quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Emissão #55 - 29 Dezembro 2007

A 55ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 29 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 2 de Janeiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (19 e 23 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"S'Agapov", Eli Paspala (Grécia) - greek music
A grega Eli Paspala inaugura mais uma emissão com “S'Agapov” (Eu Amo-te), tema retirado do álbum “Trio”, gravado ao vivo em 2001 em Atenas e lançado no ano seguinte. Uma selecção de músicas onde a conhecida cantora grega é acompanhada pelo seu marido David Lynch – ainda que americano, não se trata do famoso realizador de cinema -, músico de mãe irlandesa e pai checo que aqui toca flauta, saxofone e diversos tipos de percussão; e pelo cipriota Stavros Lantsias, que estudou em Boston e que neste trabalho toca piano, guitarra clássica, melódica e percussões. Apesar das diferentes origens geográficas, em comum os três músicos têm o facto de se terem estabelecido em Atenas. De ascendência grega, Elli Paspala é uma das mais célebres vocalistas daquele país dado o estilo único com que canta desde os temas de grandes compositores internacionais às canções helénicas, interpretadas não só em grego mas também em inglês, italiano, alemão e japonês. Sentimentos e ideias que se misturam na poética de géneros musicais que vão da pop ao jazz. Elli Paspala nasceu em Nova Iorque, onde fez carreira no mundo da ópera, mas em 1982 trocou os Estados Unidos pela Grécia, colaborando durante seis anos com o compositor Manos Hatzidakis. Ao longo do tempo, tem vindo a trabalhar com outros nomes de referência do mundo da composição grega como Stamatis Kraounaki, Mikis Théodorakis, Dionysis Savopoulos, Stamo Semsi ou Léna Platonos, sem esquecer as colaborações com músicos como Dimita Galani ou Yannis Spathas.

"Guardunha", Diabo a Sete (Portugal) - folk
As músicas do mundo prosseguem com "Guardunha" dos Diabo a Sete, um dos temas vulcânicos que fazem parte da “Parainfernália”, álbum de estreia do grupo, lançado este ano, e onde é convidado o músico Hugo Natal da Luz. Surgidos em Coimbra em 2003, os Diabo a Sete dizem ser uma espécie de cozido à portuguesa, embora com menos couves e mais enchidos. Das adaptações do cancioneiro nacional aos originais de inspiração popular, eles procuram reinventar a música tradicional portuguesa tomando como referência principal formações como o GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) e a Brigada Victor Jara. Caminhos escaldantes que depois se alargam a recantos acústicos endiabrados como o rock, o reggae, a música celta ou as danças europeias. Com percursos diferentes mas um gosto comum pela música étnica do seu país, Pedro Damasceno, Celso Bento, Eduardo Murta, Julieta Silva, Luísa Correia, Miguel Cardina e André Moutinho misturam os sons da sanfona, da concertina, da flauta, da gaita-de-foles, do bandolim, do cavaquinho e da guitarra com os da bateria, das percussões e do baixo eléctrico. Um cruzamento entre o passado, o presente e o futuro, onde se reinventam ritmos, melodias e instrumentos de outros tempos. No dia 29 de Dezembro, os Diabo a Sete vão estar no Centro Norton de Matos, em Coimbra, e a 26 de Janeiro nas FNAC's de Almada e Cascais.

"Caminu Polaciones", Luétiga (Espanha) - folk
Os Luétiga apresentam-nos“Caminu Polaciones”, tema retirado do álbum “Nel El Vieju”, editado em 1994. Um disco recheado de letras tradicionais e de composições próprias onde se contam e cantam estórias sobre a história, a sociedade ou o meio ambiente na Cantábria. O projecto (em cántábru ou montañés, Luétiga significa “coruja”) arrancou em 1986 com o objectivo de recuperar e modernizar os ritmos, sons e instrumentos daquela região espanhola recorrendo à investigação e ao estudo da sua música tradicional. Os irmãos Fernando e Roberto Diego e Chema Murillo, elementos iniciais daquele que foi o primeiro grupo a utilizar o idioma cantábrico, começaram por contactar velhos instrumentistas e cantores populares, resgatando assim do passado todo um universo sonoro rico em modas de baile e em cantigas de trabalho. Se de inicio a opção recaiu por um som mais eléctrico, à semelhança de grupos congéneres do Reino Unido, França ou da vizinha Galiza, mais tarde os Luétiga – hoje formados por Maite Blanco, Conchi García, Chema Murillo, Juan Carlos Ruiz, Roberto Diego, Fernando Segura e Fernando Diego – decidiram prescindir do bodhrán, das flautas irlandesas ou da gaita galega de forma a preservarem ao máximo a identidade da folk cantábrica. A preferência recaiu então em instrumentos mais característicos daquela parte da celtibéria atlântica como a requinta (clarinete afinado em Mi bemol, conhecido na Cantábria por pitu montañés, onde é tocado com o tambor, e que em grande parte substituiu a gaita e a dulzaina – aerofone da família do oboé, equivalente à bombarda bretã), a gaita-de-foles cantábrica, a pandeireta, o pandeiro, o violino, a guitarra acústica, a flauta transversal, o baixo, o tambor e o cajón.

"Baay Faal",
Youssou N'Dour (Senegal) - mbalax, afropop
A jornada continua com Youssou N’Dour e "Baay Faal", extraído do álbum “Rokku Mi Rokka” (“Apanhar e Levar”), lançado em 2007. Tema onde o mais famoso cantor senegalês presta homenagem a Cheikh Iba Fall, primeiro discípulo de Cheikh Ahmadou Bamba, fundador da Confraria Mouride. Um trabalho que se aproxima dos cantos religiosos sufi, das percussões dos griots e dos sons do norte do Senegal, num apelo à paz, tolerância e valorização do continente africano. No final dos anos 70, o autor, intérprete e músico, que aprendeu a cantar com a mãe, formou com o cantor El Hadj Faye os L'Etoile de Dakar, e em 1981 os Le Super Étoile de Dakar. Cruzando os ritmos sincopados do mbalax senegalês com a pop internacional, numa fusão que inclui o jazz, a soul e arranjos afro-cubanos, o “rouxinol de Dakar” depressa cativou o público ocidental sem no entanto abdicar das suas raízes, conquistando o estatuto de embaixador da música africana. Nos seus temas em wolof e inglês, Youssou N’Dour retrata o mundo da pobreza, da emigração ou os valores culturais africanos. Um dos mais conhecidos a nível global é “Seven Seconds”, que gravou com Neneh Cherry. Através da música, com que pretende quebrar o silêncio das crianças que sofrem, Youssou N’Dour abraça também as causas humanitárias. Da fundação com o seu nome aos concertos em benefício da Amnistia Internacional, o embaixador da boa vontade para as Nações Unidas e para a UNICEF tem por isso mesmo colaborado com músicos como Peter Gabriel, Axelle Red, Sting, Alan Stivell, Bran Van 3000, Wyclef Jean, Paul Simon, Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Branford Marsalis, Ryuichi Sakamoto ou o camaronês Manu Dibango.

"Gimme Shelter", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
A
ngélique Kidjo e Joss Stone trazem-nos uma nova versão de “Gimme Shelter” - tema celebrizado pelos Rolling Stones, os reis do rock’n’roll -, retirada do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia), trabalho que conta com ainda com a participação de Joy Denelane. A jovem é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As músicas, grande parte inspiradas nas suas missões humanitárias, falam do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.

"Bulgarian Chicks", Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Seguem-se os Balkan Beat Box com “Bulgarian Chicks”, tema retirado do seu álbum de estreia, baptizado com o nome do grupo e editado em 2005. Para além da participação nesta música das Bulgarian Chicks (Valda Tomova e Kristin Espeland), o trabalho conta ainda com as colaborações dos israelitas Boom Pam, bem como de Victoria Hanna, Shushan, Hassan Ben Jaffar, Har-El Shachal e Tomer Yosef. Os Balkan Beat Box misturam de forma enérgica e ousada melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs, Mediterrâneo, Europa de Leste e Médio Oriente com letras bizarras, hip-hop e batidas electrónicas. A fanfarra circense, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.

"Munt", Boom Pam (Israel) - world fusion, surf rock
Os israelitas Boom Pam regressam ao programa com “Munt”, tema extraído do álbum do mesmo nome da banda, editado no ano passado. Formados em 2003, altura em que tocavam em clubes e casamentos, os Boom Pam foram buscar a identidade ao cover da canção grega que tocaram com a estrela de rock Berry Sakharof, êxito que ocupou as tabelas israelitas em 2004, à semelhança do que acontecera em 1969 com o cantor grego Aris San, emigrado em Tel Aviv. Os guitarristas Uzi Feinerman e Uri Brauner Kinrot começaram por experimentar sons orientais, até que se lhes juntaram a tuba de Yuval “Tubi” Zolotov e as percussões de Dudu Kohav. Depois do sucesso alcançado no Médio Oriente, eles chegaram ao público europeu, graças sobretudo ao DJ Shantel, que co-produziu o seu primeiro lançamento internacional e os descobriu numa das suas visitas a Tel Aviv, convidando-os então a participarem em vários espectáculos no seu Bucovina Club em Berlim, Frankfurt, Colónia e Zurique. Onde quer que actuassem, os Boom Pam deixavam o público em brasa com a sua mistura enérgica de rock do Médio Oriente com uma amostra de Balcãs, alguma irreverência e muito groove. Fugindo ao cliché do klezmer, geralmente associado à música judaica, eles criam um cocktail dos diferentes estilos que habitualmente se cruzam em Tel Aviv. Uma fusão única de estilos mediterrânicos, balcânicos e gregos, combinados com melodias judaicas, surf rock e música circense.

"Nadie Te Tira", Ozomatli (EUA) - salsa, cumbia, latin rock
Despedimo-nos com os Ozomatli e o tema “Nadie Te Tira”, extraído do álbum “Street Signs”, editado em 2004. Terceiro trabalho da banda (de que hoje fazem parte Raúl Pacheco, Asdrubal Sierra, Justin Porée, Ulisses Bella, Sheffer Brutton, Wil-Dog Abers, Mario Calire e Jiro Yamaguchi), formada em 1995, e em que participam o virtuoso marroquino do guimbri (alaúde berbere de três cordas) Hassan Hakmoun, os franceses “Les Yeux Noirs”, a Orquestra Sinfónica de Praga, David Hidalgo (Los Lobos), Mario Calire (The Wallflowers) e o pianista Eddie Palmieri. Os Ozomatli foram buscar o nome ao termo nahuatl (dialecto asteca) referente ao símbolo astrológico asteca do macaco e ao deus da dança, fogo e música. O grupo, que já colaborou com Carlos Santana e cujo som serviu de banda sonora a filmes como “Never Been Kissed” ou “Spanglish”, funde géneros como a salsa, a cumbia, o reggae e a dub com o gnawa africano, o funk do Médio Oriente, o punk, a pop, o jazz e os blues. O resultado é um rock latino com sabor ao hip-hop de Los Angeles, recheado de comentários sociais em inglês e castelhano que apelam à justiça social e aos direitos dos imigrantes. Uma energia acústica proporcionada por instrumentos como o tres (guitarra cubana), a jarana (guitarra mexicana), o requinto (grupo de pequenos cordofones e membrafones), o trompete, o trombone, o saxofone ou a tabla.

Jorge Costa

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O corpo sonoro dos Barbatuques

A infinidade de sons e percussões corporais explorados pelo grupo brasileiro serve de base a ritmos e danças orgânicos


Em palco, o colectivo explora a musicalidade do corpo
(imagens:
Jorge Costa/Multipistas)

Palmas, batidas no peito e no rosto, estalares de dedos, bateres de pés, vácuos ou assobios. Estes são alguns dos efeitos e percussões vocais explorados pelos Barbatuques, um grupo de catorze percussionistas (André Hosoi, André Venegas, Bruno Buarque, Dani Zulu, Fernando Barba, Flávia Maia, Giba Alves, Heloiza Ribeiro, João Simão, Lu Horta, Mairah Rocha, Mauricio Mass, Marcelo Pretto e Renato Epstein) de São Paulo, no Brasil, que, partindo do improviso colectivo, se dedicam ao estudo e ensino da música corporal. Sons que depois são combinados com instrumentos como o berimbau de boca, a flauta ou a guitarra, criando cantos, melodias e danças inspirados na cultura popular brasileira – forró, embolada, samba, baião, afoxé e maracatu –, mas que se cruzam com sons fonéticos e ritmos de todo o mundo. Um diálogo experimental que se estende a géneros contemporâneos como a dub, o rock, o funk, a beat box ou a electrónica. Estéticas que ampliam a gama de timbres orgânicos desta “orquestra de roda”.

“Na adolescência, muitas vezes eu percorria longas distâncias a pé. Como uma música estava muito presente na minha cabeça e eu nesses momentos não tinha um instrumento, começou a acontecer uma espécie de batuque [simula], como acompanhamento para alguma coisa em que eu estava a pensar", explica ao MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO Fernando Barba, director musical dos Barbatuques. "Aos poucos, quando percebi que isso trazia um som interessante [simula], comecei a desenvolver e a procurar outros ritmos", prossegue o fundador do grupo, cujo verdadeiro apelido é Barboza.
"Eu fazia tanto isso, que uma amiga [Lu Horta] juntou as palavras “batuque” e “barba”, sem saber que iria baptizar o grupo. Depois, o que os Barbatuques fizeram foi dar forma e explorar melhor isso, mas os sons são talvez os mais antigos da humanidade”.




O movimento e o bom humor associam-se aos sons vocais

O “barbatuquear” minimalista e tribal deste compositor e multi-instrumentista, formado em música popular na Unicamp - Universidade Estadual de Campinas, onde estudou rítmica com José Eduardo Gramani, depressa chamou a atenção de músicos, artistas e investigadores como Miló Martins, André Magalhães e Deise Alves. Com o desenrolar do projecto artístico e pedagógico de Fernando Barba, surgiam o Auê Núcleo de Ensino Musical, fundado em 1993 em São Paulo com André Hosoi e Marcos Azambuja, e em 1995, com o apoio de Stênio Mendes, as oficinas de percussão corporal. No cerne de tudo isto está hoje o Núcleo Barbatuques, centro de pesquisa e registo da música corporal explorada artisticamente pelos Barbatuques, que em 1996 se estrearam nos palcos num concerto de Luiz Gayotto, dando o seu primeiro espectáculo dois anos depois. O grupo tem colaborado com músicos brasileiros como Chico César ou Lenine, e instituições internacionais como a UNICEF, a ONU ou a National Geographic. No currículo, destaca-se ainda a sua participação num vídeo promocional da Heineken para a Liga dos Campeões da UEFA.

“Foi uma consequência natural juntar um grupo de pessoas muito interessadas e pensar se isso poderia ser levado para o palco e virar um número musical. Então, criámos uma espécie de núcleo artístico, onde temos a improvisação e a experimentação que através do grupo podemos colocar em prática no palco, mas também centro de informação, onde vários elementos pesquisam e trazem para o núcleo esse tipo de experiência”, refere Fernando Barba. “Aí, pelo nosso imaginário musical, comecei a trazer outros universos e a ver como os sons desses instrumentos se adaptam e se ficavam bem na voz e no corpo. Ao mesmo tempo, comecei-me a aproximar de certas danças, que são já percussivas e incluem sapateados”, diz o jovem. “No nosso trabalho, é quase impossível saber onde termina o som e começa o movimento”.




Os Barbatuques aliam percussões e improvisos colectivos


Da combinação de timbres e ritmos à sobreposição de vozes, tudo serve para ampliar as formas de expressão musical através do corpo. No Brasil, as influências sonoras dos Barbatuques vão do sapateado do coco a nomes como Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos, Tom Zé, Marku Ribas e Badi Assad. Fora do seu país, acrescem referências como os Stomp, o americano Keith Terry, as palmas do flamenco, os harmónicos vocais de Tuva, a boot dance dos mineiros da África do Sul, a percussão vocal cubana ou os sons fonéticos africanos. Exemplos da capacidade da música corporal em retratar os comportamentos e as tradições dos povos. Para além da música, em palco as atenções voltam-se também para as linguagens cénicas e visuais.

“Por vezes, muitos músicos não se apercebem de que antes de a música vir do instrumento vem de nós e está no corpo. E quanto ao que o corpo pode fazer, não existe nenhum tipo de limite de ritmo ou de estilo musical”, esclarece o músico. “É difícil encontrar um grupo que, como os Barbatuques, se dedique exclusivamente à percussão corporal. Mas grupos que usem elementos, são milhares. Há muitos artistas que têm uma espécie de flirt com a música vocal orgânica, mais percussiva”, acrescenta.



Em cena, o grupo explora sons tribais e ritmos urbanos

O trabalho estende-se aos ateliês pedagógicos, onde os Barbatuques mostram ao público como produzir sons corporais básicos. Exercícios de treino de ritmos facilitam então a assimilação dos sons, a improvisação pela escuta e a criação colectiva, desenvolvendo-se assim a percepção musical, a comunicação gestual e a coordenação motora. De uma forma criativa, crianças, jovens e adultos podem explorar também o som único de cada corpo e as sonoridades tribais produzidas por este “sintetizador humano”, fonte ilimitada de sons.

“Existe uma diversidade tão grande de timbres e podemos manipulá-los de tantas formas, que por vezes sentimos a falta de algo mais básico. Quando trabalhamos mais o silêncio, o ouvido fica mais aberto e podemos captar outras frequências. E isso pode ser também um contraponto ao excesso de informação visual e sonora que temos”, afirma Fernando Barba. “O ateliê permite à pessoa a conhecer vários sons, mas também a fazer música em grupo, escutar o outro, ver como é a reacção de fazer música”, justifica, delineando as vantagens sonoras do corpo.
“Do chuveiro ao andar na rua, não é um instrumento pesado que seja preciso tirar de um estojo e limpar para tocar. Tem também uma plasticidade muito grande”.




Instrumentos como a flauta ou o berimbau juntam-se ao corpo

O corpo transforma-se então na principal fonte sonora, adaptando-se por completo à imaginação dos Barbatuques. Experimentação e improviso aliam-se à exploração dos sons fonéticos e vocais, formas de reforçar a sensibilidade acústica.

“Todos os sentidos são inseparáveis, e ao descobrirmos a nossa forma de fazer música, ligando o imaginário ou o que mais nos apetece fazer, podemos acrescentar novos elementos ao que fizermos, sejamos um profissional da educação física, da dança ou do teatro”, confessa o director musical dos Barbatuques. “A percussão corporal não é a grande solução ou uma magia, mas um ponto de encontro que falta entre várias linguagens”, conclui.

Novas linguagens e sonoridades que se juntam ao universo da música corporal. Um contributo acústico dos Barbatuques para o regresso às origens orgânicas da música do mundo.




Nos ateliês com crianças, explorando as acústicas corporais

VÍDEO...↓
Entrevista Barbatuques + tema ao vivo “Carcará"

Discografia:
- “Corpo do Som” (2002)
- “O Seguinte é Esse” (2005)
DVD:
- “Corpo do Som Ao Vivo”(2007)

Jorge Costa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Emissão #54 - 15 Dezembro 2007

A 54ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 15 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 19 de Dezembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (5 e 9 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

Um programa especial onde se destaca a entrevista exclusiva aos Barbatuques, realizada a 3 de Dezembro no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, na estreia em Portugal do grupo brasileiro.


"Vuoi Vuoi Mu", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
A norueguesa Mari Boine Persen inaugura a emissão com o tema “Vuoi Vuoi Mu”, extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em 2006. Para além dos músicos Svein Schultz, Georg Buljo, Ole Jørn Myklebust, Peter Baden, Juan Carlos Zamata Quispe, Gunnar Augland, Sanjally Jobarteh, Malika Makouf Rasmussen, Sibusisiwe Ncube e Ross Reaver, neste disco colaboram também Terje Rypdal, Anitta Suikkari, Marry Sarre e Kenneth Ekornes. Nascida em Gámehisnjárga, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, os habitantes da Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica, assente numa escala pentatónica, da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo, as batidas e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, a pop, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evocam a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Yapheli'Mali Yami", Busi Mhlongo (África do Sul) - afro pop, maskanda, mbaqanda

Busi Mhlongo traz-nos " Yapheli'Mali Yami" (Acabou-se-me o Dinheiro), tema retirado do álbum "Urbanzulu", editado em 2000. Disco em que colaboraram vários músicos, entre eles, dois da banda Phuzekhemisi, que com ela compuseram este álbum simultaneamente africano e ocidental. A diva do afro pop foi a primeira mulher a internacionalizar a maskanda, género tradicional zulu que expressa a alegria e o lamento presentes na moderna vida da urbana África do Sul, e outrora característico dos trabalhadores e migrantes rurais. No entanto, Busi Mhlongo percorre outros estilos sul-africanos, fundindo-os com o jazz, o funk, o rock, o gospel, o rap e o reggae, e usando coros e instrumentos não tradicionais. Ao longo da sua carreira, actuou com alguns dos melhores nomes do jazz e estrelas da mbaqanga (género vocal, desenvolvido a partir de um estilo negro urbano, em que se destacam as vozes graves masculinas, e que se transformou no mqashiyo, um popular género de dança). Impedida de regressar à África do Sul, o que só aconteceria nos anos 90, Busi Mhlongo passou vários anos em Portugal, cantando temas populares e canções africanas em casinos. Durante o exílio, ela viveu ainda em Londres, no Canadá e em Amesterdão, cidade onde trabalhou com músicos africanos e desenvolveu o seu estilo único. Não é por acaso que, nas suas letras, Busi Mhlongo fala da necessária reconciliação entre sul-africanos com diferentes aspirações políticas.

"Manta", Saba (Somália) - afropop
Saba regressa ao programa com o tema "Manta" (Hoje), extraído do álbum “Jidka”, lançado este ano. Nascida em Mogadíscio, capital da Somália, durante o regime repressivo do general Muhammad Siyad Barre, Saba é filha de pai italiano e de mãe etíope. Com os italianos permanentemente sob suspeita e o conflito com a Etiópia na região de Ogaden, a família foi então obrigada a exilar-se em Itália. Neste seu trabalho de estreia, a cantora cruza a cultura africana com a europeia. Saba mistura então guitarras acústicas, koras e djembés com batidas tradicionais africanas e percussão contemporânea, recordando canções de infância e temas compostos com a própria mãe (recorde-se que ela começou por cantar e dançar com a irmã para entreter os vizinhos, em Addis Abeba). A jovem, que tem trabalhado com autores somalianos como Cristina Ubax Alì Farah e Igiaba Scego, serve-se do dialecto somali de Xamar Weuyne, onde abundam as palavras em inglês e italiano, herança dos tempos coloniais. Nesta aproximação entre culturas, ela conta com as participações do guitarrista e percussionista camaronês Tatè Nsongan, do griot senegalês Lao Kouyatè e da voz de Felix Moungara, do Gabão.

"Korppi", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock

A viagem continua com as Värttinä, que nos trazem o tema “Korppi”, retirado do álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda do folclore contemporâneo finlandês traz-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, naquele que foi o primeiro trabalho onde o grupo tentou juntar a música tradicional com sons modernos. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"Metsän Tyttö", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Seguem-se
os Hedningarna com “Metsän Tyttö” (A Rapariga da Floresta), tema extraído do álbum “Karelia Visa” (Canções da Carélia), lançado em 1999. Depois das incursões pelo mundo do rock, da pop e do techno, os Hedningarna (Os Pagãos), pioneiros na renovação da folk sueca, regressam à música tradicional nórdica. Juntam-se-lhes de novo as vocalistas finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Anita Lehtola, parte do agora sexteto que integra ainda Anders Skate Norudde, Björn Tollin, Hållbus Totte Mattsson e Ulf "Rockis" Ivarsson, e que conta com as colaborações de Johan Liljemark e Wimme Saari. No segundo álbum em que o grupo explora as raízes fino-úgricas da Carélia, homenagem à herança cultural deixada naquela região maioritariamente ocupada pela Rússia, os Hedningarna apresentam canções medievais que remetem para antigas lendas finlandesas, enraizadas no Kalevala (epopeia nacional daquele país, compilada por Elias Lönnrot). Letras e melodias que a banda, formada em 1987, reinterpreta de forma livre e inventiva, criando uma sonoridade etérea capaz de suportar a magia e o arcaísmo dos cantos rúnicos, sem contudo abdicar de influências modernas. Para isso, servem-se de instrumentos de vários países do norte da Europa como o violino, a moraharpa (versão medieval da nyckelharpa, harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas), a stråkharpa (lira nórdica de arco), o lagbordun, o hummel (cordofone sueco, da família da cítara e semelhante ao norueguês langeleik), a mandora (cordofone da família do alaúde), o alaúde, o oud (alaúde árabe), a sanfona, a flauta, a gaita sueca, o acordeão, o didgeridoo e o pandeiro.

Baianá", Barbatuques (Brasil) – body music, a'cappella, experimental
Os Barbatuques apresentam-nos agora “Baianá”, tema retirado do álbum “O Seguinte é Esse”, editado em 2005. No seu último trabalho, produzido por Fernando Barba, André Hosoi e Bruno Buarque, o grupo adiciona novas técnicas e paisagens sonoras ao universo da música corporal. Um retiro musical realizado em Botucatu, no interior de São Paulo, e novos arranjos e composições gravados em estúdio, fruto da aproximação a sonoridades regionais e contemporâneas, servem de base a este disco onde eles exploram em maior profundidade os aspectos melódicos, harmónicos, percussivos e fonéticos da voz. Partindo do “barbatuquear” minimalista e do improviso colectivo, este núcleo de percussionistas e pedagogos explora os inúmeros sons produzidos pelo corpo. As palmas, as batidas, os estalos, os assobios ou os vácuos são então combinados com instrumentos como o berimbau, a flauta ou a guitarra, na produção de ritmos, melodias, danças e cantos inspirados na cultura popular brasileira e que se cruzam com o sapateado do coco, as palmas do flamenco, os harmónicos vocais do Oriente, a percussão vocal cubana ou os sons fonéticos africanos. Uma experimentação global em diálogo com géneros contemporâneos como a dub, a beat box ou a electrónica. Estéticas que ampliam a gama de timbres orgânicos desta “orquestra de roda” que convida o público a explorar também as sonoridades tribais produzidas pelo “sintetizador humano”, fonte ilimitada de sons.

"Papa U Mama", Fufü-Ai (Espanha) - rock, french pop
Despedimo-nos com os catalães Fufü-Ai e o tema “Papa U Mama”, extraído do seu segundo álbum “For Ever”, gravado no verão de 2007. Trabalho onde a pop sensual e ingénua do primeiro disco “Petite Fleur”, lançado no ano anterior, se alarga ao reggae, à bossa nova, ao rock e ao punk. Propostas mestiças que partem do ambiente multicultural do El Raval, o conhecido bairro da Ciutat Vella de Barcelona, num french touch que fica completo com letras em francês, castelhano ou inglês. Em 2004, a vocalista Anouk Chauvet (Color Humano) reencontrou-se com o guitarrista e produtor Tomas Arroyos "Tomasin" (Les Casse-Pieds, La Kinky Beat, Mano Negra, Color Humano, Dusminguet), numa primeira versão acústica de Fufü-Ai, formação a que hoje se juntam a teclista Laia (Brazuca Matraca), o baixista Fernando "dinky" e o baterista Óscar. O projecto da capital catalã conta ainda com as colaborações pontuais de músicos como Yacine (Nour), Miryam ‘Matahary’ (La Kinky Beat), Joan Garriga (La Troba Kung-Fu), Sandro (Macaco), Stefarmo ou Baba (Black Baudelaire).

Jorge Costa

domingo, 2 de dezembro de 2007

World Music Charts Europe - Os melhores álbuns de 2007

Eis os álbuns que se destacam nas primeiras dez posições do TOP 150 relativo aos 974 discos nomeados em 2007 para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de):

1º- WATINA, Andy Palacio and the Garifuna Collective (Belize) - Cumbancha
2º- AMAN IMAN, Tinariwen (Mali) - Independiente
3º- SEGU BLUE, Bassekou Kouyate & Ngoni Ba (Mali) - Outhere
4º- DJIN DJIN, Angélique Kidjo (Benim/França) - EMI
5º- AFRIKI, Habib Koite (Mali) - Cumbancha
6º- QUEENS AND KINGS, Fanfare Ciocărlia (Roménia) - Asphalt Tango Records
7º- TAXIDOSCOPIO, Kristi Stassinopoulou (Grécia) - Heaven & Earth
8º- MADE IN DAKAR, Orchestra Baobab (Senegal) - World Circuit
9º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
10º- MI SUENO, Ibrahim Ferrer (Cuba) - World Circuit


A lusofonia está representada no topo deste painel com uma dúzia de álbuns: quatro portugueses, quatro cabo-verdianos, um moçambicano e três brasileiros:

42º- ALMA LIVRE, Dona Rosa (Portugal) – Jaro
43º- NAVEGA, Mayra Andrade (Cabo Verde) - Sony BMG
45º- BUMPING, Massukos (Moçambique) - Poo
46º- PIRATA, Maria Bethânia (Brasil) - Discmedi
52º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
65º- BONFIRES OF SÃO JOÃO, Forró in the Dark (Brasil) - Nublu
73º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica
80º- MOMENTO, Bebel Gilberto (Brasil) - V2
113º- PARA ALÉM DA SAUDADE, Ana Moura (Portugal) - Universal
118º- CONCERTO EM LISBOA, Mariza (Portugal) - Capitol/EMI
119º- LONJI, Tcheka (Cabo Verde) - Lusafrica
139º- OBA TRAIN, Terrakota (Portugal) - Dunya Records

World Music Charts Europe - Dezembro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Dezembro dos 168 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, para além da estreia do português António Zambujo e da manutenção dos Dona Rosa na mesma posição, as nove novas entradas no topo do painel (três em estreia absoluta no WMCE e seis a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- MADE IN DAKAR, Orchestra Baobab (Senegal) - World Circuit
mês passado: 2ºlugar


2º- AFRIKI, Habib Koite & Bamada (Mali) - Cumbancha
mês passado: 1ºlugar
3º- ROKKU MI ROKKA, Youssou N'Dour (Senegal) - Nonesuch
mês passado: 8ºlugar
4º- THE SOUL OF ARMENIA, Djivan Gasparyan (Arménia) - Network Medien

estreia na tabela
5º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
mês passado: 3ºlugar
6º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 13ºlugar

7º- ALMA LIVRE, Dona Rosa (Portugal) - Jaro
mês passado: 7ºlugar
8º- LONJI, Tcheka (Cabo Verde) - Lusafrica

mês passado: 69ºlugar
9º- MASKARADA, Taraf de Haïdouks (Roménia) - Crammed
mês passado: 5ºlugar
10º- FESTA FARINA E FORCA, Enzo Avitabile & Bottari (Itália) - Il Manifesto
mês passado: 9ºlugar

11º- L'AFRICAIN, Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - Barclay
mês passado: 21ºlugar

12º- TAKSIM TRIO, Taksim Trio (Turquia) - Doublemoon Records
mês passado: 22ºlugar

13º- ISTANBUL'S SECRET, Up, Bustle & Out (Reino Unido, Turquia) - Echobeach
mês passado: 26ºlugar
14º- OUTRO SENTIDO, António Zambujo (Portugal) - Ocarina Records
estreia na tabela
15º- NAVEGA, Mayra Andrade (Cabo Verde) - Sony
mês passado: 33ºlugar

16º- BEL CANTO - BEST OF GENIDIA YEARS, Mbilia Bel (RD Congo) - Sterns
estreia na tabela
17º- LA RADIOLINA, Manu Chao (França) - Because
mês passado: 4ºlugar
18º- MANO SUAVE, Yasmin Levy (Israel) - World Village

mês passado: 35ºlugar
19º- ALBANIAN WEDDING, Fanfare Tirana (Albânia) - Piranha
mês passado: 15ºlugar
20º- LA BONNE HUMEUR, Madilu System (RD Congo) - Sterns
mês passado: 10ºlugar