domingo, 30 de setembro de 2007

Emissão #49 - 6 Outubro 2007

A 49ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 6 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 10 de Outubro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (27 e 31 de Outubro) nos horários atrás indicados.

"Ajde Jano", Kroke (Polónia) - klezmer,  jazz fusion,  folk
Os Kroke a abrirem a emissão com “Ajde Jano”, tema retirado do seu álbum de estreia “Trio”, lançado em 1996. O grupo nasceu em 1992 em Kazimierz, o bairro judaico da capital polaca. Em iídiche, idioma germânico falado em comunidades judaicas de todo o mundo e que utiliza o alfabeto hebraico moderno, Kroke significa precisamente Cracóvia, cidade que até ao início da década de 1940, nas vésperas do holocausto, foi um dos mais importantes centros da vida cultural judaica. Os Kroke são formados pelo contrabaixista Tomasz Lato, pelo violinista Tomasz Kukurba e pelo acordeonista Jerzy Bawoł, colegas da Academia de Música de Cracóvia, a que mais tarde se juntaria o percusionista Tomasz Grochot. Ainda que não sejam judeus, eles procuram redescobrir e reinventar as tradições musicais dos seus antepassados. Para criarem composições e arranjos próprios, os Kroke servem-se sobretudo de estilos e escalas do klezmer – do hebraico kley (instrumento) e zemer (cantar, interpretar música) –, a música tradicional instrumental dos judeus de Leste, característica das bodas ou celebrações, e que foi sendo enriquecida ao longo dos séculos com sons e ritmos de outras paragens. Junta-se-lhe a música sefardita, combinada com a experiência do jazz e da música clássica e cigana, sem esquecer as influências contemporâneas. Em palco, os Kroke têm vindo a colaborar com artistas de renome internacional como Van Morrison, Ravi Shankar, Natacha Atlas ou os Klezmatics.

"Pindongos de Montehermoso", La Musgaña (Espanha) - spanish folk

As músicas do mundo prosseguem com os La Musgaña, que nos trazem "Pindongos de Montehermoso", tema tradicional extraído do sexto disco do grupo “Temas Profanos”, editado em 2003. Um trabalho que conta com as colaborações de Carmen Paris, Joaquín Díaz, David Mayoral e Pablo Martín. Em 1986, Enrique Almendros, até então intérprete de música celta, José María Climent e Rafael Martín decidiram formar um grupo centrado na tradição musical da meseta castelhana. Ainda nesse ano, juntaram-se-lhes o flautista Jaime Muñoz e o baixista Carlos Beceiro, únicos elementos que hoje permanecem no quinteto composto ainda por Diego Galaz, Jorge Arribas e Sebastián Rubio. Das melodias de dança às canções de amor, passando pela música para casamentos, os La Musgaña apresentam-nos uma ampla visão musical de uma zona marcada pela herança europeia, africana e mediterrânica. Por entre os temas evocativos destacam-se os ofertórios religiosos, as charradas, ajechaos e charros de Salamanca e Zamora, os bailes corridos de Ávila, os pindongos de Cáceres e as danças, aires e canções de León ou Burgos, ou as jotas, rogativas, dianas e villancicos de Madrid, Segovia e Valladolid. Uma celebração da música tradicional espanhola, à mistura com influências ciganas, mouriscas e celtas, em que os ritmos hipnóticos se constroem com toda uma gama de instrumentos tradicionais (gaita charra, gaita sanabresa, flauta, tamboril, cistro ou sanfona), étnicos (cajón, tar, krakebs, pandeiro iraniano, derbouka, bouzouki, req, sabar, tinajas, bendir ou marímbula) e modernos (clarinete, acordeão diatónico, saxofone soprano, baixo ou violino).

"Djarama", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk, folk-rock
Os Rarefolk regressam ao programa com “Djarama”, um clássico do seu repertório, extraído do terceiro disco do grupo “Unimaverse” (um jogo de palavras entre os conceitos de unidade e universo), lançado em 2001. Estes sevilhanos foram os pioneiros do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da música electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Diversidade sonora que lhes tem permitido partilhar os palcos com músicos prestigiados como os Capercaillie, Shooglenifty, Wolfstones, Luar na Lubre, Berrogüeto, Hevia, Fanfarre Ciocărlia, Kalima, Tomatito, O’Funkillo, Narco, La Cabra Mecânica ou Enemigos. Depois de se terem dado a conhecer como Os Carallos na exposição mundial de Sevilha, em 1992, uma jovem editora decidiu editar o seu primeiro disco. Mais tarde, os Rarefolk criavam a “Fusión Art”, gravando eles próprios e de forma artesanal o álbum “Unimaverse”. Um trabalho ousado e experimental em que recuperam muita da frescura e simplicidade inicial. Nele participam a violinista escocesa Michelle McGregor e o percursionista senegalês Sidi Samb – este último responsável pelas letras do grupo, interpretadas em castelhano, francês e wolof (dialecto do Senegal) –, e músicos como DJ Abogado del Diablo (Narco), Andreas Lutz (O’Funkillo) e a senegalesa Fátuo Diou.

Ssoda Soap", Sierra Leone's Refugee All Stars (Serra Leoa) - reggae, afrobeat, soukous
A jornada continua com os Refugee All Stars, que nos trazem “Soda Soap”, tema retirado do álbum “Living Like a Refugee”, editado em 2004. Precisamente o ano em que o grupo regressou a Freetown, capital da Serra Leoa, depois de quase uma década de exílio devido à guerra civil que devastou o país. Apesar dos horrores da violência, da fome e dos familiares e amigos mortos, eles recorrem à música para dar voz àqueles que lutam desesperadamente pela sobrevivência. Os seis elementos da banda conheceram-se num campo de refugiados na Guiné, onde começaram por fazer música para distrair os expatriados. Foi aqui que os cineastas Banker White e Zach Niles tomaram contacto com os Refugee All Stars, acabando por acompanhar a banda na estrada durante três anos. Da experiência resultou o documentário “Sierra Leone's Refugee All Stars”, uma homenagem às vítimas da guerra. O álbum de estreia, gravado durante a produção do filme e um sonho de longa data do grupo, mistura então os ritmos da música tradicional da África com outras influências. Um trabalho recheado de composições originais onde se relata o quotidiano dos campos de refugiados e em que se celebram a vida, o espírito humano e a paz. Tomando como ponto de partida a goombay, género tradicional popular na Serra Leoa, os Refugee All Stars combinam guitarra, percussão e kongroma (instrumento tradicional daquele país) com o reggae, o rap e as harmonias vocais. O resultado é uma música que tanto encoraja à dança como desencoraja à guerra.

"Sini Kan", Amadou & Mariam (Mali) - bambara blues, afro pop
A dupla Amadou & Mariam apresenta-nos “Sini Kan”, tema extraído do seu terceiro álbum “Tje Ni Mousso” (Homem e Mulher), editado em 1999. Um blues eléctrico, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências inesperadas como o cavaquinho de Pedro Soares, que aliás podemos escutar nesta faixa. Naquela que é a mais roqueira pop africana, não faltam as habituais alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na música e na vida. Amadou & Mariam prestam então homenagem à música tradicional maliana, revestindo-a de sons ocidentais. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma de recordarem não só as suas raízes mandingo, mas também as ligações do Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.

"Cler Archel", Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues
Segue-se uma viagem até ao deserto com os Tinariwen. Eles trazem-nos “Cler Archel”, tema extraído do álbum “Aman Iman” (Água é Vida), gravado em Bamako e lançado em Fevereiro deste ano. Este clã apareceu em 1982 na Líbia num campo de acolhimento de rebeldes tuaregues (povo nómada descendente dos berberes do norte de África e que vagueia entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia), tocando para a comunidade de exilados naquele país e na Argélia. Três jovens encarnam a Ishumaren, a música dos ishumar desempregados, uma geração que sonha com a liberdade e a auto-determinação. São sobretudo melodias tradicionais, inspiradas nas guitarras do norte do Mali ou nos alaúdes (ngoni para os songhai, teherdent para os tuaregues) dos griots, e canções nostálgicas que apelam ao despertar político das consciências e à rebelião da alma. Em 1990, dois elementos dos Taghreft Tinariwen (literalmente, os "reconstrutores dos desertos") integraram o grupo de guerrilheiros separatistas que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira com o Níger, inaugurando um novo conflito com o governo do Mali. Seis anos depois, quando a paz chegou finalmente ao sul do Sáara, voltaram-se apenas para a música do seu povo, em geral acompanhada pelo tindé (instrumento de percussão tocado por mulheres) ou pela flauta t’zamârt. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen, percussores dos blues do deserto, estão presentes também a guitarra eléctrica e a asoüf, solidão característica da poesia tuaregue que, tal como os blues, incorpora um sentimento de desamparo universal.

"Ma Yela", Akli D (Argélia) - chaâbi, mbalax, folk, blues, rock
Akli D traz-nos “Ma Yela” (Se Houvesse), tema retirado do álbum do mesmo nome, lançado em 2006. Segundo trabalho do músico, rico em misturas étnicas, e onde se fala de paz, fraternidade e amor. Se no primeiro disco o compositor argelino enfatizava as suas raízes culturais e reivindicações políticas, neste alarga o espectro musical, abrindo-se ao mundo. Poético, político e tradicional, Akli Dehlis combina o chaâbi do norte de África com as tradições folk da região rural de Kabylie, misturando-os com canções americanas de intervenção, com os blues do Mississippi ou com o mbalax, a moderna pop senegalesa. Akli D nasceu em Kerouan, pequena cidade da Cabília, região montanhosa do norte da Argélia. Ele é um amazigh, o povo pré-islâmico que durante séculos habitou a costa sul mediterrânica desde o Egipto ao Atlântico, e que foi alvo de repressão armada ao exigir o reconhecimento oficial das línguas berberes naquele país. Exilado em Paris a partir da década de 80, tornou-se um músico de rua e do metro, acabando por experimentar géneros musicais como os blues, o rock, o reggae ou a folk. Mais tarde, Akli D muda-se para São Francisco, chegando a viver algum tempo na Irlanda. Pelo meio, acompanhou o duo feminino El Djazira e formou o grupo Les Rebeuhs des Bois, o qual tocava nos cafés e clubes de Paris. Foi num destes espaços em que ocorriam encontros musicais espontâneos levados a cabo pelas comunidades árabes e africanas que Akli D conheceu Manu Chao, produtor deste seu último trabalho.

"Calor Calor", La Troba Kung-Fú (Espanha) - rumba, dub, cumbia, blues
La Troba Kung-Fú encerra a emissão com o tema “Calor, Calor”, extraído do álbum “Clavell Morenet”, primeiro disco do grupo catalão, editado no ano passado. Criado em 2005, o novo projecto de Joan Garriga herda o universo polirítmico dos Dusminguet. Troba é uma palavra occitana (dialecto falado no sul da França, em alguns vales alpinos na Itália e no Val d'Aran, em Espanha) que na Idade Média se referia aos poetas trovadores. Já o Kung-Fú é descrito como a virtude alcançada pelo método e pela prática. La Troba Kung-Fú aquece então os palcos com o seu cruzamento metódico de rumba com a dub, a cumbia, o sarao, os blues, a olivada e outros géneros que eles dizem ser mais fáceis de tocar do que definir. O disco de estreia do grupo é acompanhado pelo Dub-Fulletí, espécie de manual onde desenvolvem as ideias das canções e se explica o método da rumba catalã. Gravado em La Garriga, este está dividido em três parte: o Fú, onde se fala sobre o homem e as suas tradições; o Kung-Fú, onde cada um dos oito elementos fala sobre o seu instrumento; e La Troba, o filme.

Jorge Costa

World Music Charts Europe - Outubro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Outubro dos 172 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a nova liderança e as oito novas entradas no topo do painel (cinco em estreia absoluta no WMCE, entre eles os portugueses Dona Rosa, e três a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
mês passado: 9ºlugar


2º- AFRIKI, Habib Koite & Bamada (Mali) - Cumbancha
mês passado: 23ºlugar
3º-
LA RADIOLINA, Manu Chao (França) - Because
estreia na tavela
4º- THE VOICE OF LIGHTNESS, Tabu Ley Rochereau (RD Congo) - Sterns
mês passado: 19ºlugar
5º- SOFERA, Rajery (Madagáscar) - Marabi
mês passado: 3ºlugar
6º- EIXOS, Miquel Gil (Espanha) - Temps
mês passado: 5ºlugar
7º- THE CLASSICAL GUINEAN GUITAR GROUP, African Virtuoses (Guiné-Conacri) - Stern's

mês passado: 2ºlugar
8º- SUONO GLOBAL, Roy Paci & Aretuska (Itália) - V2
mês passado: 12ºlugar
9º- THE VERY BEST OF ETHIOPIQUES, vários (Etiópia) - Union Square Music
mês passado: 27ºlugar
10º- BUMPING, Massukos (Moçambique) - Poo
mês passado: 6ºlugar

11º- DUB QAWWALI, Gaudi/Nusrat Fateh Ali Khan (Reino Unido, Paquistão) - Six Degrees
mês passado: 15ºlugar

12º- OLATIA, Te Vaka (Nova Zelândia) - Spirit of Play
mês passado: 4ºlugar

13º- THE GREAT POLKA SWINDLE, Polkaholix (Alemanha) - Westpark
estreia na tabela
14º- SEN, Sevara (Uzebequistão) - Realworld
estreia na tabela

15º- ALMA LIVRE, Dona Rosa (Portugal) - Jaro

estreia na tabela
16º- NOUR, Malouma (Mauritânia) - Marabi
mês passado: 1ºlugar
17º- A FLOWER IN BLOOM, Sevda (Azerbeijão) - Network Medien
mês passado: 42ºlugar

18º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
estreia na tabela
19º- LUMIERE, Bob Brozman Orchestra (EUA) - Riverboat
mês passado: 14ºlugar
20º- BELLE ÉPOQUE VOLUME 1:SOUNDIATA, Rail Band (Mali, Etiópia) - Sterns
mês passado: 17ºlugar

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Emissão #48 - 22 Setembro 2007

A 48ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 22 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 26 de Setembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (13 e 17 de Outubro) nos horários atrás indicados.

Um programa especial onde se destaca a entrevista exclusiva à Fanfare Ciocărlia, realizada a 7 de Setembro no Teatro Municipal da Guarda.


"Polska Efter Pål Karl/Gärdespolska", Stockholm Lisboa Project (Suécia, Portugal) - fado, polska, folk
Os Stockholm Lisboa Project a abrirem a emissão com “Polska Efter Pål Karl/Gärdespolska”, tema tradicional retirado do álbum “Sol” (a palavra significa o mesmo em sueco e em português). Aquele que é o primeiro trabalho de arranjos do grupo foi gravado nos dois países e apresentado em Lisboa no passado dia 20 de Setembro. Distantes na geografia, mas próximos pela saudade (ainda que a palavra não tenha equivalente no sueco), os Stockholm Lisboa Project exploram pontos em comum nas tradições musicais portuguesa e escandinava. Num ambiente de melancolia festiva, criado a partir da junção entre violino, bandolim, bouzouki, mandola (antigo instrumento semelhante ao bandolim, com quatro pares de cordas) e harmónica, as polskas (dança folk nórdica) cruzam-se então com o fado, sem esquecer influências que se estendem também à música clássica e ao bluegrass. Em 2000, o compositor Simon Stålspets (ligado aos projectos Svart Kaffe, Kalabra, Lystra e Marsipan), e Sérgio Crisóstomo (músico de formação clássica que adaptou o violino a diversos estilos tradicionais), conheceram-se na Bretanha num encontro onde juntos deveriam fazer novos arranjos do seu repertório tradicional. Depois de um álbum experimental e de alguns concertos em França, os dois decidiram dar continuidade ao projecto. Em 2005 juntou-se-lhes Luís Peixoto (dos Dazkarieh, Trio Sebastião Antunes, Salamander, Joana Melo e Monte Lunai, e que com o bandolim, o cavaquinho e o bouzouki mistura música tradicional portuguesa com outros estilos), e em 2006 a fadista Liana (intérprete de standards de jazz a musicais, tendo-se destacado pelo papel de Amália no espectáculo dedicado à diva do fado). Os Stockholm Lisboa Project têm várias sessões marcadas para Setembro: eles vão estar nas FNAC’s de Almada e do Colombo (dia 22), Porto e Gaia (dia 23), Coimbra (dia 24), Chiado e Cascais (dia 25). Entre 24 e 28 de Outubro rumam até ao Womex, em Sevilha.

"Suite de Polkas", Uxu Kalhus (Portugal) - trad-folk-rock, folk fusion
Das polskas às polkas (dança e género originários da Boémia checa), as músicas do mundo prosseguem com os Uxu kalhus, que nos trazem, precisamente, uma "Suite de Polkas", composição própria extraída do álbum “A Revolta dos Badalos”, editado em 2006. Neste seu trabalho de estreia, para além das chocalhadas endiabradas do quinteto (Celina Piedade, Paulo Pereira, Eddy Cabral, Luís Salgado e To Zé), formado em 2000, podem-se ouvir as vozes de Joana Negrão, Rui Vaz, Pedro Mestre e António Tavares, e o cavaquinho de Luís Peixoto. Uma fusão radical de sons e melodias onde a regra é não haverem regras. A revolta faz-se então pela subversão do folclore e pela reinvenção das músicas e danças tradicionais portuguesas e europeias, à mistura com géneros (jazz, rock, ska, funk, drum & bass, hip-hop ou música klezmer) e ritmos de todo o mundo: dos brasileiros (maracatú, embolada ou samba), africanos, árabes e orientais, aos medievais e barrocos. O público é então convidado a bailar ao som de viras, chotiças, modinhas, corridinhos e regadinhos, e de danças israelitas, sérvias ou austríacas, que se cruzam com mazurcas, valsas, polcas ou marchas. Universo sonoro que é alimentado por instrumentos como a flauta, o acordeão, a rauschpfeife (aerofone medieval de palheta dupla), as guitarras eléctrica e acústica, o baixo ou o metalfone. Nas percussões, acrescem a bateria, o bouzouki, a darabuka, o djembé, o bombo, o pandeiro, o didgeridoo, o dunun (família de tambores graves africanos, formada pelo kenkeni, sangban e doundounba), o davul (tambor duplo turco, conhecido nos Balcãs por tapan), a caixa, bem como o repenique e o surdo (tambores comuns no samba). Soma-se-lhes o caxixi, idiofone africano formado por um cesto de palha trançada em forma de campânula e com sementes no interior. A 22 de Setembro, os Uxu Kalhus vão estar em Aveiro, e a 5 de Outubro em Alvaiázere, no Festival Gastronómico do Chicharro. Em Novembro eles estarão na Semana do Caloiro, em Viseu (dia 6), e na Praça do Comércio, em Lisboa (dia 18).

"Rosa de Lava", Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion
Seguem-se os Dazkarieh com o tema “Rosa de Lava”, uma nova versão extraída da compilação que em 2005 acompanhava a edição portuguesa de “Eldest”, livro da autoria de Christopher Paolini. Conhecida por navegar entre os sons da Irlanda, Índia, África, Andes, Espanha e Balcãs, esta banda lisboeta propõe-nos uma viagem pela diversidade musical do planeta. Nada de surpreendente se tivermos em conta que, no entender do grupo, a palavra Dazkarieh poderá estar relacionada com a libertação de energia que se dá quando mundos, essências e influências distintos se tocam. O projecto procura então a sua alma nas culturas mais díspares, buscando sons acústicos que se fundam na música tradicional. Os instrumentistas dos Dazkarieh, cuja formação vai da música tradicional, experimental e erudita ao rock, servem-se de instrumentos presentes por tradição em culturas como a sueca, a irlandesa ou a árabe. Entre eles estão o bouzouki, a flauta transversal e a nyckelharpa (harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas). No entanto, mais recentemente passaram a dar também especial ênfase à música tradicional portuguesa, servindo-se do cavaquinho, da gaita transmontana ou do bandolim. Formados em 1999 por Filipe Duarte, José Oliveira e Vasco Ribeiro Casais, os Dazkarieh começaram por ser conotados com o som celta e a folk gótica. Mais tarde, com a fusão de materiais musicais tão diferenciados e já assumidamente ligados à chamada world music, o grupo integrou então cinco novos elementos, passando a conceber canções em língua portuguesa. Até então, o "dazkariano" era a base linguística de todas as suas músicas. A 30 de Setembro, os Dazkarieh vão estar na Assembleia da República, em Lisboa, e a 4 de Outubro na Moita. Já em Novembro, eles rumam até Cabo Verde, para actuarem na Ribeira Grande (dia 2) e na cidade da Praia (dia 3).

"Papa", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat

A viagem continua com Angélique Kidjo, que nos traz o tema “Papa”, retirado do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia). Um trabalho em que se alude ao som que anuncia uma nova vida para África. Angélique Kidjo é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As suas músicas, grande parte inspiradas nas missões humanitárias que faz, falam sobretudo do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos seus discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.

"Soul", Terrakota (Portugal) - afrobeat, reggae, gnawa
Os Terrakota trazem-nos “Soul”, tema extraído do álbum “Oba Train”, terceiro e último da banda portuguesa, editado este ano. O comboio da vida é uma nova mestiçagem sonora onde se apela ao entendimento entre povos, celebrando a alma africana e as músicas do mundo num ambiente de festa. Criados em 1999, os Terrakota empreenderam então uma viagem pela África Ocidental. Na bagagem trouxeram ideias e instrumentos acústicos cujo som viriam a misturar com o poder dos instrumentos eléctricos. Aos três elementos do grupo juntaram-se depois mais quatro músicos e a actual vocalista, os quais viriam a assimilar géneros como o reggae, o gnawa, a afrobeat, o m’balax, o raggamuffin, o wassoulou, a dub, o raï, o flamenco, a salsa, o rock, o rap, o zouk ou a chimurenga (“batalha” em shona; género musical zimbabueano, popularizado por Thomas Mapfumo). Depois de três anos de concertos, digressões em Portugal e na Europa, e viagens por Marrocos, Mauritânea, Mali, Burkina-Faso e Brasil, onde recolheram inspiração, os Terrakota juntam agora toda essa energia musical num trabalho que abrange várias geografias (Jamaica, Caraíbas, Cuba ou Brasil), sonoridades (árabes, flamencas ou indianas) e línguas (português, yoruba, wolof, francês, inglês ou castelhano). No seu último disco, uma fusão sem confusão, destacam-se as participações de Ikonoklasta e Conductor, ambos pertencentes ao angolano Conjunto Ngonguenha/Buraka Som Sistema, e do jamaicano U-Roy. A 22 de Setembro os Terrakota vão estar na Mostra Jovem de Cascais; em Outubro na Madeira (dia 4), em Lisboa (dia 5) e Guimarães (dia 11); e em Novembro em Viseu (dia 8), na Galiza (dia 17) e no Musidanças de Lisboa (dia 22).

"Duj Duj", Fanfare Ciocărlia (Roménia) – gypsy brass band, balkan music
Segue-se a Fanfare Ciocărlia (“laverca”, em romeno) com “Duj Duj”, tema retirado do álbum “Queens and Kings”, lançado este ano. Uma folk balcânica carregada de funk, pop, rumba ou flamenco, onde a orquestra de metais presta tributo ao clarinetista Ioan Ivancea, seu fundador e patriarca, falecido em 2006, e imagina como seria o jazz se tivesse sido inventado por músicos ciganos. Célebres pelo improviso e pela interpretação acelerada de solos de clarinete, saxofone e trompete, por vezes com mais de 200 batidas por minuto, eles começaram por tocar em cerimónias populares, até o produtor discográfico e engenheiro de som alemão Henry Ernst (seu actual manager) os descobrir em 1996. Oriundos da aldeia de Zece Prăjini (“Dez Campos”), no nordeste da Roménia, junto à fronteira com a Moldávia, os demónios acelerados do gypsy brass cruzam a tradição balcânica com influências globais, adaptadas ao seu estilo enérgico e festivo. Danças tradicionais romenas e moldavas como a sîrba (“dança” em romeno), a hora (dança de círculo) ou a geamparale (popular dança da região de Dobrogea, caracterizada por ritmos balcânicos e turcos), bem como os ritmos turcos, húngaros, búlgaros, sérvios e macedónios são apresentados ao som de instrumentos de sopro (trompa, tuba, trompete, clarinete, requinta, saxofone e corneta) e percussão (tímpano e bombo, tarola e bongo). Juntam-se-lhes histórias sobre a vida, cantadas em romeno ou em romani (dialecto cigano). O grupo tem colaborado com expoentes máximos da música cigana como a macedónia Esma Redzepova, o sérvio Šaban Bajramović, estrelas da pop romena e búlgara como Dan Armeanca e Jony Iliev, bem como Florentina Sandu (Roménia), Mitsou (Hungria), Ljiljana Butler (Bósnia), Kal (Sérvia) ou os Kaloome (França).

"Zé Pequeno (Autoload Mix)", Télépathique (Brasil) -
drum n'bass, funk, bossa nova, breakbeat, rock
O programa chega ao fim com os Télèpathique, dupla brasileira formada pelo DJ Periférico, que já trabalhou com músicos como Zeca Baleiro e Otto, e pela vocalista Mylene. Eles trazem-nos o tema “Zé Pequeno (Autoload Mix)”, extraído do segundo volume da colectânea“Cidade de Deus Remix”, editada em 2003. Precisamente um dos temas que o DJ Periférico remisturou para a banda sonora do filme "Cidade de Deus"', do realizador Fernando Meirelles. Uma história sobre o crime organizado numa das favelas do Rio de Janeiro, adaptada a partir da obra homónima de Paulo Lins. Os Télèpathique são um dos projectos mais estimulantes da breakbeat da cidade de São Paulo. Uma música urbana orientada para as pistas de dança, mas onde não faltam os ritmos brasileiros. Ao funk carioca juntam-se então o drum n'bass, o rock e a electrónica, numa combinação entre as tonalidades retro dos anos 80 e o psicadelismo da música brasileira da década de 1970. O resultado é uma poesia cantada em português e inglês, onde se abordam temas do quotidiano como a política e a espiritualidade.


Jorge Costa

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Fanfare Ciocărlia: os reis da música cigana

A fanfarra romena cruza a tradição balcânica com influências de todo o mundo, adaptadas ao seu estilo enérgico e festivo


A sincronia acelerada é uma das facetas deste grupo
(imagens:
Jorge Costa/Multipistas)

Se o folclore tradicional dos Balcãs já não é novidade nos ouvidos do mundo, cruzá-lo com sonoridades de todo o planeta, sem nunca pôr de lado as origens étnicas, parece ser o grande feito da Fanfare Ciocărlia. Um grupo oriundo da pequena aldeia de Zece Prăjini (literalmente “Dez Campos”), zona montanhosa e isolada no nordeste da Roménia, junto à fronteira com a Moldávia, que a 7 de Setembro levou até ao grande auditório do Teatro Municipal da Guarda alguns dos sons mais característicos dos Balcãs. O resultado é um estilo único, enérgico e festivo, que faz dos elementos desta banda os reis da música cigana.

“A base da Fanfare Ciocărlia é a música tradicional, mas temos projectos com artistas de todo o mundo, em particular música cigana com influência de outros estilos para lhe dar continuidade"
, explica ao MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO Costică Trifan, um dos trompetistas do grupo que em 2006 venceu os BBC Radio 3 World Music Awards na categoria Europa. "Temos projectos com lendas da música cigana como Esma Redzepova [a macedónia “rainha dos ciganos”], Šaban Bajramović [o sérvio é um dos expoentes máximos da música cigana], ou com estrelas da pop romena e búlgara como Dan Armeanca e Jony Iliev”, lembra o músico, citando também o espectáculo “Tiempo de los Gitanos”.


Costică Trifan fala sobre as origens da mediática fanfarra

As orquestras de metais remontam às bandas militares turcas que no início do século XIX ocuparam a Roménia e grande parte dos países balcânicos, como a Bulgária, a Macedónia, a Sérvia. No norte do país há que ter também em conta a influência secular da música húngara, tal como os sons jugoslavos e búlgaros, levados para aquela zona pelas comunidades ciganas nómadas e pelas cassetes piratas. São sons transmitidos de geração em geração, e que acompanham bodas, funerais e todo o tipo de cerimónias populares.

Danças tradicionais romenas e moldavas como a sîrba (“dança” em romeno), a hora (dança de círculo) ou a geamparale (popular dança da região de Dobrogea, caracterizada por ritmos balcânicos e turcos), bem como os ritmos turcos, húngaros, búlgaros, sérvios e macedónios, ou simplesmente a música tradicional rusească (russa), são então apresentados pela Fanfare Ciocărlia ao som de instrumentos não só de sopro (trompa, tuba, trompete, clarinete, requinta, saxofone e corneta), mas também de percussão (tímpano e bombo, tarola e bongo). O grupo tem vindo a colaborar com alguns dos expoentes máximos da música cigana em toda a Europa – entre eles, Ljiljana Butler (Bósnia), Mitsou (Hungria), Kaloome (França), Kal (Sérvia) e Florentina Sandu (Roménia) –, sem nunca esquecer a fusão entre os ritmos globais e o seu próprio estilo.



Sopro e percussão compõem a linha sonora da banda

"O nosso segredo é o de tocarmos o que aprendemos com as gerações mais velhas, música tradicional transmitida de geração em geração, e que é cantada e tocada de forma muito rápida", refere Costică Trifan, imediatamente traduzido do romeno para inglês por Helmut Neumann, tour manager do grupo, que acompanhou a entrevista em exclusivo ao programa.
"Para além da música dos Balcãs, nós vamos recebendo influências de todo o globo, desde a música indiana ao jazz. Mas depois adaptamo-las ao nosso estilo próprio”.



O mapa sonoro da Fanfare Ciocărlia vai do folclore ao jazz

Actualmente, a Fanfare Ciocărlia (“laverca”, em romeno) é constituída por Costică ‘Cimai’ Trifan (trompete, voz), Paul Marian Bulgaru (trompete), Rădulescu Lazăr (trompete, voz), Oprică Ivancea (clarinete soprano, saxofone soprano), Daniel Ivancea (saxofone alto), Constantin ‘Pînca’ Cântea (tuba), Monel ‘Gutzel’ Trifan (tuba), Constantin ‘Şulo’ Călin (corneta tenor, voz, danças), Laurenţiu ‘Mihai’ Ivancea (corneta barítono), Costel ‘Gisniac’ Ursu (bombo) e Nicolae Ioniţa (percussão).

Os onze elementos começaram por tocar numa orkestar (orquestra) em cerimónias populares das redondezas, por vezes durante horas a fio, até que em Outubro de 1996 o produtor discográfico e engenheiro de som alemão Henry Ernst (que é hoje o seu manager), de visita à povoação, convenceu o grupo a sair do anonimato. O improviso e a interpretação acelerada de solos de clarinete, saxofone e trompete, por vezes com mais de 200 batidas por minuto, muito diferente das populares bandas de cordas ciganas, depressa despertaram o interesse internacional pelo grupo, que na Alemanha se apresentou pela primeira vez com a designação actual.




Os solos são um dos momentos altos do espectáculo

"Costumávamos tocar aos fins-de-semana em casamentos e baptismos. De manhã, íamos para a casa da noiva, enquanto esta se vestia, e então para a casa do noivo. Depois, tocávamos na igreja e para as pessoas. Era sobretudo música popular e tradicional da Roménia e da Moldávia", descreve o trompetista romeno. "Ao jantar, tocávamos música ambiente e, depois da refeição, música de dança. Mas à medida que as pessoas iam bebendo e ficando mais desinibidas, pediam géneros diferentes como o jazz”.

São histórias sobre a vida, o amor e a perda, cantadas em romeno ou em romani (dialecto cigano) por esta orquestra de metais. Hoje, os demónios acelerados do gypsy brass inspiram-se também em composições actuais, adaptando êxitos de Bollywood e Hollywood, como o tema principal de James Bond, interpretando melodias como “Caravan”, celebrizada por Duke Ellington, ou participando nas bandas sonoras de filmes como o popular e polémico “Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan”, a que emprestam um cover de “Born The Be Wild”. Contam-se ainda as participações sonoras no filme “Gegen Die Wand” (2004), do realizador alemão Fatih Akin, e em “Crimen Ferfecto” (2004), do realizador espanhol Alex de la Iglesia.

As atenções viraram-se para eles quando o berlinense Ralf Marschalleck realizou o documentário “Iag Bari – Brass on Fire” (2002), road movie sobre a dicotomia entre a vida do grupo na sua aldeia natal e o bulício das digressões mundiais da fanfarra, galardoado no Festival de Cinema Documental Musical de Barcelona e Madrid, e no Festival de Produção para TV e Rádio de Skopje, na Macedónia. Um dos seus temas foi mesmo remisturado pelos britânicos Basement Jaxx, estrelas da música electrónica de dança.





O peso dos instrumentos não aligeira a boa disposição

No seu último trabalho discográfico, uma folk cigana balcânica com impressões fortes de funk, pop, rumba ou flamenco, a Fanfare Ciocărlia presta tributo ao clarinetista Ioan Ivancea, fundador e patriarca da banda, falecido em Outubro de 2006, e atravessa o Atlântico imaginando como seria o jazz se tivesse sido inventado por músicos ciganos.

"Apesar de agora andarmos por todo o mundo e de estarmos longe de casa, regressamos sempre à nossa aldeia, que continua a ser o local ideal para criarmos a nossa música”, conclui Costică Trifan.


Como é tradição, a animação segue do palco para a rua

Uma música acompanhada sempre de perto pela plateia, que celebra em pleno a identidade cigana e o espírito das fanfarras romenas. Como é hábito, e para provar que as tradições ainda são o que eram, a festa continuou no final do concerto. Saindo pelo topo da sala, a banda 'marchou' para a entrada do teatro da Guarda, acompanhada pelo público que lhe fez companhia durante mais alguns minutos.


VÍDEO...↓
Entrevista Fanfare Ciocărlia + tema ao vivo “Ciocărlia Si Suite"


Discografia:
- "Queens and Kings" (2007)
- "Gili Garabdi - Ancient Secrets of Gypsy Brass" (2005)
- "Gypsy Brass Legends" (2004)
- "Iag Bari - The Gypsy Horns From The Mountains Beyond" (2001)
- "Baro Biao - World Wide Wedding" (1999)
- "Radio Pascani" (1998)

DVD:
– “Gypsy Brass Legends - The Story of the Band” (2004)


Jorge Costa

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Emissão #47 - 8 Setembro 2007

A 47ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 8 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 12 de Setembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (29 de Setembro e 3 de Outubro) nos horários atrás indicados.

Depois de um mês de ausência, dado o período de férias, esta edição marca o arranque de uma nova temporada do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, programa que agora regressa ao universo da rádio e da Internet.


"Faro Luso", Júlio Pereira (Portugal) - folk, acoustic, fusion
Júlio Pereira a inaugurar o programa com “Faro Luso”, tema de abertura do seu último álbum “Geografias”, lançado no passado mês de Junho. Um conjunto de inéditos instrumentais baseado em memórias de viagens e experimentações sonoras, e que resulta da combinação entre bandolim, guitarra portuguesa, viola braguesa, bouzouki e sintetizadores. Depois de muitos anos ligado ao cavaquinho, Júlio Pereira volta-se agora para outro cordofone pequeno, o bandolim, que o acompanha desde a infância. São sons tradicionais portugueses à mistura com ritmos africanos e orientais, num trabalho que conta com as vozes de Sara Tavares, Isabel Dias (grupo minhoto Raízes) e Marisa Pinto (Donna Maria), e com Miguel Veras na viola acústica e guitarra e Bernardo Couto na guitarra portuguesa. Júlio Pereira começou no rock nos anos 70 com grupos como os Petrus Castrus e os Xarhanga. Da inovação musical dos anos 60/70, à revitalização dos instrumentos tradicionais, a partir dos anos 80/90 Júlio Pereira associou-os a soluções acústicas contemporâneas. Ao longo de mais de três décadas de carreira, o multi-instrumentista, compositor e produtor tem colaborado com músicos como Carlos do Carmo, Amélia Muge, Pedro Burmester, Eugénia Melo e Castro, Zeca e João Afonso, José Mário Branco, Jorge Palma, Janita Salomé ou Fausto, bem como os The Chieftains, Pete Seeger, Kepa Junkera, Xosé Manuel Budiño, Uxia ou Na Lúa. Em Setembro, Júlio Pereira estará em digressão em Portugal e Espanha, a primeira a solo depois de uma década.

"Tri Martelod", Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
As músicas do mundo prosseguem com a canadiana Claire Pelletier, que nos traz "Tri Martelod" (Três Marinheiros), tema extraído do álbum gravado ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Uma composição tradicional do Pays Bigouden, situado no extremo sul da península da Bretanha, no noroeste da França, e que atesta a ligação daquela região aos costumes celtas, herança dos imigrantes fugidos de Gales e da Cornualha nos séculos V e VI. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (A Sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons electrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

"Coisich a Ruin", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk
Os Capercaillie trazem-nos “Coisich a Ruin” (Vem, Meu Amor), uma versão actualizada de uma antiga canção de trabalho, e que em 1992, ao ser usada como banda sonora de um programa de televisão sobre o príncipe Carlos, foi o primeiro tema gaélico a entrar para a tabela do UK Top 40. A mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. O resultado é uma explosão de elementos, bem patente neste tema, extraído do álbum “Live in Concert”, gravado ao vivo no Royal Concert Hall, em Glaslow (Escócia), em Janeiro de 2002. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson, cuja garganta Sean Connery diz ter sido certamente tocada por Deus, dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a sua própria avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Wake Up", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A jornada continua com Oliver Mtukudzi, que nos traz “Wake Up”, tema retirado do álbum “Tuku Music”, lançado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"The Melting Sun", Tuatara (EUA) - funk, jazz, rock, lounge
Os Tuatara regressam ao programa com “The Melting Sun”, tema extraído do seu primeiro álbum “Cinematique”, editado em 2001. Um trabalho instrumental bem acolhido pela crítica devido à sua originalidade e expressão musical. Nele são reunidas várias jam sessions em que o quarteto utiliza instrumentos exóticos como o didgeridoo, os tambores de aço, as percussões africanas, o bandolim e o alaúde. O disco abre com sons étnicos que rapidamente ganham ritmo e percussão. Esta banda experimental mistura referências como o rock, o bebop, o jazz, o funky ou o lounge, criando um som em que extravasa a diversão e que se tornou conhecido sobretudo pela sua utilização em bandas sonoras para cinema e televisão. Entretanto os Tuatara têm vindo a cruzar a instrumentação ao vivo com as misturas electrónicas de vários DJ's. Este colectivo de compositores norte-americanos nasceu em Seattle, em 1997. Integram o grupo Barrett Martin (ex-percussionista dos Screaming Trees), Mad Season, Steve Berlin (dos Los Lobos), Justin Harwood (antigo baixista dos Luna), Scott McCaugghey, Peter Buck (ambos dos REM) e Skerik (lendário saxofonista de Seattle). A título de curiosidade, a tuatara - nome que em maori significa "dorso espinhoso" - é um réptil da Nova Zelândia, praticamente extinto, e que pouco mudou nos últimos 220 milhões de anos.

"Sunday Arak",
Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Seguem-se os Balkan Beat Box com “Sunday Arak” (Arak de Domingo). Uma alusão à bebida alcoólica produzida em países como o Líbano, Síria, Jordânia, Israel e Iraque, num tema dub em que participa o violoncelista e trombonista Dana Leong, e que foi extraído do seu álbum de estreia, baptizado com o nome do grupo e editado em 2005. Uma mistura enérgica e ousada de melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs e Europa de Leste, de letras bizarras e de batidas electrónicas. A banda, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. E assim eles juntam a música electrónica e os sons tradicionais dos Balcãs, bem como o hip-hop e as sonoridades do norte de África e do Médio Oriente. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.

"7 Brothers", Oi Va Voi (Reino Unido) - jewish music, electro, world fusion
Os Oi Va Voi (“Oh, Meu Deus!” em hebraico) apresentam-nos “7 Brothers”, tema retirado do álbum “Digital Folklore”, lançado em 2002. Trabalho de estreia da banda radicada em Londres, onde a herança cultural judaica se combina com os actuais ritmos de dança, composições próprias e uma mistura de sons globais, originários sobretudo da Europa de Leste e do Mediterrâneo. No final da década de 1990, cinco músicos das comunidades judaicas da capital inglesa decidiram juntar-se num projecto comum, servindo-se de percursos distintos que abrangem não só a música klezmer mas também o jazz, o hip-hop, o rock ou o drum n'bass. Ultrapassadas as atribulações do passado, actualmente a banda é formada por Nik Ammar, Bridgette Amofah, Josh Breslaw, Matt Jury, Steve Levi, Lemez Lovas e Anna Phoebe. Conhecidos pelas suas actuações ao vivo, os Oi Va Voi combinam de forma única a música tradicional dos judeus sefarditas e ashkenazi (judeus europeus) das shtetl (povoações onde estes viviam) e dos ciganos transilvanos com a dub, a breakbeat ou a música urbana londrina. Influências tradicionais do oriente europeu que contam com instrumentos como o clarinete, o violino, o trompete, a guitarra, a bateria, o baixo e a melódica, e que são actualizadas com arranjos electrónicos e letras grande parte das vezes em ladino (língua semelhante ao castelhano, falada pelas comunidades sefarditas em Espanha, nos Balcãs, Próximo Oriente e norte de Marrocos).

"God Russik", Analogik (Dinamarca) - breakbeat, electronica, jazz
A fechar, os
Analogik e o tema “God Russik”, extraído do álbum “Søens Folk”, editado em 2006. Trabalho efectivo de estreia do grupo dinamarquês nos circuitos mais comerciais, e cujo título é uma homenagem aos homens do mar. Antes disso, os primeiros dois vinis dos Analogik confinaram-se à cidade de Århus, sendo durante algum tempo conhecidos apenas por DJ's e adeptos de nu jazz. No entanto, isso não impediu que mais tarde viessem a ser aplaudidos pela cena internacional da downbeat, passando mesmo pelas mãos de DJ's de renome internacional como Mixmaster Morris, Quantic, Guadi ou Fantastic Plastic Machine. O quarteto formou-se em 2004, tendo como ponto de partida o jazz, mas acabaria por integrar outros géneros como a polka, a dub, a electronica, o funk, o hip-hop, o drum n'bass, a bossa nova e o tango. Os temas de “Søens Folk” foram gravados num computador portátil, usando um microfone e uma pequena mesa de mistura. Ainda que minimalistas nos meios, os Analogik não o são na forma. Asger Strandby adiciona pequenas batidas electrónicas às prestações de Jesper Kobberø, Theis Bror e Magnus Damgaard, os quais se servem de instrumentos como a melódica, a guitarra, a flauta, o acordeão, o órgão, o violino, o saxofone, o clarinete o baixo, a bateria e o trombone. Neste álbum, os Analogik contaram ainda com as colaborações dos músicos Max Buthke, Benjamin Lesak, Kristain Nordentoft, Rune Lose e Carl Frischknecht.

Jorge Costa

domingo, 2 de setembro de 2007

World Music Charts Europe - Setembro 2007

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Setembro dos 167 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a manutenção da liderança e as nove novas entradas no topo do painel (quatro em estreia absoluta no WMCE e cinco a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- NOUR, Malouma (Mauritânia) - Marabi
mês passado: 6ºlugar

2º- THE CLASSICAL GUINEAN GUITAR GROUP, African Virtuoses (Guiné-Conacri) - Stern's
mês passado: 20ºlugar
3º- SOFERA, Rajery (Madagáscar) - Marabi
mês passado: 72ºlugar

4º- OLATIA, Te Vaka (Nova Zelândia) - Spirit of Play
estreia na tabela

5º- EIXOS, Miquel Gil (Espanha) - Temps
mês passado: 8ºlugar
6º- BUMPING, Massukos (Moçambique) - Poo
mês passado: 19ºlugar
7º- 3 NIGHTS, Zulya and the Children of the Underground (Rússia) - Westpark
mês passado: 6ºlugar
8º- DJIN DJIN, Angelique Kidjo (Benim, França) - EMI
mês passado: 2ºlugar
9º- DISKO PARTIZANI, Shantel (Alemanha, Balcãs) - Crammed/Essay
estreia na tabela

10º- RED EARTH, Dee Dee Bridgewater (EUA) - Universal
mês passado: 14ºlugar
11º- BAHAMUT, Hazmat Modine (EUA) - Jaro
mês passado: 3ºlugar

12º- SUONO GLOBAL, Roy Paci & Aretuska (Itália) - V2
mês passado: 26ºlugar
13º- UTOPIA, Caceres (Argentina) - Manana
mês passado: 15ºlugar
14º- LUMIERE, Bob Brozman Orchestra (EUA) - Riverboat
mês passado: 22ºlugar
15º- DUB QAWWALI, Gaudi/Nusrat Fateh Ali Khan (Reino Unido, Paquistão) - Six Degrees
estreia na tabela
16º- MOONSHOUT, Transglobal Underground (Reino Unido) - Sky Cap
mês passado: 73ºlugar
17º- SOUNDIATA, Rail Band (Mali, Etiópia) - Sterns
mês passado: 4ºlugar
18º- ULTIMA RUMB , Mango Molas (Eslováquia) - G.A. Records
mês passado: 17ºlugar
19º- THE VOICE OF LIGHTNESS, Tabu Ley Rochereau (RD Congo) - Sterns
estreia na tabela

20º- THE DUSTY FOOT ON THE ROAD, K'naan (Canadá, Somália) - Wrasse
mês passado: 126ºlugar