segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Emissão #29 - 28 Outubro 2006

A 29ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 28 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 30 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (18 e 20 de Novembro) nos horários atrás indicados.

"Breaking The Ethers/Serengeti", Tuatara
(EUA) - funk, jazz, rock, lounge
A abrir a emissão os Tuatara com o tema "Breaking The Ethers/Serengeti", extraído do seu primeiro álbum "Breaking The Ethers", lançado em 2001. Um trabalho instrumental que foi bem acolhido pela crítica devido à sua originalidade e expressão musical. Nele são reunidas várias jam sessions em que o quarteto utiliza instrumentos exóticos como o didgeridoo, os tambores de aço, as percussões africanas, o bandolim e o alaúde. O disco abre com sons étnicos que rapidamente ganham ritmo e percussão. Esta banda experimental mistura referências como o rock, o bebop, o jazz, o funky ou o lounge, criando um som em que extravasa a diversão e que se tornou conhecido sobretudo pela sua utilização em bandas sonoras para cinema e televisão. Entretanto os Tuatara têm vindo a cruzar a instrumentação ao vivo com as misturas electrónicas de vários DJ's. Este colectivo de compositores norte-americanos nasceu em Seattle, em 1997. Integram o grupo Barrett Martin (ex-percussionista dos Screaming Trees), Mad Season, Steve Berlin (dos Los Lobos), Justin Harwood (antigo baixista dos Luna), Scott McCaugghey, Peter Buck (ambos dos REM) e Skerik (lendário saxofonista de Seattle). A título de curiosidade, a tuatara - nome que em maori significa "dorso espinhoso" - é um réptil da Nova Zelândia, praticamente extinto, e que pouco mudou nos últimos 220 milhões de anos.

"Baline",
Urban Trad (Bélgica) - techno folk
As músicas do mundo prosseguem com os belgas Urban Trad e o tema "Baline", extraído do seu trabalho de estreia "One O Four", editado em 2001. Como o próprio nome indica, os Urban Trad combinam a melhor música tradicional com ritmos modernos, criando uma folk urbana, influenciada por um ambiente techno. O projecto arrancou em 2000, quando Yves Barbieux, compositor da banda Coïncidence, decidiu reunir uma vintena de artistas da cena tradicional belga para misturar música celta com sons urbanos. Se inicialmente se tratava de conceber um primeiro álbum, o êxito alcançado encorajou o autor a juntar outros músicos aos Urban Trad. O momento alto da carreira da banda aconteceria no Festival Eurovisão da Canção de 2003, na Letónia. Os oito elementos do grupo conquistaram então um segundo lugar e o grande público com uma canção interpretada num idioma imaginário e que levou pela primeira vez o timbre da gaita-de-foles para a Eurovisão. Volvidos três álbuns, o repertório dos Urban Trad passou a abranger, para além da música celta, a Escandinávia, a França, a Espanha e os países de Leste. Um grupo de inspiração tradicional, mas ancorado no presente, já que acompanha instrumentos acústicos como o acordeão, o violino e a flauta com o canto e uma secção rítmica cheia de energia e musicalidade.

"Fume de Lume", Xosé Manuel Budiño
(Espanha) - folk, celtic music
O galego Xosé Manuel Budiño com "Fume de Lume", tema extraído do seu segundo álbum "Arredor", lançado em 2000. Um trabalho eclético e vanguardista, em que este jovem de Moaña - localidade com grande tradição gaiteira, situada junto a Pontevedra - pretendeu dar um salto definitivo na sua carreira artística. O álbum aproxima-se de géneros como o funky, o drum'n'bass, o rock, a new age e a folk, numa panóplia de ritmos e timbres que fazem dele um dos mais ousados tendo como protagonista um instrumento tradicional. Xosé Manuel Budiño procura então adaptar a gaita-de-foles à era da música electrónica, servindo-se da técnica para extrair dela e de outros instrumentos um universo infinito de harmonias, melodias e ritmos. Outro objectivo de Budiño é o de dar a conhecer a música criada na Galiza, numa viagem em redor de territórios físicos e sonoros. Entre outros instrumentos, nos doze temas deste disco fazem-se ouvir as gaitas galega e irlandesa, o low whistle, o bouzouki, o baixo, o acordeão e o clarinete. Um trabalho onde participam os músicos Leandro Deltell, Xan Hernández, Pedro Pascual, Xavier Díaz e Pablo Alonso, e em que são convidados especiais José Climent, o bretão Jacky Molard, as galegas Leilía e Mercedes Peón, os escoceses Donald Shaw e Tony McManus, bem como Ove Larsson, Paco Ibáñez e William Gibbs.

"Kova", Kimmo Pohjonen (Finlândia) - folk-rock, electronic folk
A viagem prossegue com o finlandês Kimmo Pohjonen e o tema “Kova”, retirado do álbum “Kielo”, lançado em 1999. Uma série de peças a solo, algumas delas acústicas, outras manipuladas, que estabeleceram um novo parâmetro para a nova avant garde. Com uma carreira de vinte anos, repartida entre a folk, a música clássica e o rock, o músico e compositor Kimmo Pohjonen mistura de forma única o acordeão com amostras de som e percussões, levando-o para universos como a dança contemporânea ou o teatro musical. Pohjonen, que nasceu na aldeia de Viiala, começou a tocar acordeão aos oito anos por influência do pai. Na Academia Sibelius, em Helsínquia, foi encorajado a absorver a folk e a misturá-la com outros estilos. Para expandir a sonoridade do fole diatónico, em 1996 Kimmo apresentou-se em palco com um acordeão cromático e com composições originais que integravam samples e loops do islandês Samuli Kosminen, com quem viria a formar o duo Kluster. Mais tarde, a eles juntaram-se Pat Mastrelotto e Trey Jun, dando lugar ao quarteto Kluster TU. Entretanto, Pohjonen tem vindo a colaborar com músicos finlandeses como Heikki Leitinen, Maria Kalaniemi, Alanko Saatio ou Arto Järvellä, integrando ainda os grupos de new folk Pinnin Pojat e Ottopasuuna. Apesar dos mais de 13 quilos do acordeão, em palco Pohjonen movimenta-se de forma enérgica, extraindo de forma electrónica camadas de som a que por vezes adiciona a própria voz. Actualmente mais voltado para o formato acústico, Kimmo Pohjonen mantém no entanto como base as raízes e os cantos populares da Finlândia, tocando com primazia outros tipos de acordeão, harmónica e ainda a marimba. Tradição e improviso estão assim unidos, numa busca de novos sons através da música experimental e electrónica.

"Halla",Värttinä
(Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A jornada musical continua com as Värttinä e o tema “Halla”, extraído do seu sexto álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebrou o seu 23ºaniversário, trouxe-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"M'Bifo",Rokia Traoré (Mali) - malian contemporary music
Segue-se Rokia Traoré com o tema “M’Bifo”, extraído do álbum “Bowmboï”, editado em 2003. Neste seu terceiro álbum, a mais jovem diva do Mali dá uma expressão moderna aos instrumentos tradicionais africanos que habitualmente não surgem juntos, combinando o n’goni com a balaba (grande balafon da região de Beledougou, a terra natal de Rokia) e inovando nas estruturas rítmicas e melódicas da música de raízes étnicas da África Ocidental. Filha de um diplomata maliano, Rokia Traoré construiu a sua carreira em França antes de regressar ao seu país. Mesmo não sendo uma griot – ela pertence ao grupo étnico Bamana, a maioria dos Bambara – ela decidiu escolher o canto como carreira. Durante a adolescência integraria várias bandas, até que em 1996, aos 22 anos, resolveu encarar a música de forma profissional. A voz de Rokia Traoré não possui a força de Oumou Sangare ou a profundidade de Kandia Kouyate, mas é delicada e intensa, apresentando-se cheia de nostalgia e de esperança. Co-produzido por Rokia e Thomas Weill, este disco escapa aos estereótipos com que por vezes o ocidente olha para a música africana. Os dez temas foram compostos em bamana, a língua nativa de Rokia Traoré. Nas músicas, onde esta canta a solo ou lado a lado com Ousmane Sacko e Charlotte Dipanda, Rokia Traoré fala sobre a infância, as fragilidades dos relacionamentos, os direitos das mulheres, a pobreza, a discriminação racial ou a vida diária no Mali. Grande parte do trabalho foi gravado naquele país, à excepção dos dois temas em que participa o grupo de cordas Kronos Quartet, os quais foram registados em São Francisco.

"Dery", Salif Keita
(Mali) - afropop, mandingo
A jornada prossegue com Salif Keita e o tema “Dery”, extraído do álbum “M’Bemba”, editado no ano passado. Exímio guitarrista, Salif Keita começou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Um longo percurso que teve como pontos altos a passagem por Abdijan, Nova Iorque e Paris. Mas foram precisos trinta e cinco anos até que Salif Keita pudesse gravar um disco no seu país, o Mali. No álbum “M’Bemba” (Antepassado), este conta com a colaboração de músicos como Mama Sissoko na luth n’goni, ou Toumani Diabaté na kora, duas guitarras tradicionais do Mali. Um trabalho onde Salif Keita invoca a memória do seu glorioso antecessor, o imperador Soundiata Keita, fundador do império Mandingue no século XII. Neste disco, Salif Keita abandona um estilo orientado para a pop, antecipando o renascimento da música tradicional mandingo e dos seus principais instrumentos, como a n’goni (espécie de guitarra mourisca), o balafon (xilofone ancestral) ou o calabash (instrumento de percussão). A voz de ouro do Mali cruza então sonoridades como o rock, o jazz, a soul, a chanson française ou os ritmos afro-cubanos, influências acústicas com que o músico inaugurou o conceito de afropop.

"No Agreement", Fela Kuti (Nigéria) - afrobeat
A fechar o programa, despedimo-nos com Res, Tony Allen, Ray Lema, Baaba Maa, Positive Black Soul e Archie Shepp. Todos eles se juntam no tema “No Agreement”, parte integrante do álbum "Red Hot +: The Music and Spirit of Fela Kuti”, um tributo gravado em 2002 pela Red Hot com o objectivo de angariar dinheiro para os 25 milhões de africanos infectados com o HIV. São novas versões das músicas de Fela Kuti, aqui interpretadas por quase quarenta grupos e artistas, que as resgataram do passado e remisturaram de acordo com o seu estilo. Praticamente irreconhecíveis em relação aos originais, estes temas cobrem um vasto especto musical que passa pelo hip-hop, jazz, soul, afrobeat, world music, electronic e rock. Percursor da afrobeat e considerado o maior nome da música africana, Fela Kuti transformou-se num ícone da luta contra a sida em África ao ter morrido em 1997 devido a complicações relacionadas com a doença. Algo irónico tendo em conta que o músico nigeriano acreditara durante muito tempo que a sida não existia.


Jorge Costa

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