quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Emissão #54 - 15 Dezembro 2007

A 54ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 15 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 19 de Dezembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (5 e 9 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

Um programa especial onde se destaca a entrevista exclusiva aos Barbatuques, realizada a 3 de Dezembro no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, na estreia em Portugal do grupo brasileiro.


"Vuoi Vuoi Mu", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
A norueguesa Mari Boine Persen inaugura a emissão com o tema “Vuoi Vuoi Mu”, extraído do álbum “Iddjagieđas” (Na Mão da Noite), lançado em 2006. Para além dos músicos Svein Schultz, Georg Buljo, Ole Jørn Myklebust, Peter Baden, Juan Carlos Zamata Quispe, Gunnar Augland, Sanjally Jobarteh, Malika Makouf Rasmussen, Sibusisiwe Ncube e Ross Reaver, neste disco colaboram também Terje Rypdal, Anitta Suikkari, Marry Sarre e Kenneth Ekornes. Nascida em Gámehisnjárga, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, os habitantes da Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica, assente numa escala pentatónica, da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo, as batidas e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, a pop, o rock e mesmo a música electrónica. São sons mais entoados que cantados, onde se evocam a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Yapheli'Mali Yami", Busi Mhlongo (África do Sul) - afro pop, maskanda, mbaqanda

Busi Mhlongo traz-nos " Yapheli'Mali Yami" (Acabou-se-me o Dinheiro), tema retirado do álbum "Urbanzulu", editado em 2000. Disco em que colaboraram vários músicos, entre eles, dois da banda Phuzekhemisi, que com ela compuseram este álbum simultaneamente africano e ocidental. A diva do afro pop foi a primeira mulher a internacionalizar a maskanda, género tradicional zulu que expressa a alegria e o lamento presentes na moderna vida da urbana África do Sul, e outrora característico dos trabalhadores e migrantes rurais. No entanto, Busi Mhlongo percorre outros estilos sul-africanos, fundindo-os com o jazz, o funk, o rock, o gospel, o rap e o reggae, e usando coros e instrumentos não tradicionais. Ao longo da sua carreira, actuou com alguns dos melhores nomes do jazz e estrelas da mbaqanga (género vocal, desenvolvido a partir de um estilo negro urbano, em que se destacam as vozes graves masculinas, e que se transformou no mqashiyo, um popular género de dança). Impedida de regressar à África do Sul, o que só aconteceria nos anos 90, Busi Mhlongo passou vários anos em Portugal, cantando temas populares e canções africanas em casinos. Durante o exílio, ela viveu ainda em Londres, no Canadá e em Amesterdão, cidade onde trabalhou com músicos africanos e desenvolveu o seu estilo único. Não é por acaso que, nas suas letras, Busi Mhlongo fala da necessária reconciliação entre sul-africanos com diferentes aspirações políticas.

"Manta", Saba (Somália) - afropop
Saba regressa ao programa com o tema "Manta" (Hoje), extraído do álbum “Jidka”, lançado este ano. Nascida em Mogadíscio, capital da Somália, durante o regime repressivo do general Muhammad Siyad Barre, Saba é filha de pai italiano e de mãe etíope. Com os italianos permanentemente sob suspeita e o conflito com a Etiópia na região de Ogaden, a família foi então obrigada a exilar-se em Itália. Neste seu trabalho de estreia, a cantora cruza a cultura africana com a europeia. Saba mistura então guitarras acústicas, koras e djembés com batidas tradicionais africanas e percussão contemporânea, recordando canções de infância e temas compostos com a própria mãe (recorde-se que ela começou por cantar e dançar com a irmã para entreter os vizinhos, em Addis Abeba). A jovem, que tem trabalhado com autores somalianos como Cristina Ubax Alì Farah e Igiaba Scego, serve-se do dialecto somali de Xamar Weuyne, onde abundam as palavras em inglês e italiano, herança dos tempos coloniais. Nesta aproximação entre culturas, ela conta com as participações do guitarrista e percussionista camaronês Tatè Nsongan, do griot senegalês Lao Kouyatè e da voz de Felix Moungara, do Gabão.

"Korppi", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock

A viagem continua com as Värttinä, que nos trazem o tema “Korppi”, retirado do álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda do folclore contemporâneo finlandês traz-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, naquele que foi o primeiro trabalho onde o grupo tentou juntar a música tradicional com sons modernos. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"Metsän Tyttö", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Seguem-se
os Hedningarna com “Metsän Tyttö” (A Rapariga da Floresta), tema extraído do álbum “Karelia Visa” (Canções da Carélia), lançado em 1999. Depois das incursões pelo mundo do rock, da pop e do techno, os Hedningarna (Os Pagãos), pioneiros na renovação da folk sueca, regressam à música tradicional nórdica. Juntam-se-lhes de novo as vocalistas finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Anita Lehtola, parte do agora sexteto que integra ainda Anders Skate Norudde, Björn Tollin, Hållbus Totte Mattsson e Ulf "Rockis" Ivarsson, e que conta com as colaborações de Johan Liljemark e Wimme Saari. No segundo álbum em que o grupo explora as raízes fino-úgricas da Carélia, homenagem à herança cultural deixada naquela região maioritariamente ocupada pela Rússia, os Hedningarna apresentam canções medievais que remetem para antigas lendas finlandesas, enraizadas no Kalevala (epopeia nacional daquele país, compilada por Elias Lönnrot). Letras e melodias que a banda, formada em 1987, reinterpreta de forma livre e inventiva, criando uma sonoridade etérea capaz de suportar a magia e o arcaísmo dos cantos rúnicos, sem contudo abdicar de influências modernas. Para isso, servem-se de instrumentos de vários países do norte da Europa como o violino, a moraharpa (versão medieval da nyckelharpa, harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas), a stråkharpa (lira nórdica de arco), o lagbordun, o hummel (cordofone sueco, da família da cítara e semelhante ao norueguês langeleik), a mandora (cordofone da família do alaúde), o alaúde, o oud (alaúde árabe), a sanfona, a flauta, a gaita sueca, o acordeão, o didgeridoo e o pandeiro.

Baianá", Barbatuques (Brasil) – body music, a'cappella, experimental
Os Barbatuques apresentam-nos agora “Baianá”, tema retirado do álbum “O Seguinte é Esse”, editado em 2005. No seu último trabalho, produzido por Fernando Barba, André Hosoi e Bruno Buarque, o grupo adiciona novas técnicas e paisagens sonoras ao universo da música corporal. Um retiro musical realizado em Botucatu, no interior de São Paulo, e novos arranjos e composições gravados em estúdio, fruto da aproximação a sonoridades regionais e contemporâneas, servem de base a este disco onde eles exploram em maior profundidade os aspectos melódicos, harmónicos, percussivos e fonéticos da voz. Partindo do “barbatuquear” minimalista e do improviso colectivo, este núcleo de percussionistas e pedagogos explora os inúmeros sons produzidos pelo corpo. As palmas, as batidas, os estalos, os assobios ou os vácuos são então combinados com instrumentos como o berimbau, a flauta ou a guitarra, na produção de ritmos, melodias, danças e cantos inspirados na cultura popular brasileira e que se cruzam com o sapateado do coco, as palmas do flamenco, os harmónicos vocais do Oriente, a percussão vocal cubana ou os sons fonéticos africanos. Uma experimentação global em diálogo com géneros contemporâneos como a dub, a beat box ou a electrónica. Estéticas que ampliam a gama de timbres orgânicos desta “orquestra de roda” que convida o público a explorar também as sonoridades tribais produzidas pelo “sintetizador humano”, fonte ilimitada de sons.

"Papa U Mama", Fufü-Ai (Espanha) - rock, french pop
Despedimo-nos com os catalães Fufü-Ai e o tema “Papa U Mama”, extraído do seu segundo álbum “For Ever”, gravado no verão de 2007. Trabalho onde a pop sensual e ingénua do primeiro disco “Petite Fleur”, lançado no ano anterior, se alarga ao reggae, à bossa nova, ao rock e ao punk. Propostas mestiças que partem do ambiente multicultural do El Raval, o conhecido bairro da Ciutat Vella de Barcelona, num french touch que fica completo com letras em francês, castelhano ou inglês. Em 2004, a vocalista Anouk Chauvet (Color Humano) reencontrou-se com o guitarrista e produtor Tomas Arroyos "Tomasin" (Les Casse-Pieds, La Kinky Beat, Mano Negra, Color Humano, Dusminguet), numa primeira versão acústica de Fufü-Ai, formação a que hoje se juntam a teclista Laia (Brazuca Matraca), o baixista Fernando "dinky" e o baterista Óscar. O projecto da capital catalã conta ainda com as colaborações pontuais de músicos como Yacine (Nour), Miryam ‘Matahary’ (La Kinky Beat), Joan Garriga (La Troba Kung-Fu), Sandro (Macaco), Stefarmo ou Baba (Black Baudelaire).

Jorge Costa

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