"Here", Salif Keita (Mali) - afropop, mandingo
Salif Keita abre o programa desta semana com o tema “Here”, uma versão remisturada pelo francês Frédéric Galliano, extraída do álbum “Remixes From Moffou”. Exímio guitarrista, Salif Keita começou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Com a sua aproximação ao rock, ao jazz e à soul, o músico do Mali inaugurava o conceito de afropop. Em 2002 lança o álbum “Moffou” e inicia uma nova carreira, antecipando o renascimento da música tradicional mandingo e dos seus principais instrumentos, como a ngoni (espécie de guitarra mourisca), o balafon (xilofone ancestral) ou o calabash (instrumento de percussão). Mais tarde, neste “Remixes From Moffou”, DJ’s e produtores como Gekko, Ark, Cabanne, Tim Paris, The Boldz, Luciano, La Funk Mob, Charles Webster, Doctor L, Cyril K e Paul St Hilaire adaptam a música de Salif Keita aos cânones da electrónica, acrescentando-lhes novos instrumentos e atmosferas sonoras influenciadas pelo funk, house, dub e drum’n bass. Foi precisamente isso o que o francês Frédéric Galliano fez neste tema. Pioneiro na mistura da música africana com a electrónica, em 1998 Galliano faz a sua primeira viagem a África, criando dois anos mais tarde a editora Frikyiwa, na qual viria a juntar artistas africanos que conhecera ao longo das suas jornadas. Desde então que participa em diferentes projectos com diversas bandas como o Frédéric Galliano Electronic Sextet (que mistura o jazz com a música electrónica), Nahawa Doumbia (cantora e banda do Mali com quem começou por explorar a relação entre a música electrónica e africana), Néba Solo, a Orchestre Maquisard International e The African Divas."Leiley [Transglobal Underground Remix]", Dania (Líbano) - arabic music
A jornada musical prossegue com a libanesa Dania, que nos traz o tema “Leily”, uma poderosa canção remisturada pelos Transglobal Underground (mais conhecidos pelo seu trabalho com lendas do rock como Jimmy Page e Robert Plant) e que varreu as pistas de dança do Dubai a Bogotá. Dania começou por trabalhar como apresentadora numa televisão local libanesa. O seu talento foi então descoberto por um canal de música difundido por satélite para a Ásia e Médio Oriente. Junta-se então ao Channel V em 1995, tornando-se a primeira VJ árabe num canal internacional de televisão. Mais tarde muda-se para a Abu Dhabi TV, onde apresenta o mais conhecido programa árabe de entretenimento. Com o álbum de estreia, que foi um enorme sucesso na região, consolida a sua jovem carreira na cena musical árabe. Neste segundo trabalho ”Dania II”, lançado em 1999, a cantora ilustra as suas habilidades e versatilidade vocal. Uma mistura única e eclética de influências árabes, inglesas, espanholas e gregas, que apela a todas as nacionalidades, tendo aparecido numa série de compilações em todo o mundo e em vários canais como a MTV."Azara Alhai", Rasha (Sudão) - jazz fusion, sudan folk
Incursão até ao Sudão com o tema “Azara Alhai”, interpretado por Rasha, uma voz que encarna na perfeição todo o mistério e sensualidade do oriente. O seu talento revelou-se muito cedo, já que na sua família não faltam pintores, actores e músicos. A dureza do regime islâmico militar do Sudão obriga Rasha a abandonar Ondurman, a sua terra natal, localizada junto a Jartum, a capital do Sudão. Depois de uma breve passagem pelo Cairo, em 1991 muda-se para Espanha, país onde residem os seus irmãos Omaima e Wafir, este último membro dos Radio Tarifa. Nos primeiros anos, Rasha estuda e trabalha, mas pouco a pouco, pela mão de Wafir, vai-se introduzindo nos circuitos musicais. Em 1994 grava o álbum “Sudaniyat”, carta de apresentação como cantora, onde mostra uma visão muito pessoal da tradição das correntes mais actuais da música do país imenso que é o Sudão. Um disco que recebe grandes elogios da crítica europeia e chega mesmo ao mercado norte-americano. Entretanto, Rasha tem vindo a tocar com outros artistas africanos, todos eles radicados em Madrid. Na sua música, que nos arranjos vocais se aproxima à árabe e nos metais ao jazz, expressa as suas ilusões e nostalgias, denunciando também a situação actual do povo sudanês e os problemas que milhares de emigrantes enfrentam."Yann Derrien", Carlos Núñez (Espanha) - celtic music
A viagem musical continua com o tema “Yann Derrien”, de Carlos Nuñez, provavelmente o mais conhecido gaiteiro galego de sempre, que encabeça uma lista tradicionalmente reservada a escoceses, irlandeses ou bretões. Considerado o Jimi Hendrix da gaita e exímio tocador de flauta, whistle e ocarina, este produtor e compositor, natural de Vigo e apaixonado pelos poemas de Rosalía de Castro, começou a tocar gaita aos oito anos. O sucesso estrondoso do seu primeiro disco “A Irmandade das Estrelas”, gravado em 1996 e que vendeu mais de cem mil cópias em Espanha, chamou a atenção para a música tradicional galega. Carlos Núñez adiciona-lhe então uma visão mais aberta, aproveitando a ligação histórica desta à música latina vinda da América através da imigração, à medieval europeia recebida pelo caminho de Santiago e aos sons orientais do sul. Em todo o mundo, Carlos Núñez e a sua banda já venderam mais de um milhão de discos, algo reforçado depois do êxito da banda sonora de Mar Adentro. Em "Un Galicien en Bretagne" este conta de novo com a colaboração de alguns dos mais importantes nomes da folk europeia, caminho aberto em 1989 depois do convite dos The Chieftains para participar na banda sonora do filme "A Ilha do Tesouro", que o nomearam sétimo elemento do grupo. Com as suas participações nos festivais celtas em França, Carlos Núñez tornou-se no mais bretão dos galegos. Neste álbum, editado em 2003, reencontra-se com o bretão Alan Stivell e o catalão Jordi Savall, mobilizando outros artistas galegos devido ao Prestige, tragédia ambiental que um ano antes afectou as costas espanhola e francesa.
"Danza dos Esqueletes", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk
Regresso à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea, que a 22 de Julho vão estar no festival Tom de Festa, em Tondela. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trouxeram-nos o tema “Danza dos Esqueletes”, extraído do álbum “Saudade”, editado este ano. Uma música que presta homenagem aos gaiteiros que tiveram de deixar a sua terra e com eles levaram a sua música, como são os casos de Manuel Dopazo, Castor Cachafeiro e Antonio Mosquera. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo é uma presença constante em muitos festivais em Espanha e na Europa, mas a sua aposta centra-se agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente.
"Les Yeux Noirs", Coco Briaval (França) - gypsy swing, jazz, blues
A jornada prossegue com o guitarrista Coco Briaval, que nos traz o tema “Les Yeux Noirs”, extraído do álbum “Musique Manouche – Gypsy Music”, editado em 1996. Nos anos 60 e antes de se instalar no sul de França, Coco Briaval foi um dos maiores nomes do jazz parisiense, tendo tocado lado a lado com músicos reputados como o saxofonista americano Dexter Gordon ou o soul singer Otis Redding. Com a gravação de um primeiro disco, revelava-se o talento precoce dos irmãos Briaval, três adolescentes que então formaram Coco Briaval Gypsy Swing Quintet, homenageando grandes compositores e intérpretes de jazz como Charli Christian e Wes Montgomery. O desafio era tornar a tradição do jazz acessível a todos os públicos, mostrando o carácter familiar do gypsy swing, tal como Django Reinhardt o fez com o seu génio instrumental e talentosa composição. Um sonho que acabou por ser realizado por estes rapazes de origem piemontesa do lado da mãe (ciganos de etnia sinti) e anglo-húngaro do lado do pai (ciganos alemães). Com os seus dois irmãos René e Gilbert na guitarra e na bateria, o seu filho Zézé no saxofone e ainda Guitou no contrabaixo, Coco Briaval propõe uma visão de Django sem clichés. Eles mergulham na música cigana de etnia sinti, transmitida de geração em geração, mas resgatada para o presente numa orquestração original, deixando-se influenciar também pelo swing e pela música contemporânea.
"Sempre Di Domenica", Daniele Silvestri (Itália) - pop, rock, funk
Na sua estreia no programa, Daniele Silvestri apresentou-nos o tema “Sempre Di Domenica”, extraído do seu álbum “Unò Dué”, editado em 2002. Este cantor italiano, autor de conhecidos temas de música ligeira, mergulha no imaginário contemporâneo linguístico e musical daquele país para emergir com canções refinadas. Natural da cidade de Roma, onde nasceu em 1968, o cantautor italiano mais apreciado do panorama actual fez parte de numerosos grupos musicais. Em 1994 lança o primeiro álbum a solo, conquistando a atenção do público. Um dos temas permite-lhe então participar no Festival de Sanremo, onde conquistaria vários prémios da crítica. Nos temas incluídos neste trabalho, o sexto da sua carreira, Daniele Silvestri confirma a sua qualidade enquanto autor, servindo-se de ironia quanto baste e cruzando a música pop com o rock e o funky.
"One For Senegal", Touré Kunda (Senegal) & The Pleb (Itália) - afro-rock, mbalax
O italiano The Pleb propõe-nos agora uma ponte com o Senegal na sua remistura de “One For Senegal”, um tema dos Touré Kunda, dueto formado pelos irmãos Ismaïla Touré e Sixu Tidiane. Na sua adolescência, este DJ estabelecido em Nova Iorque fez parte do universo musical londrino, tendo passado no início dos anos 90 pela banda The Indians. Já os senegaleses Touré Kunda, banda fundada nos anos 70 pelos irmãos Amadou, Ismaila, Sixu e Ousamane Touré, inspiraram-se inicialmente nos ritmos tradicionais africanos, usando instrumentos como a kora, o balafon e o sabar, os quais no entanto viriam a ser substituidos por guitarras e sintetizadores. No final dos anos 70 eles mudam-se para Paris, tocando uma forma particular de mbalax, inspirada no afro-rock a que chamaram de djambaadong. Percussões africanas tradicionais e cantos tribais senegaleses coexistem então com amostras de som, batidas programadas e manipulação de vozes, retratando um universo geográfico onde se fala em soninké, ouolof, mandingo, diola e criolo português.
"Sou", Cheikh Lô (Senegal, Burkina-Faso) - afropop, mbalax
Entretanto continuamos estrada fora ao ritmo da melhor música do mundo. Cheikh Lô traz-nos o tema “Sou”, extraído do álbum “Lamp Fall”, editado em 2005. Cheikh Lô vive em Dakar, a capital do Senegal, mas cresceu no Burkina-Faso. A sua música constrói-se a partir da pop característica daquela cidade e dos ritmos mbalax, bem ao estilo do conhecido senegalês Youssou N'Dour, com quem gravou o primeiro álbum em 1995. Cheik Lô foi membro da Orchestre Volta Jazz, a qual tocava sucessos cubanos e congoleses bem como versões pop de músicas tradicionais do Burkina-Faso. Em 1978 mudava-se para o Senegal, onde começa por tocar com várias bandas. A música acústica e eléctrica de Cheik Lô, que fez dele uma estrela no Senegal e na Europa, explora ainda elementos de salsa, rumba congolesa, folk e jazz, bem como impulsos de reggae, soukous e um sabor a Brasil. A 6 de Julho ele vai estar em Lisboa para participar no Africa Festival.
"Hit The Road Jack [Album Version]", Mo' Horizons (Alemanha) - bossanova, nujazz, soul
Os Mo'Horizons, dupla de Hannover formada pelos produtores, músicos e DJ’s Ralf Droesemeyer e Mark ‘Foh’ Wetzler, encerram esta edição do MULTIPISTAS. No seu primeiro trabalho, estes misturam influências da soul dos anos 50 e 60 e temas funky dos anos 70 à década de 90. Eles integram técnicas modernas de produção com uma mão cheia de músicos talentosos e vocalistas que criam ao vivo um som variável no estilo mas homogéneo e identificável como sendo dos Mo’Horizons. Ao fundirem soul, funk, nujazz, afro, bigbeat, boogaloo, dub, bossanova e salsa com a downbeat, o drum‘n’bass e o triphop, eles quebram todas as fronteiras e barreiras musicais. Neste tema “Hit the Road Jack (Pé na Estrada), extraído do álbum “Some More Horizons”, editado em 2005, os Mo’Horizons pegam num clássico dos anos 60 de Ray Charles, adicionando-lhe um cheirinho a português do Brasil.
Na abertura do programa, os Warsaw Village Band trazem-nos uma versão electrónica do tema “Joint Venture In The Village (I Had a Lover)”, extraído do álbum “People’s Spring”. Fundada em 1997 por seis jovens polacos, a Warsaw Village Band procura adaptar a música tradicional do seu país à modernidade. Para isso, misturam melodias de dança, baladas e canções rurais com géneros como a dub, a trance e o reggae. Os Warsaw Village Band baseiam-se na tradição musical da Masóvia, retratando a dureza e o isolamento daquela que é uma das mais pobres regiões da Polónia. Uma herança que vai buscar a sonoridade à suka (violino polaco do século XVI) e à percussão (já que estes eram os instrumentos mais baratos e de ritmo mais simples), bem como à “white voice”, forma habitual de cantar nas montanhas daquele país. Outra das paixões dos Warsaw Village Band é a de visitar velhos músicos nas pequenas aldeias para os ouvirem falar sobre as suas tradições e costumes, principal inspiração para o seu trabalho, que pretende apresentar-se aos jovens como uma alternativa à cultura de massas.
A jornada musical prossegue com as Värttinä, uma presença já habitual no programa, que desta vez nos trazem o tema “Katariina”, extraído do álbum “Aitara”, editado em 1994. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebra o seu 23ºaniversário e estará a 29 de Julho no Festival de Músicas do Mundo de Sines, traz-nos uma apelativa mistura de pop ocidental com folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia, uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia, reforçando as letras emocionais com os ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O coração do grupo é hoje formado pelas vozes harmónicas com timbres impressionantes de Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, suportadas por seis músicos acústicos que misturam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) com ritmos complexos e arranjos modernos.
Incursão até à Escandinávia com os Hedningarna e “Ful-Valsen”, tema recheado de ritmo e groove, com especial destaque para os efeitos sonoros eléctricos, e que foi retirado do álbum “Kaksi!” (palavra finlandesa que quer dizer “dois”). Neste trabalho,
A viagem continua com os Amparanoia, que nos apresentam o tema “Iluminando”, extraído do álbum “Enchilao”, lançado em 2003. O grupo foi buscar o seu nome à vocalista Amparo Sánchez, uma das vozes femininas mais típicas do sul de Espanha. Em 1996, a jovem andaluza criou este projecto musical, que acabaria por nascer no bairro de Lavapies, em Madrid, e viria a crescer e desenvolver-se em Barcelona. Apadrinhados por Manu Chao, os Amparanoia têm por lema a expressão “rebeldia com alegria”. Eles viajam pela tradição espanhola, música balcã e cigana, passando também pelo rock, cumbia, funk, reggae, rumba, son, bolero e ska, sem esquecer o jazz latino com toques electrónicos e toda uma gama de sons latinos alternativos onde sobressaem a inspiração e a improvisação. O auge do seu reconhecimento internacional foi o BBC World Music Awards 2005, que os distinguiu como melhor grupo europeu. Expressando a realidade e lutando por um mundo mais justo, os Amparanoia continuam em tournée pelos mais importantes festivais de música do mundo. A 30 de Junho eles vão estar no Festival MED de Loulé.
A dupla Amadou & Mariam traz-nos agora o tema “Senegal Fast Food”, extraído do álbum “Dimanche a Bamako”. Bem ao género do afro pop blues, e com muita guitarra à mistura, este trabalho, produzido por Manu Chao, está recheado de ritmos africanos, batidas funky, harmonias suaves e pedaços de reggae, jazz, blues e rock. Se nos anos 90 foram os Buena Vista Social Club a trazerem para a ribalta a vibrante música do mundo, agora é a vez deste casal africano. Mariam começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou era guitarrista nos Les Ambassadeurs, uma das mais lendárias bandas africanas. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 num instituto de cegos em Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se um casal inseparável na vida e na música. Ele, o "irmão funky”, na voz e na guitarra eléctrica, e ela, “a irmã soul”, na voz, formam a dupla mais explosiva da música africana actual.
Yela estreou-se no MULTIPISTAS com o tema “Dodosya”, extraído do álbum “Mã Kalou”. Yela, cujo verdadeiro nome é Marie-Christine Daffon, nasceu em St-Pierre, na parte sul de La Réunion, uma região de administração francesa, situada a leste do Madagáscar. Yela faz parte de uma geração de artistas apostados em defender e reinventar o património cultural daquela ilha, recorrendo para isso ao génio poético da língua creoula e dos ritmos tradicionais. A sua música mistura o património local (maloya, séga, salégy, kadrille) com o jazz, o gospel, as músicas caribenhas e africanas. Yela possui uma voz calorosa e carregada de emoções, que reflecte o quotidiano, as esperanças, as batalhas ou as ambições pessoais e colectivas. Um percurso musical onde se contam colaborações como Manu Dibango, Mario Canonge, Etienne Mbappe, Peter Ntollo Sagona ou Amadou François Corea. O álbum “Mã Kalou”, editado em 2003, é um mosaico cultural a través do qual Yela nos faz entrar no seu universo generoso e optimista.
A melhor música do mundo vem agora da Índia. Os Alms For Shanti trazem-nos o tema “Superbol”, extraído do álbum Kashmakash, editado em 2004. Eles foram criados em Bombaim por Uday Benegal e Jayesh Ganhdi, este último mais conhecido como ex-vocalista e guitarrista da famosa banda de rock Indus Creed, que chegou a tocar no festival WOMAD. Eles actuaram lado a lado com John Bom Jovi para um público de 40 mil pessoas em Bombaim, e em 1996 com Slash, o guitarrista dos Guns N’Roses, em Bangalore. Os Alms For Shanti, que entretanto se mudaram para Nova Iorque, são um projecto indiano alinhado com estilos contemporâneos, criado para explorar a amálgama de texturas, ritmos e melodias tradicionais indianas, com sons ocidentais. Para isso, juntaram velhos amigos, tendo vindo a colaborar com alguns dos melhores músicos clássicos indianos como Taufiq e Fazal Qureshi (irmãos de Zakir Hussain), Ustad Sultan Khan ou Rakesh Chaurasia.
A argelina Cheikha Rimitti, natural de Tessala e que faleceu no passado mês de Maio, aos 83 anos, trouxe-nos o tema “Daouni”, extraído do álbum “N’Ta Goudami”, trabalho que pudemos conhecer na semana passada no programa. Órfã e rodeada de pobreza, aos vinte anos Rimitti junta-se aos músicos ambulantes Hamdachis, cantando e dançando em cabarés. Nas mais de 200 canções que escreveu fala das alegrias e das tristezas da vida, quebrando tabus ao abordar temas como a sexualidade feminina, o alcoolismo ou a guerra. A vida boémia e a sua rebeldia feminista forçam-na ao exílio em França nos anos 60, país onde encontraria um novo público, chegando a gravar um disco de pop-raï com o rocker experimental Robert Fripp. Cheikha (sénior) Rimitti realizou concertos em todo o mundo, associando-se a nomes como Oum Keltoum, Cheikha Fadela ou mesmo os Red Hot Chilli Peppers. A mãe do raï é uma referência para as estrelas mais jovens deste género, não só pela liberdade de expressão que conquistou e pela rebeliião linguística e moral, mas também por lembrar que a fé espiritual pode coexistir com o prazer físico. O seu último album foi gravado em Oran, berço do raï. Um trabalho com marcas daquela cidade, sintetizador de voz e caixa de ritmos, onde a voz áspera e suave de Rimitti é combinada com acústica moderna e instrumentos tradicionais como o bendir (instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), a gasbâ (flauta tunisina) e a gallal (uma espécie de pandeireta). Tudo à mistura com influências africanas do gnawa, harmonias árabe-andalusas do châabi e improvisos da soul argelina.
Entretanto, no MULTIPISTAS continuamos estrada fora ao ritmo da melhor música do mundo. Para já seguimos “Na Liña da Maré”, um tema de Xosé Manuel Budiño, extraído do seu terceiro álbum “Zume de Terra”, editado em 2004, onde o gaiteiro surge lado a lado com Sara Tavares. Um disco de originais, feito com sumo de terra e mel de tradição, onde Budiño tem também como convidados especiais os escoceses Capercaillie e Michael McGoldrick e ainda a brasileira Lilian Vieira, vocalista dos Zuco 103.
Os Boukovo encerram o programa com o tema “Lo Lovo Horo”, extraído do álbum “Rencontres”, lançado em 2002 e que pudemos conhecer na edição anterior do MULTIPISTAS. O grupo foi criado em 1996 pelo clarinetista George Mas, que juntou outros músicos franceses apaixonados pelos sons dos Balcãs. Estes foram buscar a designação ao boukovo, um pimento forte produzido numa aldeia macedónia com o mesmo nome, concentrando-se na procura de um som sem qualquer formatação ocidental. Seguindo o exemplo das fanfarras ciganas populares na Macedónia, os Boukovo apresentam uma música enérgica e festiva, carregada de várias influências. Estes nativos da região da Provença decidiram centrar-se então nos bailes populares da Grécia, Bulgária e ex-Jugoslávia, em particular no repertório da Macedónia grega onde o clarinete se pode juntar livremente à dança. E foi numa viagem aos Balcãs que eles encontraram o acordeonista búlgaro Neno Koytchev, cuja matriz de repertório búlgaro, macedónio e sérvio dá novas cores à já rica palete sonora dos Boukovo, que têm participado em inúmeros festivais e concertos em França, Espanha e Bélgica. Os Boukovo animam numerosas festas das comunidades balcânicas residentes no sul de França, marcando a diferença pelas suas coreografias espontâneas, encorajadas pelos musicos que não hesitam em saltar para a pista de dança.

No MULTIPISTAS seguem-se os Tarika com o tema “Retany”. Liderados pelo cantor e compositor Hanitra Rasoanaivo, os Tarika são um dos grupos do Madagáscar com maior sucesso internacional. A forma única como interpretam as raízes musicais da sua ilha encaixada no oceano Índico granjeou-lhes fãs em todo o mundo. No final dos anos 70 um conjunto de bandas pioneiras no uso de sons electrizantes actualizou ritmos da ilha como o salegy, o watcha watcha, o tsapika, o sega ou o sigaoma, fazendo rejuvenescer canções de outros tempos. Neste trabalho editado em 1998, álbum a que chamaram “D” (palavra que se refere a dihy, o que no Madagáscar quer dizer “dança”), os Tarika prestam tributo à variedade de estilos de dança do Madagáscar – recorde-se que cada uma das dezoito tribos deste país tem as suas danças especiais. As raízes malaio-polinésias misturam-se então de forma moderna com influências do vizinho continente africano, criando harmonias justas, grooves flutuantes, melodias contagiosas e danças enérgicas, o que fez com que os trabalhos dos Tarika conquistassem o topo das tabelas de música do mundo na Europa e na América do Norte. O álbum integra também danças mais recentes e algumas composições, incluindo a dança bakabaká, criada pelos Tarika.
O tema “Monsieur le Maire de Niafunké” é extraído do álbum “In The Heart Of The Moon”, editado em 2005. Um trabalho que juntou pela primeira vez dois gigantes da música do Mali: o guitarrista Ali Farka Touré e o maestro da kora Toumani Diabaté. Ali Farka Touré, o pai dos blues africanos desapareceu no passado mês de Março, aos 66 anos. Este passou as suas últimas semanas de vida a concluir “Savane”, um disco póstumo que será lançado em todo o mundo a 17 de Julho. O trabalho, que contou com as participações do saxofonista Pee Wee Ellis, antigo colaborador de James Brown e Van Morrison; das percussões de Faín Dueñas, dos Radio Tarifa; ou de Mama Sissoko, intérprete do ngoni, um alaúde ancestral, predecessor do banjo, foi gravado no hotel Mande, o mesmo lugar onde Touré registou com Toumani Diabaté o álbum “In The Heart Of The Moon”, vencedor de um grammy este ano. Único sobrevivente de uma família de dez irmãos, razão pela qual os pais lhe terão dado a alcunha de Farka – que apesar de querer dizer “burro”, na tradição do povo Arma significa “um animal forte e tenaz” –, Ali Farka Touré fez parte de várias bandas e foi artista residente na Rádio Mali. Cantava em songhai, peul, bambara, fula, tamaschek e outras línguas da região, abertura que lhe permitiu contribuir para a reconciliação nacional no Mali após a mais recente revolta dos tuaregues. O amor à terra levou-o a viver durante muitos anos na aldeia de Niafunké, situada na ponta do deserto do Sara e ao redor do Rio Níger. Como não existia electricidade nem água canalizada, aí investiu em máquinas agrícolas utilizando todo o dinheiro ganho com a música. Nos últimos anos, tal como retrata este tema, chegou mesmo a ser presidente da câmara de Niafunké. O bluesman africano misturava os sons do Mali, carregados de influências árabes, com reminescências dos blues americanos, lembrando ao mundo que foi nesta região do globo que nasceram os blues.
A jornada musical prossegue com os Värttinä e o tema “Tuulilta Tuleva”, extraído do seu sexto álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebra o seu 23ºaniversário, traz-nos uma apelativa mistura de pop ocidental com folk europeia e nórdica. Os Värttinä são conhecidos por terem inventado um estilo baseado nas raízes da região da Carélia, em particular nas tradições vocais femininas e nos antigos poemas rúnicos. Da imagem do grupo, constituído por três estridentes vocalistas femininas e seis músicos acústicos, fazem parte a instrumentação acústica tradicional e contemporânea (guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões), os ritmos complexos e as composições e arranjos modernos. As letras emocionais da banda são reforçadas pelos insistentes ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. Tudo começou numa pequena cidade na Carélia filandesa, junto à fronteira com a Rússia. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios.
Viagem pelos caminhos da folk urbana com os belgas Urban Trad, que nos trouxeram o tema “Get Reel”, extraído do álbum “Kerua”, editado em 2003. E como diz o próprio nome, os Urban Trad combinam a melhor música tradicional com ritmos modernos, criando uma folk influenciada por um ambiente techno. O projecto arrancou em 2000, quando Yves Barbieux, compositor da banda Coïncidence, decidiu reunir uma vintena de artistas da cena tradicional belga para misturar música celta com sons urbanos. Se inicialmente se tratava de conceber um primeiro álbum, o êxito alcançado encorajou o autor a juntar outros músicos aos Urban Trad. No Festival Eurovisão da Canção realizado na Letónia em 2003, os oito elementos do grupo conquistam o segundo lugar e o grande público. Com “Sanomi”, uma canção interpretada num idioma imaginário, levaram pela primeira vez o característico timbre da gaita-de-foles ao palco da Eurovisão. Um grupo de música de inspiração tradicional, mas ancorado no presente, já que instrumentos acústicos como o acordeão, o violino e a flauta são acompanhados pelo canto e por uma secção rítmica cheia de energia e musicalidade. Volvidos três álbuns, o repertório dos Urban Trad passou a abranger, para além da música celta, a Escandinávia, a França, a Espanha e os países de Leste. É assim a música tradicional europeia do século XXI.
A melhor música do mundo vem agora da Bélgica com os Think Of One, a primeira banda sobre rodas. Este grupo multicultural traz-nos o tema “The Veel”, extraído do álbum “Naft”, editado em 2000. Um repertório que foi gravado em apenas três dias em De Werf, junto à cidade de Bruges. Os Think Of One misturam de forma única a música das fanfarras belgas com a folk, o jazz, o funk, a dub, o reggae, o punk rock ou o calypso, tendo vindo a aproximar-se de outros universos como o gnawa marroquino e as sonoridades do nordeste brasileiro. Para alimentarem o sonho de poderem tocar em qualquer parte do mundo, desde que o tempo assim o permitisse, em 1999 os Think Of One transformaram uma carinha, baptizada de Naftmobyl, num palco ambulante com três níveis, amplificação sonora e iluminação, acrescentando-lhe mais tarde uma roulotte. A tournée de estreia dos seis elementos do grupo começou em França, com uma paragem no festival de rua de Avignon para uma festa sonora que se prolongou por quatro dias, provando que com a sua música alegre é sempre possível dançar do início ao fim. Os Think Of One, que em 2004 conquistaram um World Music Award da BBC, vão estar em Loulé a 29 de Junho para participar na 3ªedição do Festival MED.
Os Hip Hop Hoodios apresentam-nos o tema “Kike On The Mic”, extraído do álbum “Água Pá La Gente”, uma intrigante mistura de instrumentos clássicos e modernos. Eles são um famoso colectivo latino-judaico de música urbana, liderado por Josh Norek e Abraham Velez, que conta com a participação de nomes notáveis da cena latina e judaica como Santana, Jaguares, The Klezmatics, Orixa, Los Mocosos, Midnight Minyan e Los Abandoned. Sedeada em Los Angeles e Nova Iorque, a banda das duas costas americanas foi buscar o seu nome “hoodio” a uma mistura feita a partir da palavra castelhana judio (que em português equivale a “judeu”). Produzido por Happy Sanchez, este álbum é o segundo trabalho dos Hip Hop Hoodios, combinando letras provocadoras, divertidas e inteligentes com funk latino, música klezmer, cumbia e hip-hop.
O programa despede-se com os italianos Tazenda e o tema “Su Dillu Est Goi”, extraído do álbum “Sardinia”. Este é um trio vocal da região da Sardenha que alcançou grande sucesso comercial no início dos anos 90 ao participar em duas edições do Festival de San Remo. O seu uso do dialecto local, juntamente com a leitura simplificada dos antigos cantos polifónicos – um estilo cujas origens permanecem incertas mas que constitui uma das principais formas musicais da Sardenha –, provou ser um passo importante na aproximação dos Tazenda ao auditório italiano. Um toque exótico com que o grupo se abriu ao mundo. A sua música possui uma estrutura pop-rock, misturando-se com instrumentos tradicionais como a launeddas (uma espécie de flauta) e com sons electrificados, fazendo do seu universo sonoro uma das mais bem sucedidas experiências de música do mundo que ocorreram em Itália na última década.
Os Dengue Fever com “We Were Gonna”, um tema extraído do álbum “Escape From Dragon House”, editado em 2005. Nos últimos sessenta anos o rock, com as suas notas de guitarra e percussões, influenciou profundamente numerosos géneros musicais e artistas que o misturaram com híbridos funky de todo o mundo. Foi o que aconteceu com os Dengue Fever, um sexteto de Los Angeles, liderado pela estrela da pop do Cambodja Chhom Nimol. Estes cantam em khmer, juntando os ritmos da pop cambodjana dos anos 60 – altamente influenciada pelo rock americano e pelas primeiras bandas de garagem psicadélicas do vizinho Vietname – com a sua própria panóplia eclética de estilos. A música dos Dengue Fever inclui ecos das bandas sonoras de Bollywood, soul etíope, rhythm & blues americano e folk do Cambodja. São sons locais misturados com rock de todo o planeta.
Thierry Robin, mais conhecido por Titi, traz-nos um tema extraído do álbum “Alezane”, editado em 2004. Uma antologia das gravações realizadas ao longo de doze anos por este músico, natural do sul de França, e que abrange 25 anos de composição. O arranjo do tema tradicional Neem remete-nos para o pungi, o instrumento do encantador de serpentes usado no Rajastão, que aqui é tocado por Banwari Baba, tendo como acompanhamento a voz de Saway Nath, um dos mais inventivos cantores da comunidade Kalbeliya daquele estado indiano.
No tema “Iledeman”, extraído do álbum “Introducing Etran Finatawa”, editado este ano, os Etran Finatawa levam-nos por uma travessia no deserto. Uma música que faz referência a uma famosa duna situada junto à cidade de Tchin-Tabaradene, no noroeste do Níger. Poderosa e hipnótica, a música dos Etran Finatawa combina instrumentos tradicionais e canções polifónicas dos wodaabe e dos tuaregues com arranjos modernos e guitarras eléctricas, criando um som único e inovador que demonstra como nas suas culturas a música continua a ser um meio terapêutico. Em 2004, seis músicos wodaabes e quatro tuaregues juntaram-se para formar esta banda. Os tuaregues e os wodaabe são dois dos grupos étnicos nómadas que vivem na savana do Sahel, no sul do Sáara. Uma região que durante milhares de anos foi ponto de passagem entre os árabes do norte de África e as culturas subsarianas. Enquanto que os wodaabe são nómadas do deserto, conhecidos pelos seus rebanhos e gado; os tuaregues são famosos criadores de camelos, facilmente identificáveis pelas pinturas no rosto. E apesar das suas culturas e línguas serem muito distintas, os Etran Finatawa (As Estrelas da Tradição) ultrapassaram as fronteiras étnicas e o racismo, trabalhando juntos para construírem um futuro melhor para os seus povos. Entretanto, a banda tornou-se famosa no Níger e foi convidada para participar em festivais no Mali e em Marrocos, tendo no ano passado feito uma tournée pela Holanda, Alemanha e Suiça.
Os Milladoiro trazem-nos o tema “Muiñeira de Chandada”, extraído do álbum “Castellum Honesti”, editado em 1991. Um trabalho de temas tradicionais galegos, gravado dois anos antes em Dublin, na Irlanda. Em 2005 os oito membros do grupo festejaram os 25 anos de actividade. Durante este período de tempo eles editaram 17 discos, deram mais de mil concertos em todo o mundo e realizaram diversos trabalhos para o cinema, teatro e televisão, tendo tocado lado a lado com músicos como os The Cheiftains, Liam O'Flynn, Oskorri, Fuxan Os Ventos, Susana Seivane ou Emilio Cao. Os Milladoiro representam não só um género musical, mas também a língua e a forma de ser dos galegos (não é por acaso que eles são considerados a voz da terra, a voz que vem mais além da história). A paixão deste grupo pela música e pela Galiza tem como referência o caminho de Santiago, isto porque os milladoiros eram quem guiava os pasos dos peregrinos até Compostela. Os Milladoiro transformam os ritmos e melodias tradicionais da Galiza em música contemporânea sem fazerem concessões à pop ou fusões com géneros similares. A sua música baseia-se nas influências europeias deixadas na região, herança que tem sido transmitida ao longo de várias gerações anónimas de músicos tradicionais. Para além de evitar o cliché celta, a mítica banda galega reivindica os seus ingredientes provençais, centro-europeus e mesmo árabes. Depois de 25 anos a tirarem o pó a cancioneiros e melodias, os Milladoiro continuam a fazer com que as heranças musicais da Galiza não caiam no esquecimento.
Emir Kusturica e a The No Smoking Orchestra apresentam-nos um tema extraído do álbum “Unza Unza Time”, lançado em 2000. Uma música onde predominam os instrumentos típicos do folclore cigano, mas onde há também espaço para o rock acompanhado da guitarra, do baixo, da balalaica, da tuba, do saxofone, do acordeão e do violino. Nascido em Sarajevo, hoje capital da Bósnia Herzegovina, Emir Kusturica pertence a uma família bósnia muçulmana, mas de origem eslava ortodoxa. Tal como a maioria dos jugoslavos, o seu pai trocou a fé pelo comunismo. Emir, por seu lado, trocou o comunismo pelo cinema, sendo hoje mundialmente conhecido pelas suas curtas e longas-metragens. Em 1986, ele juntava-se à Zabranjeno Pusenje, uma banda polémica, fundada por Nelle Karajic, que seria censurada pelas autoridades depois de Karajic ter feito piadas sobre Tito, o então ditador jugoslavo. Os arranjos do grupo iam do folk progressivo dos Jethro Tull ao punk dos Sex Pistols, mas com a entrada de novos membros e a mudança para Belgrado, a capital da Sérvia, a banda decidiu valorizar a diversificada música dos Balcãs. Em 1994, durante o conflito no país, junta-se ao grupo o jovem Stribor, filho de Emir Kusturica. É então que a formação se fragmenta em duas: uma que mantém o nome original, e outra que adopta a designação inglesa: The No Smoking Orchestra. Além do servo-croata, a orquestra, que em palco é barulhenta, electrizante e desordeira, também usa o alemão e o inglês nas suas canções. Um género de música que Emir Kusturica classifica de “unza unza”, definição tão impronunciável quanto esclarecedora…
Os ucranianos Haydamaky, que nos apresentaram o tema “Listopad”, levam-nos pelos caminhos do ska das montanhas dos Cárpatos, do reggae, do punk hutzul e do dub machine, misturando-os com a folk ucraniana. Após o colapso da União Soviética e a independência da Ucrânia, um grupo de estudantes criava a banda Aktus, que rapidamente conquistou um lugar de destaque no underground musical de Kiev. No início do novo século, em honra à rebelião histórica do século XVIII, mudaram o nome para Haydamaky. Para além dos espectáculos que têm feito em toda a Europa de Leste, em 2004 apoiaram a revolução laranja que mobilizou a Ucrânia, tendo um dos seus temas sido muito rodado nas estações de rádio alternativas. No seu terceiro álbum “Ukraine Calling”, editado este ano e em que se dão a conhecer ao ocidente, os Haydamaky combinam raízes ucranianas com standards europeus. E como podemos confirmar neste tema, a sua música é caracterizada por energia turbulenta e por uma montanha russa de melodias.
Lucien N Luciano fecha o programa com o tema “Amelie On Ice”, uma reinterpretação da banda sonora criada por Yann Tiersen para o filme francês “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”. Lucien N Luciano, cujo verdadeiro nome é Lucien Nicotet, é DJ desde 1993 e produtor desde 1997, sendo um dos pioneiros da cena musical electrónica na América Latina. Para além das actuações ao vivo em rádios e clubes de Santiago do Chile, Luciano tem também marcado presença noutros países da América do Sul, bem como na Alemanha, em Espanha e na Holanda. O músico, que está representado em cinco editoras, vive desde 2000 em Genebra, na Suiça. Nos seus trabalhos, Lucien N Luciano mistura a identidade chilena e suiça, criando uma mística junção de techno profundo e música electrónica, integrando elementos do sul nos ritmos e padrões coloridos no som. Um estilo experimental e espaçoso, cuja marca assenta no groove e no minimalismo.
