terça-feira, 27 de março de 2007

Emissão #40 - 31 Março 2007

A 40ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 31 de Março, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 4 de Abril, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (21 e 25 de Abril) nos horários atrás indicados.

"Mesk Elil", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi

A abrir a emissão, Souad Massic com “Mesk Elil” (Madressilva), tema extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2005. Considerada a Tracy Chapman do Magrebe, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Esta jovem muçulmana, que desde 1999 vive exilada em França, recusa-se a falar em nome do Islão e a ser uma activista da causa berbere, nunca tendo enveredado pelo raï. O seu gosto, mais orientado para o rock ocidental, o chaâbi e a música andaluza, fê-la criar um estilo único. A nostalgia e a dor do exílio são os temas centrais deste trabalho. Numa ida à Tunísia para realizar mais um concerto, Souad Massi reencontrou os aromas da madressilva, uma planta que lhe fez lembrar a infância na Argélia e que por essa razão baptizaria o seu terceiro trabalho. Na adolescência, Souad Massi acompanhou com a sua guitarra o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.

"Freestyle Folk", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
As músicas do mundo prosseguem com os sevilhanos Rarefolk e o tema “Freestyle Folk”, retirado do álbum “Natural Fractals”, lançado em 2006. Quarto e último trabalho dos pioneiros, precisamente, do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da música electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Neste disco, os Rarefolk regressam à sua formação original – Ruben Diez, "Mangu" Díaz, Marcos Munné, Pedro Silva, Fernando Reina e Oscar "Mufas" Valero –, contando com a participação especial do violinista Elo Sánchez (dos andaluzes Sila Na Gig) e do saxofonista Nacho Gil (Caponata Argamacho Trio). Desta feita, eles apresentam-nos uma mistura de instrumentos acústicos com sequências de dança, enveredando por géneros como a breakbeat ou o jungle. Bem para trás fica 1992, ano em que os Rarefolk se deram a conhecer na exposição mundial de Sevilha como Os Carallos e em que começaram a ter uma formação estável.

"Tbilisi", Kepa Junkera (Espanha) - basque folk
Kepa Junkera regressa ao programa com “Tbilisi” (capital da Geórgia), tema extraído do seu último álbum “Hiri” (cidade), editado no ano passado. No seu disco mais intimista e elaborado, o músico leva-nos numa viagem por algumas das cidades e lugares de todo o mundo por onde passou. O exímio executante da trikitixa (fole do inferno), acordeão diatónico basco que em Portugal é conhecido por concertina, dá então destaque à txalaparta (instrumento de percussão, tocado com peças de madeira), à alboka (aerofone tradicional basco, constituído por dois chifres de vaca) e à sanfona. Kepa Junkera tornou-se o mais internacional dos músicos bascos ao fundir a folk da sua terra e a música triki com os ritmos do mundo. Uma palete sonora que começou com uma abertura ao jazz, à música clássica e à folk-rock, e que mais tarde anexou os ritmos do Quebeque, do Mediterrâneo, das Canárias, da Europa Central, de África e da Irlanda. Em “Hiri”, o músico de Bilbao conta com a participação de músicos como o albokari Ibon Koteron, Patrick Vaillant, Glen Velez, Marcus Suzano, Alain Bonnin, os Etxak, o Alos Quartet, Gilles Chabenat, Jean Wellers, Carlos Malta, Lori Cotler, Andy Narell, os catalães Tactequete, Xosé Manuel Budiño, os italianos Enzo Avitabile & I Bottari Di Pórtico e as vozes das Bulgarka, da cantora azeri Aygun, de José António Ramos, Benito Cabrera, Mercedes Peón e Eliseo Parra. Mas se tivermos em conta toda a discografia de Kepa Junkera, há que acrescentar ainda as colaborações de nomes como os Oskorri, o duo de txalapartaris Oreka TX, John Krikpatrick, Riccardo Tessi, Maria del Mar Bonet, Justin Vali, Hedningarna, La Bottine Souriante, Phil Cunningham, Liam O’Flynn, Béla Fleck, Andreas Wollenwaider, Pat Metheny e Caetano Veloso, bem como os portugueses Júlio Pereira e Dulce Pontes.

"Sarama", Amadou & Mariam (Mali) - afropop blues
A jornada continua agora com a dupla Amadou & Mariam, que nos traz o tema “Sarama” (A Charmosa), retirado do álbum “Wati” (Os Tempos, em bambara), editado em 2002. Um afropop blues, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências tão inesperadas como o cavaquinho português ou o violino de Bengala. Naquela que é a mais roqueira pop africana, não faltam as habituais alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Neste trabalho, Amadou & Mariam prestam homenagem à música tradicional maliana, ainda que embrulhada em sons ocidentais, tendo por convidados os franceses Mathieu Chedid, Jean-Philippe Rykiel, Sergent Garcia, o marroquino Hamid el Kasri e os malianos Cheick Tidiane Seck, Moriba Koïta e Boubacar Dambalé. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na vida e na carreira. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma através da qual recordam não só as suas raízes mandingo, mas também as teias invisíveis que ligam o Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.

"Enoralehu", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk
Viagem até à Etiópia com Gigi e o tema “Enoralehu”, extraído do álbum “Gold and Wax”, editado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu último trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos músicos africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.

"Borman", Akli D (Argélia) - chaâbi, mbalax, folk, blues, rock
Segue-se Akli D com “Borman”, tema integrante do seu segundo álbum “Ma Yela” (Se Houvesse), editado em 2006. Um trabalho rico em misturas étnicas, onde se fala de paz, fraternidade e amor. Se no primeiro disco o compositor argelino enfatizava as suas raízes culturais e reivindicações políticas, neste alarga o espectro musical, abrindo-se ao mundo. Poético, político e tradicional, Akli Dehlis combina o chaâbi do norte de África com as tradições folk da região rural de Kabylie, misturando-os com canções americanas de intervenção, com os blues do Mississippi ou com o mbalax, a moderna pop senegalesa. Akli D nasceu em Kerouan, pequena cidade da Cabília, região montanhosa do norte da Argélia. Ele é um amazigh, o povo pré-islâmico que durante séculos habitou a costa sul mediterrânica desde o Egipto ao Atlântico, e que foi alvo de repressão armada ao exigir o reconhecimento oficial das línguas berberes naquele país. Exilado em Paris a partir da década de 80, tornou-se um músico de rua e do metro, acabando por experimentar géneros musicais como os blues, o rock, o reggae ou a folk. Mais tarde, Akli D muda-se para São Francisco, chegando a viver algum tempo na Irlanda. Pelo meio, acompanhou o duo feminino El Djazira e formou o grupo Les Rebeuhs des Bois, o qual tocava nos cafés e clubes de Paris. Foi num destes espaços em que ocorriam encontros musicais espontâneos levados a cabo pelas comunidades árabes e africanas que Akli D conheceu Manu Chao, produtor deste seu último trabalho.

"Kifache Rah", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno

Rachid Taha traz-nos “Kifache Rah” (Como Passou Perto), tema retirado do álbum “Diwan 2”, lançado no ano passado. Um regresso às origens, oito anos depois da primeira série, com arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às baladas e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. São clássicos actualizados num álbum gravado em Londres, Paris e Cairo e de novo produzido por Steve Hillage, onde têm destaque instrumentos tradicionais como a gasba (espécie de flauta magrebina) ou o guellal (pequeno tambor). Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas emigrou muito cedo com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico hoje residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”). Um nome nada inocente, que faz referência à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se sobretudo o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o rock, o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.

"Décollage", Bajofondo Tango Club (Argentina/Uruguai) - electro-tango

A fechar o programa, despedimo-nos com os Bajofondo Tango Club e o tema “Décollage”, retirado do álbum “Supervielle”, lançado em 2004. A Argentina e o Uruguai estão separados pelo Rio de la Plata mas unidos pela melancolia e nostalgia do tango. Produtores, músicos e cantores dos dois países decidiram então juntar-se para misturar o tango com diversos estilos electrónicos, recuperando o espírito da música rioplatense entre as décadas de 30 e 60. O projecto, criado em 2001 pelos produtores Juan Campodónico e Gustavo Santaolalla, recorre ao trip hop, ao house, ao chill out ou ao drum & bass, ritmos electrónicos que acabaram por reinventar o tango, transformando-o num drama dançável. Dos Bajofondo Tango Club fazem ainda parte Martín Ferrés, Verónica Loza, Javier Casalla e Gabriel Casacuberta. À formação ao vivo juntam-se também Luciano Supervielle, Jorge Drexler, Juan Blas Caballero, Didi Gutman, Adrian Laies, Emilio Kauderer, Cristobal Repetto, Diego Vainer e Adriana Varela.

Jorge Costa

terça-feira, 20 de março de 2007

Testemunho André Moutinho, "Canto Nómada"

Na sequência do desafio lançado pelo MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO a alguns dos autores de programas de músicas do mundo existentes nas restantes rádios locais e regionais portuguesas, aos quais foi pedido um breve depoimento acerca da sua experiência profissional ligada à world music, aqui fica a transcrição do testemunho enviado pelo André Moutinho, realizador do Canto Nómada, programa de música tradicional portuguesa e do mundo que este apresenta às quintas-feiras, entre as 22 horas e a meia-noite, na Torres Novas FM (100.8 FM):

"Desde já, e neste dia especial, as minhas saudações pessoais e do programa “Canto Nómada” de Torres Novas, bonita cidade do Ribatejo Norte para a linda zona da Beira Baixa e para todos os amigos e ouvintes do “Multipistas”. Depois, aproveitar para transmitir ao Jorge Costa e ao seu programa “Multipistas” os meus mais sinceros parabéns pelo 1º aniversário e, mesmo sendo um lugar comum, dizer sinceramente que espero que comemores mais aniversários por muito anos.

Sou um ouvinte atento (mas, infelizmente, pela minha actividade profissional, não muito regular) dos teus podcast’s do programa, acessíveis no teu blog. Já o site, consulto-o regularmente para conhecer a nova música do mundo, isto porque acho que és um dos grandes conhecedores do tema. Aliás, também eu acho que o teu programa é o que mais se assemelha, dentro das naturais diferenças, ao programa “Terra Pura” do Luís Rei. Mas reforço o seguinte, para se fazer emissões com esse género de música que tu fazes, é necessário ouvir muito e ser conhecedor da área……coisa que não se passa comigo.

O programa “Canto Nómada” é essencialmente um programa de música tradicional portuguesa, talvez porque eu não saiba tanto de música do mundo mas porque não tenho tempo para estudá-la com atenção ou mesmo adquiri-la. Portanto, cingimo-nos à música tradicional portuguesa, ou folk, ou celta ou o que quiserem chamar e alguma da do mundo, “atirada” para um pequeno espaço no final da 1ª hora. De qualquer maneira, foi propositada a ideia inicial do programa “Canto Nómada”, que vem assim, penso eu, contribuir para a divulgação do melhor do que se faz em Portugal e para o número de horas de música portuguesa que as estações de rádio estão obrigadas a cumprir.

Mas explicando rapidamente o habitual alinhamento, o programa “Canto Nómada”, na 1ª hora, antes dos destaques da semana, apresenta os novos projectos da música tradicional portuguesa. Depois, tem sempre um pequeno espaço de entrevista de alguns minutos com os novos projectos, em que apresentamos três faixas do grupo em questão e, finalmente, o espaço “Multipistas” (estou a brincar Jorge) com algumas músicas do mundo e a parceria/sugestão que temos com o site Rodobalho.com lá pelo meio. Já na 2ª hora, é tempo da música dos chamados consagrados da MTP em que a misturo com as notícias e a agenda da semana, temperando lá pelo meio com uma crónica assinada, a cada semana, por vários convidados ligados ao meio musical como sendo músicos, produtores, radialistas, entre outros (agradeço desde já, a disponibilidade que tiveste, Jorge, em assinar a crónica da semana da emissão 9 do passado dia 18 de Janeiro).

Aproveito agora para agradecer também, por este meio, as palavras simpáticas que tenho ouvido de todos os que tenho contactado, pela existência dos nossos programas. Quer dizer que o tempo que tu perdes (eu acho que ganhas) já terá valido para alguma coisa. Afinal, é o agradecimento dos músicos portugueses a todos nós autores de programas de rádio que passam boa música portuguesa. Músicos que enveredaram por projectos tradicionais mas nem sempre por isso mais fáceis e longe da mediocridade reinante que as nossas rádios de uma maneira geral transmitem. Mas como cultura é sinal de desenvolvimento, conhecer a música de raiz tradicional dos outros países é tão importante como dar a conhecer apenas a portuguesa. E para isso existe o “Multipistas”. E de que maneira…

Parabéns e um sentido abraço.

André Moutinho


OUVIR ...↓
Testemunho André Moutinho (3'43'')

quarta-feira, 14 de março de 2007

Emissão #39 - 17 Março 2007 - 1ºaniversário

A 39ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 17 de Março, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 21 de Março, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (7 e 11 de Abril) nos horários atrás indicados.

No primeiro aniversário do programa, destaque para uma emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas da world music gravados ao vivo, ambiente mágico em que a cor e o ritmo das vozes e instrumentos se evidenciam ainda mais, deixando transparecer uma combinação entre tradição e modernidade. Essa é também a imagem de marca do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, um espaço que desde Março de 2006 tem procurado dar destaque a alguma da melhor música étnica produzida em todo o globo, sobretudo a que se funde com géneros mais actuais e urbanos.

Mas a festa não se faz só em antena. Fica o convite para que no sábado, 21 de Abril, a partir das 21:30, se junte a nós no auditório da delegação regional de Castelo Branco do Instituto Português da Juventude. Uma noite de gala, com muitas surpresas, e que será integralmente dedicada à música do mundo.

"Seelinnikoi",Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock

As Värttinä inauguram esta emissão especialíssima com “Seelinnikoi”, tema integrante do álbum “6.12 Live In Helsinki”, gravado ao vivo em Helsínquia em Dezembro de 2000. Um trabalho onde se reúnem sobretudo clássicos deste grupo, habituado a cruzar a folk contemporânea finlandesa com a pop ocidental.

"Finlays", Capercaillie (Reino Unido) - celtic folk
As músicas do mundo prosseguem neste especial de aniversário com “Finlays”, tema original dos Capercaillie. A mais popular banda da folk escocesa funde sonoridades tradicionais com ritmos contemporâneos, vozes poderosas e instrumentos electrónicos. O resultado é uma explosão de elementos, bem patente no trabalho “Live in Concert”, gravado ao vivo no Royal Concert Hall, em Glaslow (Escócia), em Janeiro de 2002.

"Cardinal Knowledge", Kíla (Irlanda) - celtic music, world fusion

Os irlandeses Kíla chegam-nos agora com “Cardinal Knowledge”, tema extraído do álbum “Kíla - Live in Dublin”. Um trabalho lançado em 2004, e onde se reúne o melhor dos concertos dados pelo grupo em duas conhecidas salas de Dublim: o Vicar Street e o teatro Olympia. Ao fundirem ritmos e melodias tradicionais irlandesas e do sul da Europa com outras sonoridades, os Kíla criaram um som contemporâneo onde o rock também tem lugar.

"M'Bifo",Rokia Traoré (Mali) - malian contemporary music
O especial primeiro aniversário continua com Rokia Traoré, a mais jovem diva do Mali, conhecida por combinar e dar uma expressão moderna ao n’goni e à balaba, dois instrumentos tradicionais, e por inovar nas estruturas rítmicas e melódicas da música africana. Ela traz-nos uma balada cantada em bamana e retirada do DVD “Rokia Traoré: Live in Paris”, gravado ao vivo no La Cigale em Abril de 2004.

"Balakatun", Richard Bona (Camarões) - afropop
Viagem até aos Camarões com o multi-instrumentista e compositor Richard Bona e o tema “Balakatun”, um excerto do animado concerto que o músico deu em Março de 2004 na Radio France. Um talento revelado uma década antes, precisamente naquela emissora, quando em 1995 foi finalista do concurso Découvertes de Radio France Internationale. Richard Bona é um contador de histórias que mistura as suas raízes africanas com a sensibilidade do jazz, os ritmos afro-cubanos e a pop anglo-saxónica.

"Oualahila Ar Tesninam", Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues

Para já, no primeiro aniversário do programa segue-se o grupo dos desertos. Os Tinariwen trazem-nos “Oualahila Ar Tesninam”, tema gravado ao vivo em Reading, no Reino Unido, no festival WOMAD 2004. A música rítmica e harmónica destes tuaregues, repartidos entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia, é acompanhada pelo tindé, pela flauta t’zamârt e pela guitarra eléctrica. Uma sonoridade em que também está presente a asoüf,
solidão característica da poesia cantada por aquele povo.

"N'Kodo", Djamel Laroussi (Argélia) - rap, raï

Mais à frente, neste especial música ao vivo, Djamel Laroussi apresenta-nos a p
rimeira parte de “Étoile Filante”, tema extraído do álbum “Djamel Laroussi Live”, gravado ao vivo em Colónia, na Alemanha, e lançado em 2004. Compositor, cantor e multi-instrumentista, Djamel Laroussi parte das raízes norte africanas do chaâbi e do gnawa, inspirando-se nos sons ocidentais e nos ritmos latinos para criar baladas em francês, árabe e berbere.

"Tríptico", Gotan Project
(França) - electro-tango
A fechar o programa, despedimo-nos c
om os Gotan Project e o tema “Tríptico”, gravado ao vivo em 2002, lado a lado com Yann Tiersen, no “Music Panet 2Nite”, programa do canal franco-alemão ARTE. Formado em 1999 pelo francês Philippe Cohen Sofal, pelo argentino Eduardo Makaroff e pelo suíço Christoph H. Müller, os Gotan Project foram buscar o nome ao anagrama criado com a palavra tango, precisamente o género musical que o conhecido trio parisiense tem vindo a misturar com elementos electrónicos.

(dados sobre os músicos bem como as capas dos discos originais podem ser encontrados nos textos de outras emissões)

Jorge Costa

quinta-feira, 1 de março de 2007

Emissão #38 - 3 Março 2007

A 38ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 3 de Março, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 7 de Março, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (24 e 28 de Março) nos horários atrás indicados.

"Homecoming", Taraf de Haïdouks (Roménia) e Tunng (Reino Unido)
- gypsy music, folktronica
Os Taraf de Haïdouks com “Homecoming”, uma remistura dos Tunng extraída da colectânea “Electric Gypsyland 2”, editada em Novembro do ano passado. Uma série de reinterpretações e de reinvenções poéticas de músicos europeus, turcos e africanos, em que o ponto de partida é a música cigana. Os Taraf de Haïdouks ("banda de bandidos") são originários de Clejani, cidade localizada a sudoeste de Bucareste, na Roménia. Esta dezena de instrumentistas e cantores, em que convivem quatro gerações de lăutari (músicos), foi descoberta em 1990 por dois jovens músicos belgas que se apaixonaram pela sua sonoridade e decidiram dá-los a conhecer ao mundo. A música dos Taraf de Haïdouks, que varia entre as baladas e as danças, é uma mistura de estilos locais, representando na perfeição a riqueza da folk romena. O que chamou a atenção, entre outros, dos Tunng, banda inglesa que mistura a folk experimental com elementos da música electrónica, género habitualmente conhecido por folktronica ou electrofolk. Este duo de guitarras, formado por Sam Genders e Mike Lindsay, destaca-se quase sempre pelo uso de instrumentos pouco comuns, como por exemplo as conchas do mar. Os Tunng criam então uma atmosfera melódica e rural, a qual dá um
ar estranhamente britânico aos Taraf de Haïdouks.

"Gizonak Eztan Bear", Alboka
(Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com os Alboka, que nos trazem o tema “Gizonak Eztan Bear”, extraído
do álbum “Lau Anaiak” (Os Quatro Irmãos), lançado em 2004. Quarto trabalho do grupo que, para além das danças e melodias populares, retiradas dos cancioneiros bascos, integra temas instrumentais – então uma novidade na folk basca, mais habituada a trabalhos vocais – e novas canções, compostas por Allan Grifing e traduzidas para euskera pelo escritor basco Juan Garcia. O agora duo, formado pelo acordeonista Joxan Goikoetxea e pelo multi-instrumentista irlandês Alan Griffin (que há mais de vinte anos vive no País Basco), foi criado em 1994 juntamente com mais dois músicos daquela região autónoma espanhola: Txomin Artola e Josean Martín Zarko. Da sua história fazem também parte as vozes de Benito Lertxundi e Xabi San Sebastián, o violinista Juan Arriola e a cantora húngara Marta Sebestyén, que colaborou num dos álbuns do grupo. Um ensemble cujo objectivo é o de interpretar música tradicional exclusivamente de forma acústica, sua imagem de marca, e que foi buscar o nome à alboka, um aerofone pastoril basco, construído com dois chifres de vaca, e cuja sonoridade, parecida com a da gaita, se situa entre a sanfona e a bombarda francesa. Juntam-se-lhe o acordeão, o bouzuki, o bandolim, o ttun-ttun (tamboril basco, da família do saltério), a guitarra acústica, o violino, a harpa, a gaita, a flauta e as percussões. Uma ponte entre a música tradicional e a folk contemporânea, em que a energia basca se une à pureza irlandesa.

"Napoli", Kepa Junkera
(Espanha) - basque folk
Kepa Junkera de regresso ao programa com “Napoli”, tema retirado do seu último álbum “Hiri” (cidade), editado no ano passado. No seu disco mais intimista e elaborado, o músico leva-nos numa viagem por algumas das cidades e lugares de todo o mundo por onde passou. O exímio executante da trikitixa (fole do inferno), acordeão diatónico basco que em Portugal é conhecido por concertina, dá então destaque à txalaparta (instrumento de percussão, tocado com peças de madeira), à alboka (aerofone tradicional basco, constituído por dois chifres de vaca) e à sanfona. Kepa Junkera tornou-se o mais internacional dos músicos bascos ao fundir a folk da sua terra e a música triki com os ritmos do mundo. Uma palete sonora que começou com uma abertura ao jazz, à música clássica e à folk-rock, e que mais tarde anexou os ritmos do Quebeque, do Mediterrâneo, das Canárias, da Europa Central, de África e da Irlanda. Em “Hiri”, o músico de Bilbao conta com a participação de músicos como o albokari Ibon Koteron, Patrick Vaillant, Glen Velez, Marcus Suzano, Alain Bonnin, os Etxak, o Alos Quartet, Gilles Chabenat, Jean Wellers, Carlos Malta, Lori Cotler, Andy Narell, os catalães Tactequete, Xosé Manuel Budiño, os italianos Enzo Avitabile & I Bottari Di Pórtico e as vozes das Bulgarka, da cantora azeri Aygun, de José António Ramos, Benito Cabrera, Mercedes Peón e Eliseo Parra. Mas se tivermos em conta toda a discografia de Kepa Junkera, há que acrescentar ainda as colaborações de nomes como os Oskorri, o duo de txalapartaris Oreka TX, John Krikpatrick, Riccardo Tessi, Maria del Mar Bonet, Justin Vali, Hedningarna, La Bottine Souriante, Phil Cunningham, Liam O’Flynn, Béla Fleck, Andreas Wollenwaider, Pat Metheny e Caetano Veloso, bem como os portugueses Júlio Pereira e Dulce Pontes.

"Dirt And Blood", Antibalas Afrobeat Orchestra (EUA) - afrobeat
Seguem-se os Antibalas Afrobeat Orchestra com “Dirt And Blood”, tema extraído do seu trabalho de estreia “Liberation Afrobeat Volume I”, lançado em 2001. Este colectivo multiracial (eles são latinos, afro-americanos, africanos e americanos asiáticos que vivem em Nova Iorque nos bairros de Brooklyn, Manhattan e Bronx, e em Bayonne, na Nova Jérsia), formado em 1998 pelo saxofonista Martin Perna, inspirou-se no saxofonista e activista nigeriano Fela Anikulapo Kuti, fazendo renascer a herança musical do fundador da afrobeat. Um género em que os Antibalas Afrobeat Orchestra puderam enquadrar os diferentes interesses musicais e preocupações políticas de cada um dos seus membros. O som desta banda nova-iorquina, cuja formação varia entre os 14 e os 20 elementos, combina highlife, jazz, soul, funk, dub, ritmos e percussões africanas e cubanas. Eles têm tocado não só com outros criadores do legado da afrobeat, entre eles o percussionista Tony Allen ou o trompetista Babatunde Williams, mas também aberto as fronteiras a James Brown, No Doubt, Wyclef Jean ou Trey Anastasio. O cariz político das letras e as posições provocadoras dos Antibalas são outro dos aspectos da herança de Kuti. Estas incitam à insurreição e à “desfranchização” do mundo, atacando o sistema capitalista em inglês, castelhano e yoruba. Consciência social e mensagens políticas à mistura com muito ritmo e percussão...

"Marena-Wotetea", Gigi (Etiópia) - world fusion, afrofunk
Avançamos agora até à Etiópia com o tema “Marena-Wotetea”, extraído do álbum “Gold and Wax”, editado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu último trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos músicos africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.

"Tauti", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
Para já, a mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa traz-nos o tema “Tauti” (Doença), uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica, extraída do álbum “Iki” (termo que a banda define como sendo “o sopro principal e eterno”). Trabalho editado no vigésimo aniversário do grupo, em 2003, e que marcou o seu regresso às grandes melodias. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida em que se mantém o vigor e o calor vocal de sempre.

"Pjesna Ljesorubov", Mari Boine (Noruega), Inna Zhelannaya e Sergey Starostin
(Rússia) - progressive folk music
A tripla Mari Boine, Inna Zhelannaya e Sergey Starostin traz-nos “Pjena Ljesorubov” (Canção do Lenhador), tema extraído do álbum “Winter In Moscow”, lançado em 2001. No início dos anos 90, uma jornalista norueguesa apresentou a conterrânea Mari Boine àqueles dois elementos dos Farlanders, formação moscovita que misturava a folk russa com o jazz e o rock. No Inverno de 1992 todos eles juntaram-se primeira vez em estúdio em Moscovo com outros músicos noruegueses e russos para gravar este disco, trabalho onde exploram a música ocidental sem no entanto esquecerem as suas tradições. Dotada de uma voz mística, a embaixadora dos sami tem vindo a lutar pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos do povo da Lapónia, no norte da Escandinávia. Mari Boine, que canta também em inglês, mistura o joik com os blues, o jazz, o rock e a música electrónica. Já o interesse do vocalista russo Sergey Starostin pela etnomusicologia do seu país levou-o a viajar pela então União Soviética, acabando por reunir histórias, músicas e instrumentos tradicionais. Um trabalho que deu os seus primeiros frutos no Moscow Art Trio, grupo com que combinaria elementos da folk, do jazz e da música clássica. Finalmente, a cantautora Inna Zhelannaya, que começou a sua carreira na banda Allians, destaca-se pela mistura de folclore russo e bielorusso com o rock, a música do mundo e os sons electrónicos.

"La Procesión", Kevin Johansen (Argentina) - rumba, cumbia, world fusion
A fechar o programa, despedimo-nos c
om Kevin Johansen e o tema “La Procesión”, retirado do seu segundo disco a solo “Sur o no Sur”, editado em 2002. Álbum onde o músico argentino, nascido no Alaska, envereda por canções que predominam sobre géneros tipicamente americanos mas, como ele próprio diz, “desclassificados”: o tango, o bolero, a ranchera mexicana, a rumba catalã, o samba celta, a bossanova, a cumbia flamenca, o tex-mex, o zydeco ou a milonga, habilmente cruzados com a pop, o hip-hop ou o funk. Kevin Johansen passou a sua adolescência em Buenos Aires, mas desde muito cedo que começou a percorrer o mundo de guitarra debaixo do braço. Depois de ter vivido alguns anos em São Francisco, Manhattan e Nova Iorque, no final dos anos 90 o compositor decidiu então regressar à Argentina e explorar as suas referências folclóricas, deixando para trás uma breve experiência pop-rock no grupo Instrucción Cívica. Hoje, juntamente com a sua banda The Nada, Kevin Johansen interpreta temas em castelhano, inglês ou mesmo “espanglês”, mistura de estilos e linguagens onde o humor, o sarcasmo e a ironia estão sempre presentes. Um desenraizamento sonoro, imagem de marca da Argentina actual, onde se prova que o futuro da música passa mesmo pela mistura.

Jorge Costa