terça-feira, 31 de outubro de 2006

World Music Charts Europe - Novembro 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Novembro dos 171 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a manutenção da liderança pelo segundo mês consecutivo e as onze novas entradas no topo do painel: oito em estreia absoluta no WMCE e três a subirem para os primeiros vinte lugares:

1º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar

2º- HIRI, Kepa Junkera (Espanha) - Elkar
mês passado: 27ºlugar
3º- PASJA LEGENDA, Brina (Eslovénia) - DruGod
mês passado: 6ºlugar
4º- ELECTRIC GYPSYLAND 2, vários (Roménia) - Crammed
mês passado: 42ºlugar
5º- BREATH, Mercan Dede (Turquia, Canadá) - Doublemoon
mês passado: 4ºlugar
6º- BOOM PAM, Boom Pam (Israel) - Essay Recordings
mês passado: 10ºlugar
7º- GOLDEN AFRIQUE VOL. 3, vários - Network Medien
mês passado: 2ºlugar

8º- SHTETL SUPERSTARS, vários - Trikont
estreia na tabela
9º- ALMINARES MEDITERRANEOS, Caravasar (Espanha) - Resistencia
estreia na tabela
10º- MUSIQUES METISSES, vários - Marabi
mês passado: 3ºlugar

11º- IDJAGIEĐAS, Mari Boine (Noruega) - Emarcy (Universal)
mês passado: 5ºlugar

12º- EOLH, Almasala (Espanha) - Ventilador
estreia na tabela
13º- BURLESQUE, Bellowhead (Reino Unido) - Westpark
estreia na tabela
14º- M'BEM DI FORA, Lura (Cabo Verde) - Lusafrica
estreia na tabela
15º- DA QUESTA PARTE DEL MARE, Gianmaria Testa (Itália) - Harmonia Mundi
estreia na tabela
16º- RIMFAXE, Gjallarhorn (Finlândia, Suécia) - Vindauga/Westpark
mês passado: 11ºlugar
17º- ABACABOK, Tartit (Mali) - Crammed

mês passado: 107ºlugar
18º- ELECTRIC GRIOT LAND, Ba Cissoko (Guiné-Conacri) - Totolo
estreia na tabela

19º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 15ºlugar

20º- EL EVANGELIO SEGUN MI JARDINERO, Martin Buscaglia (Uruguai) - Love Monk
estreia na tabela

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Emissão #29 - 28 Outubro 2006

A 29ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 28 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 30 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (18 e 20 de Novembro) nos horários atrás indicados.

"Breaking The Ethers/Serengeti", Tuatara
(EUA) - funk, jazz, rock, lounge
A abrir a emissão os Tuatara com o tema "Breaking The Ethers/Serengeti", extraído do seu primeiro álbum "Breaking The Ethers", lançado em 2001. Um trabalho instrumental que foi bem acolhido pela crítica devido à sua originalidade e expressão musical. Nele são reunidas várias jam sessions em que o quarteto utiliza instrumentos exóticos como o didgeridoo, os tambores de aço, as percussões africanas, o bandolim e o alaúde. O disco abre com sons étnicos que rapidamente ganham ritmo e percussão. Esta banda experimental mistura referências como o rock, o bebop, o jazz, o funky ou o lounge, criando um som em que extravasa a diversão e que se tornou conhecido sobretudo pela sua utilização em bandas sonoras para cinema e televisão. Entretanto os Tuatara têm vindo a cruzar a instrumentação ao vivo com as misturas electrónicas de vários DJ's. Este colectivo de compositores norte-americanos nasceu em Seattle, em 1997. Integram o grupo Barrett Martin (ex-percussionista dos Screaming Trees), Mad Season, Steve Berlin (dos Los Lobos), Justin Harwood (antigo baixista dos Luna), Scott McCaugghey, Peter Buck (ambos dos REM) e Skerik (lendário saxofonista de Seattle). A título de curiosidade, a tuatara - nome que em maori significa "dorso espinhoso" - é um réptil da Nova Zelândia, praticamente extinto, e que pouco mudou nos últimos 220 milhões de anos.

"Baline",
Urban Trad (Bélgica) - techno folk
As músicas do mundo prosseguem com os belgas Urban Trad e o tema "Baline", extraído do seu trabalho de estreia "One O Four", editado em 2001. Como o próprio nome indica, os Urban Trad combinam a melhor música tradicional com ritmos modernos, criando uma folk urbana, influenciada por um ambiente techno. O projecto arrancou em 2000, quando Yves Barbieux, compositor da banda Coïncidence, decidiu reunir uma vintena de artistas da cena tradicional belga para misturar música celta com sons urbanos. Se inicialmente se tratava de conceber um primeiro álbum, o êxito alcançado encorajou o autor a juntar outros músicos aos Urban Trad. O momento alto da carreira da banda aconteceria no Festival Eurovisão da Canção de 2003, na Letónia. Os oito elementos do grupo conquistaram então um segundo lugar e o grande público com uma canção interpretada num idioma imaginário e que levou pela primeira vez o timbre da gaita-de-foles para a Eurovisão. Volvidos três álbuns, o repertório dos Urban Trad passou a abranger, para além da música celta, a Escandinávia, a França, a Espanha e os países de Leste. Um grupo de inspiração tradicional, mas ancorado no presente, já que acompanha instrumentos acústicos como o acordeão, o violino e a flauta com o canto e uma secção rítmica cheia de energia e musicalidade.

"Fume de Lume", Xosé Manuel Budiño
(Espanha) - folk, celtic music
O galego Xosé Manuel Budiño com "Fume de Lume", tema extraído do seu segundo álbum "Arredor", lançado em 2000. Um trabalho eclético e vanguardista, em que este jovem de Moaña - localidade com grande tradição gaiteira, situada junto a Pontevedra - pretendeu dar um salto definitivo na sua carreira artística. O álbum aproxima-se de géneros como o funky, o drum'n'bass, o rock, a new age e a folk, numa panóplia de ritmos e timbres que fazem dele um dos mais ousados tendo como protagonista um instrumento tradicional. Xosé Manuel Budiño procura então adaptar a gaita-de-foles à era da música electrónica, servindo-se da técnica para extrair dela e de outros instrumentos um universo infinito de harmonias, melodias e ritmos. Outro objectivo de Budiño é o de dar a conhecer a música criada na Galiza, numa viagem em redor de territórios físicos e sonoros. Entre outros instrumentos, nos doze temas deste disco fazem-se ouvir as gaitas galega e irlandesa, o low whistle, o bouzouki, o baixo, o acordeão e o clarinete. Um trabalho onde participam os músicos Leandro Deltell, Xan Hernández, Pedro Pascual, Xavier Díaz e Pablo Alonso, e em que são convidados especiais José Climent, o bretão Jacky Molard, as galegas Leilía e Mercedes Peón, os escoceses Donald Shaw e Tony McManus, bem como Ove Larsson, Paco Ibáñez e William Gibbs.

"Kova", Kimmo Pohjonen (Finlândia) - folk-rock, electronic folk
A viagem prossegue com o finlandês Kimmo Pohjonen e o tema “Kova”, retirado do álbum “Kielo”, lançado em 1999. Uma série de peças a solo, algumas delas acústicas, outras manipuladas, que estabeleceram um novo parâmetro para a nova avant garde. Com uma carreira de vinte anos, repartida entre a folk, a música clássica e o rock, o músico e compositor Kimmo Pohjonen mistura de forma única o acordeão com amostras de som e percussões, levando-o para universos como a dança contemporânea ou o teatro musical. Pohjonen, que nasceu na aldeia de Viiala, começou a tocar acordeão aos oito anos por influência do pai. Na Academia Sibelius, em Helsínquia, foi encorajado a absorver a folk e a misturá-la com outros estilos. Para expandir a sonoridade do fole diatónico, em 1996 Kimmo apresentou-se em palco com um acordeão cromático e com composições originais que integravam samples e loops do islandês Samuli Kosminen, com quem viria a formar o duo Kluster. Mais tarde, a eles juntaram-se Pat Mastrelotto e Trey Jun, dando lugar ao quarteto Kluster TU. Entretanto, Pohjonen tem vindo a colaborar com músicos finlandeses como Heikki Leitinen, Maria Kalaniemi, Alanko Saatio ou Arto Järvellä, integrando ainda os grupos de new folk Pinnin Pojat e Ottopasuuna. Apesar dos mais de 13 quilos do acordeão, em palco Pohjonen movimenta-se de forma enérgica, extraindo de forma electrónica camadas de som a que por vezes adiciona a própria voz. Actualmente mais voltado para o formato acústico, Kimmo Pohjonen mantém no entanto como base as raízes e os cantos populares da Finlândia, tocando com primazia outros tipos de acordeão, harmónica e ainda a marimba. Tradição e improviso estão assim unidos, numa busca de novos sons através da música experimental e electrónica.

"Halla",Värttinä
(Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A jornada musical continua com as Värttinä e o tema “Halla”, extraído do seu sexto álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebrou o seu 23ºaniversário, trouxe-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"M'Bifo",Rokia Traoré (Mali) - malian contemporary music
Segue-se Rokia Traoré com o tema “M’Bifo”, extraído do álbum “Bowmboï”, editado em 2003. Neste seu terceiro álbum, a mais jovem diva do Mali dá uma expressão moderna aos instrumentos tradicionais africanos que habitualmente não surgem juntos, combinando o n’goni com a balaba (grande balafon da região de Beledougou, a terra natal de Rokia) e inovando nas estruturas rítmicas e melódicas da música de raízes étnicas da África Ocidental. Filha de um diplomata maliano, Rokia Traoré construiu a sua carreira em França antes de regressar ao seu país. Mesmo não sendo uma griot – ela pertence ao grupo étnico Bamana, a maioria dos Bambara – ela decidiu escolher o canto como carreira. Durante a adolescência integraria várias bandas, até que em 1996, aos 22 anos, resolveu encarar a música de forma profissional. A voz de Rokia Traoré não possui a força de Oumou Sangare ou a profundidade de Kandia Kouyate, mas é delicada e intensa, apresentando-se cheia de nostalgia e de esperança. Co-produzido por Rokia e Thomas Weill, este disco escapa aos estereótipos com que por vezes o ocidente olha para a música africana. Os dez temas foram compostos em bamana, a língua nativa de Rokia Traoré. Nas músicas, onde esta canta a solo ou lado a lado com Ousmane Sacko e Charlotte Dipanda, Rokia Traoré fala sobre a infância, as fragilidades dos relacionamentos, os direitos das mulheres, a pobreza, a discriminação racial ou a vida diária no Mali. Grande parte do trabalho foi gravado naquele país, à excepção dos dois temas em que participa o grupo de cordas Kronos Quartet, os quais foram registados em São Francisco.

"Dery", Salif Keita
(Mali) - afropop, mandingo
A jornada prossegue com Salif Keita e o tema “Dery”, extraído do álbum “M’Bemba”, editado no ano passado. Exímio guitarrista, Salif Keita começou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Um longo percurso que teve como pontos altos a passagem por Abdijan, Nova Iorque e Paris. Mas foram precisos trinta e cinco anos até que Salif Keita pudesse gravar um disco no seu país, o Mali. No álbum “M’Bemba” (Antepassado), este conta com a colaboração de músicos como Mama Sissoko na luth n’goni, ou Toumani Diabaté na kora, duas guitarras tradicionais do Mali. Um trabalho onde Salif Keita invoca a memória do seu glorioso antecessor, o imperador Soundiata Keita, fundador do império Mandingue no século XII. Neste disco, Salif Keita abandona um estilo orientado para a pop, antecipando o renascimento da música tradicional mandingo e dos seus principais instrumentos, como a n’goni (espécie de guitarra mourisca), o balafon (xilofone ancestral) ou o calabash (instrumento de percussão). A voz de ouro do Mali cruza então sonoridades como o rock, o jazz, a soul, a chanson française ou os ritmos afro-cubanos, influências acústicas com que o músico inaugurou o conceito de afropop.

"No Agreement", Fela Kuti (Nigéria) - afrobeat
A fechar o programa, despedimo-nos com Res, Tony Allen, Ray Lema, Baaba Maa, Positive Black Soul e Archie Shepp. Todos eles se juntam no tema “No Agreement”, parte integrante do álbum "Red Hot +: The Music and Spirit of Fela Kuti”, um tributo gravado em 2002 pela Red Hot com o objectivo de angariar dinheiro para os 25 milhões de africanos infectados com o HIV. São novas versões das músicas de Fela Kuti, aqui interpretadas por quase quarenta grupos e artistas, que as resgataram do passado e remisturaram de acordo com o seu estilo. Praticamente irreconhecíveis em relação aos originais, estes temas cobrem um vasto especto musical que passa pelo hip-hop, jazz, soul, afrobeat, world music, electronic e rock. Percursor da afrobeat e considerado o maior nome da música africana, Fela Kuti transformou-se num ícone da luta contra a sida em África ao ter morrido em 1997 devido a complicações relacionadas com a doença. Algo irónico tendo em conta que o músico nigeriano acreditara durante muito tempo que a sida não existia.


Jorge Costa

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Emissão #28 -14 Outubro 2006

A 28ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 14 de Outubro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 16 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (4 e 6 de Novembro) nos horários atrás indicados.

"Iddjagieđas", Mari Boine
Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
A abrir a emissão a norueguesa Mari Boine Persen com o tema “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), extraído do álbum do mesmo nome, lançado em Abril deste ano. Com mais de vinte anos de carreira, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, povo que habita a chamada Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evoca a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Nós Daqui Vós Dali",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo continuam com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem o tema "Nós Daqui Vós Dali", extraído do álbum "Dança Chamas", gravado ao vivo em Outubro de 2000 no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém. São novos arranjos das versões registadas em estúdio, numa viagem pelo romanceiro tradicional e pela história da música popular portuguesa que tem por convidados José Mário Branco, Danças Ocultas, Vozes da Rádio e Tocá Rufar. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. O experimentalismo deste grupo, que utiliza ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, leva-o a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Criando um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares, os Gaiteiros de Lisboa ressuscitaram o gosto por uma certa música portuguesa de raiz tradicional, arrastando para os seus concertos verdadeiras multidões de pessoas a quem estas músicas pouco ou nada diziam.

"Olhos de Maré",
Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion
Os portugueses Dazkarieh trazem-nos "Olhos de Maré", tema extraído do seu último álbum "Incógnita Alquimia". Neste trabalho, apresentado no final de Setembro no Mosteiro dos Jerónimos, o grupo demonstra uma sonoridade mais coesa, mantendo no entanto a busca incessante de sons acústicos que se fundam na música tradicional. Conhecida por navegar entre os sons da Irlanda, Índia, África, Andes, Espanha e Balcãs, esta banda lisboeta propõe-nos uma viagem pela diversidade musical do planeta. Um projecto que procura a sua alma sonora nas culturas mais díspares. Os instrumentistas dos Dazkarieh, cuja formação vai da música tradicional, experimental e erudita ao rock, servem-se, entre outros, do bouzouki e da flauta transversal, da nyckelharpa (harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas) e do cavaquinho, da gaita transmontana e do bandolim. Formados em 1999 por Filipe Duarte, José Oliveira e Vasco Ribeiro Casais, os Dazkarieh começaram por ser conotados com o som celta e a folk gótica. Mais tarde, com a fusão de materiais musicais tão diferenciados, e já assumidamente ligados à chamada world music, o grupo integrou então cinco novos elementos, passando a conceber canções em língua portuguesa. Recorde-se que até então o "dazkariano" era a base linguística de todas as suas músicas.


"Todii", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com Oliver 'Tuku' Mtukudzi e o tema "Todii", retirado do álbum "Tuku Music", lançado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Françafrique",
Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
A jornada musical continua com Tiken Jah Fakoly e o tema "Françafrique", extraído do álbum do mesmo nome, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.

"Tuhe", Trilok Gurtu
(Índia) - world, jazz, khylal
A jornada prossegue com Trilok Gurtu e o tema “Tuhe”, extraído do álbum "The Beat of Love", editado em 2001. Gurtu, cujo avô era um conhecido tocador de cítara e a mãe uma estrela do canto clássico, tornou-se conhecido como membro dos Oregon, uma banda de fusão world/jazz. Cinco vezes eleito o melhor percussionista do planeta pela revista “Downbeat”, título ganho pela ponte que criou entre a música do Oriente e Ocidente, Trilok Gurtu mistura ritmos indianos, executados com a tabla, com elementos do jazz, da música de dança, do rock, da música clássica e da música étnica de todo o planeta. Este ano, ele regressou à tradição indiana, apoiado pelos cantores Rajan e Sajan Misra, e apresentando o khylal, espécie de cântico hipnótico. O virtuosismo deste indiano, natural de Bombaim, transformou-o num dos grandes vultos do post-jazz, do jazz de fusão e do avant-garde. Ele tem colaborado com génios da música como Jan Garbarek, Ravi Shankar ou David Gilmour, destacando-se na comunidade jazzística por surgir ao lado de nomes como Don Cherry, John McLaughlin, Joe Zawinul ou Pat Metheny.

"Amdy Bayp",Yat-Kha (Rússia) - tuva rock, punk-folk
Seguem-se os Yat-Kha, que nos trazem o tema "Amdy Bayp", extraído do álbum "Tuva Rock", editado no ano passado. Esta banda originária da república russa de Tuva (região situada a sudoeste da Sibéria) foi fundada em Moscovo em 1991 pelo vocalista e guitarrista Albert Kuvezin e pelo compositor electrónico russo Ivan Sokolovsky. Farto de cantar temas xamânicos em grupos típicos como os Huun-Huur-Tu, Kuvezin decidiu então juntar a música moderna do Ocidente com a tradicional do seu país. O duo adoptou o nome de Yat-Kha (lê-se iát-rá), em alusão a uma espécie de pequena cítara da Ásia central semelhante à guzheng chinesa. Aos instrumentos tradicionais juntam-se então as guitarras eléctricas, os instrumentos electrónicos e outros inventados pelo grupo. Com a energia do rock, a banda rejuvenesceu uma das mais extraordinárias tradições vocais do mundo, criando distorções e dissonâncias que se aproximam do punk e do metal. As melodias e ritmos são acompanhados pelas três vocalizações básicas do canto polifónico da Tuva: o khoomei, o kargyraa e o sygyt. Técnica outrora muito utilizada pelos povos da Ásia central para imitar os sons da natureza, e em que uma única voz consegue emitir várias notas em simultâneo.

"Peregrino", Zuco 103
(Brasil, Holanda, Alemanha) - electronic, nu-jazz
A fechar o programa os Zuco 103 e o tema "Peregrino", numa remistura de David Walters, artista e produtor estabelecido em Marselha e que fez parte do colectivo Zimpala. Um tema recheado de breakbeat e extraído do álbum "One Down, One Up", duplo CD editado em 2003 e que se divide entre temas acústicos, actuações ao vivo e remisturas. Os Zuco 103 misturam house com maracatu e drum'n'bass com samba, entre outros ritmos brasileiros e electrónicos. Pioneiros na fusão de ritmos de dança naquele país, eles são formados pela vocalista brasileira Lilian Vieira, pelo baterista holandês Stefan Kruger e pelo teclista alemão Stefan Schmid. Os dois músicos, que formavam já um dueto de jazz, decidiram dar alguma frescura à banda, convidando uma cantora do Rio de Janeiro que haviam conhecido no Conservatório de Roterdão.

Jorge Costa

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

World Music Charts Europe - Outubro 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Outubro dos 193 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, a manutenção da liderança, as quatro novas entradas para o WMCE e as ligeiras alterações no painel dos dez álbuns que em Setembro lideravam a tabela:

1º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar

2º- GOLDEN AFRIQUE VOL. 3, vários - Network Medien

estreia na tabela
3º- MUSIQUES METISSES, vários - Marabi
mês passado: 8ºlugar

4º- BREATH, Mercan Dede (Turquia, Canadá) - Doublemoon
mês passado: 3ºlugar

5º- IDJAGIEĐAS, Mari Boine (Noruega) - Emarcy (Universal)
mês passado: 6ºlugar

6º- PASJA LEGENDA, Brina (Eslovénia) - DruGod
estreia na tabela
7º- THE ROUGH GUIDE TO WEST AFRICAN GOLD, vários - World Music Network
mês passado: 4ºlugar

8º- GRAND BAZAAR, Istambul Oriental Ensemble (Turquia) - Network Medien
mês passado. 9ºlugar

9º- EL VIAJE, Gabriela (Argentina) - Intuition
mês passado: 11ºlugar

10º- BOOM PAM, Boom Pam (Israel) - Essay Recordings
estreia na tabela
11º- RIMFAXE, Gjallarhorn (Finlândia, Suécia) - Vindauga/Westpark
mês passado: 104ºlugar
12º- GOLD & WAX, Gigi (Etiópia, EUA) - Palm Pictures
mês passado: 2ºlugar
13º- TRAGARE, Druzina (Eslováquia) - Indies
mês passado: 12ºlugar
14º- DOG DAZE, Csokolom (Holanda) - Arhoolie

mês passado: 21ºlugar
15º- MASCARAS, Sergent García (Espanha) - EMI
mês passado: 91ºlugar
16º- ELYSIUM FOR THE BRAVE, Azam Ali (EUA, Irão) - Six Degrees
mês passado: 15ºlugar

17º- AFTER THE FACT, Orient Expressions (Turquia) - Doublemoon
mês passado: 44ºlugar
18º- STUDIO CAMEROON
Sally Nyolo and the Original Bands of Yaombe (Camarões) - Riverboat
estreia na tabela
19º- POPLOR, Thomas Kocko & Orchestr (República Checa) - Indies
mês passado: 13ºlugar

20º- SONGS OF ICON, Lekan Babalola (Nigéria, Reino Unido) - Mr Bongo
mês passado: 40ºlugar