sexta-feira, 7 de julho de 2006

Emissão #16 - 8 Julho 2006

A 16ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 8 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 10 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Galileo",
Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
A canadiana Claire Pelletier abre o programa desta semana com o tema "Galileo", gravado ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (a sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons électrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier (ou melhor, de Claire La Sirène) iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

"Granny: Granny In The Attic/Blue Ball/The False Proof"
, Flook (Reino Unido, Irlanda) - celtic music, folk-rock
A jornada musical prossegue com os Flook, quarteto anglo-irlandês de Manchester, conhecido pela sua espontaneidade e energia em palco, e que este ano conquistou o prémio de Melhor Grupo nos BBC Folk Awards. Um ensemble instrumental formado pelos flautistas Brian Finnegan e Sarah Allene, pelo guitarrista Ed Boyd e por John Joe Kelly no bodhrán. Os Flook combinam a música celta de raízes inglesas e irlandesas e as melodias suecas e gregas com elementos do jazz, do rock e da música sul-europeia, indiana e árabe. Para isso utilizam outros instrumentos como o violino, o bandolim, o bouzouki, o trombone, o acordeão e as percussões africanas. No álbum “Rubai” (palavra que se refere a um poema persa), editado em 2002, os Flook apresentam um resumo das suas aventuras pelo mundo, tendo convidado os músicos Rory McLeod, Martin Cradick, Seckou Keita e Colin Farrell. Eles trazem-nos uma sequência de três temas, cada qual com a sua história: “Granny in the Attic” foi escrito por Sarah quando os seus vizinhos de baixo decidiram remodelar o apartamento. Já “Blue Ball” é o nome da velha casa de campo em que viviam os seus avós e onde Sarah passou muitos verões na sua infância. Finalmente, “The False Proof” é um jig do flautista belga Jowan Merckx, que os Flook conheceram na Holanda.

"Medraína", Xéliba (Espanha) - asturian folk, celtic music
Os Xéliba, pioneiros da folk asturiana, trazem-nos “Medraína”, um tema extraído do álbum “Ferruñu”, editado em 1998. Eles levam-nos pelos caminhos da folk acústica com reminescências celtas e arranjos influenciados por bandas escocesas. Xéliba é um anagrama de Avilés, cidade a que pertenciam os primeiros elementos deste grupo de cinco rapazes. Foi em 1993 que músicos de várias bandas se juntaram com o objectivo de preservar a herança cultural asturiana. Grande parte das melodias e canções dos Xéliba são versões de temas tradicionais, que o grupo adapta ao estilo musical daquela comunidade autónoma espanhola. A banda, entretanto extinta, faz-se acompanhar de instrumentos acústicos e tradicionais como a gaita-de-foles asturiana, o acordeão diatónico, a flauta ou o violino, seguindo uma linha de folk acústico baseada na força rítmica do bouzouki e da guitarra acústica, instrumentos habitualmente presentes na folk de todo o globo.

"Jánoska", Transsylvanians (Alemanha) - folk-rock, hungarian speed folk
Para já viajamos até ao universo sonoro dos Transsylvanians, com o tema “Jánoska”, extraído do álbum “Igen!”, editado em 2004. Uma banda sedeada em Berlim, na Alemanha, mas que toca música húngara. Algo estranho num grupo maioritariamente formado por músicos russos e alemães (são eles Szilvana, András Tiborcz, Isabel Nagy, Thomas Leisner, Andreas Hirche e Hendrik Maaß). Em alusão ao país imaginário que é a Transilvânia, a banda escolheu este nome por ele reflectir uma música feita por gente de diferentes países e vivências culturais. Ao criarem a sua própria tradição, os Transsylvanians misturam a enérgica folk de dança húngara com o punk-rock, o techno, o rap, a pop, o ska, o chill out e a música cigana, produzindo um som que se apresenta como novo modelo do speed-folk húngaro. Aos temas que falam do do seu país, do amor, da inveja, da guerra e da paz, juntam-se-lhes a guitarra, o violino e uma explosão de percussões que convidam à dança e fazem com que os concertos dos Transsylvanians sejam um sucesso em toda a Europa. Tradicional ou não, apenas fica a certeza de que se trata de música húngara, ou melhor, de música da Transilvânia.

"Pena", Šaban Bajramović (Sérvia) - gypsy music
A viagem musical continua com uma passagem pela Sérvia através do tema “Pena”, estraído do álbum “Šaban Bajramović – A Gypsy Legend”, lançado em 2001. Šaban Bajramović é um dos expoentes máximos da cultura romani e da música cigana em todo o mundo. Natural de Nis, na antiga Jugoslávia, aos 19 anos ele foge do exército e é preso na ilha Goli Otok, situada no mar Adriático. Naquela que seria a sua universidade, Bajramović torna-se guarda-redes na equipa de futebol, passando a ser chamado de "Pantera Negra" devido à sua agilidade e velocidade. Junta-se então à orquestra da prisão, onde toca sobretudo jazz de Armstrong, Sinatra e John Coltrane e peças espanholas e mexicanas. De regresso à liberdade, Bajramović inaugura uma intensa carreira musical. Em 1964 grava o primeiro disco, tendo desde então lançado cerca de 20 LP’s e 50 singles e feito mais de 650 composições. Com a sua primeira fortuna comprou um Mercedes e contratou dois guarda-costas, mas depressa o vício do jogo lhe levou toda a riqueza. Durante 20 anos teve o seu próprio grupo, os “Black Mamba”, entretanto foram convidados por Indira Ghandi para irem até à Índia, onde Bajramović seria proclamado rei absoluto da música cigana. Uma espécie de mistura entre Tito e Elvis, mas com sapatos toscos e uma garrafa no bolso. Com o passar dos anos, Šaban Bajramović muda de estilo, de grupo e de mulher, perdendo parte do glamour, mas a sua voz permanece inalterada. Ele participou em filmes de Paskaljevic e Kusturica e colaborou com músicos inspirados por ele como o famoso Goran Bregovic, que adaptou o génio de Saban aos gostos do mercado.

"Shiva's Daughter", Arling & Cameron (Holanda) - pop, drum'n'bass, bossa nova
A jornada prossegue com os holandeses Arling & Cameron e o tema “Shiva’s Daughters”, extraído do álbum “Music For Imaginary Films”, editado em 2000. Depois de anos de obscuridade a desenvolverem temas para as pistas de dança, as músicas destes jovens de Amsterdão, tão ecléticos que nem chegam a ser uma banda, entraram finalmente nos ouvidos do mundo. O DJ Richard Cameron e o músico Gerry Arling fundem então passado e presente numa visão do futuro em harmonia com o ambiente clubpop que emergiu em Tóquio na década de 90. O seu arranque como duo acontece em 1997, num álbum em que absorviam mais géneros e ritmos. Entre outros, chegam a colaborar com o músico brasileiro Bebel Gilberto ou os japoneses Pizzicato Five e Cornelius. O momento alto das suas carreiras surge quando Cameron grava com os Fantastic Plastic Machine uma música para o filme “Austin Powers, The Spy Who Shagged Me”. Um potencial melódico que seria aproveitado por Hollywood e pelos publicitários de todo o mundo, acabando por ser utilizado em filmes como 'Gun Shy' (com Sandra Bullock e Liam Neeson) ou em séries de televisão como “Popular” (Warner Channel) e “Sopranos” (HBO). No seu álbum conceptual “Music for Imaginary Films”, recheado de pop, drum'n'bass, bossa nova, funk e lounge exótica, Arling & Cameron procuram reinventar as tradicionais bandas sonoras, associando cada música a um filme imaginário de um género específico – neste caso o universo de Bollywood –, levando a cabo uma aventura musical séria e com humor. Um projecto que lhes permitiu ganhar o prémio holandês “Big Pop” e serem convidados pelo canal americano SciFi para participarem no documentário “Sciography”.

"Limbe", S-Tone Inc. (Itália) - bossa nova, soul, latin jazz
Os S-Tone Inc apresentam-nos o tema “Limbe”, extraído do álbum “Sobrenatural”. Este projecto musical, criado em 1992 pelo milanês Stefano Tirone, foi um dos pioneiros no universo do acid jazz. As primeiras experiências musicais deste músico italiano, que para trás deixou a arquitectura e o design interior, remontam à new wave da década de 80 com grupos como “State of the Art” ou “Modo”. As suas referências vão da soul de Isaac Hayes ao jazz de Miles Davis. Stefano Tirone, que está presente em compilações lançadas pelo magazine Rockerilla, começou a produzir música nos anos 90, alternando entre o smooth house e o acid jazz. Uma actividade que lhe permitiu colaborar com muitos DJ’s italianos e ingleses, realizando trabalhos que antecipariam o uso de amostras de som de discos dos anos 70 na house music. Neste seu terceiro álbum, editado em 2002, os S-Tone Inc. refinam o seu estilo feito de melodias e harmonias com um sabor francês e ritmos enraizados no Brasil. Uma atmosfera boémia capturada entre Paris e o Rio de Janeiro e carregada de guitarras, flautas e acordeão, que nos leva pelos caminhos da bossa nova, da soul, do jazz latino, do smooth house ou do electro funk. Este disco contou ainda com a participação de Marion Marioni, cujo saxofone soprano nos leva de volta aos anos 70, e com a voz de Laura Fedele.

"El Carretero", Barrio Cubano de Ronald Rubinel (Cuba, França) - salsa, fusion rap, hip-pop salsa
Continuamos estrada fora com a melhor música do mundo, desta feita ao ritmo da música popular cubana. Barrio Cubano é um apanhado dos grandes clássicos da música daquele país, regravados pelos melhores rappers cubanos e remixados por Ronald Rubinel, um produtor parisiense cuja obcessão mais recente consiste em misturar a salsa latina e a folk franco-caribenha com os sons da pop, do hip-hop e do rap. No tema "El Carretero" (o condutor de carroças) são também visíveis elementos da guitarra classica utilizada na guajira, um estilo acústico cubano que surgiu no início do século XX.

"O Beta O Siba", Richard Bona (Camarões) - afropop
Richard Bona fecha o programa com o tema “O Beta O Siba”, extraído do álbum “Tiki”, editado em 2005. O multi-instrumentista e compositor, nascido nos Camarões, cedo despertou para a música. Como na sua vila natal não havia uma loja de instrumentos, este teve de utilizar cabos de travões de bicicleta para fazer as cordas da sua primeira guitarra artesanal. Mais tarde, na década de 80, Richard Bona despertava para o mundo do jazz e começava a tocar baixo. Vai então para Paris, onde aperfeiçoa as suas capacidades de escrever e tocar música, até que em 1995 tenta a sua sorte em Nova Iorque. Este contador de histórias mistura as suas raízes musicais africanas com a sensibilidade do jazz, os ritmos afro-cubanos e a pop anglo-saxónica. Um aglomerado de influências que Richard Bona combina neste trabalho com uma voz suave e expressiva, de onde escapa doçura e nostalgia.

Jorge Costa

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