sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Emissão #56 - 12 Janeiro 2008

A 56ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 12 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 16 de Janeiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (2 e 6 de Fevereiro) nos horários atrás indicados.

"Last Wish Of The Bride", J.U.F. (EUA) - gypsy punk, dub
Os Jewish Ukranian Freundschaft (J.U.F.) a abrirem mais uma emissão com “Last Wish Of The Bride”, tema retirado do álbum de estreia da formação “Gogol Bordello vs. Tamir Muskat”, editado em 2004. No início da década de 1990, o ucraniano Eugene Hütz rumou até Nova Iorque, onde começou por explorar como DJ num bar búlgaro, a Mehanata (“pequena taberna”), os sons dos Balcãs. Somadas as remisturas de Hütz ao gypsy punk dos Gogol Bordello (de que é vocalista) e a alguns convidados, o resultado foi a criação em 2002 do projecto J.U.F., nome inspirado na banda de punk industrial alemã D.A.F. (Deutsch Amerikanische Freudschaft). Para além da israelita Victoria Hanna, do baixista Itamar Ziegler, das vocalistas Shlomi e Andra Ursuta e do teclista Fran Avni, a banda é formada por membros dos Gogol Bordello – o teclista, percussionista e produtor israelita Tamir Muskat, o guitarista Oren Kaplan, o violinista Sergey Rjabtzev e o acordionista Yuri Lemshev – e dos Balkan Beat Box – de novo Tamir Muskat e o saxofonista Ori Kaplan. Nesta amizade judaico-ucraniana, eles cruzam os ritmos frenéticos e o ambiente festivo da música cigana da Europa de Leste com uma amálgama de sons globais, criando um punk-rock incendiário e universal. Combinação onde também entram a dub e o reggae jamaicanos, o raï argelino, o flamenco, a bhangra indiana ou a música electrónica.

"La Mocita", La Musgaña (Espanha) - spanish folk

As músicas do mundo prosseguem com os La Musgaña e "La Mocita", parte integrante do álbum “Temas Profanos”, lançado em 2003. O sexto disco do grupo conta com as colaborações de Carmen Paris, Joaquín Díaz, David Mayoral e Pablo Martín. Em 1986, Enrique Almendros, até então intérprete de música celta, José María Climent e Rafael Martín decidiram formar um grupo centrado na tradição musical da meseta castelhana. Ainda nesse ano, juntaram-se-lhes o flautista Jaime Muñoz e o baixista Carlos Beceiro, únicos elementos que hoje permanecem no quinteto composto ainda por Diego Galaz, Jorge Arribas e Sebastián Rubio. Das melodias de dança às canções de amor, passando pela música para casamentos, os La Musgaña apresentam-nos uma ampla visão musical de uma zona marcada pela herança europeia, africana e mediterrânica. Por entre os temas evocativos destacam-se os ofertórios religiosos, as charradas, ajechaos e charros de Salamanca e Zamora, os bailes corridos de Ávila, os pindongos de Cáceres e as danças, aires e canções de León ou Burgos, ou as jotas, rogativas, dianas e villancicos de Madrid, Segovia e Valladolid. Uma celebração da música tradicional espanhola, à mistura com influências ciganas, mouriscas e celtas, em que os ritmos hipnóticos se constroem com toda uma gama de instrumentos tradicionais (gaita charra, gaita sanabresa, flauta, tamboril, cistro ou sanfona), étnicos (cajón, tar, krakebs, pandeiro iraniano, derbouka, bouzouki, req, sabar, tinajas, bendir ou marímbula) e modernos (clarinete, acordeão diatónico, saxofone soprano, baixo ou violino).

"Romanescu", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Os sevilhanos Rarefolk regressam de novo ao programa com “Romanescu”, tema retirado do álbum “Natural Fractals”, editado em 2006. Quarto e último trabalho dos pioneiros do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da música electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Diversidade sonora que lhes tem permitido partilhar os palcos com músicos prestigiados como os Capercaillie, Shooglenifty, Wolfstones, Luar na Lubre, Berrogüeto, Hevia, Fanfarre Ciocărlia, Kalima, Tomatito, O’Funkillo, Narco, La Cabra Mecânica ou Enemigos. Neste disco, os Rarefolk regressam à sua formação original – Ruben Diez, "Mangu" Díaz, Marcos Munné, Pedro Silva, Fernando Reina e Oscar "Mufas" Valero –, contando com a participação especial do violinista Elo Sánchez (dos andaluzes Sila Na Gig) e do saxofonista Nacho Gil (Caponata Argamacho Trio). Desta feita, eles apresentam-nos uma mistura de instrumentos acústicos com sequências de dança, enveredando por géneros como a breakbeat ou o jungle. Bem para trás fica 1992, ano em que os Rarefolk se deram a conhecer na exposição mundial de Sevilha como Os Carallos e em que começaram a ter uma formação estável.

"Alamino", Koezy (Madagáscar) - salegy
A jornada continua com as Koezy e o tema "Alamino", extraído do álbum “Ma Liberté”, lançado em 2002. Estas cinco jovens pertencem ao povo Sakalava, no nordeste do Madagáscar. Rodeado pelo Índico e situado na quarta maior ilha do planeta, este país possui uma enorme diversidade étnica – nada mais nada menos que dezoito grupos diferentes – mas também uma riqueza histórica assinalável, visto que por aqui passaram árabes, persas, chineses, indianos, portugueses, franceses e ingleses. Espalhados pelas seis províncias - Antananarivo, Fianarantsoa, Tolagniaro, Mahajanga, Toamasina e Antseranana - convivem então estilos como astsapiky, kalon, ny fahiny ou salegy. Porta-vozes deste último género, as Koezy são um dos grupos responsáveis pela modernização da música tradicional da sua região, mas não esquecem as antigas composições. Uma zona marcada pelas canções tradicionais, recheadas de provérbios e acompanhadas por instrumentos de sopro e pela cadência grave de um tambor. No entanto, a expressão sonora de Sakalava que acabou por se estender a todo o território do Madagáscar teve origem nas sessões de transe subconsciente tromba. Um ritual em que os antepassados são invocados com cantos reforçados por uma melodia no acordeão e pelo ritmo do bater de mãos da assistência.

"Fantani", Amadou & Mariam (Mali) - bambara blues, afro pop
A dupla Amadou & Mariam traz-nos “Fantani”, tema retirado do seu terceiro álbum “Tje Ni Mousso” (Homem e Mulher), editado em 1999. Um blues eléctrico, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências inesperadas como o cavaquinho de Pedro Soares. Naquela que é a mais roqueira pop africana, não faltam as habituais alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na música e na vida. Amadou & Mariam prestam então homenagem à música tradicional maliana, revestindo-a de sons ocidentais. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma de recordarem não só as suas raízes mandingo, mas também as ligações do Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.


"Habina", Rachid Taha (Argélia) - chaâbi, raï, rock, punk, techno
Segue-se Rachid Taha com “Habina” (Nós Amamos), tema retirado do álbum "Diwan", editado em 1998. São arranjos e interpretações de temas magrebinos e árabes, numa homenagem às melodias e canções de músicos da sua infância como Blaoui Houari, estrela argelina da década de 1950, ou Mohamed Mazouni. Clássicos actualizados num trabalho produzido por Steve Hillage. Rachid Taha nasceu na cidade costeira de Oran, na Argélia, mas desde muito cedo que emigrou com a família para França. Alsácia e Vosges foram os primeiros destinos do músico e compositor residente em Paris, cidade onde começou a sua carreira a solo. Em 1981, enquanto vivia em Lyon, Rachid Taha conheceu Mohammed e Moktar Amini. Foi então que os três, juntamente com Djamel Dif e Eric Vaquer, formaram a banda de rock “Carte de Séjour” (“autorização de residência”), nome que se refere à crescente movimentação dos descendentes dos imigrantes argelinos, que na época começavam a reclamar por um maior espaço de intervenção na sociedade francesa. Popular e polémico, Rachid Taha mistura o rock urbano com a música tradicional do Oriente, cantando em árabe. Nas suas influências destacam-se o chaâbi e o raï, géneros que cruzou não só com sons africanos e europeus, mas também com o punk ou o techno. Rachid Taha não deixa ninguém indiferente, já que ao longo de mais de duas décadas se tem batido pela defesa da democracia e da tolerância e pela luta contra o racismo e todas as formas de exclusão, sem esquecer a guerra contra a pobreza, o medo e os fundamentalismos árabes.

"Rumba Califa", Cheb Balowski (Espanha) - pachanga, raï, gnawa, rock
Os catalães Cheb Balowski trazem-nos “Rumba Califa”, tema extraído do álbum "Potiner", lançado em 2003. Segundo trabalho do grupo, produzido por Stephane Carteaux, e em que participam os americanos Kultur Shock, os franceses Radio Bemba, o basco Iñigo Muguruza e os catalães La Carrau. A designação da banda resulta da junção dos termos Cheb ("o jovem", em árabe), complemento habitual nos nomes dos cantores de raï argelinos, e Balowski (em polaco, o verbo balować significa "divertir-se bailando"), apelido do emigrante de Leste interpretado por Alexei Sayle na série de televisão inglesa “The Young Ones”. Formados em 2000 em Barcelona, depois de uma infância comum no bairro de Raval, os Cheb Balowski integram uma dezena de músicos - eles são Yacine Belahcene Benet, Isabel Vinardell Fleck, Marc Llobera Escorsa, Santi Eizaguirre Anglada, Jordi Marfà Vives, Daniel Pitarch Fernández, Jordi Ferrer Savall e Arnau Oliveres Künzi, Jordí Herreros e Sisu Coromina. Cantando em castelhano, catalão, francês e árabe, eles cruzam a música catalã e a cultura mediterrânica com a energia do raï, do gnawa, do reggae e do rock. Um ambiente festivo, que vai do flamenco e da pachanga aos ritmos balcânicos, árabes, africanos e mediterrânicos, assente na sonoridade de violinos, saxofones, trompetes, piano, bateria, acordeão, guitarra, baixo e todo o tipo de percussões.

"Ya Yo No", Andrea Echeverri (Colômbia) - latin rock, colombian folk, country
Despedimo-nos com a colombiana Andrea Echeverri e o tema “Ya Yo No”, extraído do primeiro álbum a solo da vocalista e guitarrista dos Atercipelados, assinado com o seu nome e lançado em 2005. Depois de uma década à frente da banda que mistura o rock alternativo latino com a folk colombiana, Andrea seguiu outros caminhos. Durante a sua gravidez e após o parto, Andrea compôs então uma série de melodias que celebram a magia da maternidade ou o amor ao seu marido e à sua filha Milagros. O resultado é um trabalho que cruza os sons latinos, o rock, a música country e electrónica e o africano highlife com a subtileza da voz de Andrea Echeverri. O disco, gravado em Bogotá, sua cidade natal, por outro membro da banda, o baixista Héctor Buitrago, e misturado por Thom Russo, foi nomeado em 2006 para os Grammys na categoria de Melhor Álbum Latino de Rock Alternativo. Andrea Echeverri colaborou com bandas como Soda Stereo,contando com participações na banda sonora de "La Mujer de mi Hermano", do peruano Jaime Bayly, e no filme "¿Quién dice que es fácil?", do realizador argentino Juan Taratuto.

Jorge Costa

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