kil" (Não Há Problema), editado em 2001. Este septeto masculino, nascido no exílio em 1998, é liderado pelo cantor argelino Bachir Mokhtare, incluindo músicos tunisinos e franceses. Os Boukakes foram buscar o nome à contracção de dois típicos insultos racistas: bougnoule (nome outrora dado aos africanos e magrebinos) e macaque (macaco). Uma reacção às referências menos abonatórias que costumavam receber quando se estrearam nas ruas. Sem fazerem comentários políticos ostensivos nas suas canções, os Les Boukakes apelam deliberadamente à resistência ao status quo e à ignorância generalizada. Letras que são combinadas com melodias orientais e instrumentos diversos como o karkabou/qarqabou (grandes castanholas metálicas marroquinas), a derbouka (instrumento de percussão magrebino), o bendir (outro instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), o duf (espécie de pandeireta), a tabla, o banjo, a guitarra ou o baixo. O raï argelino ou o gnawa marroquino misturam-se então com géneros ocidentais como o rock, o groove e a música electrónica. Ao passar para os bares e festivais, o seu raï n'rock celebrizou-se, surgindo lado a lado com músicos e bandas como os Zebda, The Wailers, Manu Chao, Natacha Atlas, Taraf De Haïdouks, Cheikha Rimitti ou Rachi Taha.

"Il Rail Wa Hamad", Ilham Al Madfai (Iraque) - arabian folk, world fusion
Ilham Al Madfai regressa ao programa com “Il Rail Wa Hamad”, tema extraído do álbum “Live at Hard Rock Cafe (Beirut)”, gravado ao vivo no Líbano e editado em 2000. O “Beatle de Bagdad” é um dos mais conhecidos cantautores iraquianos, tendo revolucionado o folclore árabe. Com uma vida repartida por cidades como Bagdad, Abu Dabi ou Amman, durante vários anos Ilham Al Madfai hipotecou a sua carreira, isto porque os músicos iraquianos eram obrigados a escolher entre as orações de Saddam ou a prisão e a tortura. Guitarrista de coração, nos anos de 1960 Ilham formou os Twisters, pioneiros do rock'n'roll no Médio Oriente e primeira banda iraquiana a usar instrumentos modernos. O resultado foi uma guerra aberta contra os media e os puristas da música árabe, escandalizados com a introdução da guitarra eléctrica, da bateria, do baixo e do piano. Anos mais tarde, Ilham Al Madfai foi estudar arquitectura para o Reino Unido, passando os serões a tocar no Baghdad Cafe, o que chamaria a atenção de músicos como Paul McCartney, Donovan ou George Fame. De regresso a Bagdad, forma a 13½, uma banda que ousou misturar o folclore iraquiano com o flamenco e o taarab. A experiência agradou ao público mais jovem, e Ilham acabou por se transformar no mais popular músico iraquiano da década de 70. Depois de anos em viagem pelo estrangeiro, em 1990 o músico estreava a Firqat Ilham (A Banda do Ilham), abrindo assim a música árabe aos os ritmos, melodias e instrumentos da música do mundo. Hoje, para além das composições e arranjos próprios, Ilham apresenta canções escritas por famosos poetas árabes como Nizar Qabbani, Bedr Shakir Al-Sayab, Ilyya Abu Maadhi, Abul Qasim Al-Shabi ou Abdel Wahab Al-Bayati.

"Gross", Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Seguem-se os Balkan Beat Box com “Gross”, tema extraído do seu álbum de estreia, baptizado com o nome do grupo e editado em 2005. Para além da participação nesta música dos israelitas Boom Pam, o trabalho conta ainda com as colaborações das Bulgarian Chicks (Valda Tomova e Kristin Espeland), Victoria Hanna, Shushan, Hassan Ben Jaffar, Har-El Shachal e Tomer Yosef. Os Balkan Beat Box misturam de forma enérgica e ousada melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs, Mediterrâneo, Europa de Leste e Médio Oriente com letras bizarras, hip-hop e batidas electrónicas. A banda, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.

"Abre Kako So Pijeja", Esma Redzepova (Macedónia) - gypsy music
Segue-se Esma Redzepova, que nos traz “Abre Kako So Pijeja”, tema retirado do álbum “Čhaje Šhukarije”, lançado em 2001. Trabalho produzido pelo trompetista klezmer Frank London, e que juntou músicos de todo o mundo. Esma nasceu em 1943 numa pequena povoação perto de Skopje, a capital da Macedónia, precisamente a cidade onde Emir Kusturica rodou “O Tempo dos Ciganos”. Na escola, aos 14 anos, a cantautora foi convidada a cantar num concurso da Radio Skopje. Concerto onde conquistou o primeiro lugar e a atenção do músico e futuro marido Stevo Teodosievski. Esma começa então uma tournée com o seu ensemble musical. Num festival no norte da Índia é baptizada como “Rainha dos Ciganos”, alcançando a partir daí grande popularidade. As suas canções, semelhantes às melodias típicas dos Balcãs, são a expressão musical do seu amor pela Macedónia. Uma voz vibrante a que se juntam o violino, o clarinete e o acordeão, sem esquecer as influências da Índia, Pérsia e Espanha, num ambiente alegre e sensual. A diva dos Balcãs tem actuado nos palcos mais importantes do mundo, sendo hoje a grande embaixadora da cultura cigana da Macedónia. Até agora já foram mais de oito mil concertos e 500 canções, o que inclui 108 singles, 20 álbuns e 6 filmes. Nomeada por duas vezes para o prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho humanitário, ela e o seu falecido marido adoptaram 47 dos rapazes órfãos que encontraram nas suas viagens, treinando-os para serem músicos.

"Cocoon", Flëur (Ucrânia) - rock, gothic folk
A emissão chega ao fim com os Flëur e o tema “Cocoon”, extraído do álbum “Siyanie” (Brilho de Luz), editado em 2004. Neste seu terceiro trabalho, a banda originária da cidade ucraniana de Odessa apresenta-nos uma folk combinada com a pop russa. São melodias ora melancólicas, ora líricas, onde se dá a conhecer o seu universo simultaneamente sombrio e luminoso, divertido e triste, onírico e enérgico. A emoção e a sensibilidade estão presentes nas vozes de Olga Pulatova (a apaixonada) e Elena Voynarovskaya (a sonhadora). As composições desta dupla falam de sonhos e esperanças, sobrepondo-se às instrumentações do piano, das guitarras acústica e eléctrica, do violino, da bateria, do baixo, do violoncelo, da flauta e do digeridoo. O grupo fica completo com os músicos Ekaterina Kotelnikova, Alexey Tkachevsky, Vitaly Didyk, Alexandra Didyk, Anastasia Kuzmina e Alla Luzhetskaya, todos eles formados na academia Nacional de Música de Odessa. São sons intemporais numa visão contemporânea da música tradicional europeia.

Jorge Costa