A 55ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 29 de Dezembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 2 de Janeiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (19 e 23 de Janeiro) nos horários atrás indicados.
"S'Agapov", Eli Paspala (Grécia) - greek music
A grega Eli Paspala inaugura mais uma emissão com “S'Agapov” (Eu Amo-te), tema retirado do álbum “Trio”, gravado ao vivo em 2001 em Atenas e lançado no ano seguinte. Uma selecção de músicas onde a conhecida cantora grega é acompanhada pelo seu marido David Lynch – ainda que americano, não se trata do famoso realizador de cinema -, músico de mãe irlandesa e pai checo que aqui toca flauta, saxofone e diversos tipos de percussão; e pelo cipriota Stavros Lantsias, que estudou em Boston e que neste trabalho toca piano, guitarra clássica, melódica e percussões. Apesar das diferentes origens geográficas, em comum os três músicos têm o facto de se terem estabelecido em Atenas. De ascendência grega, Elli Paspala é uma das mais célebres vocalistas daquele país dado o estilo único com que canta desde os temas de grandes compositores internacionais às canções helénicas, interpretadas não só em grego mas também em inglês, italiano, alemão e japonês. Sentimentos e ideias que se misturam na poética de géneros musicais que vão da pop ao jazz. Elli Paspala nasceu em Nova Iorque, onde fez carreira no mundo da ópera, mas em 1982 trocou os Estados Unidos pela Grécia, colaborando durante seis anos com o compositor Manos Hatzidakis. Ao longo do tempo, tem vindo a trabalhar com outros nomes de referência do mundo da composição grega como Stamatis Kraounaki, Mikis Théodorakis, Dionysis Savopoulos, Stamo Semsi ou Léna Platonos, sem esquecer as colaborações com músicos como Dimita Galani ou Yannis Spathas.
"Guardunha", Diabo a Sete (Portugal) - folk
As músicas do mundo prosseguem com "Guardunha" dos Diabo a Sete, um dos temas vulcânicos que fazem parte da “Parainfernália”, álbum de estreia do grupo, lançado este ano, e onde é convidado o músico Hugo Natal da Luz. Surgidos em Coimbra em 2003, os Diabo a Sete dizem ser uma espécie de cozido à portuguesa, embora com menos couves e mais enchidos. Das adaptações do cancioneiro nacional aos originais de inspiração popular, eles procuram reinventar a música tradicional portuguesa tomando como referência principal formações como o GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) e a Brigada Victor Jara. Caminhos escaldantes que depois se alargam a recantos acústicos endiabrados como o rock, o reggae, a música celta ou as danças europeias. Com percursos diferentes mas um gosto comum pela música étnica do seu país, Pedro Damasceno, Celso Bento, Eduardo Murta, Julieta Silva, Luísa Correia, Miguel Cardina e André Moutinho misturam os sons da sanfona, da concertina, da flauta, da gaita-de-foles, do bandolim, do cavaquinho e da guitarra com os da bateria, das percussões e do baixo eléctrico. Um cruzamento entre o passado, o presente e o futuro, onde se reinventam ritmos, melodias e instrumentos de outros tempos. No dia 29 de Dezembro, os Diabo a Sete vão estar no Centro Norton de Matos, em Coimbra, e a 26 de Janeiro nas FNAC's de Almada e Cascais.
"Caminu Polaciones", Luétiga (Espanha) - folk
Os Luétiga apresentam-nos“Caminu Polaciones”, tema retirado do álbum “Nel El Vieju”, editado em 1994. Um disco recheado de letras tradicionais e de composições próprias onde se contam e cantam estórias sobre a história, a sociedade ou o meio ambiente na Cantábria. O projecto (em cántábru ou montañés, Luétiga significa “coruja”) arrancou em 1986 com o objectivo de recuperar e modernizar os ritmos, sons e instrumentos daquela região espanhola recorrendo à investigação e ao estudo da sua música tradicional. Os irmãos Fernando e Roberto Diego e Chema Murillo, elementos iniciais daquele que foi o primeiro grupo a utilizar o idioma cantábrico, começaram por contactar velhos instrumentistas e cantores populares, resgatando assim do passado todo um universo sonoro rico em modas de baile e em cantigas de trabalho. Se de inicio a opção recaiu por um som mais eléctrico, à semelhança de grupos congéneres do Reino Unido, França ou da vizinha Galiza, mais tarde os Luétiga – hoje formados por Maite Blanco, Conchi García, Chema Murillo, Juan Carlos Ruiz, Roberto Diego, Fernando Segura e Fernando Diego – decidiram prescindir do bodhrán, das flautas irlandesas ou da gaita galega de forma a preservarem ao máximo a identidade da folk cantábrica. A preferência recaiu então em instrumentos mais característicos daquela parte da celtibéria atlântica como a requinta (clarinete afinado em Mi bemol, conhecido na Cantábria por pitu montañés, onde é tocado com o tambor, e que em grande parte substituiu a gaita e a dulzaina – aerofone da família do oboé, equivalente à bombarda bretã), a gaita-de-foles cantábrica, a pandeireta, o pandeiro, o violino, a guitarra acústica, a flauta transversal, o baixo, o tambor e o cajón.
"Baay Faal", Youssou N'Dour (Senegal) - mbalax, afropop
A jornada continua com Youssou N’Dour e "Baay Faal", extraído do álbum “Rokku Mi Rokka” (“Apanhar e Levar”), lançado em 2007. Tema onde o mais famoso cantor senegalês presta homenagem a Cheikh Iba Fall, primeiro discípulo de Cheikh Ahmadou Bamba, fundador da Confraria Mouride. Um trabalho que se aproxima dos cantos religiosos sufi, das percussões dos griots e dos sons do norte do Senegal, num apelo à paz, tolerância e valorização do continente africano. No final dos anos 70, o autor, intérprete e músico, que aprendeu a cantar com a mãe, formou com o cantor El Hadj Faye os L'Etoile de Dakar, e em 1981 os Le Super Étoile de Dakar. Cruzando os ritmos sincopados do mbalax senegalês com a pop internacional, numa fusão que inclui o jazz, a soul e arranjos afro-cubanos, o “rouxinol de Dakar” depressa cativou o público ocidental sem no entanto abdicar das suas raízes, conquistando o estatuto de embaixador da música africana. Nos seus temas em wolof e inglês, Youssou N’Dour retrata o mundo da pobreza, da emigração ou os valores culturais africanos. Um dos mais conhecidos a nível global é “Seven Seconds”, que gravou com Neneh Cherry. Através da música, com que pretende quebrar o silêncio das crianças que sofrem, Youssou N’Dour abraça também as causas humanitárias. Da fundação com o seu nome aos concertos em benefício da Amnistia Internacional, o embaixador da boa vontade para as Nações Unidas e para a UNICEF tem por isso mesmo colaborado com músicos como Peter Gabriel, Axelle Red, Sting, Alan Stivell, Bran Van 3000, Wyclef Jean, Paul Simon, Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Branford Marsalis, Ryuichi Sakamoto ou o camaronês Manu Dibango.
"Gimme Shelter", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
Angélique Kidjo e Joss Stone trazem-nos uma nova versão de “Gimme Shelter” - tema celebrizado pelos Rolling Stones, os reis do rock’n’roll -, retirada do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia), trabalho que conta com ainda com a participação de Joy Denelane. A jovem é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As músicas, grande parte inspiradas nas suas missões humanitárias, falam do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.
"Bulgarian Chicks", Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Seguem-se os Balkan Beat Box com “Bulgarian Chicks”, tema retirado do seu álbum de estreia, baptizado com o nome do grupo e editado em 2005. Para além da participação nesta música das Bulgarian Chicks (Valda Tomova e Kristin Espeland), o trabalho conta ainda com as colaborações dos israelitas Boom Pam, bem como de Victoria Hanna, Shushan, Hassan Ben Jaffar, Har-El Shachal e Tomer Yosef. Os Balkan Beat Box misturam de forma enérgica e ousada melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs, Mediterrâneo, Europa de Leste e Médio Oriente com letras bizarras, hip-hop e batidas electrónicas. A fanfarra circense, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.
"Munt", Boom Pam (Israel) - world fusion, surf rock
Os israelitas Boom Pam regressam ao programa com “Munt”, tema extraído do álbum do mesmo nome da banda, editado no ano passado. Formados em 2003, altura em que tocavam em clubes e casamentos, os Boom Pam foram buscar a identidade ao cover da canção grega que tocaram com a estrela de rock Berry Sakharof, êxito que ocupou as tabelas israelitas em 2004, à semelhança do que acontecera em 1969 com o cantor grego Aris San, emigrado em Tel Aviv. Os guitarristas Uzi Feinerman e Uri Brauner Kinrot começaram por experimentar sons orientais, até que se lhes juntaram a tuba de Yuval “Tubi” Zolotov e as percussões de Dudu Kohav. Depois do sucesso alcançado no Médio Oriente, eles chegaram ao público europeu, graças sobretudo ao DJ Shantel, que co-produziu o seu primeiro lançamento internacional e os descobriu numa das suas visitas a Tel Aviv, convidando-os então a participarem em vários espectáculos no seu Bucovina Club em Berlim, Frankfurt, Colónia e Zurique. Onde quer que actuassem, os Boom Pam deixavam o público em brasa com a sua mistura enérgica de rock do Médio Oriente com uma amostra de Balcãs, alguma irreverência e muito groove. Fugindo ao cliché do klezmer, geralmente associado à música judaica, eles criam um cocktail dos diferentes estilos que habitualmente se cruzam em Tel Aviv. Uma fusão única de estilos mediterrânicos, balcânicos e gregos, combinados com melodias judaicas, surf rock e música circense.
"Nadie Te Tira", Ozomatli (EUA) - salsa, cumbia, latin rock
Despedimo-nos com os Ozomatli e o tema “Nadie Te Tira”, extraído do álbum “Street Signs”, editado em 2004. Terceiro trabalho da banda (de que hoje fazem parte Raúl Pacheco, Asdrubal Sierra, Justin Porée, Ulisses Bella, Sheffer Brutton, Wil-Dog Abers, Mario Calire e Jiro Yamaguchi), formada em 1995, e em que participam o virtuoso marroquino do guimbri (alaúde berbere de três cordas) Hassan Hakmoun, os franceses “Les Yeux Noirs”, a Orquestra Sinfónica de Praga, David Hidalgo (Los Lobos), Mario Calire (The Wallflowers) e o pianista Eddie Palmieri. Os Ozomatli foram buscar o nome ao termo nahuatl (dialecto asteca) referente ao símbolo astrológico asteca do macaco e ao deus da dança, fogo e música. O grupo, que já colaborou com Carlos Santana e cujo som serviu de banda sonora a filmes como “Never Been Kissed” ou “Spanglish”, funde géneros como a salsa, a cumbia, o reggae e a dub com o gnawa africano, o funk do Médio Oriente, o punk, a pop, o jazz e os blues. O resultado é um rock latino com sabor ao hip-hop de Los Angeles, recheado de comentários sociais em inglês e castelhano que apelam à justiça social e aos direitos dos imigrantes. Uma energia acústica proporcionada por instrumentos como o tres (guitarra cubana), a jarana (guitarra mexicana), o requinto (grupo de pequenos cordofones e membrafones), o trompete, o trombone, o saxofone ou a tabla.
Jorge Costa
quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
Emissão #55 - 29 Dezembro 2007
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