sábado, 17 de junho de 2006

Emissão #13 - 17 Junho 2006

A 13ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 17 de Junho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 19 de Junho, entre as 19 e as 20 horas.

"Jani El Hob", Cheikha Rimitti (Argélia) - raï, châabi, gnawa music
Cheikha Rimitti, que abriu o programa com o tema “Jani el Hob”, extraído do álbum “N’Ta Goudami”, editado em 2005, nasceu em Tessala, na Argélia, tendo falecido no passado mês de Maio, aos 83 anos. Órfã e rodeada de pobreza, aos vinte anos Rimitti junta-se aos músicos ambulantes Hamdachis, cantando e dançando em cabarés. Nas mais de 200 canções que escreveu fala das alegrias e das tristezas da vida, quebrando tabus ao abordar temas como a sexualidade feminina, o alcoolismo ou a guerra. A vida boémia e a sua rebeldia feminista forçam-na ao exílio em França nos anos 60, país onde encontraria um novo público, chegando a gravar um disco de pop-raï com o rocker experimental Robert Fripp. Cheikha (sénior) Rimitti realizou concertos em todo o mundo, associando-se a nomes como Oum Keltoum, Cheikha Fadela ou mesmo os Red Hot Chilli Peppers. A mãe do raï é uma referência para as estrelas mais jovens deste género, não só pela liberdade de expressão que conquistou e pela rebeliião linguística e moral, mas também por lembrar que a fé espiritual pode coexistir com o prazer físico. O seu último album foi gravado em Oran, berço do raï. Um trabalho com marcas daquela cidade, sintetizador de voz e caixa de ritmos, onde a voz áspera e suave de Rimitti é combinada com acústica moderna e instrumentos tradicionais como o bendir (instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), a gasbâ (flauta tunisina) e a gallal (uma espécie de pandeireta). Tudo à mistura com influências africanas do gnawa, harmonias árabe-andalusas do châabi e improvisos da soul argelina.

"Cupurtlika", Boukovo (França) - balkan music
Os Boukovo trazem-nos o tema “Cupurtlika”, extraído do álbum “Rencontres”, lançado em 2002. O grupo foi criado em 1996 pelo clarinetista George Mas, que juntou outros músicos franceses apaixonados pelos sons dos Balcãs. Estes foram buscar a designação ao boukovo, um pimento forte produzido numa aldeia macedónia com o mesmo nome, concentrando-se na procura de um som autêntico, sem qualquer formatação ocidental. Seguindo o exemplo das fanfarras ciganas, orquestras muito populares na Macedónia, os Boukovo apresentam uma música enérgica e festiva, carregada de várias influências. O grupo interpreta repertório de dança da cultura macedónia, a qual é partilhada por três países dos Balcãs: a República da Macedónia (antiga Jugoslávia), a Grécia e a Bulgária. Estes nativos da região da Provença decidiram centrar-se então nos bailes populares da Grécia, Bulgária e ex-Jugoslávia, em particular no repertório da Macedónia grega onde o clarinete se pode juntar livremente à dança. E foi numa viagem aos Balcãs que eles encontraram o acordeonista búlgaro Neno Koytchev, cuja matriz de repertório búlgaro, macedónio e sérvio dá novas cores à já rica palete sonora dos Boukovo, que têm participado em inúmeros festivais e concertos em França, Espanha e Bélgica. Os Boukovo animam numerosas festas das comunidades balcânicas residentes no sul de França, marcando a diferença pelas suas coreografias espontâneas, encorajadas pelos musicos que não hesitam em saltar para a pista de dança.

"Roomal", Musafir (Índia) - rajasthan music
Jornada musical pelo deserto do Rajastão com os Musafir e o tema “Roomal”, extraído do álbum “Dhola Maru”, editado em 1999. Os Musafir (expressão que em farsi quer dizer “vagabundo” e se pode traduzir por “peregrinação" ou “jornada espiritual") são um ensemble de onze elementos proveniente desta região, situada no noroeste da Índia. Em pleno oriente islâmico, os ciganos, muçulmanos e hindus do Rajastão têm coexistido ao longo de dez séculos, dando azo a uma tradição musical simultaneamente sensual e sagrada. Os Musafir apresentam uma música diversificada e alegre, numa combinação colorida de músicos pertencentes a comunidades como os Langa (poetas, cantores e músicos islâmicos, tocadores do sindhi sarangi, um instrumento de percussão, e da algoza, uma flauta do Rajastão), os Manghaniyar (músicos muçulmanos que cantam em diferentes dialectos e estilos) ou os Sapera (comunidade nómada que se dedica à captura de serpentes e à venda do seu veneno). O grupo mistura ritmos e polifonias poderosas como os cantos muçulmanos qawwali, a raga do norte da Índia ou as canções da cultura cigana, criando versões híbridas da folk indiana e da música clássica hindustani. E em alguns dos seus espectáculos ao vivo não faltam mesmo as danças, as acrobacias e o conturcionismo. A palete sonora dos Musafir inclui instrumentos indianos de cordas como o sarod (antepassado da guitarra, de tonalidades ragga) e a cítara, de percussão como o dholak, o pakhawaj, a tabla, o dhol ou os kartals, e de sopro como a pungi ou a aloogoza.

"Retany", Tarika (Madagáscar) - madagascar music
No MULTIPISTAS seguem-se os Tarika com o tema “Retany”. Liderados pelo cantor e compositor Hanitra Rasoanaivo, os Tarika são um dos grupos do Madagáscar com maior sucesso internacional. A forma única como interpretam as raízes musicais da sua ilha encaixada no oceano Índico granjeou-lhes fãs em todo o mundo. No final dos anos 70 um conjunto de bandas pioneiras no uso de sons electrizantes actualizou ritmos da ilha como o salegy, o watcha watcha, o tsapika, o sega ou o sigaoma, fazendo rejuvenescer canções de outros tempos. Neste trabalho editado em 1998, álbum a que chamaram “D” (palavra que se refere a dihy, o que no Madagáscar quer dizer “dança”), os Tarika prestam tributo à variedade de estilos de dança do Madagáscar – recorde-se que cada uma das dezoito tribos deste país tem as suas danças especiais. As raízes malaio-polinésias misturam-se então de forma moderna com influências do vizinho continente africano, criando harmonias justas, grooves flutuantes, melodias contagiosas e danças enérgicas, o que fez com que os trabalhos dos Tarika conquistassem o topo das tabelas de música do mundo na Europa e na América do Norte. O álbum integra também danças mais recentes e algumas composições, incluindo a dança bakabaká, criada pelos Tarika.

"Monsieur le Maire de Niafunké", Ali Farka Touré & Toumani Diabaté (Mali) - african blues, kora music
O tema “Monsieur le Maire de Niafunké” é extraído do álbum “In The Heart Of The Moon”, editado em 2005. Um trabalho que juntou pela primeira vez dois gigantes da música do Mali: o guitarrista Ali Farka Touré e o maestro da kora Toumani Diabaté. Ali Farka Touré, o pai dos blues africanos desapareceu no passado mês de Março, aos 66 anos. Este passou as suas últimas semanas de vida a concluir “Savane”, um disco póstumo que será lançado em todo o mundo a 17 de Julho. O trabalho, que contou com as participações do saxofonista Pee Wee Ellis, antigo colaborador de James Brown e Van Morrison; das percussões de Faín Dueñas, dos Radio Tarifa; ou de Mama Sissoko, intérprete do ngoni, um alaúde ancestral, predecessor do banjo, foi gravado no hotel Mande, o mesmo lugar onde Touré registou com Toumani Diabaté o álbum “In The Heart Of The Moon”, vencedor de um grammy este ano. Único sobrevivente de uma família de dez irmãos, razão pela qual os pais lhe terão dado a alcunha de Farka – que apesar de querer dizer “burro”, na tradição do povo Arma significa “um animal forte e tenaz” –, Ali Farka Touré fez parte de várias bandas e foi artista residente na Rádio Mali. Cantava em songhai, peul, bambara, fula, tamaschek e outras línguas da região, abertura que lhe permitiu contribuir para a reconciliação nacional no Mali após a mais recente revolta dos tuaregues. O amor à terra levou-o a viver durante muitos anos na aldeia de Niafunké, situada na ponta do deserto do Sara e ao redor do Rio Níger. Como não existia electricidade nem água canalizada, aí investiu em máquinas agrícolas utilizando todo o dinheiro ganho com a música. Nos últimos anos, tal como retrata este tema, chegou mesmo a ser presidente da câmara de Niafunké. O bluesman africano misturava os sons do Mali, carregados de influências árabes, com reminescências dos blues americanos, lembrando ao mundo que foi nesta região do globo que nasceram os blues.

"Tuulilta Tuleva", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
A jornada musical prossegue com os Värttinä e o tema “Tuulilta Tuleva”, extraído do seu sexto álbum “Kokko”, editado em 1996. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebra o seu 23ºaniversário, traz-nos uma apelativa mistura de pop ocidental com folk europeia e nórdica. Os Värttinä são conhecidos por terem inventado um estilo baseado nas raízes da região da Carélia, em particular nas tradições vocais femininas e nos antigos poemas rúnicos. Da imagem do grupo, constituído por três estridentes vocalistas femininas e seis músicos acústicos, fazem parte a instrumentação acústica tradicional e contemporânea (guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões), os ritmos complexos e as composições e arranjos modernos. As letras emocionais da banda são reforçadas pelos insistentes ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. Tudo começou numa pequena cidade na Carélia filandesa, junto à fronteira com a Rússia. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios.

"Get Reel",
Urban Trad (Bélgica) - techno folk
Viagem pelos caminhos da folk urbana com os belgas Urban Trad, que nos trouxeram o tema “Get Reel”, extraído do álbum “Kerua”, editado em 2003. E como diz o próprio nome, os Urban Trad combinam a melhor música tradicional com ritmos modernos, criando uma folk influenciada por um ambiente techno. O projecto arrancou em 2000, quando Yves Barbieux, compositor da banda Coïncidence, decidiu reunir uma vintena de artistas da cena tradicional belga para misturar música celta com sons urbanos. Se inicialmente se tratava de conceber um primeiro álbum, o êxito alcançado encorajou o autor a juntar outros músicos aos Urban Trad. No Festival Eurovisão da Canção realizado na Letónia em 2003, os oito elementos do grupo conquistam o segundo lugar e o grande público. Com “Sanomi”, uma canção interpretada num idioma imaginário, levaram pela primeira vez o característico timbre da gaita-de-foles ao palco da Eurovisão. Um grupo de música de inspiração tradicional, mas ancorado no presente, já que instrumentos acústicos como o acordeão, o violino e a flauta são acompanhados pelo canto e por uma secção rítmica cheia de energia e musicalidade. Volvidos três álbuns, o repertório dos Urban Trad passou a abranger, para além da música celta, a Escandinávia, a França, a Espanha e os países de Leste. É assim a música tradicional europeia do século XXI.

"Te Veel", Think Of One (Bélgica) - brass band music, folk, funk, reggae
A melhor música do mundo vem agora da Bélgica com os Think Of One, a primeira banda sobre rodas. Este grupo multicultural traz-nos o tema “The Veel”, extraído do álbum “Naft”, editado em 2000. Um repertório que foi gravado em apenas três dias em De Werf, junto à cidade de Bruges. Os Think Of One misturam de forma única a música das fanfarras belgas com a folk, o jazz, o funk, a dub, o reggae, o punk rock ou o calypso, tendo vindo a aproximar-se de outros universos como o gnawa marroquino e as sonoridades do nordeste brasileiro. Para alimentarem o sonho de poderem tocar em qualquer parte do mundo, desde que o tempo assim o permitisse, em 1999 os Think Of One transformaram uma carinha, baptizada de Naftmobyl, num palco ambulante com três níveis, amplificação sonora e iluminação, acrescentando-lhe mais tarde uma roulotte. A tournée de estreia dos seis elementos do grupo começou em França, com uma paragem no festival de rua de Avignon para uma festa sonora que se prolongou por quatro dias, provando que com a sua música alegre é sempre possível dançar do início ao fim. Os Think Of One, que em 2004 conquistaram um World Music Award da BBC, vão estar em Loulé a 29 de Junho para participar na 3ªedição do Festival MED.

"Kike On The Mic", Hip Hop Hoodios (EUA) - latin funk, klezmer music, cumbia, hip-hop
Os Hip Hop Hoodios apresentam-nos o tema “Kike On The Mic”, extraído do álbum “Água Pá La Gente”, uma intrigante mistura de instrumentos clássicos e modernos. Eles são um famoso colectivo latino-judaico de música urbana, liderado por Josh Norek e Abraham Velez, que conta com a participação de nomes notáveis da cena latina e judaica como Santana, Jaguares, The Klezmatics, Orixa, Los Mocosos, Midnight Minyan e Los Abandoned. Sedeada em Los Angeles e Nova Iorque, a banda das duas costas americanas foi buscar o seu nome “hoodio” a uma mistura feita a partir da palavra castelhana judio (que em português equivale a “judeu”). Produzido por Happy Sanchez, este álbum é o segundo trabalho dos Hip Hop Hoodios, combinando letras provocadoras, divertidas e inteligentes com funk latino, música klezmer, cumbia e hip-hop.

"Su Dilu Est Goi", Tazenda (Itália) - italian folk, pop-rock
O programa despede-se com os italianos Tazenda e o tema “Su Dillu Est Goi”, extraído do álbum “Sardinia”. Este é um trio vocal da região da Sardenha que alcançou grande sucesso comercial no início dos anos 90 ao participar em duas edições do Festival de San Remo. O seu uso do dialecto local, juntamente com a leitura simplificada dos antigos cantos polifónicos – um estilo cujas origens permanecem incertas mas que constitui uma das principais formas musicais da Sardenha –, provou ser um passo importante na aproximação dos Tazenda ao auditório italiano. Um toque exótico com que o grupo se abriu ao mundo. A sua música possui uma estrutura pop-rock, misturando-se com instrumentos tradicionais como a launeddas (uma espécie de flauta) e com sons electrificados, fazendo do seu universo sonoro uma das mais bem sucedidas experiências de música do mundo que ocorreram em Itália na última década.

Jorge Costa

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