sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Emissão #57 - 26 Janeiro 2008

A 57ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 26 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 30 de Janeiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (16 e 20 de Fevereiro) nos horários atrás indicados.

"Prologue", Solas (EUA) - celtic, irish folk
Os Solas (termo que em gaélico significa “luz”) a inaugurarem mais uma emissão com “Prologue”, tema de abertura da banda sonora original do espectáculo “Dancing on Dangerous Ground”, composta pelo conhecido quinteto nova-iorquino. Apresentado em Dezembro de 1999 no Drury Lane Theatre, em Londres, este projecto cruza pela primeira vez o teatro com a dança irlandesa. “A Perseguição de Diamuid e Grania”, lenda celta sobre um trágico triângulo amoroso, serve de base a um drama que combina paixão, bravura, vingança e traição. Em palco, para além dos 35 dançarinos, destacam-se os actores Collin Dunne e Jean Butler, estrelas internacionais da dança irlandesa presentes em Riverdance, e que aqui procuram ir para além da espectacularidade de performances semelhantes como Lord of the Dance ou Feet of Flames. Formados em 1996, os Solas adicionam elementos da música country, do blues, do bluegrass, do jazz ou de outros ritmos globais aos sons tradicionais celtas. O seu virtuosismo e versatilidade fá-los levar a folk irlandesa para além dos típicos jigs e reels. São arranjos imaginativos de melodias e danças do velho continente, mas também composições próprias do grupo, formado por Seamus Egan, Winifred Horan, Mick McAuley, Deirdre Scanlan e Eamon McElholm. Os Solas apimentam a folk irlandesa com instrumentação menos convencional. À flauta, gaita, whistle, bodhrán, acordeão, guitarra, banjo, bandolim, violino e concertina juntam-se então a guitarra eléctrica, os teclados e o sintetizador.

"Salam", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk
As músicas do mundo prosseguem com Gigi e "Salam", tema que faz parte do álbum “Gold and Wax”, lançado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu segundo trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o indiano virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos multi-instrumentistas africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.

"Volovolo", Kilema (Madagáscar) - malagasy pop
Kilema em estreia no programa com “Volovolo”, tema retirado do seu segundo álbum a solo “Lavi-Tany” (Longe da Minha Terra), editado em 2003. Neste trabalho, a música do sul do Madagáscar cruza-se com as raízes da Andaluzia. Nada de estranhar, visto que hoje Kilema reside em Encinarejo, perto de Córdoba, juntamente com o seu quarteto, formado pelo irmão e por dois músicos espanhóis. Nascido numa família de músicos na cidade de Toliary, no sudoeste daquele país, e inspirado nas canções de trabalho e do campo, Clément Randrianantoandro, mais conhecido por Kilema, começou por tocar com bandas locais e por construir guitarras de quatro cordas com cabos de travões de bicicleta. Terminada a sua formação, em 1993 o compositor, intérprete e multi-instrumentista muda-se para Paris e integra o Justin Vali Trio, onde tocaria o kabosy (pequeno bandolim de quatro a seis cordas), o katsà (também conhecido como faray, é uma espécie de chocalho fabricado com uma lata, um pau e pequenas pedras) e o marovany (caixa de madeira com doze cordas de arame de cada lado e que produz um som similar ao do valiha), instrumentos característicos da ritmada música tradicional do Madagáscar. Em 1997, juntamente com Nesta Randrianantoandro, Pedro José Delgado Antúnez e Miguel Navarro de Vera, Kilema formava a sua banda, simpaticamente baptizada com o seu próprio apelido. Eles pegam em sons influenciados pela música tradicional do sul de Madagáscar e pelas raízes africanas, a que se juntam diversas sonoridades globais. Uma visão moderna, mas ainda assim genuinamente étnica, com que Kilema deu a conhecer ao mundo a cultura da sua ilha localizada no sul do Índico.

"Toumast", Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues
A jornada continua com uma viagem até ao deserto pela mão dos Tinariwen e “Toumast” (“identidade”, em tamazight), tema retirado do álbum “Aman Iman” (Água é Vida), gravado em Bamako e editado em 2007. Este clã apareceu em 1982 na Líbia num campo de acolhimento de rebeldes tuaregues (povo nómada descendente dos berberes do norte de África e que vagueia entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia), tocando para a comunidade de exilados naquele país e na Argélia. Três jovens encarnam a Ishumaren, a música dos ishumar desempregados, uma geração que sonha com a liberdade e a auto-determinação. São sobretudo melodias tradicionais, inspiradas nas guitarras do norte do Mali ou nos alaúdes (ngoni para os songhai, teherdent para os tuaregues) dos griots, e canções nostálgicas que apelam ao despertar político das consciências e à rebelião da alma. Em 1990, dois elementos dos Taghreft Tinariwen (literalmente, os "reconstrutores dos desertos") integraram o grupo de guerrilheiros separatistas que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira com o Níger, inaugurando um novo conflito com o governo do Mali. Seis anos depois, quando a paz chegou finalmente ao sul do Sáara, voltaram-se apenas para a música do seu povo, em geral acompanhada pelo tindé (instrumento de percussão tocado por mulheres) ou pela flauta t’zamârt. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen, percussores dos blues do deserto, estão presentes também a guitarra eléctrica e a asoüf, solidão característica da poesia tuaregue que, tal como os blues, incorpora um sentimento de desamparo universal.

"Namchi Maac", Nour (Espanha) - raï, rock, funk, reggae
Os Nour (“luz”, em árabe) trazem-nos o tema "Namchi Maac", extraído do seu primeiro disco “Papier Mullat” (Papel Molhado), lançado em 2007. Um papel que se converte numa enorme bola de fogo, alimentada por uma fusão de estilos de que resulta uma música para todos os sentidos. A electrónica combina-se então com sonoridades como o reggae, o rock, o funk, o hip-hop, o ska ou o raï, revestidos com letras em catalão, castelhano, francês e árabe. Os Nour foram criados pelo berbere catalão Yacine Belahcene Benet, vocalista dos Cheb Balowski, fazendo parte do grupo Marc Llobera (samplers e teclados), Pablo Potenzoni (bateria), Francisco Guisado “El Rubio” (guitarra), Olalla Castro (voz) e Manolo López (baixo). Produzido por Yacine e Rubio com Pau Guillamet (Guillamino), o primeiro trabalho da banda reflecte sobre a necessidade de ir mais além das palavras, denunciando assim as hipocrisias da sociedade moderna. Uma crítica sonora à intolerância e à desigualdade em que colaboram, entre outros, Joan Garriga (dos La Troba Kung-Fú), Lautaro Rosas (Machalah), Massa Kobayashi (Kultur Shock), Mohamed Souleimane (Orquestra Árabe de Barcelona) ou Pau Llong y Rodrigo (At Versaris).

"Worry Lines", Oi Va Voi (Reino Unido) - jewish music, electro, world fusion
Seguem-se os Oi Va Voi (“Oh, Meu Deus!” em hebraico) com “Worry Lines”, tema retirado do álbum do mesmo nome do grupo, editado em 2007. A banda radicada em Londres, cidade onde a herança cultural judaica se combina com os actuais ritmos de dança, apresenta composições próprias e uma mistura de sons globais, originários sobretudo da Europa de Leste e do Mediterrâneo. No final da década de 1990, cinco músicos das comunidades judaicas da capital inglesa decidiram juntar-se num projecto comum, servindo-se de percursos distintos que abrangem não só a música klezmer mas também o jazz, o hip-hop, o rock ou o drum n'bass. Ultrapassadas as atribulações do passado, actualmente a banda é formada por Nik Ammar, Bridgette Amofah, Josh Breslaw, Matt Jury, Steve Levi, Lemez Lovas e Anna Phoebe. Conhecidos pelas suas actuações ao vivo, os Oi Va Voi combinam de forma única a música tradicional dos judeus sefarditas e ashkenazi (judeus europeus) das shtetl (povoações onde estes viviam) e dos ciganos transilvanos com a dub, a breakbeat ou a música urbana londrina. Influências tradicionais do oriente europeu que contam com instrumentos como o clarinete, o violino, o trompete, a guitarra, a bateria, o baixo e a melódica, e que são actualizadas com arranjos electrónicos e letras grande parte das vezes em ladino (língua semelhante ao castelhano, falada pelas comunidades sefarditas em Espanha, nos Balcãs, Próximo Oriente e norte de Marrocos).

"Neda", Schäl Sick Brass Band (Alemanha) - brass band, jazz, folk
Os Schäl Sick Brass Band regressam ao programa com “Neda”, tema extraído do álbum “Tschupun”, lançado em 1999. O grupo constituído por quase uma dezena de elementos surgiu em Colónia, capital cultural da província da Renânia e fortaleza mediterrânica da Alemanha. Um dos muitos emigrantes e visitantes de todo o mundo que a encheram de sons coloridos foi Raimund Kroboth, que em 1977 se instalou na margem direita do Reno. No dialecto local, aquela parte da cidade é conhecida precisamente por "Schäl Sick" (lado errado). Isto porque está do lado contrário à catedral e ao centro de Colónia, e porque é um enclave protestante na católica Renânia. Partindo de uma secção de ritmo que tem por base a tuba, a cítara popular e as percussões, os Schäl Sick Brass Band utilizam o som das fanfarras da região alemã da Bavaria e da Boémia checa para explorarem com inovação e versatilidade a música de outras culturas. Eles combinam elementos de jazz com o rock, o funk, o hip-hop o rap ou a folk. Um universo sonoro influenciado pela Europa central e de Leste e pelo norte de África, onde convivem ritmos cubanos, gregos, latinos, africanos e orientais, e instrumentos de todo o mundo - tavil, kanjira, dhol, dolki, omele, sekere, gangan, thereminvox, entre muitos outros. Um ambiente festivo em que se celebra a música de todo o planeta e onde o lema é "pensar global, soprar local"...

"Previsão", BossaCucaNova feat. Adriana Calcanhoto (Brasil) - bossa nova, samba
Despedimo-nos com a “Previsão” dos BossaCucaNova, tema que conta com a participação da conhecida Adriana Calcanhoto. Um trabalho extraído do terceiro álbum do grupo “Uma Batida Diferente”, gravado em 2004 no lendário bairro de Ipanema. Os BossaCucaNova foram um dos primeiros grupos do Brasil a misturarem diferentes interpretações de géneros tradicionais da música popular brasileira (MPB) como o samba e a bossa nova com uma abordagem às novas tendências electrónicas, reagindo assim à influência crescente destes ritmos latinos na música de dança europeia e norte-americana. Uma fórmula hoje muito em voga no Rio de Janeiro, em São Paulo e noutros centros urbanos daquele país. As recriações do trio, criado em 1999 pelos jovens DJ's e produtores cariocas Marcelinho DaLua, Alexandre Moreira e Márcio Menescal (filho de um dos mestres da bossa nova Roberto Menescal), resultam então de uma ligação pessoal com as tradições musicais do Rio de Janeiro, o que dá à sua música um ritmo e uma alma tipicamente brasileiros, motivos de sobra para o sucesso que o grupo alcançou.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Emissão #56 - 12 Janeiro 2008

A 56ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 12 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 16 de Janeiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (2 e 6 de Fevereiro) nos horários atrás indicados.

"Last Wish Of The Bride", J.U.F. (EUA) - gypsy punk, dub
Os Jewish Ukranian Freundschaft (J.U.F.) a abrirem mais uma emissão com “Last Wish Of The Bride”, tema retirado do álbum de estreia da formação “Gogol Bordello vs. Tamir Muskat”, editado em 2004. No início da década de 1990, o ucraniano Eugene Hütz rumou até Nova Iorque, onde começou por explorar como DJ num bar búlgaro, a Mehanata (“pequena taberna”), os sons dos Balcãs. Somadas as remisturas de Hütz ao gypsy punk dos Gogol Bordello (de que é vocalista) e a alguns convidados, o resultado foi a criação em 2002 do projecto J.U.F., nome inspirado na banda de punk industrial alemã D.A.F. (Deutsch Amerikanische Freudschaft). Para além da israelita Victoria Hanna, do baixista Itamar Ziegler, das vocalistas Shlomi e Andra Ursuta e do teclista Fran Avni, a banda é formada por membros dos Gogol Bordello – o teclista, percussionista e produtor israelita Tamir Muskat, o guitarista Oren Kaplan, o violinista Sergey Rjabtzev e o acordionista Yuri Lemshev – e dos Balkan Beat Box – de novo Tamir Muskat e o saxofonista Ori Kaplan. Nesta amizade judaico-ucraniana, eles cruzam os ritmos frenéticos e o ambiente festivo da música cigana da Europa de Leste com uma amálgama de sons globais, criando um punk-rock incendiário e universal. Combinação onde também entram a dub e o reggae jamaicanos, o raï argelino, o flamenco, a bhangra indiana ou a música electrónica.

"La Mocita", La Musgaña (Espanha) - spanish folk

As músicas do mundo prosseguem com os La Musgaña e "La Mocita", parte integrante do álbum “Temas Profanos”, lançado em 2003. O sexto disco do grupo conta com as colaborações de Carmen Paris, Joaquín Díaz, David Mayoral e Pablo Martín. Em 1986, Enrique Almendros, até então intérprete de música celta, José María Climent e Rafael Martín decidiram formar um grupo centrado na tradição musical da meseta castelhana. Ainda nesse ano, juntaram-se-lhes o flautista Jaime Muñoz e o baixista Carlos Beceiro, únicos elementos que hoje permanecem no quinteto composto ainda por Diego Galaz, Jorge Arribas e Sebastián Rubio. Das melodias de dança às canções de amor, passando pela música para casamentos, os La Musgaña apresentam-nos uma ampla visão musical de uma zona marcada pela herança europeia, africana e mediterrânica. Por entre os temas evocativos destacam-se os ofertórios religiosos, as charradas, ajechaos e charros de Salamanca e Zamora, os bailes corridos de Ávila, os pindongos de Cáceres e as danças, aires e canções de León ou Burgos, ou as jotas, rogativas, dianas e villancicos de Madrid, Segovia e Valladolid. Uma celebração da música tradicional espanhola, à mistura com influências ciganas, mouriscas e celtas, em que os ritmos hipnóticos se constroem com toda uma gama de instrumentos tradicionais (gaita charra, gaita sanabresa, flauta, tamboril, cistro ou sanfona), étnicos (cajón, tar, krakebs, pandeiro iraniano, derbouka, bouzouki, req, sabar, tinajas, bendir ou marímbula) e modernos (clarinete, acordeão diatónico, saxofone soprano, baixo ou violino).

"Romanescu", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Os sevilhanos Rarefolk regressam de novo ao programa com “Romanescu”, tema retirado do álbum “Natural Fractals”, editado em 2006. Quarto e último trabalho dos pioneiros do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da música electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Diversidade sonora que lhes tem permitido partilhar os palcos com músicos prestigiados como os Capercaillie, Shooglenifty, Wolfstones, Luar na Lubre, Berrogüeto, Hevia, Fanfarre Ciocărlia, Kalima, Tomatito, O’Funkillo, Narco, La Cabra Mecânica ou Enemigos. Neste disco, os Rarefolk regressam à sua formação original – Ruben Diez, "Mangu" Díaz, Marcos Munné, Pedro Silva, Fernando Reina e Oscar "Mufas" Valero –, contando com a participação especial do violinista Elo Sánchez (dos andaluzes Sila Na Gig) e do saxofonista Nacho Gil (Caponata Argamacho Trio). Desta feita, eles apresentam-nos uma mistura de instrumentos acústicos com sequências de dança, enveredando por géneros como a breakbeat ou o jungle. Bem para trás fica 1992, ano em que os Rarefolk se deram a conhecer na exposição mundial de Sevilha como Os Carallos e em que começaram a ter uma formação estável.

"Alamino", Koezy (Madagáscar) - salegy
A jornada continua com as Koezy e o tema "Alamino", extraído do álbum “Ma Liberté”, lançado em 2002. Estas cinco jovens pertencem ao povo Sakalava, no nordeste do Madagáscar. Rodeado pelo Índico e situado na quarta maior ilha do planeta, este país possui uma enorme diversidade étnica – nada mais nada menos que dezoito grupos diferentes – mas também uma riqueza histórica assinalável, visto que por aqui passaram árabes, persas, chineses, indianos, portugueses, franceses e ingleses. Espalhados pelas seis províncias - Antananarivo, Fianarantsoa, Tolagniaro, Mahajanga, Toamasina e Antseranana - convivem então estilos como astsapiky, kalon, ny fahiny ou salegy. Porta-vozes deste último género, as Koezy são um dos grupos responsáveis pela modernização da música tradicional da sua região, mas não esquecem as antigas composições. Uma zona marcada pelas canções tradicionais, recheadas de provérbios e acompanhadas por instrumentos de sopro e pela cadência grave de um tambor. No entanto, a expressão sonora de Sakalava que acabou por se estender a todo o território do Madagáscar teve origem nas sessões de transe subconsciente tromba. Um ritual em que os antepassados são invocados com cantos reforçados por uma melodia no acordeão e pelo ritmo do bater de mãos da assistência.

"Fantani", Amadou & Mariam (Mali) - bambara blues, afro pop
A dupla Amadou & Mariam traz-nos “Fantani”, tema retirado do seu terceiro álbum “Tje Ni Mousso” (Homem e Mulher), editado em 1999. Um blues eléctrico, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências inesperadas como o cavaquinho de Pedro Soares. Naquela que é a mais roqueira pop africana, não faltam as habituais alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na música e na vida. Amadou & Mariam prestam então homenagem à música tradicional maliana, revestindo-a de sons ocidentais. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma de recordarem não só as suas raízes mandingo, mas também as ligações do Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.


"Habina", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno
Segue-se Rachid Taha com “Habina” (Nós Amamos), tema retirado do álbum "Diwan", editado em 1998. São arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às melodias e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. Clássicos actualizados num trabalho produzido por Steve Hillage. Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas desde muito cedo que emigrou com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico e compositor residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”), nome que se refere à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do Oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.

"Rumba Califa", Cheb Balowski (Espanha) - pachanga, raï, gnawa, rock
Os catalães Cheb Balowski trazem-nos “Rumba Califa”, tema extraído do álbum "Potiner", lançado em 2003. Segundo trabalho do grupo, produzido por Stephane Carteaux, e em que participam os americanos Kultur Shock, os franceses Radio Bemba, o basco Iñigo Muguruza e os catalães La Carrau. A designação da banda resulta da junção dos termos Cheb ("o jovem", em árabe), complemento habitual nos nomes dos cantores de raï argelinos, e Balowski (em polaco, o verbo balować significa "divertir-se bailando"), apelido do emigrante de Leste interpretado por Alexei Sayle na série de televisão inglesa “The Young Ones”. Formados em 2000 em Barcelona, depois de uma infância comum no bairro de Raval, os Cheb Balowski integram uma dezena de músicos - eles são Yacine Belahcene Benet, Isabel Vinardell Fleck, Marc Llobera Escorsa, Santi Eizaguirre Anglada, Jordi Marfà Vives, Daniel Pitarch Fernández, Jordi Ferrer Savall e Arnau Oliveres Künzi, Jordí Herreros e Sisu Coromina. Cantando em castelhano, catalão, francês e árabe, eles cruzam a música catalã e a cultura mediterrânica com a energia do raï, do gnawa, do reggae e do rock. Um ambiente festivo, que vai do flamenco e da pachanga aos ritmos balcânicos, árabes, africanos e mediterrânicos, assente na sonoridade de violinos, saxofones, trompetes, piano, bateria, acordeão, guitarra, baixo e todo o tipo de percussões.

"Ya Yo No", Andrea Echeverri (Colômbia) - latin rock, colombian folk, country
Despedimo-nos com a colombiana Andrea Echeverri e o tema “Ya Yo No”, extraído do primeiro álbum a solo da vocalista e guitarrista dos Atercipelados, assinado com o seu nome e lançado em 2005. Depois de uma década à frente da banda que mistura o rock alternativo latino com a folk colombiana, Andrea seguiu outros caminhos. Durante a sua gravidez e após o parto, Andrea compôs então uma série de melodias que celebram a magia da maternidade ou o amor ao seu marido e à sua filha Milagros. O resultado é um trabalho que cruza os sons latinos, o rock, a música country e electrónica e o africano highlife com a subtileza da voz de Andrea Echeverri. O disco, gravado em Bogotá, sua cidade natal, por outro membro da banda, o baixista Héctor Buitrago, e misturado por Thom Russo, foi nomeado em 2006 para os Grammys na categoria de Melhor Álbum Latino de Rock Alternativo. Andrea Echeverri colaborou com bandas como Soda Stereo,contando com participações na banda sonora de "La Mujer de mi Hermano", do peruano Jaime Bayly, e no filme "¿Quién dice que es fácil?", do realizador argentino Juan Taratuto.

Jorge Costa

domingo, 6 de janeiro de 2008

Sopa da Pedra elege melhor música tradicional portuguesa

O Sopa da Pedra deciciu reconhecer os melhores álbuns de música tradicional editados em 2007 em Portugal. De acordo com Carlos Norton, realizador do programa do mesmo nome, dedicado à música tradicional europeia, sobretudo a portuguesa, e emitido na Rádio Universitária do Algarve (Faro, 102.7 FM ou online) às quintas-feiras, entre as 20 e as 21 horas, o objectivo destes "prémios" é o de "contribuir para um reconhecimento do trabalho que é feito pelas bandas e gratificar de modesto modo o árduo trabalho que requer fazer música tradicional em Portugal". Eis as escolhas, repartidas em cinco categorias:
  • Melhor Álbum 2007: XAILE, Xaile
  • Melhor Álbum Revelação: PARAINFERNÁLIA, Diabo a Sete
  • Melhor Álbum Carreira: GEOGRAFIAS, Júlio Pereira
  • Melhor Álbum Inovação: CO'AS TAMANQUINHAS DO ZECA!, Couple Coffee & Band
  • Melhor Álbum Tradição: É AO VIVO!, Toques do Caramulo

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

World Music Charts Europe - Janeiro 2008

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Janeiro dos 181 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, para além do moçambicano Deodato Siquir e das três presenças cabo-verdianas - Teofilo Chantre, Tcheka e Mayra Andrade -, as dez novas entradas no topo do painel (duas em estreia absoluta no WMCE e oito a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- THE SOUL OF ARMENIA, Djivan Gasparyan (Arménia) - Network Medien
mês passado: 4ºlugar

2º- ROKKU MI ROKKA, Youssou N'Dour (Senegal) - Nonesuch
mês passado: 3ºlugar
3º- MADE IN DAKAR, Orchestra Baobab (Senegal) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar
4º- LONJI, Tcheka (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 8ºlugar
5º- TAKSIM TRIO, Taksim Trio (Turquia) - Doublemoon Records
mês passado: 12ºlugar
6º- BEL CANTO - BEST OF GENIDIA YEARS, Mbilia Bel (RD Congo) - Sterns
mês passado: 16ºlugar
7º- THE LADIES SECOND SONG, Lais (Bégica) - Bang!
mês passado: 43ºlugar
8º- VIAJA, Teofilo Chantre (Cabo Verde) - Lusafrica
mês passado: 6ºlugar
9º- DEUS ET DIABOLUS, Al Andaluz Project (Espanha, Alemanha) - Galileo
mês passado: 42ºlugar
10º- SOUL SCIENCE, Justin Adams & Juldeh Camara (Reino Unido, Gâmbia) - Wayward
mês passado: 123ºlugar
11º- ELS AMANTS DE LILITH, Lídia Pujol (Espanha) - Temps
mês passado: 62ºlugar
12º- AMETTE, Telek (Papua Nova Guiné) - Swinging Frog

estreia na tabela
13º- AFRIKI, Habib Koite & Bamada (Mali) - Cumbancha
mês passado: 2ºlugar
14º- L'AFRICAIN, Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - Barclay
mês passado: 11ºlugar
15º- NAVEGA, Mayra Andrade (Cabo Verde) - Sony
mês passado: 33ºlugar
16º- DEHESARIO, Acetre (Espanha) - Galileo
estreia na tabela

17º- KIT DIT MIE, Magic System (Costa do Marfim) - EMI
mês passado: 150ºlugar
18º- HURIA, Sanna Kurki-Suonio (Finlândia) - Rockadillo
mês passado: 86ºlugar
19º- BALANÇO, Deodato Siquir (Moçambique, Dinamarca) - NCB
mês passado: 131ºlugar
20º- RAISING SAND, Robert Plant & Alison Krauss (Reiuno Unido, EUA) - Rounder
mês passado: 62ºlugar