sábado, 15 de julho de 2006

Emissão #17 - 15 Julho 2006

A 17ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 15 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 17 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Muiñeiras", Cristina Pato (Espanha) -
celtic folk, folk-pop
A espontaneidade, frescura e energia de Cristina Pato está bem patente no tema “Muiñeiras”, original de Raquel Rodriguez, violinista dos Muntenrohi, banda que a diva da gaita-de-foles galega integrou na adolescência. Natural de Ourense, a jovem Cristina Pato tem tocado a solo e com grupos como os The Chieftains, Hevia, Vargas Blues Band ou as orquestras sinfónicas da Galiza e de Tenerife. Colaboraram também com ela, entre outros, José Peixoto, guitarrista dos Madredeus, e a portuguesa Marta Dias. Para além de gaiteira, Cristina Pato é pianista e compositora, aliando a perfeição técnica da música clássica com a espontaneidade da música popular. Uma carreira que começou aos quatro anos, altura em que quis seguir o exemplo da irmã mais velha, que já tocava gaita-de-foles. Foi na Real Banda de Gaitas de Ourense que esta ofereceu os seus primeiros recitais. Ao acabar o curso de piano em Barcelona, cumpriu a promessa feita à mãe de pintar o cabelo de verde, hoje sua imagem de marca. Cristina Pato, cujo sonho é ser directora de orquestra, foi a primeira gaiteira espanhola a editar um álbum a solo. Em 1999, com apenas 17 anos, lança “Tolemia” (palavra que em galego significa loucura), disco que vendeu quase 50 mil cópias e foi uma autêntica loucura, já que juntou 28 músicos e foi gravado em apenas 10 dias. São sons tradicionais à mistura com ritmos latinos e africanos, funky, pop, reggae ou blues, numa folk mestiça e divertida. Um trabalho em que colaboraram Carlos Castro, dos Fía Na Roca; Paco Juncal, ex-violinista dos Berrogüeto, os Blanco e os Beladona. Como quem toca guitarra eléctrica, Cristina Pato procura demonstrar de forma enérgica que a gaita-de-foles é um instrumento tradicional que extravasa as fronteiras da música celta.

"Raincheck"
, Kathryn Tickell (Reino Unido) - celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Kathryn Tickell e o tema “Raincheck”, alusivo à tournée que esta tocadora de violino e de gaita-de-foles da Nortúmbria realizou na Turquia. Uma música extraída do seu sexto álbum “The Gathering”, editado em 1997. Juntamente com Ian Carr e Neil Harland, Kathryn mistura as suas composições com as melodias tradicionais daquele condado do nordeste de Inglaterra, criando uma folk ágil, profunda e ritmicamente complexa. Kathryn Tickell, que tem tocado em todo o mundo e gravado com nomes como os The Chieftains, Boys Of The Lough, Penguin Café Orchestra e Sting, conquistou os fãs de música celta experimental e de fusão, mantendo no entanto a veia tradicional. Ela começou a tocar gaita aos nove anos, inspirada pelo pai e por músicos como Willie Taylor, Will Atkinson, Joe Hutton, Richard Moscrop e Tom Hunter. Aos 16 anos lançava o seu primeiro álbum. Em 1990 forma a Kathryn Tickell Band, ano em que cria o Fundo dos Jovens Músicos para ajudar os jovens da região a desenvolverem o seu potencial musical. Entretanto, tem colaborado com os saxofonistas Andy Sheppard e John Surman, e desenvolvido programas para a rádio com jovens músicos da Grã-Bretanha. Em 2000 criava o Ensemble Mystical, projecto que reune músicos provenientes do mundo da música clássica, do jazz e da folk.

"Texiendo Suaños", Tejedor (Espanha) - asturian folk, celtic music
Os Tejedor trazem-nos o tema "Texiendo Suaños", extraído do álbum “Texedores de Suaños”. Este grupo asturiano, nascido em Avilés e formado pelos irmãos José Manuel, Javier e Eva Tejedor, é um dos grandes embaixadores da nova folk asturiana. Um potencial criativo e interpretativo comandado por José Manuel Tejedor, considerado o melhor gaiteiro asturiano da segunda metade do século XX. Nas melodias dos Tejedor reconhece-se a paixão destes professores pelo cancioneiro tradicional asturiano, que o ligam à influência celta, criando um som fresco, acústico e festivo. Considerado o melhor disco de folk em 1999, “Texedores de Suaños” reúne composições próprias e temas tradicionais das Astúrias, misturando as gaitas asturianas com a percussão, as flautas, o acordeão diatónico e o bodhrán. Mais tarde, os Tejedor adicionaram ao seu repertório novos elementos musicais que vão dos arranjos de cordas às programações electrónicas, tendo readaptado alguns temas tradicionais asturianos. O disco de estreia, produzido pela "vaca sagrada" da folk internacional Phil Cunningham (que participa também com o acordeão em algumas faixas), reuniu músicos privilegiados como Duncan Chishom (Wolfstone), Michael McGoldrick (Lúnasa, Capercaillie), James McKintosh (Shooglenifty, Afro Celt Sound System), Kepa Junkera e Chus Pedro (Nuberu).

"Malaisha", Miriam Makeba (África do Sul) - soul jazz, afro-pop
Para já segue-se a sul-africana Miriam Makeba, que nos traz o tema “Malaisha”, extraído do álbum “Hits & Highlights”. Ela foi a primeira mulher negra exilada por causa do apartheid e a primeira artista a colocar a música africana no mapa internacional. Miriam, que já gravou mais de 40 discos, cresceu a ouvir Duke Ellington, Billie Holiday e Ella Fitzgerald, sendo hoje capaz de cantar em nove línguas (francês, inglês, arábico, xhosa, kikongo, maninka, fula, nyanja e shona). Exilada por ter aparecido no filme “Come Back Africa”, a imperatriz da música africana passou 31 anos longe do seu país, lutando pelos direitos civis dos negros.
A sua carreira começa na década de 50 nos Cuban Brothers. Miriam torna-se conhecida como vocalista da formação de jazz Manhattan Brothers, juntando-se mais tarde ao grupo vocal feminino Skylarks. Em 1959 o realizador americano Lionel Togosin convida Miriam a apresentar um documentário sobre a África do Sul no festival de Veneza, o que enfureceria as autoridades sul-africanas. Miriam Makeba exila-se então nos Estados Unidos, criando sucessos como “Pata Pata", "The Clique Song" ou "Malaika". O seu casamento com Stokely Carmichael, o líder radical dos Panteras Negras, traz-lhe problemas com as autoridades americanas. Exila-se então na Guiné-Conacri, até que em 1990 Nelson Mandela a convence a regressar ao seu país.

"Plus Rien M'Étonne", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
A viagem musical continua com Tiken Jah Fakoly e o tema “Plus Rien Me M’Etonne” (Já nada me mete surpreende), extraído do seu sétimo álbum “Coup de Gueule”, lançado em 2004. Um disco em que Tiken Jah Fakoly segue os caminhos do reggae africano de Alpha Blondy, fazendo uma ponte com a Jamaica, e mergulhando na tradição mandingo sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Neste álbum, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim, exilado entre Bamako e Paris, ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem no continente, bem como a hipocrisia das religiões monoteístas. Fakoly apresenta temas em francês e em dioula, a língua da sua etnia e que é falada no norte da Costa do Marfim, na Guiné-Conacri, no Mali e no Burkina-Faso. Um trabalho de novo realizado por Tyrone Downie, e que conta com os ritmos de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, que nos trazem os inconfundíveis sons do balafon, da kora e do ngoni. Outros artistas do mundo ajudam o rebelde tranquilo a alargar a sua música a outros horizontes. Entre eles estão Didier Awadi, dos Positive Black Soul e um dos fundadores do hip-hop senegalês, e os irmãos Amokrane de Zebda e Magyd Cherfi.

"Yasar Geidu", Mariam Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music

A jornada prossegue com o tema “Yasar Geidu”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan, que a 29 de Julho vai estar no Festival de Músicas do Mundo de Sines, é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Ya Rayah [Sonar Remix]", Dahmane El Harrachi (Argélia) - raï, chaâbi
“Ya Rayah” (O Exilado), um dos clássicos da música árabe, apresenta-se-nos agora num remix electrónico que os Sonar fizeram do tema do argelino Dahamane El Harrachi, uma melodia cuja letra invoca a alienação sentida na pele pelos
emigrantes. Abderahmane Amrani, tragicamente desaparecido em 1980 num acidente de viação, adoptou o nome artístico de Dahamane El Harrachi. Fê-lo não só para homenagear o bairro de El Harrach onde cresceu, mas também para não incomodar os princípios religiosos do pai, que era muezin na grande mesquita de Alger. Foi nestes bairros populosos que El Harrachi desenvolveu o seu sentido de observação e descobriu que queria cantar um chaâbi diferente do de El Anka ou Hadji M’rizek, ajustando-se a sua voz na perfeição a esse anseio. Em jovem trabalha com os mestres El Hadj Menouar e Khlifa Belkacem. Em 1949 parte para França, estabelecendo-se mais tarde em Paris. É nos cafés da emigração argelina que desenvolve a sua carreira de autor e intérprete. A sua música ganha maior notoriedade quando passa a compor temas mais sarcásticos, dissecando os males da sociedade utilizando para isso os ditados populares da época. Uma carreira que atinge o ponto máximo quando Rachid Taha pega no tema “Ya Errayeh Ouine M’Safer ?” (Para onde partes, para onde viajas tu?). Um clássico do raï, o género musical mais popular nas ruas da Argélia, com percussão bem vincada, e que foi redescoberto anos mais tarde por Rachid Taha, músico que o apresentou a uma audiência internacional.

"Venus Nabalera", Mau Mau (Itália) - folk-rock, latin rock
Seguem-se os italianos Mau Mau com o tema “Venus Nabalera”, extraído do álbum “Safari Beach”, editado em 2000. O nome desta banda de rock e folk, formada em Turim em 1991, baseia-se no grupo de libertação do Quénia da colonização inglesa. Esta tribo de seis elementos, cuja música expressa uma paixão pelos sons acústicos e secos, foi pioneira na mestiçagem da música italiana, combinando uma variedade de estilos para assim gerar uma linguagem feita de atmosferas do norte e do sul do Mediterrâneo. Com a percussão e o ritmo sempre presentes, as canções dos Mau Mau falam sobre a emigração, a pobreza, a fome, os subúrbios, as expectativas, o divertimento e mesmo de computadores. Para além do italiano e do dialecto piemontês, eles cantam em castelhano, inglês e francês. Entretanto, receberam vários prémios como o de Revelação Interncional no BAM Festival em Barcelona. Neste seu quinto trabalho, o ensemble da região de Piemonte conta com a colaboração de Sargento García, mas no currículo trazem outros músicos como Inti Illimani, Ivano Fossati e Manu Chao.

"Vänner Och Fränder", Garmarna (Suécia) - folk-rock
Os suecos Garmarna trazem-nos um tema extraído do álbum “Live”, editado em 2002. Esta banda de rock, formada em 1990, canta velhas lendas da música tradicional do seu país, falando de bruxas más, madrastas tenebrosas e de princesas indefesas. Convém explicar que na mitologia sueca os Garmarna eram os cães que guardavam a porta do inferno. Uma imagem metafórica que se transpõe facilmente para os cenários sonoros criados por este quinteto, que oscila entre as estéticas anglo-saxónicas e os ambientes da música tradicional sueca. No entanto, os Garmarna não fazem questão de perpetuar tradições. O que eles querem é tocar com a vontade do momento, com tudo o que isso tenha de eterno ou de efémero. Um som único, influenciado pelo rock, e que remistura a instrumentação antiga com amostras de batidas, harpas, violinos e guitarras distorcidas.

"Jackie ", Bossa Nostra (Itália) - latin lounge, bossa nova
Os italianos Bossa Nostra (grupo formado por Adriano Molinari, Luca Savazzi, Luigi Storchi, Mássimo Mussini e Stefano Carrara) fecham o programa com o tema “Jackie”, uma das várias versões, a maioria delas dançáveis, incluídas no álbum “Chico Desperado/Jackie”, editado em 1999. No total são cinco temas antigos e quatro remixes novos elaborados pelos Pasta Boys, Atjazz, East West Connection, Street Vibes e Pedro Van Der Volt, a maioria entre o deep house e o acid jazz. O universo sonoro dos Bossa Nostra, como o nome indica, é altamente influenciado pela música brasileira, baseando-se em instrumentos acustico-elétricos tocados com muita criatividade.

Jorge Costa

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