terça-feira, 5 de setembro de 2006

Emissão #25 - 9 Setembro 2006

A 25ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, que marca o início de uma nova temporada do programa, é difundida no sábado, 9 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), indo de novo para o ar na segunda-feira,11 de Setembro, entre as 19 e as 20 horas.

"Kekko", Kimmo Pohjonen
(Finlândia) - folk-rock, electronic folk
O finlandês Kimmo Pohjonen a abrir a emissão com o tema “Keko”, extraído do álbum “Kluster”, editado em 2002. Com uma carreira de vinte anos, repartida entre a folk, a música clássica e o rock, Kimmo Pohjonen mistura de forma única o acordeão com amostras de som e percussões, levando-o para universos como a dança contemporânea ou o teatro musical. Pohjonen, que nasceu na aldeia de Viiala, começou a tocar acordeão aos oito anos por influência do pai. Na Academia Sibelius, em Helsínquia, foi encorajado a absorver a folk e a misturá-la com outros estilos. Para expandir a sonoridade do fole diatónico, em 1996 Kimmo apresentou-se em palco com um acordeão cromático e com composições originais que integravam samples e loops do islandês Samuli Kosminen, com quem formou o duo Kluster. Mais tarde, a eles juntaram-se Pat Mastrelotto e Trey Jun, dando lugar ao quarteto Kluster TU. Entretanto, Pohjonen tem vindo a colaborar com músicos finlandeses como Heikki Leitinen, Maria Kalaniemi, Pinnin Pojat, Alanko Saatio ou Arto Järvellä. Os sons que este extrai do acordeão, a sua voz, misturam harmonia e ruído. Actualmente mais voltado para o formato acústico, Kimmo Pohjonen mantém no entanto como base as raízes e os cantos populares da Finlândia. Tradição e improviso estão assim unidos, numa busca de novos sons através da música experimental e electrónica.

"Feunteun Wenn", Jacques
Pellen & Celtic Procession (França) - jazz rock, celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Jacques Pellen, um dos melhores guitarristas bretões e um talentoso músico de jazz, e o colectivo Celtic Procession. Eles trazem-nos o tema “Feunteun Wenn”, extraído do álbum “Celtic Procession Live – Les Tombées de la Nuit”. Um trabalho gravado em Rennes por doze músicos a propósito do décimo aniversário daquela big band de geometria variável, criada em 1988. Um colectivo que reúne uma dezena de músicos tradicionais bretões e de jazz com a mesma paixão de Jacques Pellen pelo improviso. Com referências tão diferentes quanto o pianista de jazz Keith Jarrett, o compositor clássico Schönberg ou o o guitarrista bretão Dan Ar Braz, eles tentam misturar o jazz com temas e instrumentações de inspiração celta bretã, adicionando-lhes mesmo o rock e sons africanos.

"Hebden Bridge", Kíla (Irlanda) - celtic music, world fusion
Os irlandeses Kíla trazem-nos “Hebden Bridge”, tema extraído do seu sexto álbum “Luna Park”, editado em 2003. O nome deste trabalho refere-se a um parque de diversões que outrora existiu em Coney Island, em Nova Iorque, península onde eles tocaram uma vez. Um exemplo da forma como esta banda, criada em Dublin em 1987, ousou aventurar-se em novos territórios sem no entanto deixar de preservar o essencial da sua identidade e de homenagear os seus antepassados. Ao fundirem ritmos da música tradicional irlandesa e do sul da Europa com sonoridades provenientes de outras paragens, os Kíla conquistaram um lugar próprio no panorama cultural anglo-saxónico, revigorando assim as tradições musicais do seu país e criando um som contemporâneo distinto. Para o conseguirem, eles servem-se de um conjunto eclético de instrumentos, não muito para além dos habitualmente presentes na música celta, mas também de outras referências que vão dos coros do Médio Oriente aos sons africanos. Uma espiral em que dão novas direcções e territórios a uma música ancestral, e no entanto enérgica, a qual parece vir não do passado mas antes de uma Irlanda imaginária.

"Andaina Kau Sudi", Malek Ridzuan (Malásia) - asli, malaysian folk, pop
A viagem prossegue com Malek Ridzuan e o tema “Andainya Kau Sudi”, extraído do álbum “10 Best of The Best”. Veterano da actual cena musical malaia, Malek Ridzuan canta uma mistura de pop e melodias tradicionais da Malásia, tendo na década de 80 enveredado pelo asli, um conhecido género de dança. Um país asiático onde se combinam as influências das vizinhas Indonésia e Tailândia e também do Ocidente, criando uma mistura de culturas e estilos musicais. A existência de quatro grandes etnias na Malásia – malaia, árabe, indiana, chinesa e ocidental – fez igualmente com que a música local se diversificasse em géneros tradicionais e modernos, servindo estes de caminho a muita da pop e música comercial daquele país. Do ghazal (“poema de amor” em árabe) tocado nos casamentos, ao masri, ritmo do Médio Oriente, passando pelos cinco tipos de ritmo de dança: tarian melayu, asli, inang, joget e zapin. Uma mistura incrementada com a chegada a Malaca dos portugueses no início do século XVI, que para aí levaram o violino, o acordeão e a rebana (um membrafone cónico de grandes dimensões), e com a colonização britânica no final do século XIX. Por volta de 1920 aparece então a bangsawan (ópera malaia), cujos músicos começam a modernizar os estilos tradicionais de dança da Malásia.

"Purim Dnigun", Djamo (França) - gypsy music
Atrás no programa Djamo com “Purin Dnigun”, tema extraído do álbum “Chants Tziganes Métissés”. Um ensemble françês que tem como repertório principal os cantos e a música cigana mestiça. Este jovem grupo originário da região de Poitou-Charentes, localizada no centro-oeste de França, leva-nos à descoberta das músicas ciganas e magrebinas. Neste álbum, eles são acompanhados por outros embaixadores dos sons mestiços, entre eles os Dikès e os Opa Tsupa, quinteto acústico que cruza igualmente diferentes influências como o gypsy swing, o jazz, a musette, o rock, o funk, a bossa nova e a chanson française.

"Sauver", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
A jornada prossegue com Tiken Jah Fakoly e o tema “Sauver”, extraído do seu sétimo álbum “Coup de Gueule”, lançado em 2004. Um disco em que Tiken Jah Fakoly segue os caminhos do reggae africano de Alpha Blondy, fazendo uma ponte com a Jamaica, e mergulhando na tradição mandingo sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Neste álbum, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim, exilado entre Bamako e Paris, ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem no continente, bem como a hipocrisia das religiões monoteístas. Fakoly apresenta temas em francês e em dioula, a língua da sua etnia e que é falada no norte da Costa do Marfim, na Guiné-Conacri, no Mali e no Burkina-Faso. Um trabalho de novo realizado por Tyrone Downie, e que conta com os ritmos de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, que nos trazem os inconfundíveis sons do balafon, da kora e do ngoni. Outros artistas do mundo ajudam o rebelde tranquilo a alargar a sua música a outros horizontes. Entre eles estão Didier Awadi, dos Positive Black Soul e um dos fundadores do hip-hop senegalês, e os irmãos Amokrane de Zebda e Magyd Cherfi.

"African Convention", Miriam Makeba (África do Sul) - soul jazz, afro-pop
Para já segue-se a sul-africana Miriam Makeba, que nos traz o tema “African Convention”, extraído do álbum “Hits & Highlights”. Ela foi a primeira mulher negra exilada por causa do apartheid e a primeira artista a colocar a música africana no mapa internacional. Miriam, que já gravou mais de 40 discos, cresceu a ouvir Duke Ellington, Billie Holiday e Ella Fitzgerald, sendo hoje capaz de cantar em nove línguas (francês, inglês, arábico, xhosa, kikongo, maninka, fula, nyanja e shona). Exilada por ter aparecido no filme “Come Back Africa”, a imperatriz da música africana passou 31 anos longe do seu país, lutando pelos direitos civis dos negros.
A sua carreira começa na década de 50 nos Cuban Brothers. Miriam torna-se conhecida como vocalista da formação de jazz Manhattan Brothers, juntando-se mais tarde ao grupo vocal feminino Skylarks. Em 1959 o realizador americano Lionel Togosin convida Miriam a apresentar um documentário sobre a África do Sul no festival de Veneza, o que enfureceria as autoridades sul-africanas. Miriam Makeba exila-se então nos Estados Unidos, criando sucessos como “Pata Pata", "The Clique Song" ou "Malaika". O seu casamento com Stokely Carmichael, o líder radical dos Panteras Negras, traz-lhe problemas com as autoridades americanas. Exila-se então na Guiné-Conacri, até que em 1990 Nelson Mandela a convence a regressar ao seu país.

"El Wejda", Mariem Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music
A jornada musical prossegue com o tema “El Wedja”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de
grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Hininga", Mercan Dede (Turquia) - sufi music, electronic
Mercan Dede, um dos mais importantes artistas turcos, traz-nos o tema “Hininga”, extraído do álbum “Nefes”, editado no passado mês de Junho. Radicado em Montreal, no Canadá,
Mercan Dede mistura a música tradicional com batidas electrónicas. Ele desenvolve duas carreiras paralelas: como Arkin Allen é um DJ especializado em hard techno; como Mercan Dede mistura a tradição do sufismo com estilos contemporâneos. Com o seu ensemble de músicos turcos e canadianos, fundado em 1998 e formado pelos músicos Mohammad, Farokh Shams e Ben Grossman e pela dançarina Isaiah Sala, Mercan Dede funde as tradições espirituais da música sufi com sons actuais, criando uma mistura única entre o Oriente e o Ocidente. Nas suas actuações, ele utiliza instrumentos de origem turca como a ney (flauta de cana) e a kanun (cítara), e mistura as percussões do Médio Oriente com sons electrónicos, tudo isso enquanto que um dervish dança em palco. No álbum “Nefes” (Respiração), o terceiro de uma série de quatro que começou com Nar (Fogo) e continuou com Su (Água), Mercan Dede cria uma fusão que captura a magia do Oriente, os elementos místicos, a instrumentação tradicional e os sons electrónicos.

"El Duende Orgánico", Solar Sides (Espanha) - flamenco nuevo
A fechar o programa os espanhóis Solar Sides e o tema “El Duende Orgánico”, extraído do álbum “Ibiza Chill & Deep Collection”. Formados por Tomi del Castillo e Esteban Lucci, os Solar Sides provam que em Ibiza também há lugar para o flamenco, um género que materializa a alma cigana na Andaluzia. Mas nas últimas décadas este tem vindo a regenerar-se. É que hoje é habitual fundir-se a estrutura básica do flamenco com o rock e a música electrónica, algo a que se convencionou chamar de nuevo flamenco. E é precisamente isso que os Solar Side fazem, já que mantêm uma inteligente mistura de elementos jazz e funky no seu groove electroacústico, apelando tanto aos fãs do acid jazz como aos aficionados do deep-house dance.

Jorge Costa

Sem comentários: