quinta-feira, 29 de maio de 2008

Emissão #66 - 31 Maio 2008

A 66ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 31 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 4 de Junho, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (21 e 25 de Junho) nos horários atrás indicados.

"Sun", Kroke (Polónia) - klezmer, jazz fusion, folk
Os Kroke a abrirem de novo mais uma emissão, desta feita com “Sun”, tema retirado do seu quinto álbum “Ten Pieces To Save The World”, lançado em 2003. Trabalho onde a banda acredita poder salvar o mundo através da música, e em que são convidados os músicos Jacek Królik e
Sławomir Berny. Os Kroke nasceram em 1992 em Kazimierz, o bairro judaico da capital polaca. Em iídiche, idioma germânico falado em comunidades judaicas de todo o mundo e que utiliza o alfabeto hebraico moderno, Kroke significa precisamente Cracóvia, cidade que até ao início da década de 1940, nas vésperas do holocausto, foi um dos mais importantes centros da vida cultural judaica. O grupo é formado pelo contrabaixista Tomasz Lato, pelo violinista e pianista Tomasz Kukurba e pelo acordeonista Jerzy Bawoł, colegas da Academia de Música de Cracóvia, a que mais tarde se juntaria o percusionista Tomasz Grochot. Ainda que não sejam judeus, eles procuram redescobrir e reinventar as tradições musicais dos seus antepassados, tendo vindo a colaborar com artistas de renome como Van Morrison, Ravi Shankar, Natacha Atlas ou os Klezmatics. Nas suas composições e arranjos próprios, os Kroke servem-se sobretudo de escalas do klezmer – do hebraico kley (instrumento) e zemer (cantar, interpretar música) –, a música tradicional instrumental dos judeus de Leste, característica das bodas ou celebrações e enriquecida ao longo dos séculos com sons e ritmos de outras paragens. Junta-se-lhe a música sefardita, combinada com a experiência da clássica e com os improvisos da música cigana ou oriental. O resultado é uma sonoridade ora melancólica, ora festiva, mas sempre com um toque assumidamente contemporâneo.


"Tarantainas De La Casa Sin Pared", Biella Nuei (Espanha) - spanish folk
As músicas do mundo prosseguem com os Biella Nuei e o tema "Tarantainas De La Casa Sin Pared", uma referência amigável a todos os que viam a música tradicional aragonesa como algo ultrapassado, extraída do disco “Sol D’Iberno”, editado em 2006. Trabalho produzido por Juan Alberto Arteche, e que encerra a triologia iniciada com “Las Aves Y Las Flores” (1994) e “Solombra” (1998), abrindo portas a uma fase mais criativa e menos etnocêntrica no percurso deste grupo fundado por Luís Miguel Bajén na década de 1980. Álbum optimista e alegre, onde os Biella Nuei se abrem às percussões das culturas andaluza ou latina, e que conta com a participação de músicos como Eliseo Parra ou La Ronda de Boltaña. Nos primeiros anos, o septeto centrou-se no estudo e divulgação da tradição oral aragonesa, no desenvolvimento de repertório próprio e no fabrico de instrumentos como a gaita de boto, o saltério, o pífaro ou a dulzaina. Hoje permanece a variedade de instrumentos, melodias e ritmos tradicionais populares daquela região (jotas, pasacalles, tarantainas ou passeíllos), mas a free folk da banda, mestiçagem étnica sempre ligada aos movimentos sociais (entre eles os neorurais), cruza-se com outras culturas, deixando-se influenciar, entre outros géneros, pelos blues, pela rumba, pela choutiça ou pela soul cubana. Nas suas peregrinações sonoras, os Biella Nuei, que em palco se apresentam ainda com uma formação mais pequena - os Bufacalibos -, têm vindo a tocar com Carlos Núñez, Cristina Pato, Chico Sánchez Ferlosio, Kepa Junkera, Mauricio Martinotti, The Oysterband ou os Gwendal.

"Galego Guajiro", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk, folk-rock
Os Luar na Lubre de regresso ao programa, desta feita com “Galego Guajiro” (guajiro é o termo com que em Cuba são conhecidos os camponeses), tema retirado do álbum “Saudade”, lançado em 2006. Um medley composto por um punto cubano e por uma alborada e uma pandeirada galegas, numa alusão aos milhares de emigrantes galegos que a Cuba foram buscar a sua academia, a bandeira e o hino. Com uma dezena de trabalhos editados, estes embaixadores da folk celta contemporânea defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem no entanto fecharem portas às influências externas. No seu penúltimo álbum, o grupo da Corunha aposta na música proveniente da América do Sul. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho, os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de três anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"Umuntu Ngumuntu", Mahlathini & The Mahotella Queens (África do Sul) - mbaqanga, mgqashiyo, afropop
A jornada continua com Mahlathini & The Mahotella Queens e “Umuntu Ngumuntu”, tema extraído do álbum “Umuntu”, editado em 1999. A expressão recorda um conceito zulu que diz que uma pessoa só o é porque se relaciona com os outros. Falecido nesse mesmo ano, Simon ‘Mahlathini’ Nkabinde foi o mais célebre cantor do mgqashiyo, variante muito própria da mbaqanga. Uma versão sul-africana do jazz, fruto da combinação de um estilo vocal profundo e das tradições rurais zulu com instrumentos ocidentais, mas que a influência da pop, soul e disco esgotou, tendo sido substituída na década de 1980 pelo bubblegum. Conhecido não só na África do Sul, mas também no Zimbabué e no Botswana, o “leão do Soweto” (SOuth-WEst TOwnship, em alusão aos subúrbios de Joanesburgo) começou a cantar nos anos 50, sobretudo ao lado das Dark City Sisters. Mais tarde, juntou-se à Makgona Tsohle Band, liderada pelo guitarrista Marks Mankwane, falecido em 1998, e pelo baixista Joseph Makwela, que nas suas jam sessions em Pretória inventaram a mbaqanga ao combinarem o marabi e o kwela com o rhythm & blues. O produtor do grupo foi buscar não só a voz alta e grave de Simon Nkabinde, mas também as danças inventivas das cinco Mahotella Queens (Hilda Tloubatla, Nobesuthu Mbadu, Mildred Mangxola, Juliet Mazamisa e Ethel Mngomezulu). Juntos, com a sua saltitante versão da mbaqanga, eles eram o leão e as raínhas do mgqashiyo. Artistas famosos que tocaram e gravaram juntos desde 1964, numa experiência que, apesar de algumas interrupções pelo meio, se prolongou durante três décadas.

"Djeli", Ba Cissoko (Guiné-Bissau) - kora music
Os Ba Cissoko apresentam-nos "Djeli", tema retirado do seu álbum de estreia “Sabolan”, produzido pelo músico Tao Ravao e lançado em 2003. Estes quatro jovens de ascendência griot - os conhecidos contadores de histórias que imemorialmente percorrem a savana africana para transmitirem ao povo a sua história - são naturais da Guiné-Conacri, mas vivem actualmente na cidade francesa de Marselha, tendo vindo a tocar em inúmeros espectáculos e festivais. A banda, criada em 1999, foi buscar o nome ao seu vocalista principal, o músico Ba Cissoko, neto do também mestre da kora M'Bady Kouyaté. Numa carreira comparada aos primeiros anos de Mory Kanté, o repertório da banda abrange músicas da era de ouro da cultura mandingo e canções em sussu ou peulh, palete que é colorida com congas, djembés ou cabaças e sons urbanos recheados de groove. Ao baixista Kourou Kouyate e ao percussionista Ibrahima Bah junta-se ainda Sekou Kouyaté. Devido à natureza da sua kora eléctrica, este último consegue fazer com que o instrumento produza um som de tal forma distinto, garantindo assim a alcunha de Jimi Hendrix africano, em alusão aos riffs de guitarra do célebre cantor e compositor norte-americano.

"Sepän Poika", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk, suomirock
As Värttinä de novo no programa, agora com “Sepän Poika” (O Filho do Ferreiro), tema retirado do álbum “Iki” (termo que a banda define como sendo “o sopro principal e eterno”), lançado em 2003, no vigésimo aniversário do grupo. Um trabalho que marca o regresso da banda finlandesa às grandes melodias, numa mistura de pop e rock ocidental com a folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos.

"Omas Ludvig", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Seguem-se os Hedningarna, que nos trazem o tema “Omas Ludvig”, extraído do álbum “Kaksi!” (em finlandês, a palavra quer dizer “dois”). Neste trabalho, editado em 1992, as vocalistas finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Tellu Paulasto juntam-se ao grupo de pioneiros na renovação da folk sueca. Das incursões pelo mundo do rock à pop e ao techno, os Hedningarna (em sueco, hedning significa "pagão") misturam sonoridades contemporâneas com elementos da música tradicional nórdica. Temas que a banda, formada em 1987 e da qual hoje fazem parte Anders Skate Norudde, Hållbus Totte Mattsson, Christian Svensson e Magnus Stinnerbom, reinterpreta de forma livre e inventiva, juntando-lhe ainda percussões acústicas e electrónicas. Para isso, servem-se de antigos instrumentos de vários países do norte da Europa, e não só, como a moraharpa (versão medieval da nyckelharpa, harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas), a stråkharpa (lira nórdica de arco), o lagbordun, o hummel (cordofone sueco, da família da cítara e semelhante ao norueguês langeleik), a mandora (cordofone da família do alaúde), o oud (alaúde árabe), a sanfona, a guitarra barroca, a flauta transversal, o violino, a gaita sueca, o acordeão, o didgeridoo e o pandeiro.

"Benedito", Afroreggae (Brasil) & Manu Chao (França) - afro-reggae, samba, hip-hop
Despedimonos com os brasileiros Afroreggae e com o francês Manu Chao, que nos trazem o tema “Benedito”, extraído do álbum “Favela Uprising”, editado em 2007. A banda de dez elementos, que transformou a música num movimento cultural não violento, funde géneros que vão do reggae ao samba, soul ou hip-hop. Neste tema, à voz de Anderson Sá junta-se a de Manu Chao, conhecido de formações como os Mano Negra e os Radio Bemba Sound System. O resultado é um som recheado de contornos politicos, mas com todo o espírito festivo urbano. Parte mais visível do Grupo Cultural Afro Reggae, organização não governamental que desde 1993 trabalha com as comunidades pobres das favelas do Rio de Janeiro, e que através da música, percussão ou dança procura resgatar os jovens do mundo da droga. O projecto começou por ser um jornal sobre as rasta dancing’s, as festas que o grupo realizava junto da população afro-brasileira do bairro carioca de Vigário Geral. Hoje o antigo Núcleo Comunitario de Cultura desenvolve iniciativas não só no Brasil mas também no estrangeiro, história que é contada no filme “Favela Rising”, realizado em 2005 por Matt Mochary e Jeff Zimbalist.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Canto Nómada: última viagem do André Moutinho















Foi com grande consternação que soube do falecimento do André Moutinho, esta terça-feira, dia 27, vítima de um ataque cardíaco. Aos 32 anos de idade, desaparece assim o realizador do Canto Nómada, programa dedicado à música tradicional portuguesa e do mundo, onde havia lugar também para a apresentação de notícias e de breves entrevistas. O espaço era apresentado desde 2006 na Torres Novas FM, sua terra natal, e mais recentemente emitido a partir da Rádio Santiago, em Guimarães, cidade onde residia o também técnico de som dos Diabo a Sete, Chuchurumel e Quarto Minguante.

Nascido em 1975 e engenheiro
 de profissão, desde a primeira hora que o André estabeleceu contacto com o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO, manifestando interesse numa colaboração entre os dois programas. De facto, em Janeiro de 2007 participei numa das suas crónicas semanais com um texto de nome “A Minha Amiga Rádio”, um devaneio verbal sobre a minha paixão pela telefonia, ponte privilegiada de aproximação entre culturas e saberes, onde falava sobre o que novos suportes de difusão como a Internet poderiam representar para um género musical que então se começava a afirmar mais seriamente em Portugal. A mensagem acabou por ser correspondida com um registo de audio que o André gravou, também a convite, para ser divulgado no primeiro aniversário do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO. Por questões de alinhamento, este não chegou a ser emitido no espectáculo, podendo no entanto ser lido e escutado na íntegra neste mesmo blogue. Agora, mais do que nunca, impõe-se a sua divulgação pública na próxima Noite Temática, naquela que é a homenagem possível a um dos amigos mais especiais que o programa teve até hoje.

Fico grato ao André por ter partilhado o fruto do seu trabalho comigo e com outros radialistas, num desejo comum de aproximar vontades, entre elas, a de desbravar territórios sonoros bravios e a de estabelecer uma ligação mais próxima entre os ainda poucos autores de programas de músicas do mundo existentes nas rádios locais e regionais portuguesas. Foi uma experiência breve mas gratificante, a que agora temos de dar continuidade, melhor forma de recordarmos um jovem que como nós, mais do que a música, aprendeu a amar a liberdade e a humanidade naquilo que estas têm de melhor.

Não deixa de ser curioso recordar que o André foi encontrar o nome para o seu programa no livro homónimo de Bruce Chatwin, obra onde o escritor inglês fala sobre a viagem que fez à Austrália para tentar compreender os mapas sonoros com que os aborígenes, nas suas digressões, descrevem a paisagem e cantam a natureza. Fica a saudade de alguém que, demasiado cedo, deixou esta grande família global, mas que agora certamente terá acesso pleno aos segredos de todos esses cantos nómadas, os quais, por cá, continuam por revelar. Até sempre, André!

Jorge Costa

sábado, 24 de maio de 2008

Multipistas promove segunda noite temática

NOITE TEMÁTICA MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO
Sede do Váatão – Teatro de Castelo Branco
Sábado, 14 de Junho - 21:30
Entrada Livre




Cartaz e flyer promocionais do evento

Agendada para o próximo dia 14 de Junho, a partir das 21:30, nas instalações do Váatão – Teatro de Castelo Branco, a segunda noite temática do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO visa juntar de novo a comunidade de ouvintes, aficionados e público em geral em torno dos sons globais, celebrando assim as quase sete dezenas de emissões. Encontro multimédia aberto não só a alguns dos músicos e formações com que o programa se tem vindo a cruzar, mas também à participação de todos os interessados em contribuírem para um espectáculo que se pretende informal e diversificado.

Um serão recheado de muito ritmo, dança e cor, onde estarão presentes, entre outros, os covilhanenses Velha Gaiteira, grupo que ao cruzar a gaita portuguesa com o adufe, o pífaro, a caixa e o bombo do Paúl, apresenta originais e reinterpretações de temas tradicionais da Beira Baixa. Recorde-se que no ano passado o evento contou com as participações das Batuque, dos Bissa Guiné, dos Cibo Mosari, dos Ocaia e dos Trebaruna, representando os ritmos africanos de Cabo Verde e da Guiné Bissau, as melodias celtas irlandesas ou os sons tradicionais da Beira Baixa.

Desde Março de 2006 que o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO procura dar destaque a alguma da melhor música étnica produzida em todo o globo, sobretudo a que se funde com géneros mais actuais e urbanos, combinando tradição e modernidade. Apresentado, produzido e realizado por Jorge Costa, este é emitido aos sábados, às 17 horas, na Rádio Urbana, repetindo às quartas-feiras, a partir das 21 horas.

Para além da versão radiofónica, o programa pode ser escutado em podcast (até agora, foram quase 14 mil descargas, numa média de 300 por emissão) no blogue oficial (este contabiliza cerca de trinta mil visitantes e mais de quarenta mil visualizações, a maioria no Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos), onde são disponibilizadas ainda informações bibliográficas sobre os músicos, atalhos para páginas com eles relacionadas, capas dos discos em destaque e alinhamentos das emissões, bem como diversos conteúdos exclusivos como entrevistas a músicos e grupos nacionais e estrangeiros ou temas gravados ao vivo, ambos disponíveis no sítio da webtv regional Beira TV.

OUVIR ...↓
Jingle promocional (40'')

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Os ares celtas dos Ventos da Líria

Repartido entre Alcains e Castelo Branco, o quinteto liga os ares celtas aos ventos da folk europeia, fusão festiva onde entram também o tango e os ritmos balcânicos. Depois de um trabalho de apresentação recheado de melodias e temas tradicionais, segue-se em breve o primeiro álbum de originais do grupo.


O grupo, sempre bem disposto, após mais um concerto
(foto: Márcio Martins)


Ainda que pouco conhecidos junto do grande público, eles são um dos vários nomes nacionais a reter quando o que está em causa é a música étnica feita sem qualquer espécie de fronteira pré-definida. E mesmo que os próprios conterrâneos não lhes conheçam a estética sonora, o nome do grupo certamente que não lhes será estranho de todo.

“Pensámos no que é que será que une Alcains e Castelo Branco, o que é que têm em comum sem ser a A23 [ainda não existia, mas estava já em construção] e a N18: a ribeira da Líria. Acho que acabou por ser um nome feliz, e pegámos na sonoridade dos ventos, dada a música celta, e no nome da Líria, por causa da ribeira”, explica ao MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO Rui Barata, acordeonista do grupo.

A aventura furtuita dos Ventos da Líria arrancou em 2001, acabando por dar lugar à formação de que hoje fazem também parte Susana Ribeiro, Gonçalo Rafael, António Preto e Mané Silva.
“Estava eu na Escola Secundária Nuno Álvares, houve um professor que me fez um desafio: pediu-me vinte minutos de música sem ser popular ou clássica”, recorda o músico. “Lembrei-me que no passado tinha tido um grupo que tinha dois temas de música clássica, e pensei que seria interessante. Então, fiz um telefonema ao Gonçalo e à Susana – na altura, o Gonçalo tocava teclas e piano e a Susana violino -, e lancei-lhes o desafio. Ensaiámos, aprendemos mais umas três ou quatro músicas, e fizemos essa apresentação de vinte minutos”, acrescenta Rui Barata. “Posteriormente mostrámos ao Gil, que passou a ser o quarto elemento do grupo, porque notámos que faltava ali um bocadinho de ritmo, então entrou ele na bateria. Com essa gravação, conseguimos arranjar mais dois concertos, e dada a receptividade do público, resolvemos continuar”.

A banda cruza as raízes da música tradicional com a folk irlandesa e com os sons da celtibéria. Ambientes sonoros inspirados em nomes de referência como Kepa Junkera e Luar na Lubre, ou em bandas lendárias como os Dubliners e os The Chieftains.

“O estilo ficou logo definido à partida: celta. Agora estamos a começar a entrar nos originais e a tocar algumas músicas a que já se pode chamar música do mundo, com uma fusão um pouco maior. Os novos instrumentos entraram para tentar tornar mais real o estilo de música. Por isso, eliminámos o piano e entraram a viola baixo, a guitarra e a bandola para cimentar o estilo”, refere o jovem acordeonista. “Há alguns meses que já tocamos em público algumas composições originais, que têm resultado muito bem, em que as pessoas nem se apercebem que é original porque está muito dentro da mesma onda”.

Uma onda musical onde entram também os tangos provocadores de Astor Piazolla e as melodias vulcânicas de Emir Kusturica. Ambiente festivo explosivo, capaz de contagiar todos aqueles que tenham uma paixão comum pelo ritmo.

“A base do nosso grupo é o diálogo entre o acordeão e o violino. São dois instrumentos que se cruzam muito bem, em que com linhas melódicas conseguimos fazer um jogo entre os dois instrumentistas e os próprios instrumentos, criamos uma comunicação agradável”, justifica o músico. “Como não temos voz e é uma música que vive exclusivamente do instrumental, temos de nos agarrar a qualquer coisa, essencialmente ao ritmo e à energia, e queremos um concerto contagiante, com as pessoas a vibrarem, a baterem palmas e a saltarem. Só com o ritmo é que conseguimos isso. Com uma batida mais enérgica, com a bateria, a viola baixo e a guitarra, conseguimos puxar o tango mais para esta onda folk”.

Os espectáculos vão surgindo dentro e fora da região, mas os Ventos da Líria sonham com ventos mais altos que os levem até outras paragens. Em banho-maria estão alguns dos temas destinados ao primeiro álbum de originais, ainda sem data prevista de lançamento. Para já, existe apenas um trabalho promocional, lançado no ano passado, e todo ele recheado de melodias e temas tradicionais.

“Estamos numa fase de muito crescimento, tanto a nível gráfico – agora temos um CD promocional que se chama “Às Voltas”, que era o que fazia falta para as pessoas lá fora, porque sem ouvirem é muito complicado contratarem-nos. Estes covers são algumas melodias de autor, todas trabalhadas por nós, e alguns temas tradicionais celtas. Mas agora, o objectivo é gravarmos um CD de originais, editar e partir para as televisões, por aí fora, divulgar ao máximo, e ver até onde este pequeno projecto pode ir”, conclui Rui Barata. “Nós só existimos porque o público tem insistido. O que nos faz pensar em apostar e ver que, se aguentámos até aqui, é um projecto que tem pernas para andar”.

Um estímulo para que os Ventos da Líria, inspirados pelos ares da Serra da Gardunha, continuem de olho nos ventos musicais que sopram dos quatro cantos do globo.

Jorge Costa

Emissão #65 - 17 Maio 2008

A 65ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 17 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 21 de Maio, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (7 e 11 de Junho) nos horários atrás indicados.

Um programa especial, onde se destaca a entrevista exclusiva aos Ventos da Líria, quinteto instrumental que liga os ares celtas aos ventos da folk europeia.

"Karavaani Kulkee", Tuomari Nurmio & Alamaailman Vasarat (Finlândia) - progressive folk, punk, rock
Tuomari Nurmio & Alaimaailman Vasarat a abrirem de novo mais uma emissão, desta feita com “Karavaani Kulkee”, tema do álbum conjunto “Kinaporin Kalifaatti”, editado em 2005. Tuomari Nurmio, nome artístico de Hannu Juhani Nurmio, nasceu em Helsínquia e é um dos mais originais cantautores finlandeses. Da música country e dos blues, às reminescências de Tom Waits, são impressões ora românticas, ora humorísticas, que Tuomari (“juíz”, em finlandês, alcunha adoptada desde que este se formou em Direito) combina com expressões peculiares, metáforas e vernáculo quanto baste. Depois do duo de guitarra e bateria com Markku Hillilä, surge agora a colaboração com os Alamaailman Vasarat (Martelos do Submundo) numa mistura que combina melodia, harmonia e ritmo. Criados em 1997 também em Helsínquia por dois membros do grupo de rock progressivo Höyry-Kone - o percussionista Teemu Hänninen e o guitarrista Jarno Sarkula, que então comprou um saxofone soprano -, os Vasarat são um projecto acústico cheio de humor e energia. A banda – a que se juntam Miikka Huttunen, Marko Manninen, Tuukka Helminen e Erno Haukkala - apresenta-se como uma combinação de world music ficcional oriunda do seu próprio continente imaginário, a Vasaraasia, com elementos de heavy metal, jazz e música klezmer. Uma folk progressiva situada algures entre o chamber rock, o ethnic brass punk e o kosher-kebab jazz. São climas sombrios e texturas densas numa original mistura de timbres baseada em instrumentos de sopro (trombone, clarinete e saxofone soprano), no violoncelo, no piano e no órgão, mas também em instrumentos como o didgeridoo e o shenhai (espécie de oboé indiano). Ritmos acelerados e frenéticos a provarem que no rock não são necessárias guitarras eléctricas.

"Prima Donna", Ricardo Lemvo (RD Congo) - salsa, rumba, soukous, afropop
As músicas do mundo prosseguem com Ricardo Lemvo e o tema "Prima Donna", um híbrido festivo extraído do seu quinto e último álbum “Isabela”, lançado em 2007 e baptizado com o nome da própria filha. Trabalho onde o músico, que começou por tocar em bandas de rhythm & blues, prossegue com a habitual mistura de géneros afro-americanos como a salsa cubana, o soukous ou a rumba congolesa, a que se juntam ainda incursões pelo universo do merengue, do boogaloo ou do tango. Um álbum que conta com as participações do guitarrista congolês Papa Noël, do violinista cubano Alfredo de la Fé, dos vocalistas Maria de Barros, Janan Guzey, Wuta Mayi, Nyboma, El Niño Jesús e do rapper Qbanito. Nascido no antigo Zaire, mas de ascendência angolana, Ricardo Lemvo passou toda a sua infância em Kinshasa, hoje capital da República Democrática do Congo. Foi ali que ele se deixou inspirar pelos ritmos e melodias da rumba congolesa e do soukous, fruto da influência da música cubana nas décadas de 1950 e 1960 naquele país. Aos 15 anos, Lemvo mudava-se para Los Angeles, nos Estados Unidos, onde, influenciado pelo vibrante ambiente da salsa, acabaria por trocar o curso de Direito pela música. Depois de ter sido vocalista em várias bandas, em 1990 este fundava os Makina Loca, uma dezena de músicos que combinam a rumba congolesa com o cubano son montuno, ligando as raízes africanas e os sons afro-portugueses aos da diáspora latina. Ricardo Lemvo canta em inglês, francês, castelhano, português, turco, suaíli, lingala e quicongo, uma panóplia de línguas associadas a temas que através do ritmo e da dança celebram a vida, e que, entre outros, são tocados por músicos como o colombiano Joe Arroyo e a cubana Orquestra Reve.

"Dabbaax", Youssou N'Dour (Senegal) - mbalax, afropop
Youssou N’Dour de regresso ao programa, desta feita com “Dabbaax”, tema retirado do álbum “Rokku Mi Rokka” (Apanhar e Levar), editado em 2007. Trabalho onde o mais famoso cantor senegalês se aproxima dos cantos religiosos sufi, das percussões dos griots e dos sons do norte do Senegal, num apelo à paz, tolerância e valorização do continente africano. No final dos anos 70, o autor, intérprete e músico, que aprendeu a cantar com a mãe, formava com o cantor El Hadj Faye os L'Etoile de Dakar, e em 1981 os Le Super Étoile de Dakar. Cruzando os ritmos sincopados do mbalax senegalês com a pop internacional, numa fusão que inclui o jazz, a soul e arranjos afro-cubanos, o “rouxinol de Dakar” depressa cativou o público ocidental sem no entanto abdicar das suas raízes, conquistando o estatuto de embaixador da música africana. Nos seus temas em wolof e inglês, Youssou N’Dour retrata o mundo da pobreza, da emigração ou os valores culturais africanos. Um dos mais conhecidos a nível global é “Seven Seconds”, gravado com Neneh Cherry. Através da música, Youssou N'Dour pretende quebrar o silêncio das crianças que sofrem e abraçar as causas humanitárias. Da fundação com o seu nome aos concertos em benefício da Amnistia Internacional, o embaixador da boa vontade para as Nações Unidas e para a UNICEF tem por isso mesmo colaborado com músicos como Peter Gabriel, Axelle Red, Sting, Alan Stivell, Bran Van 3000, Wyclef Jean, Paul Simon, Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Branford Marsalis, Ryuichi Sakamoto ou o camaronês Manu Dibango.

"Ach Adani", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno
A jornada continua com Rachid Taha e “Ach Adani”, parte integrante do álbum “Diwan”, lançado em 1998. São arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às melodias e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. Clássicos actualizados num trabalho produzido por Steve Hillage. Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas desde muito cedo que emigrou com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico e compositor residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”), nome que se refere à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do Oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.

"Bèlaya Bèlaya", Mahmoud Ahmed (Etiópia) - eskeusta, afropop, ethiopian jazz
Mahmoud Ahmed estreia-se no programa com “Bèlaya Bèlaya”, tema extraído do álbum “Éthiopiques 19 - Alèmyé”, editado em 2005. Parte de uma colectânea retrospectiva sobre a obra de diversos cantores e instrumentistas da música popular e tradicional da Etiópia e Eritreia, entre eles Alemayehu Eshete, Asnaketch Worku, Mulatu Astatke e Tilahun Gessesse. Nascido em Adis Abeba, onde ainda vive, Mahmoud Ahmed é um cantor de origem gurage, etnia do sudoeste da capital etíope, conhecida pelas suas danças tradicionais exuberantes. O músico estreou-se nos anos 60 no Arizona Club, cantando com a banda do capitão Girma Hadgue. Mais tarde, integrou a banda da Guarda Imperial de Haile Selassie, tendo vindo a colaborar com formações como Roha Band, Musicians Titesh, Dahlack Band ou Idan Raichel Project. Com uma voz multitímbrica, Mahmoud Ahmed é o rei da eskeusta (“êxtase”), género que cruza os ritmos complexos e repetitivos da música tradicional amárica com a pop, o free jazz, a soul, o funk, o rhythm & blues ou a dub. Uma mistura de sabor indiano, acompanhada quase sempre por sons ora eléctricos, ora acústicos, onde é possível encontrar instrumentos como o krar (cordofone de cinco ou seis corda, semelhante à lira, característico da Eritreia e da Etiópia), a guitarra e o bandolim. São canções de amor cujas letras escondem desabafos políticos, imagem de uma carreira feita de persistência quanto baste. Grande parte da extensa discografia do músico foi gravada durante os anos 70, uma actividade interrompida com a repressão política de Mengistu e dos governos seguintes. Há três décadas que a lenda viva da Etiópia não edita um disco de originais, e há quase vinte que não compõe. Contudo, e ainda que pouco conhecido no ocidente, Mahmoud Ahmed e a sua banda tocam ocasionalmente junto dos seus compatriotas exilados na Europa e nos Estados Unidos.

"Roda Cozida", Ventos da Líria (Portugal) - celtic, irish folk, fusion
Os Ventos da Líria trazem-nos “Roda Cozida”, um dos temas que deverá integrar o seu primeiro álbum de originais, ainda sem data prevista de lançamento. Para já, o grupo conta com o trabalho promocional “Às Voltas”, editado em 2007 e feito de melodias de autor e de temas tradicionais celtas. Repartido entre Alcains e Castelo Branco, o jovem quinteto liga os ares celtas ibéricos aos ventos da folk irlandesa, fusão festiva inspirada em nomes de referência como Kepa Junkera e Luar na Lubre, ou em bandas lendárias como os Dubliners e os The Chieftains. Ambientes musicais onde entram também os tangos provocadores de Astor Piazolla e as melodias vulcânicas de Emir Kusturica. A aventura furtuita arrancou em 2001, acabando por dar lugar à formação de que hoje fazem parte Rui Barata, Susana Ribeiro, Gonçalo Rafael, António Preto e Mané Silva. Ao diálogo ritmado entre o acordeão e o violino juntam-se a viola baixo, a guitarra, a bandola ou a bateria. Energia sonora que serve de estímulo aos Ventos da Líria. Tudo para que, inspirados pelos ares da Serra da Gardunha, estes continuem de olho nos ventos musicais que sopram dos quatro cantos do globo. A 23 e 24 de Maio o grupo ruma até Vila Viçosa e Torres Novas, respectivamente. Mais adiante, a 18 de Julho, segue-se o concerto em Penamacor. Finalmente, em Setembro, os Ventos da Líria vão estar nas Sarnadas de Ródão (dia 7) e em Castelo Branco (dia 19).

"Iman", Andrea Echeverri (Colômbia) - latin rock, colombian folk, country
Despedimo-nos com a colombiana Andrea Echeverri e o tema “Íman”, extraído do primeiro álbum a solo da vocalista e guitarrista dos Atercipelados, assinado com o seu nome e lançado em 2005. Depois de uma década à frente da banda que mistura o rock alternativo latino com a folk colombiana, Andrea seguiu outros caminhos. Durante a sua gravidez e após o parto, Andrea compôs então uma série de melodias que celebram a magia da maternidade ou o amor ao seu marido e à sua filha Milagros. O resultado é um trabalho que cruza os sons latinos, o rock, a música country e electrónica e o africano highlife com a subtileza da voz de Andrea Echeverri. O disco, gravado em Bogotá, sua cidade natal, por outro membro da banda, o baixista Héctor Buitrago, e misturado por Thom Russo, foi nomeado em 2006 para os Grammys na categoria de Melhor Álbum Latino de Rock Alternativo. Andrea Echeverri colaborou com bandas como Soda Stereo, contando com participações na banda sonora de "La Mujer de mi Hermano", do peruano Jaime Bayly, e no filme "¿Quién dice que es fácil?", do realizador argentino Juan Taratuto.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Bons Sons regressam a Cem Soldos

A música está de regresso às ruas de Cem Soldos na segunda edição do Festival Bons Sons, evento bienal que entre 22 e 24 de Agosto decorre naquela aldeia do concelho de Tomar. Da folk renascida ao fado, cabaré, fanfarra, jazz ou electroacústica experimental, o Sport Club Operário de Cem Soldos continua a apostar nos “novos grupos nacionais de qualidade”.
Os brasileiros Pedra Branca inauguram o festival na sexta-feira, dia 22, no Largo do Rossio, seguindo-se os lusos München, Galandum Galundaina e Kumpania Algazarra. A noite de sábado, dia 23 contará com a presença dos O’queStrada, Deolinda e Tora Tora Big Band + Rão Kyao. Finalmente no domingo, dia 24, a animar o palco principal estarão os Roncos do Diabo e a Brigada Victor Jara.

Novidade são os concertos de música erudita na Igreja de São Sebastião, que na tarde de sábado acolhe a Escola Gualdim Pais, a Escola Canto Firme, o Duo Sellium e o Power Trio. No mesmo dia, Ana Tricão e João Bento apresentam no auditório da povoação o espectáculo “Sem Título Até Hoje...”, proposta performativa de dança, música e artes plásticas.

Pelo meio, não faltam as noites longas ao som da electrónica, indie, rock, retro ou punk, a cargo de Suuh DJ set (dia 22) e dos Dj’s Athletic Cocktail (dia 23). Já a música e a dança tradicional portuguesa atravessam as ruelas de Cem Soldos na tarde de domingo com os Bombos de São Sebastião, de Viana do Castelo, e os Pauliteiros de Miranda.

Em permanência, a feira de marroquinarias e artesanato estará nas ruas do centro da aldeia, estando prevista a realização de duas mostras de fotografia e artes plásticas no centro de exposições. Todas as iniciativas têm entrada gratuita. 

Jorge Costa

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Emissão #64 - 3 Maio 2008

A 64ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 3 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 7 de Maio, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (24 e 28 de Maio) nos horários atrás indicados.

"Return to Irishmore", Bill Douglas (Canadá) - new age, celtic, jazz
O canadiano Bill Douglas inaugura mais uma emissão com “Return to Irishmore”, parte integrante do álbum “Deep Peace”, editado em 1996. Um conjunto de composições clássicas modernas que se combinam com a melódica folk britânica e com a tradição coral renascentista. A inspiração na paisagem sonora celta da Irlanda, Escócia e Inglaterra serve de base à música com que Bill Douglas expressa o seu amor pela poesia de William Butler Yeats, Robert Burns, William Blake ou Alfred Graves. Versos cujo lirismo é transposto para versões instrumentais, tocadas por orquestras e grupos de câmara de todo o mundo, e corais levadas a cabo, por exemplo, com o grupo a cappella americano Ars Nova Singers. Uma new age fortemente ligada à música clássica e ao jazz, mas onde se encontram as influências da música africana, indiana ou brasileira. Ao longo de três décadas, o compositor e multinstrumentista, nascido em London, na província de Ontário, tocou na Orquestra Sinfónica de Toronto, tendo colaborado com músicos como Richard Stoltzman, Peter Serkin, Gary Burton ou Eddie Gomez. Bill Douglas estudou nas universidades de Toronto e Yale, trocando mais tarde a Academia de Artes da Califórnia pelo ex-Instituto de Naropa, no Colorado, estado americano onde vive e desenvolveu um interesse mais abrangente pela música do mundo.


"Baile do Escangalhado", Mandrágora (Portugal) - folk, jazz, rock
As músicas do mundo prosseguem com os Mandrágora e o "Baile do Escangalhado", tema extraído seu segundo álbum “Escarpa”, lançado este mês de Maio. Trabalho onde participam Simone Bottaso (acordeão diatónico), Matteo Dorigo (sanfona), Francisco Madeira (voz e guitarra) e Helena Silva (voz). Depois de explorarem as raízes da folk através das flautas e gaitas-de-foles, neste seu novo disco os Mandrágora (segundo a crença popular, a Mandrágora, uma planta afrodisíaca com uma raiz de odor forte e forma humana, grita quando é arrancada da terra) seguem um caminho mais urbano, adicionando-lhe amostras de jazz e rock. São músicas rápidas, recheadas de improviso e percussão, a que se juntam os arranjos de guitarra, baixo e saxofone, e instrumentos de arco como o violoncelo, a moraharpa e a sua predecessora nyckelharpa, ambas referências tradicionais da Suécia. As composições deste colectivo do Porto, formado em 1999 e de que hoje fazem parte Filipa Santos, Ricardo Lopes, Pedro Viana, Sérgio Calisto e João Serrador, evocam a tradição musical portuguesa, procurando influências noutras culturas e na música moderna. Depois de uma tournée pela Bretanha, em Maio segue-se uma digressão dos Mandrágora pelos bairros do Porto. Os concertos de lançamento do novo álbum repartem-se pelos auditórios do Instituto Superior de Engenharia (dia 9), de Aldoar (dia 10), da Pasteleira (dia 16) e de Campanhã (dia 17).

"Alvor Bencanta", Júlio Pereira (Portugal) - folk, acoustic, fusion
Júlio Pereira de regresso ao programa, desta feita com “Alvor Bencanta”, tema retirado do álbum “Geografias”, editado em 2007. Um conjunto de inéditos instrumentais baseados em memórias de viagens e experimentações sonoras, resultado da combinação entre bandolim, guitarra portuguesa, viola braguesa, bouzouki e sintetizadores. Depois de muitos anos ligado ao cavaquinho, Júlio Pereira volta-se agora para outro cordofone pequeno, o bandolim, instrumento que o acompanha desde a infância. São sons tradicionais portugueses à mistura com ritmos africanos e orientais, num trabalho que conta com as vozes de Sara Tavares, Isabel Dias (grupo minhoto Raízes) e Marisa Pinto (Donna Maria), bem como Miguel Veras na viola acústica e guitarra e Bernardo Couto na guitarra portuguesa. Júlio Pereira estreou-se no rock com grupos como os Petrus Castrus e os Xarhanga. Da inovação musical dos anos 60/70, à revitalização dos instrumentos tradicionais, a partir dos anos 80/90 Júlio Pereira associou-os a soluções acústicas contemporâneas. Ao longo de mais de três décadas de carreira, o multi-instrumentista, compositor e produtor tem colaborado com músicos como Carlos do Carmo, Amélia Muge, Pedro Burmester, Eugénia Melo e Castro, Zeca e João Afonso, José Mário Branco, Jorge Palma, Janita Salomé ou Fausto, bem como os The Chieftains, Pete Seeger, Kepa Junkera, Xosé Manuel Budiño, Uxia ou Na Lúa. Entretanto, o músico continua na estrada: a 18 de Maio, Júlio Pereira estará na Casa da Música do Porto.

"Tus Huellas", Colombiafrica - The Mystic Orchestra (Colômbia, Congo, Nigéria, Bolívia) - champeta, afrobeat, soukous, highlife
A jornada continua com os Colombiafrica The Mystic Orchestra e “Tus Huellas”, tema extraído do álbum “Voodoo Love Inna Champeta Land”, lançado em 2007. Depois de séculos de colonização, Colômbia e África juntam-se finalmente através da champeta criolla, o primeiro género afro-colombiano contemporâneo. São versões locais de ritmos africanos como o soukous congolês, o highlife ganês, a afro-beat nigeriana ou o sul-africano mbaqanga, que se misturam com a cumbia, o bullerengue, a chalupa, o lumbalú (canção funerária) e outros estilos caribenhos, num diálogo permanente entre as percussões, as guitarras e as vozes. Neste trabalho, as estrelas da champeta Viviano Torres, Luís Towers e Justo Valdez, originários da cidade de San Basilio de Palenque, juntamente com o produtor Lucas Silva (“Champeta-Man Original”), devolvem a África os ritmos afro-colombianos. Uma jornada em que contam com talentos oriundos do Congo, Guiné, Angola e Camarões, tais como Dally Kimoko, Diblo Dibala, Nyboma, Sékou Diabaté, Rigo Star, Bopol Mansiamina, Caien Madoka, Ocean, 3615 Code Niawu, Hadya Kouyate, Son Palenque, Las Alegres Ambulancias, Batata e Guy Bilong.

"Moussoulou", Onsulade (EUA) vs. Salif Keita (Mali) - afropop, mandingo
Salif Keita apresenta-nos o tema "Moussoulou", numa versão remisturada pelo músico e compositor americano Onsulade, extraída do álbum “Remixes From Moffou”, editado em 2004. Trabalho onde diversos DJ’s e produtores como Frédéric Galliano, Gekko, Ark, Cabanne, Tim Paris, The Boldz, Luciano, La Funk Mob, Charles Webster, Doctor L, Cyril K ou Paul St Hilaire adaptam a música da voz de ouro do Mali aos cânones da electrónica, acrescentando-lhes novos instrumentos e atmosferas sonoras influenciadas pelo funk, house, dub e drum’n bass. Salif Keita começou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Com a sua aproximação ao rock, ao jazz, à soul, à chanson française ou aos ritmos afro-cubanos, o músico inaugurava o conceito de afropop. Em 2002, com “Moffou”, inicia uma nova carreira, antecipando o renascimento da música tradicional mandingo e dos seus principais instrumentos, como a ngoni (uma espécie de guitarra mourisca), o balafon (um xilofone ancestral) ou o calabash (um instrumento de percussão). Um longo percurso que teve como pontos altos a passagem por Abdijan, Nova Iorque e Paris.


"Benvinguts", Cheb Balowski (Espanha) - pachanga, raï, gnawa, rock
Seguem-se os Cheb Balowski com “Benvinguts”, tema extraído do álbum “Bartzeloona”, primeiro trabalho do grupo, editado em 2001. A designação da banda resulta da junção dos termos Cheb ("o jovem", em árabe), complemento habitual nos nomes dos cantores de raï argelinos, e Balowski (em polaco, o verbo balować significa "divertir-se bailando"), apelido do emigrante de Leste interpretado por Alexei Sayle na série de televisão inglesa “The Young Ones”. Formados em 2000 em Barcelona, depois de uma infância comum no bairro de Raval, os Cheb Balowski integram uma dezena de músicos - eles são Yacine Belahcene Benet, Isabel Vinardell Fleck, Marc Llobera Escorsa, Santi Eizaguirre Anglada, Jordi Marfà Vives, Daniel Pitarch Fernández, Jordi Ferrer Savall e Arnau Oliveres Künzi, Jordí Herreros e Sisu Coromina. Cantando em castelhano, catalão, francês e árabe, eles cruzam a música catalã e a cultura mediterrânica com a energia do raï, do gnawa, do reggae e do rock. Um ambiente festivo, que vai do flamenco e da pachanga aos ritmos balcânicos, árabes, africanos e mediterrânicos, assente na sonoridade de violinos, saxofones, trompetes, piano, bateria, acordeão, guitarra, baixo e todo o tipo de percussões.

"Huxi", Mercan Dede (Turquia)sufi music, electronic
Mercan Dede, um dos mais importantes artistas turcos, traz-nos o tema “Huxi”, retirado do álbum “Nefes”, lançado em 2006. Radicado em Montreal, no Canadá, Mercan Dede mistura a música tradicional com batidas electrónicas. Ele desenvolve duas carreiras paralelas: como Arkin Allen é um DJ especializado em hard techno; como Mercan Dede mistura a tradição do sufismo com estilos contemporâneos. Com o seu ensemble de músicos turcos e canadianos, fundado em 1998 e formado pelos músicos Mohammad, Farokh Shams e Ben Grossman e pela dançarina Isaiah Sala, Mercan Dede funde as tradições espirituais da música sufi com sons actuais, criando uma mistura única entre o Oriente e o Ocidente. Nas suas actuações, ele utiliza instrumentos de origem turca como a ney (flauta de cana) e a kanun (cítara), e mistura as percussões do Médio Oriente com sons electrónicos, tudo isso enquanto que um dervish dança em palco. No disco “Nefes” (Respiração), o terceiro de uma série de quatro que começou com Nar (Fogo) e continuou com Su (Água), Mercan Dede cria uma fusão que captura a magia do Oriente, os elementos místicos, a instrumentação tradicional e os sons electrónicos.

"Sirena", Fufü-Ai (Espanha) - rock, french pop
Despedimo-nos com os Fufü-Ai, que desta feita nos trazem o tema “Sirena”, retirado do seu segundo álbum “For Ever”, gravado no verão de 2007. Trabalho onde a pop sensual e ingénua do primeiro disco “Petite Fleur”, lançado no ano anterior, se alarga ao reggae, à bossa nova, ao rock e ao punk. Propostas mestiças que partem do ambiente multicultural do El Raval, o conhecido bairro da Ciutat Vella de Barcelona, num french touch que fica completo com letras em francês, castelhano ou inglês. Em 2004, a vocalista Anouk Chauvet (Color Humano) reencontrou-se com o guitarrista e produtor Tomas Arroyos "Tomasin" (Les Casse-Pieds, La Kinky Beat, Mano Negra, Color Humano, Dusminguet), numa primeira versão acústica de Fufü-Ai, formação a que hoje se juntam a teclista Laia (Brazuca Matraca), o baixista Fernando "dinky" e o baterista Óscar. O projecto da capital catalã conta ainda com as colaborações pontuais de músicos como Yacine (Nour), Miryam ‘Matahary’ (La Kinky Beat), Joan Garriga (La Troba Kung-Fu), Sandro (Macaco), Stefarmo ou Baba (Black Baudelaire).

Jorge Costa