sexta-feira, 13 de julho de 2007

Emissão #46 - 14 Julho 2007

A 46ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 14 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 18 de Julho, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (4 e 8 de Agosto) nos horários atrás indicados.

"Mahalageasca (Felix B Jazzhouse Dub)", Mahala Raï Band (Roménia) - gypsy brass band, folktronica
A Mahala Raï Band e o DJ Felix B a abrirem o programa com a versão jazzhouse dub do tema “Mahalageasca”, amostra do que pode ser ouvido no álbum “Gypsy Beats & Balkan Bangers”, lançado em 2006. Uma compilação levada a cabo por Russ Jones (Future World Funk) e Felix Buxton (Basement Jaxx), que para além de algumas remisturas da sua autoria integram ainda trabalhos dos Nouvelle Vague, Balkan Beat Box, Dj Click ou Forty Thieves Orkestar. Uma forma de combinarem ritmos e batidas modernas com a música tradicional dos Balcãs, trazendo-a para as pistas de dança da Europa ocidental. A viverem nos mahala, os guetos ciganos da periferia de Bucareste, os Mahala Raï Band (literalmente Banda Nobre do Gueto) resultam de uma mistura entre a cultura oral dos jovens ciganos lăutari (músicos) e as fanfarras militares romenas. Eles foram descobertos num restaurante alemão da capital do país pelos mesmos belgas que deram a conhecer ao mundo os Taraf de Haïdouks e a Koçani Orkestar. Os filhos da geração que trocou as suas povoações rurais pelos arredores de Bucareste, ganhando a vida ao tocarem em casamentos versões populares do seu repertório tradicional, juntam-se agora a alguns dos músicos veteranos do exército romeno – nos tempos áureos de Ceaucescu chegaram a ser cerca de 30 mil –, os quais trocaram os eventos oficiais por um painel vibrante de canções e danças folclóricas. Violinos e acordeões misturam-se então com o som das fanfarras, arranjos inventivos que transformam qualquer concerto numa festa selvagem.

"Danza del Rey Nabucodonocor", La Musgaña (Espanha) - spanish folk
As músicas do mundo prosseguem com os La Musgaña e a “Danza del Rey Nabucodonocor”, parte integrante do sexto disco do grupo “Temas Profanos”, editado em 2003 e que conta com as colaborações de Carmen Paris, Joaquín Díaz, David Mayoral e Pablo Martín. Em 1986, Enrique Almendros, até então intérprete de música celta, juntava-se a José María Climent e a Rafael Martín para formarem um grupo centrado na tradição musical da meseta castelhana. Ainda nesse ano, acresciam o flautista Jaime Muñoz e o baixista Carlos Beceiro, únicos elementos que hoje permanecem no quinteto composto ainda por Diego Galaz, Jorge Arribas e Sebastián Rubio. Das melodias de dança às canções de amor, passando pela música para casamentos, os La Musgaña apresentam-nos uma ampla visão musical de uma zona marcada pela herança europeia, africana e mediterrânica. Por entre os temas evocativos destacam-se os ofertórios religiosos, as charradas, ajechaos e charros de Salamanca e Zamora, os bailes corridos de Ávila, os pindongos de Cáceres e as danças, aires e canções de León ou Burgos, ou as jotas, rogativas, dianas e villancicos de Madrid, Segovia e Valladolid. Uma celebração da música tradicional espanhola, à mistura com influências ciganas, mouriscas e celtas, em que os ritmos hipnóticos se constroem com toda uma gama de instrumentos tradicionais (gaita charra, gaita sanabresa, flauta, tamboril, cistro ou sanfona), étnicos (cajón, tar, krakebs, pandeiro iraniano, derbouka, bouzouki, req, sabar, tinajas, bendir ou marímbula) e modernos (clarinete, acordeão diatónico, saxofone soprano, baixo ou violino).

"Dans La Ville de Paris", Charbonniers d L'Enfer (Canadá) - folk, a capella
Os Charbonniers de L’Enfer (Carvoeiros do Inferno) trazem-nos o tema “Dans La Ville de Paris”, extraído do álbum “Chansons A Capella”, editado em 1996. Trabalho de estreia deste quinteto masculino originário do Quebeque, e em que participam a violinista Lisa Ornstein, o percussionista Daniel Roy e ainda Gaston Lepage, conhecido cantor de St-Côme, em Lanaudière, uma das regiões administrativas daquela província canadiana, maioritariamente francófona. Esta “orquestra de cantores a capella”, como eles próprios se descrevem, especializou-se na pesquisa e interpretação do repertório de tradição oral do Quebeque. No início da década de 1990, Michel Bordeleau, André Marchand, dos La Bottine Souriante, reuniram-se para gravar o álbum "Maudite Mémoire", de Michel Faubert. Jean-Claude Mirandette integraria o novo grupo nas suas primeiras prestações autónomas, o qual mais tarde ficou completo com a entrada de larron Normand Miron. Juntos por uma paixão comum pela voz e pelas melodias tradicionais da zona, os cinco reúnem-se então à volta de uma mesa, sem qualquer tipo de acompanhamento para além do bater dos pés, e começam a cantar. São versões polifónicas de temas inéditos e antigos, provenientes de fontes e géneros variados. O resultado é um som uníssono ou harmónico, ritmado pelas palavras e melodias vocais, e que os Os Charbonniers de L’Enfer dizem ser “98 por cento acidental”.

"Mama Golo Papa", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
A jornada continua com Angélique Kidjo, que nos traz “Mama Golo Papa”, tema retirado do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia), uma alusão ao som que anuncia uma nova vida para África. Angélique Kidjo é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As suas músicas, grande parte inspiradas nas missões humanitárias que faz, falam sobretudo do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos seus discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.

"Wow'i Karino", Izaline Calister (Antilhas Holandesas) - afro latin, jazz

Segue-se Izaline Calister com “Wow'i Karino”, tema extraído do seu terceiro álbum “Krioyo” (Crioulo), gravado em Amesterdão e editado em 2004. Disco em que a artista e a sua banda contam com as colaborações de Shirma Rousse e dos Strings Unlimited. Originária de Curaçao, nas Antilhas Holandesas, a cantora e compositora de jazz trocou a medicina e gestão pela música. Ela canta em papiamento, idioma oficial do seu país, com influências do holandês e castelhano e que teve origem no português falado em Angola e Moçambique. Do colectivo worldbeat Dissidenten à banda de world-fusion Pili Pili ou ao grupo tradicional Trinchera, em toda as formações por onde Izaline Calister passou existiu sempre a preocupação em preservar e rejuvenescer os sons tradicionais daquele país, misturando-os com os ritmos do calypso, do merengue, da salsa, do zouk ou da tumba. Uma celebração da própria diversidade cultural caribenha, feita do cruzamento secular entre a música africana e europeia, e a que se juntou a música popular latina e norte-americana. São composições e arranjos em que têm lugar não só instrumentos tradicionais como a marímbula (lamelofone caribenho), o bari (pequeno tambor, tocado como o bongo), a conga (instrumento de percussão de origem cubana), o xequerê (instrumento africano formado por uma cabaça cortada ao meio e envolvida por uma rede de contas), o tambú grandi (tambor típico de Curaçao em que a pele de cabra é pregada sobre um barril de gim), o sino, a clave (instrumento de percussão afro-cubano, formado por dois cilindros de madeira), o djembé ou a cuatro (cordofone de quatro cordas da família da guitarra), mas também o baixo, o piano, a guitarra, o violoncelo, o violino e o acordeão.

"Bint Al Shalabia", Ilham Al Madfai (Iraque) - arabian folk, world fusion
Ilham Al Madfai traz-nos “Bint Al Shalabia” (A Rapariga de Shalabia), tema extraído do álbum “Live at Hard Rock Cafe (Beirut)”, gravado ao vivo no Líbano e editado em 2000. O “Beatle de Bagdad” é um dos mais conhecidos cantautores iraquianos, tendo revolucionado o folclore árabe. Com uma vida repartida por cidades como Bagdad, Abu Dabi ou Amman, durante vários anos Ilham Al Madfai hipotecou a sua carreira, isto porque os músicos iraquianos eram obrigados a escolher entre as orações de Saddam ou a prisão e a tortura. Guitarrista de coração, nos anos de 1960 Ilham formou os Twisters, pioneiros do rock'n'roll no Médio Oriente e primeira banda iraquiana a usar instrumentos modernos. O resultado foi uma guerra aberta contra os media e os puristas da música árabe, escandalizados com a introdução da guitarra eléctrica, da bateria, do baixo e do piano. Anos mais tarde, Ilham Al Madfai foi estudar arquitectura para o Reino Unido, passando os serões a tocar no Baghdad Cafe, o que chamaria a atenção de músicos como Paul McCartney, Donovan ou George Fame. De regresso a Bagdad, forma a 13½, uma banda que ousou misturar o folclore iraquiano com o flamenco e o taarab. A experiência agradou ao público mais jovem, e Ilham acabou por se transformar no mais popular músico iraquiano da década de 70. Depois de anos em viagem pelo estrangeiro, em 1990 o músico estreava a Firqat Ilham (A Banda do Ilham), abrindo assim a música árabe aos os ritmos, melodias e instrumentos da música do mundo. Hoje, para além das composições e arranjos próprios, Ilham apresenta canções escritas por famosos poetas árabes como Nizar Qabbani, Bedr Shakir Al-Sayab, Ilyya Abu Maadhi, Abul Qasim Al-Shabi ou Abdel Wahab Al-Bayati.

"La Nef des Fous (Design Size Remix)", Ekova (França) - ethno techno, jazz
Os Ekova trazem-nos “La Nef des Fous” (A Nave dos Loucos), uma versão techno remisturada pelo baixista e produtor Niktus, e retirada do álbum “Soft Breeze & Tsunami Breaks”, lançado em 2000. Trabalho onde alguns dos mais conhecidos produtores europeus de música electrónica reinventam os temas, maioritariamente acústicos, de “Heaven's Dust”, disco de estreia do trio radicado em Paris. O nome Ekova resulta do cruzamento entre “echo” e “ova”, termos que o grupo diz ter escolhido não pelo seu significado, mas pela sonoridade agradável. Foi também graças à mistura de sílabas que a americana Dierdre Dubois, vocalista da banda, criou uma língua imaginária e misteriosa, cantando ocasionalmente também em inglês ou francês. Por sua vez, os músicos que a acompanham – o percussionista iraniano Arach Khalatbari e o argelino Mehdi Haddad, tocador de alaúde, guimbri (baixo acústico arcaico de três cordas), violoncelo e quissangue (lamelofone africano) – inventaram uma linguagem musical à medida. Servindo-se de uma instrumentação moderna e tradicional, os Ekova inspiram-se então nos ritmos e batidas da música africana, oriental ou celta, que cruzam com diversos géneros da música electrónica ou mesmo com o jazz. O resultado é uma mistura exótica e contemporânea em que se estabelece uma ponte entre Ocidente e Oriente.

"El Sonido de la Milonga", Bajofondo Tango Club (Argentina/Uruguai) - electro-tango
A fechar,
os Bajofondo Tango Club e o álbum do mesmo nome, editado em 2003. A Argentina e o Uruguai estão separados pelo Rio de la Plata mas unidos pela melancolia e nostalgia do tango. Produtores, músicos e cantores dos dois países decidiram então juntar-se para misturar o tango com diversos estilos electrónicos, recuperando o espírito da música rioplatense entre as décadas de 30 e 60. O projecto, criado em 2001 pelos produtores Juan Campodónico e Gustavo Santaolalla, recorre ao trip hop, ao house, ao chill out ou ao drum & bass, ritmos electrónicos que reinventam o tango, transformando-o num drama dançável. Dos Bajofondo Tango Club fazem ainda parte Martín Ferrés, Verónica Loza, Javier Casalla e Gabriel Casacuberta. À formação ao vivo juntam-se também Luciano Supervielle, Jorge Drexler, Juan Blas Caballero, Didi Gutman, Adrian Laies, Emilio Kauderer, Cristobal Repetto, Diego Vainer e Adriana Varela. O produtor e compositor uruguaio Juan Campodónico, também conhecido como DJ Campo, encerra então o programa com o tema “El Sonido de la Milonga”. Nos anos 90, ele criou El Peyote Asesino, uma das primeiras bandas do Rio de la Plata a misturar o hip-hop com o rock. Juntamente com Jorge Drexler, Juan Campodónico tem vindo a combinar ambientes electrónicos com sonoridades acústicas e latinas. No seu trabalho destacam-se ainda as misturas feitas para Tom Jones e Badfellas, bem como a produção da banda sonora do filme “Shrek II”.

Jorge Costa

domingo, 1 de julho de 2007

World Music Charts Europe - Julho 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Julho dos 171 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, não só a nova liderança e as oito novas entradas no topo do painel (cinco em estreia absoluta no WMCE e três a subirem para os primeiros vinte lugares), mas também a inclusão no penúltimo lugar dos portugueses Terrakota:

1º- DJIN DJIN, Angelique Kidjo (Benim, França) - EMI
mês passado: 5ºlugar

2º- AUTHENTICITE - THE SYLIPHONE YEARS, vários (Guiné-Conacri) - Sterns
mês passado: 4ºlugar
3º- BAHAMUT, Hazmat Modine (EUA) - Jaro
mês passado: 2ºlugar
4º- WATINA, THE UNIQUE AND SOULFUL SOUND OF AFRICA IN CENTRAL AMERICA, Andy Palacio and the Garifuna Collective Belize (Guatemala,Honduras) - Cumbancha
mês passado: 1ºlugar
5º- SEGU BLUE, Bassekou Kouyate & Ngoni Ba (Mali) – Outhere
mês passado: 3ºlugar
6º- NOUR, Malouma (Mauritânia) - Marabi

mês passado: 23ºlugar
7º- 3 NIGHTS, Zulya and the Children of the Underground (Rússia) - Westpark
mês passado: 10ºlugar
8º- NU MED, Balkan Beat Box (EUA) - Crammed
mês passado: 8ºlugar
9º- ZORZAL, Axel Krygier (Argentina, França) - HiTop
estreia na tabela

10º- AMAN IMAN, Tinariwen (Mali) – Independiente
mês passado: 6ºlugar

11º- UTOPIA, Caceres (Argentina) - Manana
estreia na tabela

12º- RED EARTH, Dee Dee Bridgewater (EUA) - Universal
mês passado: 20ºlugar

13º- SEASON OF VIOLET, Rim Banna (Palestina) - Kirkelig Kulturverksted
mês passado: 11ºlugar
14º- TRAKYA DANCE PARTY, Burhan Öcal & Trakya All Stars (Turquia) – Doublemoon
mês passado: 17ºlugar
15º- A DIARIO, Telmary (Cuba, Japão) DM Ahora!
mês passado: 82ºlugar

16º- SOUNDIATA, Rail Band (Mali, Etiópia) - Sterns
estreia na tabela
17º- BOLE 2 HARLEM, Bole 2 Harlem (Etiópia, EUA) - World Connection
mês passado: 85ºlugar

18º- SEVENTH TRIP, Kroke (Polónia) - Oriente Musik
mês passado: 7ºlugar
19º- OBA TRAIN, Terrakota (Portugal) - Dunya Records

estreia na tabela
20º- CHEFA, Miss Platnum (Alemanha) - Four Music
estreia na tabela