sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Emissão #28 -14 Outubro 2006

A 28ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 14 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 16 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (4 e 6 de Novembro) nos horários atrás indicados.

"Iddjagieđas", Mari Boine
Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
A abrir a emissão a norueguesa Mari Boine Persen com o tema “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), extraído do álbum do mesmo nome, lançado em Abril deste ano. Com mais de vinte anos de carreira, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, povo que habita a chamada Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evoca a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Nós Daqui Vós Dali",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo continuam com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem o tema "Nós Daqui Vós Dali", extraído do álbum "Dança Chamas", gravado ao vivo em Outubro de 2000 no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém. São novos arranjos das versões registadas em estúdio, numa viagem pelo romanceiro tradicional e pela história da música popular portuguesa que tem por convidados José Mário Branco, Danças Ocultas, Vozes da Rádio e Tocá Rufar. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. O experimentalismo deste grupo, que utiliza ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, leva-o a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Criando um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares, os Gaiteiros de Lisboa ressuscitaram o gosto por uma certa música portuguesa de raiz tradicional, arrastando para os seus concertos verdadeiras multidões de pessoas a quem estas músicas pouco ou nada diziam.

"Olhos de Maré",
Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion
Os portugueses Dazkarieh trazem-nos "Olhos de Maré", tema extraído do seu último álbum "Incógnita Alquimia". Neste trabalho, apresentado no final de Setembro no Mosteiro dos Jerónimos, o grupo demonstra uma sonoridade mais coesa, mantendo no entanto a busca incessante de sons acústicos que se fundam na música tradicional. Conhecida por navegar entre os sons da Irlanda, Índia, África, Andes, Espanha e Balcãs, esta banda lisboeta propõe-nos uma viagem pela diversidade musical do planeta. Um projecto que procura a sua alma sonora nas culturas mais díspares. Os instrumentistas dos Dazkarieh, cuja formação vai da música tradicional, experimental e erudita ao rock, servem-se, entre outros, do bouzouki e da flauta transversal, da nyckelharpa (harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas) e do cavaquinho, da gaita transmontana e do bandolim. Formados em 1999 por Filipe Duarte, José Oliveira e Vasco Ribeiro Casais, os Dazkarieh começaram por ser conotados com o som celta e a folk gótica. Mais tarde, com a fusão de materiais musicais tão diferenciados, e já assumidamente ligados à chamada world music, o grupo integrou então cinco novos elementos, passando a conceber canções em língua portuguesa. Recorde-se que até então o "dazkariano" era a base linguística de todas as suas músicas.


"Todii", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com Oliver 'Tuku' Mtukudzi e o tema "Todii", retirado do álbum "Tuku Music", lançado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Françafrique",
Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
A jornada musical continua com Tiken Jah Fakoly e o tema "Françafrique", extraído do álbum do mesmo nome, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.

"Tuhe", Trilok Gurtu
(Índia) - world, jazz, khylal
A jornada prossegue com Trilok Gurtu e o tema “Tuhe”, extraído do álbum "The Beat of Love", editado em 2001. Gurtu, cujo avô era um conhecido tocador de cítara e a mãe uma estrela do canto clássico, tornou-se conhecido como membro dos Oregon, uma banda de fusão world/jazz. Cinco vezes eleito o melhor percussionista do planeta pela revista “Downbeat”, título ganho pela ponte que criou entre a música do Oriente e Ocidente, Trilok Gurtu mistura ritmos indianos, executados com a tabla, com elementos do jazz, da música de dança, do rock, da música clássica e da música étnica de todo o planeta. Este ano, ele regressou à tradição indiana, apoiado pelos cantores Rajan e Sajan Misra, e apresentando o khylal, espécie de cântico hipnótico. O virtuosismo deste indiano, natural de Bombaim, transformou-o num dos grandes vultos do post-jazz, do jazz de fusão e do avant-garde. Ele tem colaborado com génios da música como Jan Garbarek, Ravi Shankar ou David Gilmour, destacando-se na comunidade jazzística por surgir ao lado de nomes como Don Cherry, John McLaughlin, Joe Zawinul ou Pat Metheny.

"Amdy Bayp",Yat-Kha (Rússia) - tuva rock, punk-folk
Seguem-se os Yat-Kha, que nos trazem o tema "Amdy Bayp", extraído do álbum "Tuva Rock", editado no ano passado. Esta banda originária da república russa de Tuva (região situada a sudoeste da Sibéria) foi fundada em Moscovo em 1991 pelo vocalista e guitarrista Albert Kuvezin e pelo compositor electrónico russo Ivan Sokolovsky. Farto de cantar temas xamânicos em grupos típicos como os Huun-Huur-Tu, Kuvezin decidiu então juntar a música moderna do Ocidente com a tradicional do seu país. O duo adoptou o nome de Yat-Kha (lê-se iát-rá), em alusão a uma espécie de pequena cítara da Ásia central semelhante à guzheng chinesa. Aos instrumentos tradicionais juntam-se então as guitarras eléctricas, os instrumentos electrónicos e outros inventados pelo grupo. Com a energia do rock, a banda rejuvenesceu uma das mais extraordinárias tradições vocais do mundo, criando distorções e dissonâncias que se aproximam do punk e do metal. As melodias e ritmos são acompanhados pelas três vocalizações básicas do canto polifónico da Tuva: o khoomei, o kargyraa e o sygyt. Técnica outrora muito utilizada pelos povos da Ásia central para imitar os sons da natureza, e em que uma única voz consegue emitir várias notas em simultâneo.

"Peregrino", Zuco 103
(Brasil, Holanda, Alemanha) - electronic, nu-jazz
A fechar o programa os Zuco 103 e o tema "Peregrino", numa remistura de David Walters, artista e produtor estabelecido em Marselha e que fez parte do colectivo Zimpala. Um tema recheado de breakbeat e extraído do álbum "One Down, One Up", duplo CD editado em 2003 e que se divide entre temas acústicos, actuações ao vivo e remisturas. Os Zuco 103 misturam house com maracatu e drum'n'bass com samba, entre outros ritmos brasileiros e electrónicos. Pioneiros na fusão de ritmos de dança naquele país, eles são formados pela vocalista brasileira Lilian Vieira, pelo baterista holandês Stefan Kruger e pelo teclista alemão Stefan Schmid. Os dois músicos, que formavam já um dueto de jazz, decidiram dar alguma frescura à banda, convidando uma cantora do Rio de Janeiro que haviam conhecido no Conservatório de Roterdão.

Jorge Costa

Sem comentários: