quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Emissão #31 - 25 Novembro 2006

A 31ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 25 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 27 de Novembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (16 e 18 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

Uma edição em que se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas que passaram nas últimas dez emissões deste programa. Eis a listagem do melhor dos melhores temas do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO:

"Ghole Pamtschal", Schäl Sick Brass Band (Alemanha) - brass band, jazz, folk

"Iddjagieđas", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues

"Kekko", Kimmo Pohjonen (Finlândia) - folk-rock, electronic folk

"Olhos de Maré", Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion

"Per la Boca", L'Ham de Foc (Espanha) - traditional folk

"Todii", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music

"Françafrique",Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae

"Ghali Ya Bouy", Smadar Levi (Israel, EUA) - bellydance

"El Wejda", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music

"The Beat Of Love", Trilok Gurtu (Índia) - world, jazz, khylal

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa

sábado, 11 de novembro de 2006

Emissão #30 - 11 Novembro 2006

A 30ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 11 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 13 de Novembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (2 e 4 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

"Mile Marbshaisg Air A Ghaol", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie a inaugurarem a emissão com o tema “Mile Marbhaisg Air A Ghaol” (Mil Feitiços no Amor), extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Tristos Ulls", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) regressam mais uma vez ao programa, desta feita com “Tristos Ulls”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Eixe Elástico",
Xosé Manuel Budiño (Espanha) - folk, celtic music
O galego Xosé Manuel Budiño com "Eixe Elástico", mais um tema extraído do seu segundo álbum "Arredor", lançado em 2000. Um trabalho eclético e vanguardista, em que este jovem de Moaña - localidade com grande tradição gaiteira, situada junto a Pontevedra - pretendeu dar um salto definitivo na sua carreira artística. O álbum aproxima-se de géneros como o funky, o drum'n'bass, o rock, a new age e a folk, numa panóplia de ritmos e timbres que fazem dele um dos mais ousados tendo como protagonista um instrumento tradicional. Xosé Manuel Budiño procura então adaptar a gaita-de-foles à era da música electrónica, servindo-se da técnica para extrair dela e de outros instrumentos um universo infinito de harmonias, melodias e ritmos. Outro objectivo de Budiño é o de dar a conhecer a música criada na Galiza, numa viagem em redor de territórios físicos e sonoros. Entre outros instrumentos, nos doze temas deste disco fazem-se ouvir as gaitas galega e irlandesa, o low whistle, o bouzouki, o baixo, o acordeão e o clarinete. Um trabalho onde participam os músicos Leandro Deltell, Xan Hernández, Pedro Pascual, Xavier Díaz e Pablo Alonso, e em que são convidados especiais José Climent, o bretão Jacky Molard, as galegas Leilía e Mercedes Peón, os escoceses Donald Shaw e Tony McManus, bem como Ove Larsson, Paco Ibáñez e William Gibbs.

"Yekanini", Shiyani Ngocobo
(África do Sul) - maskanda
Avançamos agora até à África do Sul com o tema "Yekanini" (Tudo Está Perdido), extraído do álbum "Introducing Shiyani Ngcobo", lançado em 2004. O mestre da maskanda nasceu em Umzinto, na costa sul de KwaZulu-Natal, região marcada pela pobreza e pelo êxodo urbano. Na infância, foi com o irmão mais velho que Shiyani Ngcobo construiu a sua primeira igogogo, uma guitarra feita a partir de uma lata de óleo. Fiel à estética inicial da maskanda, há mais de três décadas que o músico se dedica a este género, associando-lhe no entanto uma variedade de ritmos provenientes de outros estilos musicais. Com uma precisão elástica e um repertório diversificado, Shiyani Ngcobo dá voz aos dilemas e sonhos de uma geração de sul-africanos dos tempos do apartheid, sem no entanto cair nos seus estereótipos. A maskanda é um estilo tradicional zulu, surgido no início do século XX e associado aos trabalhadores e migrantes rurais, os quais cantavam sobre a sua nova vida na cidade e lembravam com nostalgia o passado no campo. Originalmente consistia numa técnica musical, conhecida por ukupika, que mais não era senão uma forma de adaptar ritmos tradicionais à guitarra acústica. Um género identificável pelas secções rápidas faladas ao estilo da izibongo, a poesia religiosa zulu. Na maskanda, em que subsistem reminescências dos tempos pré-coloniais, cada variante surge associada a uma comunidade regional sul-africana, diferenciando-se de acordo com os ritmos ou diferentes padrões de dança.

"Saye Mogo Bana",
Issa Bagayogo (Mali) - mandig, wassoulou, afro-electro
Uma viagem até ao Mali com Issa Bagayogo e o tema “Saye Mogo Bana”, extraído do álbum “Timbuktu”, o segundo deste cantautor e editado em 2002. Issa Bagayogo cresceu numa pequena aldeia isolada, tendo então aprendido a tocar a kamele n’goni (uma harpa de caçador, equipada com seis cordas). Nos anos 90 foi até à capital, Bamako, onde conheceu o produtor Yves Wernert e o guitarrista Moussa Kone. Juntos decidiram fundir dois géneros tradicionais da música do Mali – o mandig e o wassoulou – com o techno (no seu país, Bagayogo é mesmo conhecido por “Techno-Issa”). O resultado é um género chamado de afro-electro. As sonoridades griot e as velhas melodias do deserto cruzam-se então com a dub e com a música electrónica de dança. Um híbrido entre sons tradicionais e electrónicos que abre novas fronteiras às centenárias raízes Wassulu do sudoeste do Mali. O nome escolhido para este trabalho presta homenagem à cidade maliana que outrora integrou a rota de caravanas que atravessava o Saára e que foi um importante centro de expansão do Islão. Nas letras deste disco, Issa Bagayogo deixa mesmo clara a esperança de que Timbuktu, capital intelectual e espiritual no final da dinastia Mandingo Askia (século XVI) seja uma cidade multi-étnica, onde muçulmanos, cristãos e vários grupos étnicos do Mali consigam viver em tranquilidade. Acompanhado por um coro feminino, Issa Bagayogo aborda assuntos como a comunidade, o casamento, a tolerância racial, a globalização e a toxicodependência. No tema que escutámos, a morte é a principal referência. Uma canção antiga, à mistura com percussão e cordas eléctricas, onde se recorda que "a morte leva-nos a carne mas não o nome”…

"Sahara Neb Gija", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music
Os sons deste planeta musical continuam com o tema “El Wedja”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Maname Diname", Cheb I Sabbah (Argélia, EUA) - hindustani music
A viagem prossegue com Cheb I Sabbah, que nos traz "Maname Diname", tema extraído do álbum "Krishna Lila", lançado em 2002. Terceiro trabalho deste DJ argelino de ascendência judaica, que deixou o seu país na década de 60 e actualmente vive em São Francisco, nos Estados Unidos. Chebijii, nome pelo qual Cheb I Sabbah gosta de ser tratado, passou várias décadas a reunir sons nativos de Marraquexe, Nova Iorque e Nova Deli, sendo um grande apreciador e estudioso da música clássica hindu. Tal como acontece noutras religiões, no hinduísmo o canto é considerado uma prática de fé que permite uma aproximação com Deus. "Krishna Lila" é precisamente uma recolha de nove bhajans (canções de devoção) que para além de serem acompanhadas por instrumentos tradicionais hindus como a tabla, são misturados com ritmos de dança e batidas electrónicas. Neste álbum mais introspectivo, gravado em cinco dialectos hindus, Chebijii conta com a participação de Karsh Kale e Bill Laswell. Grande parte do disco baseia-se nas tradições da folk clássica indiana, com predominância da cítara de Ravi Shankar ou Ashwin Batish, e nos ritmos da tabla do Médio Oriente, em que têm especial influência percussionistas como Zakir Hussain. Mesmo não sendo indiano, Cheb I Sabbah é um dos maiores representantes do chamado asian underground, um movimento de artistas com origem étnica na Índia e Paquistão que vivem em grandes cidades do ocidente como Londres, Paris, Nova Iorque e São Francisco, e que fundem a sua cultura original com influências ocidentais e elementos electrónicos.

"l'Orient Est Rouge", Koçani Orkestar
(Macedónia) & Lightning Head (Reino Unido) - gypsy brass band, gypsy oriental music
A fechar o programa, despedimo-nos com a Koçani Orkestar, que nos traz o tema "L'Orient Est Rouge". Uma versão remisturada por Lightning Head e extraída da colectânea "Electric Gypsyland", editada no ano passado. Originários da cidade macedónia do mesmo nome, os Koçani Orkestar são uma das mais conhecidas fanfarras ciganas daquele país (na Macedónia estes agrupamentos são conhecidos por duvaçki orkestar), bandas criadas originalmente século XIX para imitar as fanfarras militares turcas, e que acabariam por substituir os tradicionais ensembles. Liderada pelo trompetista Naat Veliov e com um repertório simultaneamente tradicional e contemporâneo, a Koçani Orkestar mistura o som das fanfarras com ritmos de dança turcos e búlgaros e melodias ciganas dos Balcãs. O resultado é uma frenética festa sonora, bem ao estilo de um género descrito localmente como romska orientalna musika (música cigana oriental), e composta por uma poderosa secção rítmica, encabeçada por quatro tubas e acompanhada pelo saxofone, pela trompete, pelo clarinete e pelo acordeão. Com a sua crescente projecção mundial, o ritmo da música cigana dos Balcãs acabou por chamar a atenção de produtores de música electrónica como Lightning Head, nome artístico do inglês Glyn "Bigga" Bush. Tornar a música sensual é o objectivo deste DJ, habituado a misturar ritmos da música brasileira, como o samba e a batucada, com géneros jamaicanos como o reggae, a dub, o ska, o rocksteady e a ragga, ou mesmo o boogaloo e a salsa. Energia e sensualidade estão assim combinadas neste “oriente vestido de vermelho”…

Jorge Costa

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Entrelaços: o reduto da música tradicional

Na sua sétima edição, o Entrelaços é um dos poucos redutos regulares de música do mundo na Beira Interior. O fraco orçamento levou a que este ano a aposta se limitasse aos grupos portugueses e à tradicional prata da casa. Memos assim, houve revelações: os CoMcORdAs, trio de cordas de Alcains que funde o swing com o jazz e a música cigana, e os bem dispostos Mu, banda folk inspirada nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo.


A música e a dança dos Mu animaram o Entrelaços
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

De regresso do Cine-Teatro Avenida, o Entrelaços – Festival Internacional de Música Tradicional de Castelo Branco continua a ser um dos poucos redutos regulares de música do mundo na Beira Interior. De resto, na região quase só há a recordar a tímida mas ousada experiência do Ethnicu, o Festival Internacional de Música Étnica da Beira Interior, então integrado na semana académica da Covilhã, e que entre 1999 e 2003 varreu vários quadrantes das músicas do mundo, englobando ainda a exibição de documentários bem como a realização de ateliês e exposições sobre a música tradicional. No entanto, nem tudo são reminiscências. Este ano surgiu no Sabugal o Festival de Música Tradicional do Alto-Côa, sinal de que na Beira Interior existe gente com vontade de apostar na área.

O orçamento disponível não permitiu grandes voos à organização do Entrelaços, que este ano se ficou pelos grupos portugueses e pela já habitual prata da casa. Mesmo assim, houve lugar a duas revelações: os CoMcORdAs, trio de cordas de Alcains que funde o swing com o jazz e a música cigana, e os sempre bem dispostos Mu, banda de folk que se inspirou nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo.

O evento arrancou a 14 de Outubro com a Orquestra de Harmónicas de Ponte de Sôr e com a música irlandesa, galega e portuguesa dos Lumen. A luz fez-se uma semana depois, a 21 de Outubro, com a subida ao palco dos CoMcORdAs e dos portuenses Mu. A encerrar o festival, a 28 de Outubro, estiveram a Orquestra Típica Albicastrense e a música popular dos Musicalbi, estes últimos anfitriões do certame.


No entender de Carlos Salvado, o festival é uma aposta ganha
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

Carlos Salvado, da organização, reconhece as alterações feitas ao formato original do festival, uma ponte de criação de laços de amizade, inaugurada em 2000. No entanto, e apesar da programação ter de seguir à risca a linha permitida pelo orçamento, este acredita que o festival encontrou a sua identidade e o seu público. “A qualidade dos grupos é notória e tem vindo a subir”, explica o porta-voz dos Musicalbi. “Felizmente que temos tido cada vez mais a adesão do público”.

Dar a conhecer a música do planeta é o objectivo deste festival. "Queremos mostrar às pessoas um pouco da cultura musical que se faz no mundo. Se pudermos fazer isso com grupos portugueses, fica-nos mais barato”, confessa Carlos Salvado. “Logicamente que gostaríamos de ter aqui músicos dos mais variados sítios, mas felizmente que em Portugal vamos tendo grupos que representam muito bem este género, só que ainda são totalmente desconhecidos pelo público".

O evento começou por se posicionar no âmbito da música tradicional, mas quer abrir as portas a novas tendências, em particular àquelas onde a folk se mistura com outras paragens sonoras. “O Entrelaços começa a ter uma abertura tão grande no mercado nacional, que já são os próprios grupos que fazem questão de vir tocar a este festival”, refere o mesmo responsável, que em 2007 espera que os apoios institucionais – o da autarquia e o da junta de freguesia – se mantenham. O desafio, esse é o mesmo: o de melhorar a qualidade do evento para que este continue por muitos anos.


Os discípulos de Django Reinhardt
Os
CoMcORdAs, que como o próprio nome indica se trata de uma formação de cordas, são o mais recente rebento dos Ventos da Líria, um grupo de música celta irlandesa de Alcains. O nome não podia ser mais apropriado, visto que os três músicos que o integram tocam duas guitarras e um baixo.

Gil Duarte (guitarra ritmo), António Preto (guitarra solo) e Gonçalo Rafael (baixo acústico), que já faziam parte da primeira banda, fundem então o swing com o jazz e a música cigana e levam-nos numa viagem acústica pelo reportório de Django Reinhardt, pioneiro do jazz manouche, género que nas décadas de 1930 e 1940 introduziu a guitarra e a música cigana no jazz e nas big bands europeias. “Começámos a brincar com um CD manouche, que achámos muito giro, e vimos que poderíamos fazer um grupo diferente, porque é um estilo de música pouco usual”, refere Gil Duarte.


Gil Duarte acredita que o grupo está no bom caminho
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

Inicialmente, a ideia do grupo era a de participar apenas com três ou quatro temas num ciclo anual de cinema em Alcains, mas o rumo depressa se alterou. “Fomo-nos entusiasmando e arranjando mais temas”, conta o guitarrista. “Em pouco mais de um mês conseguimos arranjar os doze temas que estreámos nesse dia".

Os CoMcORdAs estrearam-se em Julho do ano passado, mas entretanto já estiveram no Outonalidades, da associação D'Orpheu, em Évora, e no festival Etnias, no Contagiarte, no Porto. Um sinal claro da boa aceitação do grupo, que entretanto tem vindo a expandir as suas actuações. “Em Castelo Branco, por exemplo, estamos a ser solicitados para tocar nos bares, e é bom termos os dois grupos diferentes, podermos ir com um e no outro dia com o outro”, acrescenta Gil Duarte. “Cremos que estamos no bom caminho e que temos um público, tanto nos Ventos da Líria, como nos Comcordas, ao qual agradam os nossos espectáculos”.

A amadurecerem ainda o seu novo formato musical, os CoMcORdAs não querem acelerar as coisas e preferem antes cimentar ainda mais a formação. Para já, na calha está a intenção de introduzirem outro tipo de instrumentos no grupo, mais ao nível da percussão.

VÍDEO...↓
Entrevista CoMcORdAs + tema ao vivo “Les Nababe”


Folk roufenha Made in Porto
Os portuenses
Mu são uma jovem banda folk cuja alegria não deixa ninguém indiferente. Criados em 2003, eles inspiraram-se nas culturas europeias e nos instrumentos de todo o mundo. “Estamos abertos a todo o planeta, mas o nosso ponto de partida é a Europa”, refere Hugo Osga, dos Mu. Os ritmos e vozes tradicionais servem então de referência a este grupo que procura reinventar sobretudo danças balcânicas e eslavas – “muito graças à nossa acordeonista Sophie, que viveu algum tempo na Roménia”, explica o jovem – mas em cuja palete sonora não faltam também os sons ciganos, bretões, irlandeses ou mesmo africanos. ”Os instrumentos é que lhe vão dar uma nova roupagem musical, que depois ao ouvinte pode parecer mais árabe ou asiático”.


Hugo Osga, dos Mu, reclama por uma maior divulgação musical
(imagem: Jorge Costa/Multipistas)

Os Mu nasceram num bar numa jam session surgida a partir do ‘diálogo’ casual entre o didgeridoo de Hugo Osga e a tabla de Nuno Encarnação. ”A primeira vez que tocámos juntos nem nos conhecíamos”, lembra o multi-instrumentista do grupo. “Havia um DJ que punha música e nós improvisávamos. Fizemos uma brincadeira chamada World Beat Sessions, e às terças-feiras lá estávamos”. Surge então o nome da banda que, de acordo com Hugo Osga, se refere a “um caracter chinês que representa um portão, e quando este é atravessado, não se sabe bem onde está o lado de dentro e o lado de fora”. Entretanto, os dois músicos começaram a tocar noutros bares e sítios, até que novos elementos integram a formação.

Surgem então outros caminhos sonoros, que irão influenciar as composições dos Mu. Uma banda jovial, de estilo “roufenho, nómada e circense", conforme já lhes chamaram, e que tem feito sucesso em festivais como o Andanças, em S. Pedro do Sul, o Intercéltico de Sendim, ou o Danzas sin Fronteras, em Espanha. “Se cá dentro não tiveres nada para dar, de que serve um instrumento e a música?”, questiona-se Hugo Osga, lembrando o convívio que se vive dentro do grupo. Já na sua quarta formação, este integra ainda os músicos Diana Azevedo, Sophie Kalisz, Sérgio Calisto e Sara Barbosa, contando ainda com a colaboração da acordeonista Dulce Cruz. “É uma alegria brutal tocarmos juntos”, conclui o músico portuense, que para trás deixou sonoridades mais contemporâneas. “Eu fui baterista imensos anos, e há aqui malta que tocou guitarra eléctrica, mas para a expressão musical que queremos transmitir, estes são os instrumentos ideais”.

Como referências musicais para o seu projecto, os Mu citam os nomes dos Gaiteiros de Lisboa (“um dos grandes projectos de música tradicional portuguesa”, diz Hugo Osga), Dazkarieh (“apesar das muitas transformações que têm tido ao longo da carreira, continuam actualíssimos”) e os Uxu Kalhos (que no seu entender “têm uma abordagem radical à música tradicional portuguesa”). Entre as influências assumidas constam ainda a Fanfare Ciocărlia, os Hedningarna, os L’Ham de Foc, La Musgaña, Taraf de Haïdouks e os portugueses Galandum Galundaina. Em 2005 surgia finalmente o primeiro álbum do grupo: “Mundanças”. O título deste trabalho, em que também participam os Dazkarieh, mais não é do que um trocadilho de palavras que descreve na perfeição o mundo em mutação e recheado de alegria e dança em que os Mu estão mergulhados.

No entanto, nem tudo são rosas. “Em Portugal, há uma carência brutal na divulgação”, avisa o jovem, lamentando a fraca expressão da música do mundo nos meios de comunicação portugueses. “Para saber o que se está a passar, tenho de estar atento à Internet. Não há um programa na televisão, só o Top Mais. E o Blitz, jornal que até tinha alguma coisa, transformou-se numa revista e não sai nada acerca da world music, confessa Hugo Osga. Mas as coisas estão a mudar, e são cada vez mais os grupos de folk e os eventos dedicados ao género. “Hoje em dia há imensos festivais e isso contribui muito para a formação de públicos”, acrescenta o jovem, dando como exemplos o Festival de Músicas do Mundo de Sines, o Andanças (“que é um pouco o berço dos Mu”) ou o Intercéltico de Sendim. No entanto, este apela a um aumento da dinâmica e dos curiosos e interessados por esta área. “Enquanto músico folk e divulgador da música tradicional gostava que houvesse muito mais gente, porque é na world music que está a raiz da nossa existência”.

VÍDEO...↓
Entrevista Mu + tema ao vivo “Nupcial Croata”

Jorge Costa







Os CoMcORdAs foram a grande surpresa do Entrelaços
(imagens: Jorge Costa/Multipistas)











A folk descontraída e animada dos Mu conquistou o público

(imagens: Jorge Costa/Multpistas)