sábado, 11 de novembro de 2006

Emissão #30 - 11 Novembro 2006

A 30ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 11 de Novembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 13 de Novembro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (2 e 4 de Dezembro) nos horários atrás indicados.

"Mile Marbshaisg Air A Ghaol", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie a inaugurarem a emissão com o tema “Mile Marbhaisg Air A Ghaol” (Mil Feitiços no Amor), extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Tristos Ulls", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) regressam mais uma vez ao programa, desta feita com “Tristos Ulls”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Eixe Elástico",
Xosé Manuel Budiño (Espanha) - folk, celtic music
O galego Xosé Manuel Budiño com "Eixe Elástico", mais um tema extraído do seu segundo álbum "Arredor", lançado em 2000. Um trabalho eclético e vanguardista, em que este jovem de Moaña - localidade com grande tradição gaiteira, situada junto a Pontevedra - pretendeu dar um salto definitivo na sua carreira artística. O álbum aproxima-se de géneros como o funky, o drum'n'bass, o rock, a new age e a folk, numa panóplia de ritmos e timbres que fazem dele um dos mais ousados tendo como protagonista um instrumento tradicional. Xosé Manuel Budiño procura então adaptar a gaita-de-foles à era da música electrónica, servindo-se da técnica para extrair dela e de outros instrumentos um universo infinito de harmonias, melodias e ritmos. Outro objectivo de Budiño é o de dar a conhecer a música criada na Galiza, numa viagem em redor de territórios físicos e sonoros. Entre outros instrumentos, nos doze temas deste disco fazem-se ouvir as gaitas galega e irlandesa, o low whistle, o bouzouki, o baixo, o acordeão e o clarinete. Um trabalho onde participam os músicos Leandro Deltell, Xan Hernández, Pedro Pascual, Xavier Díaz e Pablo Alonso, e em que são convidados especiais José Climent, o bretão Jacky Molard, as galegas Leilía e Mercedes Peón, os escoceses Donald Shaw e Tony McManus, bem como Ove Larsson, Paco Ibáñez e William Gibbs.

"Yekanini", Shiyani Ngocobo
(África do Sul) - maskanda
Avançamos agora até à África do Sul com o tema "Yekanini" (Tudo Está Perdido), extraído do álbum "Introducing Shiyani Ngcobo", lançado em 2004. O mestre da maskanda nasceu em Umzinto, na costa sul de KwaZulu-Natal, região marcada pela pobreza e pelo êxodo urbano. Na infância, foi com o irmão mais velho que Shiyani Ngcobo construiu a sua primeira igogogo, uma guitarra feita a partir de uma lata de óleo. Fiel à estética inicial da maskanda, há mais de três décadas que o músico se dedica a este género, associando-lhe no entanto uma variedade de ritmos provenientes de outros estilos musicais. Com uma precisão elástica e um repertório diversificado, Shiyani Ngcobo dá voz aos dilemas e sonhos de uma geração de sul-africanos dos tempos do apartheid, sem no entanto cair nos seus estereótipos. A maskanda é um estilo tradicional zulu, surgido no início do século XX e associado aos trabalhadores e migrantes rurais, os quais cantavam sobre a sua nova vida na cidade e lembravam com nostalgia o passado no campo. Originalmente consistia numa técnica musical, conhecida por ukupika, que mais não era senão uma forma de adaptar ritmos tradicionais à guitarra acústica. Um género identificável pelas secções rápidas faladas ao estilo da izibongo, a poesia religiosa zulu. Na maskanda, em que subsistem reminescências dos tempos pré-coloniais, cada variante surge associada a uma comunidade regional sul-africana, diferenciando-se de acordo com os ritmos ou diferentes padrões de dança.

"Saye Mogo Bana",
Issa Bagayogo (Mali) - mandig, wassoulou, afro-electro
Uma viagem até ao Mali com Issa Bagayogo e o tema “Saye Mogo Bana”, extraído do álbum “Timbuktu”, o segundo deste cantautor e editado em 2002. Issa Bagayogo cresceu numa pequena aldeia isolada, tendo então aprendido a tocar a kamele n’goni (uma harpa de caçador, equipada com seis cordas). Nos anos 90 foi até à capital, Bamako, onde conheceu o produtor Yves Wernert e o guitarrista Moussa Kone. Juntos decidiram fundir dois géneros tradicionais da música do Mali – o mandig e o wassoulou – com o techno (no seu país, Bagayogo é mesmo conhecido por “Techno-Issa”). O resultado é um género chamado de afro-electro. As sonoridades griot e as velhas melodias do deserto cruzam-se então com a dub e com a música electrónica de dança. Um híbrido entre sons tradicionais e electrónicos que abre novas fronteiras às centenárias raízes Wassulu do sudoeste do Mali. O nome escolhido para este trabalho presta homenagem à cidade maliana que outrora integrou a rota de caravanas que atravessava o Saára e que foi um importante centro de expansão do Islão. Nas letras deste disco, Issa Bagayogo deixa mesmo clara a esperança de que Timbuktu, capital intelectual e espiritual no final da dinastia Mandingo Askia (século XVI) seja uma cidade multi-étnica, onde muçulmanos, cristãos e vários grupos étnicos do Mali consigam viver em tranquilidade. Acompanhado por um coro feminino, Issa Bagayogo aborda assuntos como a comunidade, o casamento, a tolerância racial, a globalização e a toxicodependência. No tema que escutámos, a morte é a principal referência. Uma canção antiga, à mistura com percussão e cordas eléctricas, onde se recorda que "a morte leva-nos a carne mas não o nome”…

"Sahara Neb Gija", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music
Os sons deste planeta musical continuam com o tema “El Wedja”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Maname Diname", Cheb I Sabbah (Argélia, EUA) - hindustani music
A viagem prossegue com Cheb I Sabbah, que nos traz "Maname Diname", tema extraído do álbum "Krishna Lila", lançado em 2002. Terceiro trabalho deste DJ argelino de ascendência judaica, que deixou o seu país na década de 60 e actualmente vive em São Francisco, nos Estados Unidos. Chebijii, nome pelo qual Cheb I Sabbah gosta de ser tratado, passou várias décadas a reunir sons nativos de Marraquexe, Nova Iorque e Nova Deli, sendo um grande apreciador e estudioso da música clássica hindu. Tal como acontece noutras religiões, no hinduísmo o canto é considerado uma prática de fé que permite uma aproximação com Deus. "Krishna Lila" é precisamente uma recolha de nove bhajans (canções de devoção) que para além de serem acompanhadas por instrumentos tradicionais hindus como a tabla, são misturados com ritmos de dança e batidas electrónicas. Neste álbum mais introspectivo, gravado em cinco dialectos hindus, Chebijii conta com a participação de Karsh Kale e Bill Laswell. Grande parte do disco baseia-se nas tradições da folk clássica indiana, com predominância da cítara de Ravi Shankar ou Ashwin Batish, e nos ritmos da tabla do Médio Oriente, em que têm especial influência percussionistas como Zakir Hussain. Mesmo não sendo indiano, Cheb I Sabbah é um dos maiores representantes do chamado asian underground, um movimento de artistas com origem étnica na Índia e Paquistão que vivem em grandes cidades do ocidente como Londres, Paris, Nova Iorque e São Francisco, e que fundem a sua cultura original com influências ocidentais e elementos electrónicos.

"l'Orient Est Rouge", Koçani Orkestar
(Macedónia) & Lightning Head (Reino Unido) - gypsy brass band, gypsy oriental music
A fechar o programa, despedimo-nos com a Koçani Orkestar, que nos traz o tema "L'Orient Est Rouge". Uma versão remisturada por Lightning Head e extraída da colectânea "Electric Gypsyland", editada no ano passado. Originários da cidade macedónia do mesmo nome, os Koçani Orkestar são uma das mais conhecidas fanfarras ciganas daquele país (na Macedónia estes agrupamentos são conhecidos por duvaçki orkestar), bandas criadas originalmente século XIX para imitar as fanfarras militares turcas, e que acabariam por substituir os tradicionais ensembles. Liderada pelo trompetista Naat Veliov e com um repertório simultaneamente tradicional e contemporâneo, a Koçani Orkestar mistura o som das fanfarras com ritmos de dança turcos e búlgaros e melodias ciganas dos Balcãs. O resultado é uma frenética festa sonora, bem ao estilo de um género descrito localmente como romska orientalna musika (música cigana oriental), e composta por uma poderosa secção rítmica, encabeçada por quatro tubas e acompanhada pelo saxofone, pela trompete, pelo clarinete e pelo acordeão. Com a sua crescente projecção mundial, o ritmo da música cigana dos Balcãs acabou por chamar a atenção de produtores de música electrónica como Lightning Head, nome artístico do inglês Glyn "Bigga" Bush. Tornar a música sensual é o objectivo deste DJ, habituado a misturar ritmos da música brasileira, como o samba e a batucada, com géneros jamaicanos como o reggae, a dub, o ska, o rocksteady e a ragga, ou mesmo o boogaloo e a salsa. Energia e sensualidade estão assim combinadas neste “oriente vestido de vermelho”…

Jorge Costa

1 comentário:

Temple disse...

Ora aqui está um blog muito interessante.
Ainda tenho q ouvir os podcasts, mas parece que vai ser muito bom.