sexta-feira, 30 de junho de 2006

Emissão #15 - 1 Julho 2006

A 15ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 1 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 3 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Here"
, Salif Keita (Mali) - afropop, mandingo
Salif Keita abre o programa desta semana com o tema “Here”, uma versão remisturada pelo francês Frédéric Galliano, extraída do álbum “Remixes From Moffou”. Exímio guitarrista, Salif Keita começou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Com a sua aproximação ao rock, ao jazz e à soul, o músico do Mali inaugurava o conceito de afropop. Em 2002 lança o álbum “Moffou” e inicia uma nova carreira, antecipando o renascimento da música tradicional mandingo e dos seus principais instrumentos, como a ngoni (espécie de guitarra mourisca), o balafon (xilofone ancestral) ou o calabash (instrumento de percussão). Mais tarde, neste “Remixes From Moffou”, DJ’s e produtores como Gekko, Ark, Cabanne, Tim Paris, The Boldz, Luciano, La Funk Mob, Charles Webster, Doctor L, Cyril K e Paul St Hilaire adaptam a música de Salif Keita aos cânones da electrónica, acrescentando-lhes novos instrumentos e atmosferas sonoras influenciadas pelo funk, house, dub e drum’n bass. Foi precisamente isso o que o francês Frédéric Galliano fez neste tema. Pioneiro na mistura da música africana com a electrónica, em 1998 Galliano faz a sua primeira viagem a África, criando dois anos mais tarde a editora Frikyiwa, na qual viria a juntar artistas africanos que conhecera ao longo das suas jornadas. Desde então que participa em diferentes projectos com diversas bandas como o Frédéric Galliano Electronic Sextet (que mistura o jazz com a música electrónica), Nahawa Doumbia (cantora e banda do Mali com quem começou por explorar a relação entre a música electrónica e africana), Néba Solo, a Orchestre Maquisard International e The African Divas.

"Leiley [Transglobal Underground Remix]", Dania (Líbano) - arabic music
A jornada musical prossegue com a libanesa Dania, que nos traz o tema “Leily”, uma poderosa canção remisturada pelos Transglobal Underground (mais conhecidos pelo seu trabalho com lendas do rock como Jimmy Page e Robert Plant) e que varreu as pistas de dança do Dubai a Bogotá. Dania começou por trabalhar como apresentadora numa televisão local libanesa. O seu talento foi então descoberto por um canal de música difundido por satélite para a Ásia e Médio Oriente. Junta-se então ao Channel V em 1995, tornando-se a primeira VJ árabe num canal internacional de televisão. Mais tarde muda-se para a Abu Dhabi TV, onde apresenta o mais conhecido programa árabe de entretenimento. Com o álbum de estreia, que foi um enorme sucesso na região, consolida a sua jovem carreira na cena musical árabe. Neste segundo trabalho ”Dania II”, lançado em 1999, a cantora ilustra as suas habilidades e versatilidade vocal. Uma mistura única e eclética de influências árabes, inglesas, espanholas e gregas, que apela a todas as nacionalidades, tendo aparecido numa série de compilações em todo o mundo e em vários canais como a MTV.

"Azara Alhai", Rasha (Sudão) - jazz fusion, sudan folk
Incursão até ao Sudão com o tema “Azara Alhai”, interpretado por Rasha, uma voz que encarna na perfeição todo o mistério e sensualidade do oriente. O seu talento revelou-se muito cedo, já que na sua família não faltam pintores, actores e músicos. A dureza do regime islâmico militar do Sudão obriga Rasha a abandonar Ondurman, a sua terra natal, localizada junto a Jartum, a capital do Sudão. Depois de uma breve passagem pelo Cairo, em 1991 muda-se para Espanha, país onde residem os seus irmãos Omaima e Wafir, este último membro dos Radio Tarifa. Nos primeiros anos, Rasha estuda e trabalha, mas pouco a pouco, pela mão de Wafir, vai-se introduzindo nos circuitos musicais. Em 1994 grava o álbum “Sudaniyat”, carta de apresentação como cantora, onde mostra uma visão muito pessoal da tradição das correntes mais actuais da música do país imenso que é o Sudão. Um disco que recebe grandes elogios da crítica europeia e chega mesmo ao mercado norte-americano. Entretanto, Rasha tem vindo a tocar com outros artistas africanos, todos eles radicados em Madrid. Na sua música, que nos arranjos vocais se aproxima à árabe e nos metais ao jazz, expressa as suas ilusões e nostalgias, denunciando também a situação actual do povo sudanês e os problemas que milhares de emigrantes enfrentam.

"Yann Derrien", Carlos Núñez (Espanha) - celtic music
A viagem musical continua com o tema “Yann Derrien”, de Carlos Nuñez, provavelmente o mais conhecido gaiteiro galego de sempre, que encabeça uma lista tradicionalmente reservada a escoceses, irlandeses ou bretões. Considerado o Jimi Hendrix da gaita e exímio tocador de flauta, whistle e ocarina, este produtor e compositor, natural de Vigo e apaixonado pelos poemas de Rosalía de Castro, começou a tocar gaita aos oito anos. O sucesso estrondoso do seu primeiro disco “A Irmandade das Estrelas”, gravado em 1996 e que vendeu mais de cem mil cópias em Espanha, chamou a atenção para a música tradicional galega. Carlos Núñez adiciona-lhe então uma visão mais aberta, aproveitando a ligação histórica desta à música latina vinda da América através da imigração, à medieval europeia recebida pelo caminho de Santiago e aos sons orientais do sul. Em todo o mundo, Carlos Núñez e a sua banda já venderam mais de um milhão de discos, algo reforçado depois do êxito da banda sonora de Mar Adentro. Em "Un Galicien en Bretagne" este conta de novo com a colaboração de alguns dos mais importantes nomes da folk europeia, caminho aberto em 1989 depois do convite dos The Chieftains para participar na banda sonora do filme "A Ilha do Tesouro", que o nomearam sétimo elemento do grupo. Com as suas participações nos festivais celtas em França, Carlos Núñez tornou-se no mais bretão dos galegos. Neste álbum, editado em 2003, reencontra-se com o bretão Alan Stivell e o catalão Jordi Savall, mobilizando outros artistas galegos devido ao Prestige, tragédia ambiental que um ano antes afectou as costas espanhola e francesa.

"Danza dos Esqueletes", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk
Regresso à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea, que a 22 de Julho vão estar no festival Tom de Festa, em Tondela. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trouxeram-nos o tema “Danza dos Esqueletes”, extraído do álbum “Saudade”, editado este ano. Uma música que presta homenagem aos gaiteiros que tiveram de deixar a sua terra e com eles levaram a sua música, como são os casos de Manuel Dopazo, Castor Cachafeiro e Antonio Mosquera. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo é uma presença constante em muitos festivais em Espanha e na Europa, mas a sua aposta centra-se agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente.

"Les Yeux Noirs", Coco Briaval (França) - gypsy swing, jazz, blues
A jornada prossegue com o guitarrista Coco Briaval, que nos traz o tema “Les Yeux Noirs”, extraído do álbum “Musique Manouche – Gypsy Music”, editado em 1996. Nos anos 60 e antes de se instalar no sul de França, Coco Briaval foi um dos maiores nomes do jazz parisiense, tendo tocado lado a lado com músicos reputados como o saxofonista americano Dexter Gordon ou o soul singer Otis Redding. Com a gravação de um primeiro disco, revelava-se o talento precoce dos irmãos Briaval, três adolescentes que então formaram Coco Briaval Gypsy Swing Quintet, homenageando grandes compositores e intérpretes de jazz como Charli Christian e Wes Montgomery. O desafio era tornar a tradição do jazz acessível a todos os públicos, mostrando o carácter familiar do gypsy swing, tal como Django Reinhardt o fez com o seu génio instrumental e talentosa composição. Um sonho que acabou por ser realizado por estes rapazes de origem piemontesa do lado da mãe (ciganos de etnia sinti) e anglo-húngaro do lado do pai (ciganos alemães). Com os seus dois irmãos René e Gilbert na guitarra e na bateria, o seu filho Zézé no saxofone e ainda Guitou no contrabaixo, Coco Briaval propõe uma visão de Django sem clichés. Eles mergulham na música cigana de etnia sinti, transmitida de geração em geração, mas resgatada para o presente numa orquestração original, deixando-se influenciar também pelo swing e pela música contemporânea.

"Sempre Di Domenica", Daniele Silvestri (Itália) - pop, rock, funk
Na sua estreia no programa, Daniele Silvestri apresentou-nos o tema “Sempre Di Domenica”, extraído do seu álbum “Unò Dué”, editado em 2002. Este cantor italiano, autor de conhecidos temas de música ligeira, mergulha no imaginário contemporâneo linguístico e musical daquele país para emergir com canções refinadas. Natural da cidade de Roma, onde nasceu em 1968, o cantautor italiano mais apreciado do panorama actual fez parte de numerosos grupos musicais. Em 1994 lança o primeiro álbum a solo, conquistando a atenção do público. Um dos temas permite-lhe então participar no Festival de Sanremo, onde conquistaria vários prémios da crítica. Nos temas incluídos neste trabalho, o sexto da sua carreira, Daniele Silvestri confirma a sua qualidade enquanto autor, servindo-se de ironia quanto baste e cruzando a música pop com o rock e o funky.

"One For Senegal", Touré Kunda (Senegal) & The Pleb (Itália) - afro-rock, mbalax
O italiano The Pleb propõe-nos agora uma ponte com o Senegal na sua remistura de “One For Senegal”, um tema dos Touré Kunda, dueto formado pelos irmãos Ismaïla Touré e Sixu Tidiane. Na sua adolescência, este DJ estabelecido em Nova Iorque fez parte do universo musical londrino, tendo passado no início dos anos 90 pela banda The Indians. Já os senegaleses Touré Kunda, banda fundada nos anos 70 pelos irmãos Amadou, Ismaila, Sixu e Ousamane Touré, inspiraram-se inicialmente nos ritmos tradicionais africanos, usando instrumentos como a kora, o balafon e o sabar, os quais no entanto viriam a ser substituidos por guitarras e sintetizadores. No final dos anos 70 eles mudam-se para Paris, tocando uma forma particular de mbalax, inspirada no afro-rock a que chamaram de djambaadong. Percussões africanas tradicionais e cantos tribais senegaleses coexistem então com amostras de som, batidas programadas e manipulação de vozes, retratando um universo geográfico onde se fala em soninké, ouolof, mandingo, diola e criolo português.

"Sou", Cheikh Lô (Senegal, Burkina-Faso) - afropop, mbalax
Entretanto continuamos estrada fora ao ritmo da melhor música do mundo. Cheikh Lô traz-nos o tema “Sou”, extraído do álbum “Lamp Fall”, editado em 2005. Cheikh Lô vive em Dakar, a capital do Senegal, mas cresceu no Burkina-Faso. A sua música constrói-se a partir da pop característica daquela cidade e dos ritmos mbalax, bem ao estilo do conhecido senegalês Youssou N'Dour, com quem gravou o primeiro álbum em 1995. Cheik Lô foi membro da Orchestre Volta Jazz, a qual tocava sucessos cubanos e congoleses bem como versões pop de músicas tradicionais do Burkina-Faso. Em 1978 mudava-se para o Senegal, onde começa por tocar com várias bandas. A música acústica e eléctrica de Cheik Lô, que fez dele uma estrela no Senegal e na Europa, explora ainda elementos de salsa, rumba congolesa, folk e jazz, bem como impulsos de reggae, soukous e um sabor a Brasil. A 6 de Julho ele vai estar em Lisboa para participar no Africa Festival.

"Hit The Road Jack [Album Version]", Mo' Horizons (Alemanha) - bossanova, nujazz, soul
Os Mo'Horizons, dupla de Hannover formada pelos produtores, músicos e DJ’s Ralf Droesemeyer e Mark ‘Foh’ Wetzler, encerram esta edição do MULTIPISTAS. No seu primeiro trabalho, estes misturam influências da soul dos anos 50 e 60 e temas funky dos anos 70 à década de 90. Eles integram técnicas modernas de produção com uma mão cheia de músicos talentosos e vocalistas que criam ao vivo um som variável no estilo mas homogéneo e identificável como sendo dos Mo’Horizons. Ao fundirem soul, funk, nujazz, afro, bigbeat, boogaloo, dub, bossanova e salsa com a downbeat, o drum‘n’bass e o triphop, eles quebram todas as fronteiras e barreiras musicais. Neste tema “Hit the Road Jack (Pé na Estrada), extraído do álbum “Some More Horizons”, editado em 2005, os Mo’Horizons pegam num clássico dos anos 60 de Ray Charles, adicionando-lhe um cheirinho a português do Brasil.

Jorge Costa

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