sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Emissão #37 - 17 Fevereiro 2007

A 37ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 17 de Fevereiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 21 de Fevereiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (10 e 14 de Março) nos horários atrás indicados.

"Billy's Birl", Paul Mounsey (Escócia) - folktrónica
O compositor e produtor escocês Paul Mounsey inaugura a emissão com o tema “Billy’s Birl”, extraído do álbum “City of Walls”, editado em 2003. Trabalho maioritariamente de originais e adaptações próprias, e um dos quatro que o músico lançou durante os 15 anos em que viveu no Brasil. Escutar uma música tradicional escocesa, particularmente cantada em gaélico, era sempre um martírio para Paul Mounsey, visto este não entender aquele idioma. No entanto, um dia o apelo dos sons do outro lado do Atlântico foi mais forte. Paul Mounsey acabaria então por fundir ritmos da pop e influências latinas do Brasil, seu país adoptivo, com os sons tradicionais da Escócia. O produtor pega então em amostras da música tradicional escocesa, brasileira e nativa americana, combinando-as com o som da guitarra, dos teclados, da gaita-de-foles e das flautas, e adicionando-lhes percussões do Japão e da América do Sul bem como sonoridades electrónicas. Ao lidar com um espectro tão vasto de sons, culturas e instrumentos, Paul Mounsey consegue criar um universo musical único e impressionante, a que se juntam ainda as vozes de Flora MacNeil, Mary Jane Lamond, Anna Murray, Mairi MacInnes e Oumayma El-Khalil. Ao longo da sua carreira, o compositor tem trabalhado sobretudo em publicidade e televisão, compondo para diversos realizadores e trabalhando lado a lado com músicos como Michael Nyman, Etta James, Chico Buarque, Jimmy Cliff, António Carlos Jobim ou o grupo de percussão baiano Olodum.

"The Sound of Sleat/The Fear/Dans Plinn", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
As músicas do mundo prosseguem com os Capercaillie, uma presença já habitual no programa, que nos trazem agora o medley “The Sound of Sleat/The Fear/Dans Plinn”, extraído do álbum “Choice Language”. Um reel (o mais comum e rápido tipo de melodia celta), onde se destacam os loops modernos e tranquilizantes. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a sua própria avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Tickelled",
Kíla (Irlanda) - celtic music, world fusion
Os irlandeses Kíla apresentam-nos “Tickelled”, tema extraído do álbum “Mind The Gap”, editado em 1995. Um disco que vai para além dos ritmos tradicionais como o reel e a jig, e onde grande parte dos temas são composições próprias escritas em irlandês. A banda, criada em Dublin em 1987, ousou aventurar-se em novos territórios sem no entanto deixar de preservar o essencial da sua identidade e de homenagear os seus antepassados. Ao fundirem ritmos e melodias tradicionais irlandesas e do sul da Europa com sonoridades provenientes de outras paragens, os Kíla conquistaram um lugar próprio no panorama cultural anglo-saxónico, revigorando assim as tradições musicais do seu país e criando um som contemporâneo distinto onde o rock também tem lugar. Para o conseguirem, eles servem-se de um conjunto eclético de instrumentos, não muito para além dos habitualmente presentes na música celta – a gaita-de-foles, o violino, a guitarra, o bandolim, o bouzouki, a harmónica e a flauta –, mas também de outras referências que vão dos coros do Médio Oriente aos sons africanos. Uma espiral em que dão novas direcções e territórios a uma música ancestral, e no entanto enérgica, a qual parece vir não do passado mas antes de uma Irlanda imaginária. A combinação de ritmos e instrumentos étnicos como o bodhrán ou a darabuka, permitiu aos Kíla conquistarem muitos fãs fora da tradicional comunidade folk irlandesa.

"Niane Bagne Na", Kaouding Cissoko (Senegal) - kora music, mandingo
Segue-se o senegalês Kaouding Cissoko com “Niane Bagne Na”, tema extraído do seu único trabalho a solo, editado em 1999. Em “Kora Revolution”, o virtuoso da kora (espécie de harpa de 23 cordas da África Ocidental, cuja caixa de ressonância é uma cabaça) mistura este instrumento e a tradição mandingo com a sofisticada pop senegalesa de Baaba Maal e outros géneros africanos. Uma sonoridade que entretanto havia já sido cruzada com o flamenco por Toumani Diabaté, com o jazz pelo Kora Jazz Trio ou ainda com o rock pelas mãos de Ba Cissoko. O resultado é uma folk onde se evidenciam as harmonias vocais femininas e uma secção rítmica complexa construída a partir das sonoridades do djembe, da tama (tocado com um pau, o “tambor falante” deve o nome ao seu timbre variável), do sabar (tambor tradicional senegalês), do balafon (instrumento sul-africano, percussor do xilofone, cuja ressonância se deve a um conjunto de cabaças), da guitarra, da flauta ou do baixo. Falecido em 2003, vítima de tuberculose, Kaouding Cissoko pertencia a uma grande família de tocadores da kora. O seu estilo, marcadamente lírico, predominava sobre a técnica. Ele tocou muitas vezes com músicos como Salif Keita, Nusrat Fateh Ali Khan, Michael Brook, Mansour Seck ou Ernest Ranglim - estes dois últimos foram mesmo convidados especiais neste trabalho. Para além disso, foi membro dos Daande Lenol, a banda de Baba Maal, e um dos fundadores dos Afro-Celt Sound System.

"Akanamandl' Usathana", Nothembi (África do Sul) - ndebele, afropop
Avançamos agora até à África do Sul com o tema “Akanamandl' Usathana”, retirado do álbum do mesmo nome, editado em 2001. Conhecida mundialmente como a rainha da música ndebele, Peki Emelia Nothembi Mkhwebane é natural de Carolina, localidade situada em Mpumalanga, perto da Suazilândia. Nascida numa família de aficionados pela música e órfã desde os cinco anos, ela não foi à escola porque os seus avós tinham poucos recursos. Mas depressa a música colmatou essa falha na sua vida: a avó ensinou-a a tocar flauta, a irmã a tocar isikumero e o tio a tocar uma guitarra construída apenas com uma lata de óleo. O amor pela cultura do seu povo levou Nothembi a fundar o grupo Izelamani ZakoNomazlyana, que começou por tocar em casamentos e eventos culturais. Ela comprou então um teclado e uma guitarra para compor, acabando por gravar as suas próprias canções num gravador de cassetes. No entanto, o problema era encontrar uma editora que se interessasse pelo seu trabalho, visto que Nothembi não sabia nem ler nem escrever - razão pela qual assinava o seu nome apenas com um “x”. Dada a sua iliteracia, acabou por ser enganada pelas companhias discográficas, que se aproveitavam dela. Um problema do passado, porque entretanto Nothembi conseguiu alcançar o sucesso a nível mundial e pôde finalmente frequentar a escola. Esta verdadeira estrela de rock, que também já passou por Portugal, alimenta agora a esperança de concluir os seus estudos e de vir um dia a receber uma certificação na área da música.

"Rani M'Hayer", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno

Rachid Taha traz-nos “Rani M’Hayer” (Estou tão Atormentado), tema extraído do álbum “Diwan 2”, lançado em Outubro de 2006. Um regresso às origens, oito anos depois da primeira série, com arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às baladas e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. São clássicos actualizados num álbum gravado em Londres, Paris e Cairo e de novo produzido por Steve Hillage, onde têm destaque instrumentos tradicionais como a gasba (espécie de flauta magrebina) ou o guellal (pequeno tambor). Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas emigrou muito cedo com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico hoje residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”). Um nome nada inocente, que faz referência à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se sobretudo o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o rock, o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.

"Salam", Akli D
(Argélia) - chaâbi, mbalax, folk, blues, rock
Segue-se Akli D, que nos apresenta o tema “Salam”, extraído do seu segundo álbum “Ma Yela” (Se Houvesse), lançado no ano passado. Um trabalho rico em misturas étnicas, onde se fala de paz, fraternidade e amor. Se no primeiro disco o compositor argelino enfatizava as suas raízes culturais e reivindicações políticas, neste alarga o espectro musical, abrindo-se ao mundo. Poético, político e tradicional, Akli Dehlis combina o chaâbi do norte de África com as tradições folk da região rural de Kabylie, misturando-os com canções americanas de intervenção, com os blues do Mississippi ou com o mbalax, a moderna pop senegalesa. Akli D nasceu em Kerouan, pequena cidade da Cabília, região montanhosa do norte da Argélia. Ele é um amazigh, o povo pré-islâmico que durante séculos habitou a costa sul mediterrânica desde o Egipto ao Atlântico, e que foi alvo de repressão armada ao exigir o reconhecimento oficial das línguas berberes naquele país. Exilado em Paris a partir da década de 80, tornou-se um músico de rua e do metro, acabando por experimentar géneros musicais como os blues, o rock, o reggae ou a folk. Mais tarde, Akli D muda-se para São Francisco, chegando a viver algum tempo na Irlanda. Pelo meio, acompanhou o duo feminino El Djazira e formou o grupo Les Rebeuhs des Bois, o qual tocava nos cafés e clubes de Paris. Foi num destes espaços em que ocorriam encontros musicais espontâneos levados a cabo pelas comunidades árabes e africanas que Akli D conheceu Manu Chao, produtor deste seu último trabalho.

"Forma",
Bajofondo Tango Club (Argentina/Uruguai) e Luciano Supervielle (França) - electro-tango
Despedimo-nos com o Bajofondo Tango Club e o álbum do mesmo nome, editado em 2003. A Argentina e o Uruguai estão separados pelo Rio de la Plata mas unidos pela melancolia e nostalgia do tango. Produtores, músicos e cantores dos dois países decidiram então juntar-se para misturar o tango com diversos estilos electrónicos, recuperando o espírito da música rioplatense entre as décadas de 30 e 60. O projecto, criado em 2001 pelos produtores Juan Campodónico e Gustavo Santaolalla, recorre ao trip hop, ao house, ao chill out ou ao drum & bass, ritmos electrónicos que acabaram por reinventar o tango, transformando-o num drama dançável. Dos Bajofondo Tango Club fazem ainda parte Martín Ferrés, Verónica Loza, Javier Casalla e Gabriel Casacuberta. À formação ao vivo juntam-se também Jorge Drexler, Juan Blas Caballero, Didi Gutman, Adrian Laies, Emilio Kauderer, Cristobal Repetto, Diego Vainer e Adriana Varela. Outro dos elementos deste grupo, o compositor, pianista e DJ francês Luciano Supervielle, que começou a sua carreira no Uruguay com o grupo de hip-hop Platano Macho, encerra então o programa com o tema “Forma”.

Jorge Costa

1 comentário:

Margaret disse...

uau adorei estes links... tou deleciada a ouvir bajofondo tango club mas o primeiro n consigo ver onde posso fazer download...