sexta-feira, 21 de julho de 2006

Emissão #18 - 22 Julho 2006

A 18ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 22 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 24 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Battle Of The Species",
Antibalas Afrobeat Orchestra (EUA) - afrobeat
Os Antibalas Afrobeat Orchestra inauguram a emissão desta semana com “Battle Of The Species”, tema extraído do seu trabalho de estreia “Liberation Afrobeat Volume I”, lançado em 2001. Este colectivo multiracial (eles são latinos, afro-americanos, africanos e americanos asiáticos que vivem em Nova Iorque nos bairros de Brooklyn, Manhattan e Bronx, e em Bayonne, na Nova Jérsia), formado em 1998 pelo saxofonista Martin Perna, inspirou-se no saxofonista e activista nigeriano Fela Anikulapo Kuti, fazendo renascer a herança musical do fundador da afrobeat. Um género em que os Antibalas Afrobeat Orchestra puderam enquadrar os diferentes interesses musicais e preocupações políticas de cada um dos seus membros. O som desta banda nova-iorquina, cuja formação varia entre os 14 e os 20 elementos, combina highlife, jazz, soul, funk, dub, ritmos e percussões africanas e cubanas. Eles têm tocado não só com outros criadores do legado da afrobeat, entre eles o percussionista Tony Allen ou o trompetista Babatunde Williams, mas também aberto as fronteiras a James Brown, No Doubt, Wyclef Jean ou Trey Anastasio. O cariz político das letras e as posições provocadoras dos Antibalas são outro dos aspectos da herança de Kuti. Estas incitam à insurreição e à “desfranchização” do mundo, atacando o sistema capitalista em inglês, castelhano e yoruba. Consciência social e mensagens políticas à mistura com muito ritmo e percussão…

"Sina Mali, Sina Deni"
, Khadja Nin (Burundi) - afropop, swahili music
As músicas do mundo prosseguem com Khadja Nin e o tema “Sina Mali, Sina Deni” (Livre), extraído do álbum “Sambolera”, editado em 1996. Desde o início da sua carreira que Khadja, natural do Burundi, tem procurado criar fusões musicais capazes de cruzar fronteiras geográficas e culturais. É por isso que uma vez afirmou que a sua música não deveria ser classificada como “branca” ou “negra”, mas antes como “café com leite”. Ela mistura ritmos tradicionais africanos, afro-cubanos e brasileiros com modernas melodias pop e rock. Nas suas letras fala sobre as crianças da rua, a guerra e a sua luta contra todas as desigualdades. Aos sete anos, Khadja Nin torna-se uma das vocalistas principais do coro Bujumbura. Tal era a sua paixão pela música, que mais tarde formava o seu próprio grupo. Depois de ter ido estudar para Kinshasa, capital do Zaire, Khadja Nin casa e emigra para a Bélgica com o seu filho de dois anos. Conhece então o músico Nicolas Fiszman que, impresionado pela sua voz, a convida a escrever com ele alguns temas. Depois do primeiro trabalho, em 1996 lança o disco “Sambolera”, que a catapultou para a fama. Um álbum onde canta em suaíli, kirundi (idioma oficial do Burundi) e francês. Uma destas músicas ocuparia mesmo o topo das tabelas francesas, depois de o canal de televisão TF1 ter feito dela um sucesso de verão. Entretanto, Khadja Nin actuou por várias vezes com Sting e a estrela do raï Cheb Mami. Khadja, que actualmente vive no Mónaco, mantém a esperança de um dia poder regressar ao Burundi.

"Laax", Omar Pène (Senegal) - mbalax
Ao contrário de Youssou N’Dour, cuja música é refinada e um pouco aristocrática, Omar Pène, que nos apresenta o tema "Laax", está mais enraízado na vida do dia a dia, retratando a realidade dos jovens, dos desempregados e dos camponeses senegaleses. Ao misturar as sonoridades do mbalax, os ritmos do blues, do jazz, do reggae e da salsa, Omar Pène tornou-se uma das lendas de sucesso do Senegal. O talento vocal e o afro-feeling de Omar Pène foram descobertos por Balla Diagne, músico da Kadd Orchestra, que o conheceu em Dakar, cidade onde este cresceu cantando e fazendo música com latas de óleo. Encorajado a seguir uma carreira musical, Omar Pène abandona então o futebol, a sua grande paixão. Mais tarde integra os Super Diamono, banda de que se tornaria líder. Com estes representantes da nova geração senegalesa (em wolof, Diamono significa geração), foi explorando uma variedade de estilos, do jazz aos blues e do reggae ao mbalax (som característico do Senegal, que se generalizou nos anos 80, inicialmente representado por Youssou N’Dour e Super Etoile). Neste álbum “25 Ans”, editado em 2001, Omar Pène volta-se para o mercado internacional. Gravado em Dakar e misturado em Paris, este trabalho explora temas antigos e actuais do seu repertório. A voz quente, profunda e expressiva de Omar é acompanhada pelo baixo, pela guitarra acústica e por toques de percussão. As suas músicas reflectem a preocupação com os problemas do dia a dia, o exílio, os relacionamentos ou os assuntos económicos e sociais. Canções que incentivam os jovens senegaleses a procurarem o seu futuro em África.

"N'Kodo", Djamel Laroussi (Argélia) - rap, raï
Segue-se Djamel Laroussi com o tema “N’Kodo”, extraído do álbum “Djamel Laroussi Live”, gravado ao vivo em Colónia, na Alemanha. Um trabalho que arranca na aldeia dos três Marabouts (Marabout é um santo com um papel crucial nos países sub-sarianos e do Magrebe), solo nativo dos antecessores deste músico argelino. Autor, compositor, cantor e multi-instrumentista, o antigo guitarrista de Cheb Mami é também um exímio tocador de baixo, derbouka (instrumento de percussão magrebino), gumbri (baixo de três cordas do Saara) e t'bel (espécie de timbale marroquino). Num reencontro de instrumentos tradicionais e modernos, Djamel Laroussi apresenta uma mistura global de ritmos, harmonias e melodias. Provavelmente é por esta razão que tem sido muito requisitado para tocar lado a lado com músicos e bandas como Cheb Mami, a Orchestre National des Barbès ou o jazzman Graham Haynes. Longe dos estereótipos habituais do raï, Djamel Laroussi navega num extenso universo que vai do Egipto a Marrocos. Tendo como ponto de partida as raízes norte africanas do chaâbi e do gnawa, a sua música inspira-se nos sons ocidentais do jazz, dos blues, do reggae, da pop, do hip-hop, do funk e do rock, e nos ritmos latinos da salsa, do samba e do merengue. Uma extensa mistura da qual resultam baladas em francês, árabe e berbere, misturadas com parábolas e poemas de amor.

"L'Histoire", Cheb Tarik (Argélia) - raï hip hop, reggae
A viagem musical continua com Cheb Tarik e o tema “L’Histoire”, extraído do álbum “Metisstyle”, editado em 2001. O intérprete e compositor argelino, cujo verdadeiro nome é Mohammed Tarik, mistura o raï com influências do rap, funk, salsa e rhythm & blues. No final da década de 80, quando Cheb Tarik se mudou para Paris, o compositor Maghni propôs-lhe o desafio de rejuvenescer o raï. Em 1994, ano em que Cheb Hasni, o rei do raï sentimental, foi assassinado, Tarik presta homenagem a este último com um álbum que na Argélia venderia mais de cem mil exemplares. Graças a esse sucesso, Cheb Tarik produziu mais dois álbuns de raï tradicional, não deixando de neles integrar géneros que o marcaram na adolescência como o funk e o reggae, e de colaborar com nomes como Saïan Supa Crew, Bouba, Gipsy Kings e Tonton David. Três anos depois decide aliar o rap ao raï, transformando com CC Raïder o clássico “Reggae Night” no novo “Reggae Raï”. Depois do sucesso deste single em toda a comunidade magrebina, Tarik começa a produzir o álbum “Metisstyle”. Um projecto com que finalmente vai poder modernizar o raï, juntando-se a músicos como Khaled. Um álbum marcado por inovações como a talk box e as amostras de som, e pela diversidade de influências e de géneros musicais. A prová-lo estão as vendas, que ultrapassaram seis milhões de unidades.

"Torch Of Freedom", Matthias Vogt Trio (Alemanha) - world, contemporary jazz

A jornada prossegue com “Torch Of Freedom”, tema extraído do álbum “Changing Colours”, editado este ano pelo Matthias Vogt Trio. Precisamente o primeiro trabalho de composições próprias deste núcleo do projecto [re:jazz], formado por Matthias Vogt, pelo baixista Andreas Manns e pelo percussionista Volker Schmidt. Matthias Vogt é pianista de jazz, DJ, autor e produtor de música electrónica. Os seus três pólos musicais são a Motorcitysoul, filial electrónica do seu trabalho; o [re:jazz], ligação musical que procura pontos de contacto entre o mundo da electrónica e o jazz acústico; e o Matthias Vogt Trio, a célula principal do [re:jazz] e seu campo de experimentação musical. A música deste trio, que leva o jazz para outras direcções por explorar, é auto-contida, contemplativa e emocional. Neste trabalho, eles dão provas da sua qualidade artística, apresentando um som moderno e intimista, que se aproxima à pop e ao novo jazz electrónico.

"Guitarlandia", Rubin Steiner (França) - latin jazz, electronic
Rubin Steiner, nome dado ao projecto electrónico de Fred Landier, apresenta-nos o tema “Guitarlandia”, extraído do álbum “Wunderbar Drei”, editado em 2001. No trabalho de produção deste jovem francês sobressaem um gosto pronunciado pelo jazz e uma cultura musical desenvolvida à volta do hip-hop, trip-hop, drum’n’bass, house e break-beat. Rubin Steiner é natural de Tours, uma pequena cidade no Vale do Loire, onde até há poucos anos a música electrónica era praticamente desconhecida. Ainda que à distância de uma hora de comboio de Paris, as guitarras e o típico e entusiasmo provincial quase punk da cidade luz entusiasmaram o jovem músico. Landier tocou em várias bandas locais, a última delas de nome Merz, tornando-se conhecido por algum tempo na região. Mas as coisas mudaram de figura quando todos os membros do grupo decidiram comprar computadores e começar a compor sozinhos. Depois de em 1999 ter lançado “Lo-Fi Nu Jazz Vol.2”, álbum divertido e indisciplinado que avança pelos caminhos do jazz electrónico, Rubin Steiner edita então “Wunderbar Drei”, um trabalho já profissional que irá agradar e confundir ainda mais o público. No entanto, a música de Rubin Steiner permanece enérgica e caótica como sempre. São atmosferas distorcidas, influências desproporcionais e toques humorísticos que não o levam a mudar de direcção e a deixar de ter um som inovador e iconoclasta.

"Soy Callejero", Los Mocosos (EUA) - latin rock, pop, ska, salsa
Segue-se o tema “Soy Callejero”, dos Los Mocosos (traduzindo à letra, “Os Ranhosos” é um termo algo desconcertante, mas eles precisavam de um nome absurdo e espontâneo que designasse a banda). Esta banda de rock de bairro, nascida no distrito missionário de São Francisco, segue a tradição de músicos como Santana ou Malo em cruzar fronteiras culturais. Um híbrido musical da costa oeste americana que mistura soul e pop latina com ska, salsa, funk, swing, reggae e rock, acrescentando-lhe letras que falam da vida diária do seu bairro. “Shades of Brown”, o seu álbum de estreia, editado em 1998, combina elementos latinos, criando um género único. Uma mistura de influências num album eclético e poderoso que reflecte a realidade multicultural e multiracial de um país que Los Mocosos já percorreram por diversas vezes com Santana e Los Lobos, trazendo ao de cima as culturas hispânica e americana. No entanto, Los Mocosos não tiveram de criar esta selvagem mistura de culturas, até porque o crescente interesse pela world music tem vindo a mudar a paisagem musical americana, povoando-a de estilos latinos como o reggae e a dub jamaicana ou o son afro-cubano.

"Flor de Huevo", Los Lobos (EUA) - tex-mex, latin-ska-funk-rock
Los Lobos, um dos mais representativos e originais grupos dos anos 80, trazem-nos o tema “Flor de Huevo”, extraído do álbum “Del Este de Los Angeles (Just Another Band From East LA)”. Uma fusão de rock, blues, country, folk e rhythm & blues com música tradicional do México e da América Latina. Desde o seu modesto arranque nos bairos pobres na zona este de Los Angeles aos grandes palcos internacionais, Los Lobos têm destilado as suas vidas em canções. Em 1978, altura em que ganhavam a vida a tocar em casamentos e restaurantes mexicanos, decidiram gravar um álbum com as suas canções tex-mex, dando-lhes um cheirinho a rock & roll. O album “Del Este de Los Angeles” estabeleceu a identidade própria do grupo e serviu de rampa para que David Hidalgo e Louie Perez começassem a escrever os seus próprios temas. Sem se desviarem das tradições musicais do grupo, Los Lobos extraem as suas influências de múltiplos géneros, transformando-as num som que se foi refinando e expandindo em cada novo disco.

"Getting Happy", Ralph Robles (EUA) - latin soul, boogaloo
O programa encerra com o tema “Getting Happy” do trompetista Ralph Robles, extraído do álbum “Taking Over/Conquistando”, editado em 1999. Quando o boogaloo, uma dança latina com sabor a Nova Iorque, apareceu na década de 60 nos bairros de Harlem, Brooklyn e Bronx, Tito Puente, o rei do mambo, achou que era apenas uma coisa de miúdos. No entanto, este ritmo irresistível, de uma estética próxima do punk, com muito espaço para grandes solos instrumentais e arranjos quase matemáticos, era imparável. Em pouco tempo, o boogaloo distanciou-se do mambo e do cha cha cha, misturando a salsa cubana e outros ritmos latinos com a soul, o funky, o rock, a motown e o rhythm & blues. Influências musicais que marcaram os jovens cubanos e porto-riquenhos que então viviam em Nova Iorque. Uma geração que queria cantar em inglês, mas que acabou por o fazer em “espanholês”. São percussões cubanas, baseadas nas congas, bongos e timbales, e arranjos com trompetes e trombones, à companhia do piano, do saxofone barítono e dos coros. Apesar da euforia, o boogaloo foi um dos géneros latinos com uma vida mais curta, isto porque no espaço de uma década acabou por ser assimilado pela salsa.

Jorge Costa

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