sexta-feira, 25 de julho de 2008

Emissão #70 - 26 Julho 2008

A 70ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 26 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 30 de Julho, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (16 e 20 de Agosto) nos horários atrás indicados.

"Comme Couché Dans Le Ciel", Red Cardell (França) - folk-rock
Os Red Cardell a abrirem de novo mais uma emissão, desta feita com “Comme Couché Dans Le Ciel”, tema retirado do álbum “Sans Fard”, sétimo trabalho do grupo, editado em 2003. Originários da cidade francesa de Quimper, eles são uma das mais conhecidas bandas tradicionais da Bretanha. O grupo, formado em 1992 e de que hoje fazem parte Jean-Pierre Riou, Jean-Michel Moal e Manu Masko, começou por tocar em bares. Surgidos no movimento do rock bretão, e à margem da nova vaga celta, os Red Cardell decidiram então fundir as danças e os cantos tradicionais da Bretanha com ritmos da Europa de Leste, da América do Sul ou do norte de África. Uma viagem em que géneros como a folk berbere e ucraniana, o tango, o reggae, a dub, o funk ou o java se juntam com influências diversas que vão do punk rock anglo-saxónico ao rap e ao techno. Geografias sonoras à mistura com textos poéticos em inglês e francês, os quais abordam temas recorrentes no blues, na chanson française ou no gwerz (canto bretão a capella onde se aborda o quotidiano). Um ambiente festivo multi-étnico que tem por base instrumental o acordeão, a bombarda bretã, a flauta, as guitarras acústica e eléctrica, a bateria ou os sintetizadores.

"Pisa Fronteira", Júlio Pereira (Portugal) - folk, acoustic, fusion
A viagem pelas músicas do mundo prossegue com Júlio Pereira e "Pisa Fronteira", tema extraído do álbum “Geografias”, lançado em 2007. Conjunto de inéditos instrumentais baseados em memórias de viagens e experimentações sonoras, resultado da combinação entre bandolim, guitarra portuguesa, viola braguesa, bouzouki e sintetizadores. Depois de muitos anos ligado ao cavaquinho, Júlio Pereira volta-se agora para outro cordofone pequeno, o bandolim, instrumento que o acompanha desde a infância. São sons tradicionais portugueses à mistura com ritmos africanos e orientais, num trabalho que conta com as vozes de Sara Tavares, Isabel Dias (grupo minhoto Raízes) e Marisa Pinto (Donna Maria), bem como Miguel Veras na viola acústica e guitarra e Bernardo Couto na guitarra portuguesa. Júlio Pereira estreou-se no rock com grupos como os Petrus Castrus e os Xarhanga. Da inovação musical dos anos 60/70, à revitalização dos instrumentos tradicionais, a partir dos anos 80/90 Júlio Pereira associou-os a soluções acústicas contemporâneas. Ao longo de mais de três décadas de carreira, o multi-instrumentista, compositor e produtor tem colaborado com músicos como Carlos do Carmo, Amélia Muge, Pedro Burmester, Eugénia Melo e Castro, Zeca e João Afonso, José Mário Branco, Jorge Palma, Janita Salomé ou Fausto, bem como os The Chieftains, Pete Seeger, Kepa Junkera, Xosé Manuel Budiño, Uxia ou Na Lúa. Em Agosto, Júlio Pereira estará no Festival Intercéltico de Moaña, na Galiza (dia 2), e no Tenby Folk Festival, no Reino Unido (dia 25). Seguem-se os concertos em Setembro na Festa do Avante, no Seixal (dia 6), e no Teatro Viriato, em Viseu (dia 13).

"Tu Gitana", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk, folk-rock
No seu regresso ao programa, os Luar Na Lubre apresentam-nos “Tu Gitana”, tema que encerra o álbum “Saudade”, editado em 2006. Composição tradicional de Zeca Afonso, onde participam nomes da música latino-americana como Pablo Milanés. Com uma dezena de trabalhos editados, estes embaixadores da folk celta contemporânea defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem no entanto fecharem portas às influências externas. No seu penúltimo álbum, o grupo da Corunha aposta na música proveniente da América do Sul. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho, os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de três anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas. Em Julho, os Luar na Lubre rumam até Rovinj, na Croácia (dia 26) e Montescudaio, em Itália (dia 27). Já em Agosto, o grupo vai estar no Festival Intercéltico de Sendim, em Miranda do Douro (dia 1), em Zas, na Corunha (dia 2), em Lalín (dia 9) e Pontevedra (17 Agosto), e em Tatihou, na França (dia 21). Finalmente, em Setembro, o grupo ruma até Chinchón, na comunidade de Madrid (dia 13).

"Sportif", Youssou N'Dour (Senegal) - mbalax, afropop
A jornada continua com Youssou n’Dour e "Sportif", tema extraído do álbum “Rokku Mi Rokka” (Apanhar e Levar), lançado em 2007. Trabalho onde o mais famoso cantor senegalês se aproxima dos cantos religiosos sufi, das percussões dos griots e dos sons do norte do Senegal, num apelo à paz, tolerância e valorização do continente africano. No final dos anos 70, o autor, intérprete e músico, que aprendeu a cantar com a mãe, formava com o cantor El Hadj Faye os L'Etoile de Dakar, e em 1981 os Le Super Étoile de Dakar. Cruzando os ritmos sincopados do mbalax senegalês com a pop internacional, numa fusão que inclui o jazz, a soul e arranjos afro-cubanos, o “rouxinol de Dakar” depressa cativou o público ocidental sem no entanto abdicar das suas raízes, conquistando o estatuto de embaixador da música africana. Nos seus temas em wolof e inglês, Youssou N’Dour retrata o mundo da pobreza, da emigração ou os valores culturais africanos. Um dos mais conhecidos a nível global é “Seven Seconds”, gravado com Neneh Cherry. Através da música, Youssou N'Dour pretende quebrar o silêncio das crianças que sofrem e abraçar as causas humanitárias. Da fundação com o seu nome aos concertos em benefício da Amnistia Internacional, o embaixador da boa vontade para as Nações Unidas e para a UNICEF tem por isso mesmo colaborado com músicos como Peter Gabriel, Axelle Red, Sting, Alan Stivell, Bran Van 3000, Wyclef Jean, Paul Simon, Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Branford Marsalis, Ryuichi Sakamoto ou o camaronês Manu Dibango.

"Jirim", Orchestra Baobab (Senegal) - afropop, afrobeat, salsa
A Orchestra Baobab traz-nos “Jirim”, tema retirado do álbum “Made In Dakar”, editado em 2007. Segundo trabalho das estrelas senegalesas da afropop, cinco anos depois da gravação que marcou o regresso da banda após duas décadas de inactividade. Um disco que leva o grupo de volta às suas raízes clubísticas e às actuações de rua, mais uma vez produzido por Nick Gold e onde se destaca a participação de Youssou N’Dour. Neste álbum, a Orchestra Baobab, que a 24 de Julho esteve no Festival de Músicas do Mundo de Sines, recupera de novo o espírito de fusão que a celebrizou. São novas canções à mistura com sucessos dos anos 70, retirados de uma discografia feita de duas dezenas de álbuns. Recorde-se que o grupo se dissolveu em 1987, depois de o percussivo mbalax se ter tornado mais popular do que a sua melódica pop senegalesa. Surgidos em Dakar em 1970 na inauguração do Baobab Club, a banda, cujo nome se refere à majestosa árvore da savana, foi formada em grande parte por veteranos da Star Band. Balla Sidibe, Rudy Gomis, Ndiouga Dieng, Assane Mboup, Medoune Diallo, Barthélemy Attisso, Issa Cissoko, Thierno Koite, Latfi Ben Geloune, Charlie N'Diaye e Mountaga Koite misturam sons tradicionais da África Ocidental com a música cubana e caribenha (son, pachanga, salsa ou bolero) e com a pop ocidental. As melodias crioulas portuguesas, do Togo e Marrocos, a rumba congolesa ou o high life ganês são então adaptados às influências wolof da cultura griot do norte do Senegal, às harmonias mandinga da região de Casamance e às percussões do sul do país.

"Dalida", Boom Pam (Israel) - world fusion, surf rock
Seguem-se os israelitas Boom Pam com “Dalida”, tema que faz parte do álbum do mesmo nome da banda, editado em 2006. Formados três anos antes, altura em que tocavam em clubes e casamentos, os Boom Pam foram buscar a identidade ao cover da canção grega que tocaram com a estrela de rock Berry Sakharof, êxito que ocupou as tabelas israelitas em 2004, à semelhança do que acontecera em 1969 com o cantor grego Aris San, emigrado em Tel Aviv. Os guitarristas Uzi Feinerman e Uri Brauner Kinrot começaram por experimentar sons orientais, até que se lhes juntaram a tuba de Yuval “Tubi” Zolotov e as percussões de Dudu Kohav. Depois do sucesso alcançado no Médio Oriente, eles chegaram ao público europeu, graças sobretudo ao DJ Shantel, que co-produziu o seu primeiro lançamento internacional e os descobriu numa das suas visitas a Tel Aviv, convidando-os então a participarem em vários espectáculos no seu Bucovina Club em Berlim, Frankfurt, Colónia e Zurique. Onde quer que actuassem, os Boom Pam deixavam o público em brasa com a sua mistura enérgica de rock do Médio Oriente com sons dos Balcãs, alguma irreverência e muito groove. Fugindo ao cliché do klezmer, geralmente associado à música judaica, eles criam um cocktail dos diferentes estilos que habitualmente se cruzam em Tel Aviv. Uma fusão única de estilos mediterrânicos, balcânicos e gregos, combinados com melodias judaicas, surf rock e música circense..

"Ladino Song", Oi Va Voi (Reino Unido) - jewish music, electro, world fusion
Os Oi Va Voi (“Oh, Meu Deus!” em hebraico) trazem-nos “Ladino Song”, tema extraído do álbum “Laughter Through Tears”, lançado em 2003. A banda radicada em Londres, cidade onde a herança cultural judaica se combina com os actuais ritmos de dança, apresenta composições próprias e uma mistura de sons globais, originários sobretudo da Europa de Leste e do Mediterrâneo. No final da década de 1990, cinco músicos das comunidades judaicas da capital inglesa decidiram juntar-se num projecto comum, servindo-se de percursos distintos que abrangem não só a música klezmer mas também o flamenco, a folk húngara, o jazz, o hip-hop, o rock ou o drum n'bass. Ultrapassadas as atribulações do passado, actualmente a banda é formada por Nik Ammar, Bridgette Amofah, Josh Breslaw, Matt Jury, Steve Levi, David Orchant e Anna Phoebe. Conhecidos pelas suas actuações ao vivo, os Oi Va Voi, que a 10 de Agosto vão estar no Festival Sons do Atlântico, no Algarve, combinam de forma única a música tradicional dos judeus sefarditas e ashkenazi (judeus europeus) das shtetl (povoações onde estes viviam) e dos ciganos transilvanos com a dub, a breakbeat ou a música urbana londrina. Influências tradicionais do oriente europeu que contam com instrumentos como o clarinete, o violino, o trompete, a guitarra, a bateria, o baixo e a melódica, e que são actualizadas com arranjos electrónicos e letras grande parte das vezes em ladino (língua semelhante ao castelhano, falada pelas comunidades sefarditas em Espanha, nos Balcãs, Próximo Oriente e norte de Marrocos).

"Gwyra Mi", Ramiro Musotto (Argentina) - samba, reggae, electronica
Despedimo-nos com Ramiro Musotto, que nos traz “Gwyra Mi”, canção extraída do seu segundo álbum a solo “Civilizacao & Barbarye”, lançado este ano. Adaptação de um tema da tribo guarani Tenondé Porã, onde as vozes das crianças indígenas do Morro da Saudade, no sul de São Paulo, se misturam com excertos de um discurso do rebelde mexicano que lidera o Exército Zapatista de Liberação Nacional. Trabalho baptizado com o nome do ensaio político de Domingo Faustino Sarmiento, onde participam músicos do Brasil, Cuba, Argentina, Estados Unidos, Irão ou Suécia como Glauber Rocha, Gato Barbieri, Lulu Santos, Lelo Zanetti, Lucas Santtana, Chico César, Léo Leobons, Arto Lindsay, Santiago Vazquez, Rostam Miriashari ou Sebastian Notini. São ritmos tribais e cantos indígenas, da capoeira aos rituais do candomblé, todos eles transformados num samba-reggae electrónico, a que se juntam berimbaus com diferentes afinações, os pífaros, a kanjira (membrafone da família da pandeireta, típico do sul da Índia) e a mbira (idiofone de lamelas, também conhecido por kalimba, utilizado em cerimónias religiosas). O compositor, produtor e percussionista argentino cruza o samba e a pop brasileira com os ritmos africanos e a música electrónica. Uma aposta clara na diversidade rítmica, mas também nas letras que incidem nos problemas sociais da América Latina. Nascido em Bahía Blanca, na Patagónia, Ramiro Musotto começou a tocar em orquestras sinfónicas. Depois de uma breve passagem por São Paulo, o músico mudou-se para Salvador da Baía, onde se especializaria em instrumentos como o berimbau e o timbal baiano (tambor cónico de Madeira ou metal). Para além de tocar com a orquestra Sudaka, Ramiro Musotto tem vindo a colaborar com artistas brasileiros e argentinos como Carlinhos Brown, Sérgio Mendes, Caetano Veloso, Daniela Mercury, Gilberto Gil, Marisa Monte, Virginia Rodriguez, Maria Bethânia, Zeca Baleiro ou Gal Costa. .

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Emissão #69 - 12 Julho 2008

A 69ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 12 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 16 de Julho, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (2 e 6 de Agosto) nos horários atrás indicados.

"American Wedding", Gogol Bordello (EUA) - gypsy punk, rock
Os Gogol Bordello inauguram mais uma emissão, desta feita com “American Wedding”, tema onde eles descrevem um casamento americano algo infeliz, onde não há vodka nem arenque marinado. Música retirada do álbum “Super Taranta!”, quarto trabalho do grupo, editado em 2007. Tal como o escritor Nikolai Gogol introduziu a cultura ucraniana na sociedade russa, os Gogol Bordello procuram levar os sons ciganos para a música anglo-saxónica. Surgido em 1998 com o nome de Hutz & The Béla Bartóks, este colectivo de emigrantes oriundos da Ucrânia, Rússia, Israel ou Etiópia, criou o cabaret gypsy punk, amálgama burlesca que eles dizem ser uma espécie de rock n’roll cigano. Tudo começou com o interesse do ucraniano Eugene Hütz pela contracultura musical do ocidente, de Jimi Hendrix aos Sonic Youth, paixão que o fez deixar Kiev e viajar pela Polónia, Hungria, Áustria e Itália. Em 1993, o jovem instalou-se em Nova Iorque, onde começou por remisturar os sons da música cigana dos Balcãs e da Europa de Leste com a dub e o raï argelino. Ritmos frenéticos e festivos a que hoje, com os Gogol Bordello – de que fazem também parte Eliot Ferguson, Oren Kaplan, Sergey Ryabtsev, Yuri Lemeshev, Pamela Racine, Elizabeth Sun e Thomas Gobena -, se juntam o rockabilly ou o ska. O resultado é um punk-rock incendiário, feito da ligação entre violino, acordeão, guitarras acústica e eléctrica, baixo e bateria. Em palco, fala-se de política, religião e sexo, sempre com humor e muita dança à mistura. No currículo, a banda conta com as participações no filme “Everything Is Iluminated” (2005), de Liv Schreiber, e em “Filth & Wisdom” (2008), de Madonna, bem como no projecto J.U.F., em conjunto com os Balkan Beat Box. Se a 10 de Julho não conseguiu ver os Gogol Bordello no Optimus Alive Festival de Lisboa (o concerto foi transmitido em directo pela SIC Radical), em alternativa pode fazê-lo em Agosto nas localidades espanholas de Gijón, nas Astúrias (dia 12), e Vilagarcía de Arousa, na Galiza (dia 14).

"Pasapeanas", Biella Nuei (Espanha) - spanish folk
A viagem pelas músicas do mundo continua com os Biella Nuei e "Pasapeanas", tema extraído do álbum “Sol d’Iberno”, lançado em 2006. Melodia bailada em Gallur, na província de Saragoça, durante a procissão de Santo António de Pádua e de São Pedro. Parte de um trabalho produzido por Juan Alberto Arteche, e que encerra a triologia iniciada com “Las Aves Y Las Flores” (1994) e “Solombra” (1998), abrindo portas a uma fase mais criativa e menos etnocêntrica no percurso deste grupo fundado por Luís Miguel Bajén na década de 1980. Álbum optimista e alegre, onde os Biella Nuei se abrem às percussões das culturas andaluza ou latina, e que conta com a participação de músicos como Eliseo Parra ou La Ronda de Boltaña. Nos primeiros anos, o septeto centrou-se no estudo e divulgação da tradição oral aragonesa, no desenvolvimento de repertório próprio e no fabrico de instrumentos como a gaita de boto, o saltério, o pífaro ou a dulzaina. Hoje permanece a variedade de instrumentos, melodias e ritmos tradicionais religiosos ou pagãos daquela região (jotas, pasacalles, tarantainas ou passeíllos), mas a free folk da banda, mestiçagem étnica sempre ligada aos movimentos sociais (entre eles os neorurais), cruza-se com outras culturas, deixando-se influenciar, entre outros géneros, pelos blues, pela rumba, pela choutiça ou pela soul cubana. Nas suas peregrinações sonoras, os Biella Nuei, que em palco se apresentam ainda com uma formação mais pequena - os Bufacalibos -, têm vindo a tocar com Carlos Núñez, Cristina Pato, Chico Sánchez Ferlosio, Kepa Junkera, Mauricio Martinotti, The Oysterband ou os Gwendal.

"Aguas Vertientes", La Musgaña (Espanha) - spanish folk
No seu regresso ao programa, os La Musgaña trazem-nos “Aguas Vertientes”, tema que faz parte do álbum “Temas Profanos”, editado em 2003. O sexto disco do grupo conta com as colaborações de Carmen Paris, Joaquín Díaz, David Mayoral e Pablo Martín. Em 1986, Enrique Almendros, até então intérprete de música celta, José María Climent e Rafael Martín decidiram formar um grupo centrado na tradição musical da meseta castelhana. Ainda nesse ano, juntaram-se-lhes o flautista Jaime Muñoz e o baixista Carlos Beceiro, únicos elementos que hoje permanecem no quinteto composto ainda por Diego Galaz, Jorge Arribas e Sebastián Rubio. Das melodias de dança às canções de amor, passando pela música para casamentos, os La Musgaña apresentam-nos uma ampla visão musical de uma zona marcada pela herança europeia, africana e mediterrânica. Por entre os temas evocativos destacam-se os ofertórios religiosos, as charradas, ajechaos e charros de Salamanca e Zamora, os bailes corridos de Ávila, os pindongos de Cáceres e as danças, aires e canções de León ou Burgos, ou as jotas, rogativas, dianas e villancicos de Madrid, Segovia e Valladolid. Uma celebração da música tradicional espanhola, à mistura com influências ciganas, mouriscas e celtas, em que os ritmos hipnóticos se constroem com toda uma gama de instrumentos tradicionais (gaita charra, gaita sanabresa, flauta, tamboril, cistro ou sanfona), étnicos (cajón, tar, krakeb, pandeiro iraniano, derbouka, bouzouki, req, sabar, tinajas, bendir ou marímbula) e modernos (clarinete, acordeão diatónico, saxofone soprano, baixo ou violino).

"Ya Rayah", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno
A jornada continua com Rachid Taha e "Ya Rayah", original do argelino Dahamane El Harrachi sobre a alienação dos emigrantes, extraído do álbum “Diwan”, lançado em 1998. São arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às melodias e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. Clássicos actualizados num trabalho produzido por Steve Hillage. Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas desde muito cedo que emigrou com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico e compositor residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”), nome que se refere à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do Oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.

"Bèlomi Bènna", Mahmoud Ahmed (Etiópia) - eskeusta, afropop, ethiopian jazz
No seu regresso ao programa, Mahmoud Ahmed apresenta-nos “Bèlomi Bènna”, melancólica canção de amor retirada do álbum “Éthiopiques 7 – Erè Mèla Mèla”, editado em 1999. Um tema com duas partes ("Erè Mèla Mèla" e "Mètché Nèw"), originalmente lançado em 1975, e que integra uma colectânea retrospectiva sobre a obra de diversos cantores e instrumentistas da música popular e tradicional da Etiópia e Eritreia, entre eles Alemayehu Eshete, Asnaketch Worku, Mulatu Astatke e Tilahun Gessesse. Nascido em Adis Abeba, onde ainda vive, Mahmoud Ahmed é um cantor de origem gurage, etnia do sudoeste da capital etíope, conhecida pelas suas danças tradicionais exuberantes. O músico, um dos mais conhecidos representantes do jazz daquele país, estreou-se nos anos 60 no Arizona Club, cantando com a banda do capitão Girma Hadgue. Mais tarde, integrou a banda da Guarda Imperial de Haile Selassie, tendo vindo a colaborar com formações como Roha Band, Musicians Titesh, Dahlack Band ou Idan Raichel Project. Com uma voz multitímbrica, Mahmoud Ahmed é o rei da eskeusta (“êxtase”), género que cruza os ritmos complexos e repetitivos da música tradicional amárica com a pop, o free jazz, a soul, o funk, o rhythm & blues ou a dub. Uma mistura de sabor indiano, acompanhada quase sempre por sons ora eléctricos, ora acústicos, onde é possível encontrar instrumentos como o krar (cordofone de cinco ou seis corda, semelhante à lira, característico da Eritreia e da Etiópia), a guitarra e o bandolim. São canções de amor cujas letras escondem desabafos políticos, imagem de uma carreira feita de persistência quanto baste. Grande parte da extensa discografia do músico foi gravada durante os anos 70, uma actividade interrompida com a repressão política de Mengistu e dos governos seguintes. Há três décadas que a lenda viva da Etiópia não edita um disco de originais, e há quase vinte que não compõe. Contudo, e ainda que pouco conhecido no ocidente, Mahmoud Ahmed e a sua banda tocam ocasionalmente junto dos seus compatriotas exilados na Europa e nos Estados Unidos.

"Johda Mua", Sanna Kurki-Suonio (Finlândia) - finnish folk
Na sua estreia no programa, Sanna Kurki-Suonio traz-nos “Johda Mua” (Leva-me), tema extraído do álbum “Musta” (“negro”, em finlandês, mas também abreviatura de minusta, o que significa "de mim"), seu primeiro trabalho a solo, lançado em 1998. Disco onde a cantora e compositora finlandesa, tocadora de kantele (versão finlandesa do zither, da família da cítara), recupera a tradição vocal do seu país e daquele instrumento, explorando técnicas e estilos modernos e cruzando instrumentação acústica (acordeão, guitarra acústica, guitarra baixo, violoncelo, trompete e percussões) e electrónica (teclados). Produzido por Martyn Ware, produtor de artistas como Tina Turner e Chaka Khan, este álbum reúne as participações de Eicca Toppinen, Pekka Tegelman, Tapio Aaltonen, Seppo Kantonen e Otto Donner. Nascida em 1966, Sanna Kurki-Suonio, que se serve da música para expressar o que não pode ser dito verbalmente, aprendeu a cantar antes de pronunciar as primeiras palavras. Fundadora dos Loituma, quarteto finlandês que combina a tradição vocal daquele país com o kantele, durante quase uma década Sanna acompanhou os suecos Hedningarna, tocando com a banda por todo o mundo e participando em três dos seus trabalhos – “Kaksi” (1992), “Trä” (1994) e “Karelia Visa” (1999). Seguiu-se uma digressão nos Estados Unidos e Europa com o sueco Magnus Stinnerbom, o concerto de celebração dos 150 anos do Kalevala, o épico finlandês, ao lado do baixista Aki Ville Yrjänä, e a participação em trabalhos de músicos noruegueses e finlandeses como Ismo Alanko, Pekka Lehti, Hannu Saha, Transjoik, Frode Fjellheim ou Tellu Turkka. Entretanto, à discografia de Sanna Kurki-Suonio somam-se mais dois discos - “Kainuu” (2004) e “Huria” (2007) –, desta feita com a também tocadora de kantele Riitta Huttunen. Enquanto que o primeiro recupera canções e hinos tradicionais finlandeses da região de Kainuu, o segundo explora a folk da Carélia e apresenta melodias originais, contando com a participação adicional do multinstrumentista Jari Lappalainen.

"Skåne", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Seguem-se os Hedningarna com “Skåne”, tema que faz parte do álbum “Hippjokk”, editado em 1997. Trabalho onde o ressurgido ensemble musical, agora já sem o canto yoik/juoiggus das finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Anita Lehtola, tem por convidados o joiker finlândes Wimme Saari, o guitarrista norueguês Knut Reiersrud, Johan Liljemak, Ola Bäckström e Ulf Ivarsson. Das incursões pelo mundo do rock à pop e ao techno, os Hedningarna (em sueco, hedning significa "pagão") misturam sonoridades contemporâneas com elementos da música tradicional nórdica. Temas que a banda, formada em 1987 e da qual hoje fazem parte Anders Skate Norudde, Hållbus Totte Mattsson, Christian Svensson e Magnus Stinnerbom, reinterpreta de forma livre e inventiva, juntando-lhe ainda percussões acústicas e electrónicas. Para isso, servem-se de antigos instrumentos de vários países do norte da Europa, e não só, como a moraharpa (versão medieval da nyckelharpa, harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas), a stråkharpa (lira nórdica de arco), o lagbordun, o hummel (cordofone sueco, da família da cítara e semelhante ao norueguês langeleik), a mandora (cordofone da família do alaúde), o oud (alaúde árabe), a sanfona, a guitarra barroca, a flauta transversal, o violino, a gaita sueca, o acordeão, o didgeridoo e o pandeiro.

"Seeing Hands", Dengue Fever (EUA) - khmer rock, cambodian folk, pop
A viagem chega ao fim com os Dengue Fever, que nos trazem “Seeing Hands”, tema extraído do álbum “Venus On Earth”, lançado este ano. Terceiro trabalho do grupo californiano, feito dos habituais covers de khmer rock (entre os artistas revisitados destacam-se Sinn Sisamouth ou Ros Sereysothea), mas a que agora se juntam os originais e as canções em inglês. Formados pelos irmãos Ethan e Zac Holtzman, os Dengue Fever surgiram em 2001. A inspiração sonora veio de uma viagem feita quatro anos antes ao Cambodja, altura em que um amigo de ambos contraiu a doença tropical que acabaria por baptizar o grupo, encabeçado pela cambodjana Chhom Nimol, e a que se juntam Senon Williams, David Ralicke e Paul Smith. Aqui a única febre é mesmo a da pop e do rock que dominou as rádios e as jukeboxes do Cambodja nos anos 60, sons influenciados pelo rock americano e pelas primeiras bandas de garagem do vizinho Vietname. São versões renovadas do surf e do garage rock psicadélicos, sempre acompanhadas pela guitarra e guitarra baixo, saxofone, órgão electrónico e percussões. Ritmos que o sexteto de Los Angeles cruza com amostras das bandas sonoras de Bollywood, a soul, o funk e o jazz etíopes, o rhythm & blues americano ou a folk cambodjana. O resultado é uma mistura de sons locais com rock de todo o planeta. Retrato patente aliás no documentário “Sleepwalking Through the Mekong”, fruto da primeira visita da banda ao Cambodja, em 2005, numa digressão bem ao estilo dos pioneiros do rock naquele país asiático. Em Agosto, os Dengue Fever vão estar em Portugal, primeiro no Festival Internacional de Música de Viana do Castelo (dia 15) e depois no Festival de Músicas do Mar, na Póvoa do Varzim (dias 21 e 29).

terça-feira, 1 de julho de 2008

World Music Charts Europe - Julho 2008

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Julho dos 180 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a manutenção da liderança e as dez novas entradas no topo do painel (três em estreia absoluta no WMCE e sete a subirem para os primeiros vinte lugares):

1º- UMALALI: THE GARIFUNA WOMEN'S PROJECT, vários (Belize, Guatemala) - Cumbancha
mês passado: 1ºlugar

2º- ALIVE, Sa Dingding (China) - Wrasse
mês passado: 4ºlugar
3º- EXTRAORDINARY RENDITION, Rupa & The April Fishes (EUA) - Cumbancha
mês passado: 91ºlugar
4º- 3MA, Project 3MA: Rajery, Ballake Sissoko, Driss El Maloumi (Mali, Marrocos, Madagáscar) - Contre-Jour
mês passado: 2ºlugar
5º- MALDITO TANGO, Melingo (Argentina) - Naive
mês passado: 3ºlugar
6º- DESERT BLUES 3, vários - Network
mês passado: 5ºlugar
7º- IN THE NAME OF LOVE - AFRICA CELEBRATES U2, vários - Shout/Wrasse
mês passado: 9ºlugar
8º- THE SYLIPHONE YEARS, Balla et ses Balladins (Guiné) - Sterns
mês passado: 6ºlugar
9º- AFRICAN SCREAM CONTEST, vários - Analog Africa
mês passado: 8ºlugar
10º- WANDERLUST, Kiran Ahluwalia (Canadá, Índia) - World Connection
mês passado: 10ºlugar
11º- TCHAMANTCHE, Rokia Traoré (Mali) - Universal
mês passado: 23ºlugar
12º- WATCHA PLAYIN, Brooklyn Funk Essentials (EUA) - Tropical
mês passado: 13ºlugar
13º- UPMIXING, Warsaw Village Band (Polónia) - Jaro
mês passado: 21ºlugar
14º- ASA, Asa (Nigéria, França) - Naive
mês passado: 47ºlugar
15º- AROUND THE WORLD, Senor Coconut (Alemanha, Chile) - Essay Recordings
estreia na tabela 
16º- IN DOTE, Jessica Lombardi (Itália) - Radici
estreia na tabela 
17º- PRINCES AMONGST MEN - JOURNEY WITH GIPSY MUSICIANS, vários - Asphalt Tango
mês passado: 38ºlugar
18º- BAILA QUERIDA, Tango Crash (Argentina, Alemanha) - Galileo MC
estreia na tabela
19º- ANA HINA, Natacha Atlas (Reino Unido) - World Village
mês passado: 144ºlugar
20º- CALCUTTA CHRONICLES, Debashish Bhattacharya (Índia) - Riverboat
mês passado: 26ºlugar