Terje Isungset extrai sons a partir de todo o tipo de objectos
É raspando, sacudindo ou batendo que Terje Isungset dá vida a materiais como blocos de gelo, pedaços de granito ou ardósia, ossos ou bocados de bétula do Ártico e metal. Objectos pouco comuns no mundo da música que o multi-instrumentista combina com aerofones tradicionais da Noruega como o bukkehorn (corno de ovelha) ou o lur (corno de madeira), instrumentos simples de percussão como tambores, sinos e pandeiretas, ou com o clássico berimbau de boca.
A estreia em Portugal deste escultor sonoro, com mais de 25 anos de experiência e oito discos editados, fez-se a 27 de Março no Teatro Municipal da Guarda (TMG), sala onde Terje Isungset apresentou o seu “Ice Concert”. Performance à margem de géneros e tendências musicais, num tributo à Natureza acompanhado pelas vocalizações da também norueguesa Lena Nymark e pelo fôlego de três crianças da cidade.
“Esta é uma versão limitada do Concerto do Gelo porque se realiza num espaço interior”, explicava ao MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO o músico e compositor, horas antes do concerto no TMG. “Também faço concertos de gelo no exterior, mas o espaço tem de estar abaixo dos zero graus para que possam fazer todos os instrumentos. São muito grandes e levam três a quatro dias a construir”, avança Terje Isungset, em alusão aos iglus onde costuma reunir o público e toda a sua instrumentação congelada. “Hoje teremos uma combinação de alguns sons previamente gravados da nossa primeira digressão. Juntei-os todos num sistema de som tridimensional, e também tocarei no corno de gelo e em coisas que não derretem tão depressa”.
Em palco, a simplicidade de meios contrasta com as mais de duas centenas de ruídos produzidos com guitarras, baixos, harpas, didgeridoos, xilofones, violinos, trompas ou trompetes criados a partir da água congelada de lagos, rios ou glaciares.
Um material frágil e imprevisível, cortado com precisão para se obter um timbre puro e cristalino, adaptado aos sussurros e gemidos xamânicos, típicos do joik. Sons gelados a que se juntam o improviso e amostras de jazz e folk escandinava.
“Sente-se que há muito ar no som, o qual pode ser muito profundo, luminoso e claro como vidro”, refere Lena Nymark, cantora que Terje foi buscar ao universo da pop. “Tento manter um pouco de ar na voz, fazê-la fina e com que se encaixe no gelo. É algo um pouco místico e mágico, como se fosse um conto de fadas”.
Um ambiente reforçado, paradoxalmente, pela efemeridade e pelo peso histórico que alguns destes instrumentos musicais carregam consigo. “Tenho um corno de gelo que toquei em Londres e trouxe um da Noruega de um glaciar com 2500 anos que daqui a vinte terá desaparecido por causa dos seres humanos”, lamenta Terje Isungset. “É também uma grande honra poder tocar música onde o recurso mais importante é a água fresca. Sem a água não haveria vida”, acrescenta o músico, que durante o espectáculo, enquanto tocava um destes artefactos, deu a entender à plateia o difícil que é manter o contacto físico, minutos a fio, com um corpo gelado: “Está muito frio. Em Portugal era suposto estar calor”.
Devolver à Natureza os instrumentos de gelo é, de resto, a filosofia da ice music de Terje Isungset, compositor que em permanência procura descobrir novas formas de produzir e utilizar os sons.
Cada espectáculo daquele que é considerado um dos percussionistas mais criativos em todo o mundo, com incursões na dança, escultura (com Bengt Carling participou na parte sueca da transmissão televisiva mundial da passagem do milénio) ou artes visuais (com Peter Wasilewski, astrofísico da NASA, explora os detalhes do gelo), é uma experiência única, e um desafio permanente à técnica e à imaginação, bem como às leis da física e da acústica. Ambiente mágico que contagia o público, e nem é preciso quebrar o gelo.
Nuno Lucas, um dos assistentes entre o público, nunca pensou que se poderia fazer música com gelo. “Achei espectacular”. Já Tiago Nunes, para quem “o cornetim foi o mais interessante” da noite, garante que o concerto se apresenta como algo “fora do comum".
A estreia em Portugal deste escultor sonoro, com mais de 25 anos de experiência e oito discos editados, fez-se a 27 de Março no Teatro Municipal da Guarda (TMG), sala onde Terje Isungset apresentou o seu “Ice Concert”. Performance à margem de géneros e tendências musicais, num tributo à Natureza acompanhado pelas vocalizações da também norueguesa Lena Nymark e pelo fôlego de três crianças da cidade.
O músico transforma o palco num laboratório sonoro
“Esta é uma versão limitada do Concerto do Gelo porque se realiza num espaço interior”, explicava ao MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO o músico e compositor, horas antes do concerto no TMG. “Também faço concertos de gelo no exterior, mas o espaço tem de estar abaixo dos zero graus para que possam fazer todos os instrumentos. São muito grandes e levam três a quatro dias a construir”, avança Terje Isungset, em alusão aos iglus onde costuma reunir o público e toda a sua instrumentação congelada. “Hoje teremos uma combinação de alguns sons previamente gravados da nossa primeira digressão. Juntei-os todos num sistema de som tridimensional, e também tocarei no corno de gelo e em coisas que não derretem tão depressa”.
Em palco, a simplicidade de meios contrasta com as mais de duas centenas de ruídos produzidos com guitarras, baixos, harpas, didgeridoos, xilofones, violinos, trompas ou trompetes criados a partir da água congelada de lagos, rios ou glaciares.
Um material frágil e imprevisível, cortado com precisão para se obter um timbre puro e cristalino, adaptado aos sussurros e gemidos xamânicos, típicos do joik. Sons gelados a que se juntam o improviso e amostras de jazz e folk escandinava.
Com gelo, Terje recria os ambientes etéreos escandinavos
“Sente-se que há muito ar no som, o qual pode ser muito profundo, luminoso e claro como vidro”, refere Lena Nymark, cantora que Terje foi buscar ao universo da pop. “Tento manter um pouco de ar na voz, fazê-la fina e com que se encaixe no gelo. É algo um pouco místico e mágico, como se fosse um conto de fadas”.
Um ambiente reforçado, paradoxalmente, pela efemeridade e pelo peso histórico que alguns destes instrumentos musicais carregam consigo. “Tenho um corno de gelo que toquei em Londres e trouxe um da Noruega de um glaciar com 2500 anos que daqui a vinte terá desaparecido por causa dos seres humanos”, lamenta Terje Isungset. “É também uma grande honra poder tocar música onde o recurso mais importante é a água fresca. Sem a água não haveria vida”, acrescenta o músico, que durante o espectáculo, enquanto tocava um destes artefactos, deu a entender à plateia o difícil que é manter o contacto físico, minutos a fio, com um corpo gelado: “Está muito frio. Em Portugal era suposto estar calor”.
O público também participa nas performances do músico
Devolver à Natureza os instrumentos de gelo é, de resto, a filosofia da ice music de Terje Isungset, compositor que em permanência procura descobrir novas formas de produzir e utilizar os sons.
Cada espectáculo daquele que é considerado um dos percussionistas mais criativos em todo o mundo, com incursões na dança, escultura (com Bengt Carling participou na parte sueca da transmissão televisiva mundial da passagem do milénio) ou artes visuais (com Peter Wasilewski, astrofísico da NASA, explora os detalhes do gelo), é uma experiência única, e um desafio permanente à técnica e à imaginação, bem como às leis da física e da acústica. Ambiente mágico que contagia o público, e nem é preciso quebrar o gelo.
Nuno Lucas, um dos assistentes entre o público, nunca pensou que se poderia fazer música com gelo. “Achei espectacular”. Já Tiago Nunes, para quem “o cornetim foi o mais interessante” da noite, garante que o concerto se apresenta como algo “fora do comum".
Lena Nymark empresta a voz aos sopros gelados de Terje
Terje Isungset tem tocado não só por toda a Europa, mas também no Japão e Canadá, países onde surge a solo ou acompanhado por vozes (Sara Marielle Gaup, Therese Skauge ou Lena Willemark) e músicos nórdicos (o violoncelista Didier Petit, o multi-instrumentista Jorma Tapio ou o guitarrista Knut Reiersrud).
Somam-se as colaborações com grupos de folk norueguesa como o trio Utla (com o violinista Håkon Høgemo e o saxofonista Karl Seglem), o duo Isglem (de novo com Karl Seglem) ou o Trio Mediaeval (ensemble vocal formado por Anna Maria Friman, Linn Andrea Fuglseth e Torunn Østrem Ossum); da nova folk nórdica como os suecos Groupa (com o violinista Mats Edén e o flautista Jonas Simonson): ou de jazz como o duo Agbalagba Daada (com o trompetista e guitarrista Per Jørgensen) ou o sexteto Orleysa; sem esquecer os nigerianos Okuta Percussion.
Inspirado por artistas americanos como Chick Corea, Billy Cobham ou Weather Report, Terje estreou-se nas percussões aos oito anos. Ao tocar em bandas da sua terra natal (Hol, no condado de Buskerud), o jovem começou a explorar outros sons, até que em 1999, no Festival de Inverno de Lillehammer, juntamente com Palle Mikkelborg e Lena Willemark, combinou pela primeira instrumentos tradicionais e de gelo.
Mais tarde, no Ice Hotel, na Suécia, gravaria os primeiros dois álbuns de gelo. Em 2005, criava a editora independente All-Ice Records, e um ano depois o primeiro festival de gelo do mundo, em Geilo, na Noruega, cidade onde produziu mais dois trabalhos.
Somam-se as colaborações com grupos de folk norueguesa como o trio Utla (com o violinista Håkon Høgemo e o saxofonista Karl Seglem), o duo Isglem (de novo com Karl Seglem) ou o Trio Mediaeval (ensemble vocal formado por Anna Maria Friman, Linn Andrea Fuglseth e Torunn Østrem Ossum); da nova folk nórdica como os suecos Groupa (com o violinista Mats Edén e o flautista Jonas Simonson): ou de jazz como o duo Agbalagba Daada (com o trompetista e guitarrista Per Jørgensen) ou o sexteto Orleysa; sem esquecer os nigerianos Okuta Percussion.
Cornetins em gelo de vários tamanhos dão vida à ice music
Inspirado por artistas americanos como Chick Corea, Billy Cobham ou Weather Report, Terje estreou-se nas percussões aos oito anos. Ao tocar em bandas da sua terra natal (Hol, no condado de Buskerud), o jovem começou a explorar outros sons, até que em 1999, no Festival de Inverno de Lillehammer, juntamente com Palle Mikkelborg e Lena Willemark, combinou pela primeira instrumentos tradicionais e de gelo.
Mais tarde, no Ice Hotel, na Suécia, gravaria os primeiros dois álbuns de gelo. Em 2005, criava a editora independente All-Ice Records, e um ano depois o primeiro festival de gelo do mundo, em Geilo, na Noruega, cidade onde produziu mais dois trabalhos.
Às vocalizações xamânicas junta-se o berimbau de boca
Discografia:
1997 - “Reise”
1997 - “Reise”
2000 - “Floating Rhythms”
2002 - “Iceman is”
2003 - “Middle of Mist”
2006 - “Igloo”
2007 - "Two Moons"
2008 - “Ice Concerts”
2009 - “Hibernation”
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