sexta-feira, 23 de junho de 2006

Emissão #14 - 24 Junho 2006

A 14ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 24 de Junho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 26 de Junho, entre as 19 e as 20 horas.

"Joint Venture In The Village (I Had a Lover)", Warsaw Village Band (Polónia) - new folk

Na abertura do programa, os Warsaw Village Band trazem-nos uma versão electrónica do tema “Joint Venture In The Village (I Had a Lover)”, extraído do álbum “People’s Spring”. Fundada em 1997 por seis jovens polacos, a Warsaw Village Band procura adaptar a música tradicional do seu país à modernidade. Para isso, misturam melodias de dança, baladas e canções rurais com géneros como a dub, a trance e o reggae. Os Warsaw Village Band baseiam-se na tradição musical da Masóvia, retratando a dureza e o isolamento daquela que é uma das mais pobres regiões da Polónia. Uma herança que vai buscar a sonoridade à suka (violino polaco do século XVI) e à percussão (já que estes eram os instrumentos mais baratos e de ritmo mais simples), bem como à “white voice”, forma habitual de cantar nas montanhas daquele país. Outra das paixões dos Warsaw Village Band é a de visitar velhos músicos nas pequenas aldeias para os ouvirem falar sobre as suas tradições e costumes, principal inspiração para o seu trabalho, que pretende apresentar-se aos jovens como uma alternativa à cultura de massas.

"Katariina",
Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A jornada musical prossegue com as Värttinä, uma presença já habitual no programa, que desta vez nos trazem o tema “Katariina”, extraído do álbum “Aitara”, editado em 1994. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebra o seu 23ºaniversário e estará a 29 de Julho no Festival de Músicas do Mundo de Sines, traz-nos uma apelativa mistura de pop ocidental com folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia, uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia, reforçando as letras emocionais com os ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O coração do grupo é hoje formado pelas vozes harmónicas com timbres impressionantes de Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, suportadas por seis músicos acústicos que misturam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) com ritmos complexos e arranjos modernos.

"Ful-Valsen", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Incursão até à Escandinávia com os Hedningarna e “Ful-Valsen”, tema recheado de ritmo e groove, com especial destaque para os efeitos sonoros eléctricos, e que foi retirado do álbum “Kaksi!” (palavra finlandesa que quer dizer “dois”). Neste trabalho,
lançado em 1992, as vocalistas finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Tellu Paulasto juntaram-se ao então trio sueco, dando mais intensidade às suas músicas. Ao longo dos anos 90, os Hedningarna foram pioneiros na renovação da folk sueca, tendo mudado a imagem das raízes musicais nórdicas. Os quatro elementos deste grupo, formado em 1987 e que até agora editou seis álbuns mais um compilatório, misturam sueco e filandês, vozes e instrumentais, bem como folk e rock contemporâneo.

"Iluminando", Amparanoia (Espanha) - rumba, reggae, son, bolero, ska
A viagem continua com os Amparanoia, que nos apresentam o tema “Iluminando”, extraído do álbum “Enchilao”, lançado em 2003. O grupo foi buscar o seu nome à vocalista Amparo Sánchez, uma das vozes femininas mais típicas do sul de Espanha. Em 1996, a jovem andaluza criou este projecto musical, que acabaria por nascer no bairro de Lavapies, em Madrid, e viria a crescer e desenvolver-se em Barcelona. Apadrinhados por Manu Chao, os Amparanoia têm por lema a expressão “rebeldia com alegria”. Eles viajam pela tradição espanhola, música balcã e cigana, passando também pelo rock, cumbia, funk, reggae, rumba, son, bolero e ska, sem esquecer o jazz latino com toques electrónicos e toda uma gama de sons latinos alternativos onde sobressaem a inspiração e a improvisação. O auge do seu reconhecimento internacional foi o BBC World Music Awards 2005, que os distinguiu como melhor grupo europeu. Expressando a realidade e lutando por um mundo mais justo, os Amparanoia continuam em tournée pelos mais importantes festivais de música do mundo. A 30 de Junho eles vão estar no Festival MED de Loulé.

"Pão Prá Multidão", Donna Maria (Portugal) - electronic folk
Os portugueses Donna Maria apresentam-nos o tema “Pão Prá Multidão”, extraído do seu álbum de estreia “Tudo É Para Sempre”. Um trabalho editado em 2004 e em que participam músicos portugueses e brasileiros como Paulo de Carvalho, Vitorino, Letícia Vasconcelos, Ciro Cruz, Paulinho Moska e Gil do Carmo. O álbum já vendeu mais de três mil exemplares no estrangeiro e mais de 10 mil em Portugal. O novo disco do grupo deverá ser editado no final deste ano. Os Donna Maria são um trio lisboeta, formado por Marisa Pinto, Miguel Ângelo Majer e Ricardo Santos, cuja visão electrónica contemporânea da música portuguesa os leva a misturar elementos tradicionais como a guitarra portuguesa ou o acordeão. XL Femme foi o nome inicial escolhido para esta banda, que surgiu num bar da capital. Eles começaram por reinventar canções, mas aos poucos a música portuguesa foi tomando conta do seu reportório. Um grupo com o coração no passado, os pés no presente e os olhos no futuro. Este mês, os Donna Maria estiveram em Proença-a-Nova e em Vila de Rei. A 5 de Agosto vão até ao Casino da Figueira da Foz e no dia 20 estarão nos Açores no Festival "Maré de Agosto".

"Senegal Fast Food", Amadou & Mariam (Mali) - afro pop blues
A dupla Amadou & Mariam traz-nos agora o tema “Senegal Fast Food”, extraído do álbum “Dimanche a Bamako”. Bem ao género do afro pop blues, e com muita guitarra à mistura, este trabalho, produzido por Manu Chao, está recheado de ritmos africanos, batidas funky, harmonias suaves e pedaços de reggae, jazz, blues e rock. Se nos anos 90 foram os Buena Vista Social Club a trazerem para a ribalta a vibrante música do mundo, agora é a vez deste casal africano. Mariam começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou era guitarrista nos Les Ambassadeurs, uma das mais lendárias bandas africanas. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 num instituto de cegos em Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se um casal inseparável na vida e na música. Ele, o "irmão funky”, na voz e na guitarra eléctrica, e ela, “a irmã soul”, na voz, formam a dupla mais explosiva da música africana actual.

"Dodosya", Yela (La Réunion) - maloya, séga, salégy, kadrille, jazz, gospel
Yela estreou-se no MULTIPISTAS com o tema “Dodosya”, extraído do álbum “Mã Kalou”. Yela, cujo verdadeiro nome é Marie-Christine Daffon, nasceu em St-Pierre, na parte sul de La Réunion, uma região de administração francesa, situada a leste do Madagáscar. Yela faz parte de uma geração de artistas apostados em defender e reinventar o património cultural daquela ilha, recorrendo para isso ao génio poético da língua creoula e dos ritmos tradicionais. A sua música mistura o património local (maloya, séga, salégy, kadrille) com o jazz, o gospel, as músicas caribenhas e africanas. Yela possui uma voz calorosa e carregada de emoções, que reflecte o quotidiano, as esperanças, as batalhas ou as ambições pessoais e colectivas. Um percurso musical onde se contam colaborações como Manu Dibango, Mario Canonge, Etienne Mbappe, Peter Ntollo Sagona ou Amadou François Corea. O álbum “Mã Kalou”, editado em 2003, é um mosaico cultural a través do qual Yela nos faz entrar no seu universo generoso e optimista.

"Superbol", Alms For Shanti (Índia) - indian music
A melhor música do mundo vem agora da Índia. Os Alms For Shanti trazem-nos o tema “Superbol”, extraído do álbum Kashmakash, editado em 2004. Eles foram criados em Bombaim por Uday Benegal e Jayesh Ganhdi, este último mais conhecido como ex-vocalista e guitarrista da famosa banda de rock Indus Creed, que chegou a tocar no festival WOMAD. Eles actuaram lado a lado com John Bom Jovi para um público de 40 mil pessoas em Bombaim, e em 1996 com Slash, o guitarrista dos Guns N’Roses, em Bangalore. Os Alms For Shanti, que entretanto se mudaram para Nova Iorque, são um projecto indiano alinhado com estilos contemporâneos, criado para explorar a amálgama de texturas, ritmos e melodias tradicionais indianas, com sons ocidentais. Para isso, juntaram velhos amigos, tendo vindo a colaborar com alguns dos melhores músicos clássicos indianos como Taufiq e Fazal Qureshi (irmãos de Zakir Hussain), Ustad Sultan Khan ou Rakesh Chaurasia.

"Daouni", Cheikha Rimitti (Argélia) - raï, châabi, gnawa music
A argelina Cheikha Rimitti, natural de Tessala e que faleceu no passado mês de Maio, aos 83 anos, trouxe-nos o tema “Daouni”, extraído do álbum “N’Ta Goudami”, trabalho que pudemos conhecer na semana passada no programa. Órfã e rodeada de pobreza, aos vinte anos Rimitti junta-se aos músicos ambulantes Hamdachis, cantando e dançando em cabarés. Nas mais de 200 canções que escreveu fala das alegrias e das tristezas da vida, quebrando tabus ao abordar temas como a sexualidade feminina, o alcoolismo ou a guerra. A vida boémia e a sua rebeldia feminista forçam-na ao exílio em França nos anos 60, país onde encontraria um novo público, chegando a gravar um disco de pop-raï com o rocker experimental Robert Fripp. Cheikha (sénior) Rimitti realizou concertos em todo o mundo, associando-se a nomes como Oum Keltoum, Cheikha Fadela ou mesmo os Red Hot Chilli Peppers. A mãe do raï é uma referência para as estrelas mais jovens deste género, não só pela liberdade de expressão que conquistou e pela rebeliião linguística e moral, mas também por lembrar que a fé espiritual pode coexistir com o prazer físico. O seu último album foi gravado em Oran, berço do raï. Um trabalho com marcas daquela cidade, sintetizador de voz e caixa de ritmos, onde a voz áspera e suave de Rimitti é combinada com acústica moderna e instrumentos tradicionais como o bendir (instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), a gasbâ (flauta tunisina) e a gallal (uma espécie de pandeireta). Tudo à mistura com influências africanas do gnawa, harmonias árabe-andalusas do châabi e improvisos da soul argelina.

"Na Liña da Maré", Xosé Manuel Budiño (Espanha) e Sara Tavares (Portugal) - folk, celtic music
Entretanto, no MULTIPISTAS continuamos estrada fora ao ritmo da melhor música do mundo. Para já seguimos “Na Liña da Maré”, um tema de Xosé Manuel Budiño, extraído do seu terceiro álbum “Zume de Terra”, editado em 2004, onde o gaiteiro surge lado a lado com Sara Tavares. Um disco de originais, feito com sumo de terra e mel de tradição, onde Budiño tem também como convidados especiais os escoceses Capercaillie e Michael McGoldrick e ainda a brasileira Lilian Vieira, vocalista dos Zuco 103.


"Lo Lovo Horo", Boukovo (França) - balkan music
Os Boukovo encerram o programa com o tema “Lo Lovo Horo”, extraído do álbum “Rencontres”, lançado em 2002 e que pudemos conhecer na edição anterior do MULTIPISTAS. O grupo foi criado em 1996 pelo clarinetista George Mas, que juntou outros músicos franceses apaixonados pelos sons dos Balcãs. Estes foram buscar a designação ao boukovo, um pimento forte produzido numa aldeia macedónia com o mesmo nome, concentrando-se na procura de um som sem qualquer formatação ocidental. Seguindo o exemplo das fanfarras ciganas populares na Macedónia, os Boukovo apresentam uma música enérgica e festiva, carregada de várias influências. Estes nativos da região da Provença decidiram centrar-se então nos bailes populares da Grécia, Bulgária e ex-Jugoslávia, em particular no repertório da Macedónia grega onde o clarinete se pode juntar livremente à dança. E foi numa viagem aos Balcãs que eles encontraram o acordeonista búlgaro Neno Koytchev, cuja matriz de repertório búlgaro, macedónio e sérvio dá novas cores à já rica palete sonora dos Boukovo, que têm participado em inúmeros festivais e concertos em França, Espanha e Bélgica. Os Boukovo animam numerosas festas das comunidades balcânicas residentes no sul de França, marcando a diferença pelas suas coreografias espontâneas, encorajadas pelos musicos que não hesitam em saltar para a pista de dança.

Jorge Costa

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