quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Emissão #27 - 30 Setembro 2006

A 27ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 30 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 2 de Outubro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (21 e 23 de Outubro) nos horários atrás indicados.

"Ghole Pamtschal", Schäl Sick Brass Band
(Alemanha) - brass band, jazz, folk
Os Schäl Sick Brass Band a abrirem a emissão com o tema "Ghole Pamtschal", extraído do álbum "Tschupun", editado em 1999. O grupo surgiu em Colónia, capital cultural da província da Renânia e fortaleza mediterrânica da Alemanha. Um dos muitos emigrantes e visitantes de todo o mundo que a encheram de sons coloridos foi Raimund Kroboth, que em 1977 se instalou na margem direita do Reno. No dialecto local, aquela parte da cidade é conhecida precisamente por "Schäl Sick" (lado errado). Isto porque está do lado contrário à catedral e ao centro de Colónia, e porque é um enclave protestante na católica Renânia. Partindo de uma secção de ritmo que tem por base a tuba, a cítara popular e as percussões, os Schäl Sick Brass Band utilizam o som das fanfarras da região alemã da Bavaria e da Boémia checa para explorarem com inovação e versatilidade a música de outras culturas. Eles combinam elementos de jazz com o rock, o funk, o hip-hop o rap ou a folk. Um universo sonoro influenciado pela Europa central e de Leste e pelo norte de África, onde convivem ritmos cubanos, gregos, latinos, africanos e orientais, e instrumentos de todo o mundo - tavil, kanjira, dhol, dolki, omele, sekere, gangan, thereminvox, entre muitos outros. Um ambiente festivo em que se celebra a música de todo o planeta e onde o lema é "pensar global, soprar local"...

"Morning Nightcap",
Lúnasa (Irlanda) - celtic
As músicas do mundo prosseguem com os Lúnasa e o tema "Morning Nightcap", extraído do álbum "The Merry Sisters of Fate", lançado em 2001. Na Irlanda, ainda hoje o mês de Agosto é conhecido por Lúnasa - o termo original era Lughnasadh -, uma alusão ao antigo festival celta outrora realizado no primeiro dia de Outono em honra do deus irlandês Lugh, patrono das artes. Este quinteto instrumental, criado em 1997, contraria a tendência de fundir a música tradicional com o rock, a pop ou a música electrónica. No enteder dos Lúnasa, a renovação da música celta passa pela tradição, embora eles não fechem portas a novas sonoridades. O grupo transporta a música acústica do seu país para novos territórios, acudindo directamente ao coração dos ritmos. Inspirados pela The Bothy Band, referência dos anos de 1970, os novos deuses da música irlandesa juntam de maneira singular o violino, a flauta, o whistle, o baixo e a guitarra acústica, explorando também as raízes bretãs e galegas. Ao baixista Trevor Hutchinson (ex-Waterboys) e ao guitarrista Paul Meehan (que veio substituir Donogh Hennessy, antigo membro da Sharon Shannon Band) juntam-se então o violinista Seán Smyth e as flautas e gaitas irlandesas de Kevin Krawford e Cillian Vallely. Graças aos seus arranjos inventivos e ao som enérgico com influências do jazz, blues, rock, country e outras formas de improviso, os Lúnasa definiram um novo standard para a música irlandesa de raízes tradicionais.

"Per la Boca", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) regressam ao programa, desta feita com “Per la Boca”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Khululuma", African Rhythm Travellers
(África do Sul) - african dance
A viagem prossegue com os African Rhythm Travellers e o tema "Khululuma", extraído do album "Putumayo Presents African Groove", editado em 2003. Os African Rythm Travellers nasceram em Joanesburgo, na África do Sul, em 2001, fruto da colaboração entre os membros dos Colorfields, uma banda performativa da Cidade do Cabo, e os The Branch, um grupo local de afro-reggae. Eles juntam o kwaito com o funk, o reggae, a dub, a house e a música electrónica, criando uma mistura única de ritmos e melodias africanas a que chamaram de african dance. São sons tribais que se cruzam com géneros urbanos. Os African Rhythm Travellers são formados por Ben Amato (teclados, guitarra, saxofone e flauta), Eric Michot (baixo), Ash Read (tambores), Lennox Olivier (percussões), Danial "Dials" Gous (guitarra), Judah (vozes) e Kirsten Olivier (teclados), incorporando no seu repertório a sonoridade do bongo, do saxofone e mesmo da flauta. As letras são apimentadas com comentários sociais e espiritualidade rastafari. O objectivo da sua música é dar algo positivo ao mundo e abrir o seu universo musical a toda a gente, numa mensagem que apela à consciencialização.

"Let Them Talk", Geraldo Pino & The Heartbeats (Serra Leoa) - afro soul funk
Seguimos até à Serra Leoa com Geraldo Pino e os The Heartbeats. Eles trouxeram-nos o tema “Let Them Talk”, extraído da antologia "Afro Soco Soul Live". Um CD editado no ano passado para resgatar do desconhecimento o álbum “Heavy Heavy Heavy”, gravado entre 1962 e 1967. Cantor, guitarrista e líder dos The Heartbeats, Geraldo Pino, cujo verdadeiro nome é Gerald Pine, foi o herói do afro soul funk e um dos pioneiros da afrobeat na África Ocidental nas décadas de 60 e 70. Em 1961, com a explosão do rock'n'roll, ele e a sua banda começam por interpretar sucessos da soul e da pop inglesa e americana, tornando-se a primeira orquestra do género na região. Quatro anos depois partem para Monróvia, capital da Libéria, o primeiro país africano em se popularizaram os discos de James Brown, Ray Charles, Otis Redding e Wilson Pickett. Marcas que a banda levaria consigo nas tournées pelo Gana e Nigéria. Com a crescente influência do funk latino, a música de Gerald Pino e dos The Heartbeats africaniza-se, ganhando energia, ritmo e slogans políticos. Na sua primeira actuação em Lagos, na Nigéria, o estilo inovador de Geraldo Pino influenciou de tal forma Fela Kuti, então dedicado ao jazz e ao highlife, que este evitou actuar em locais onde ele já tivesse passado. Isto porque acreditava que nada poderia superar o James Brown africano.

"Hakmet Lakdar", Hasna El Becharia
(Argélia) - gnawa music
A jornada musical prossegue com Hasna El Becharia e o tema “Hakmet Lakdar”, extraído do álbum “Djazaïr Johara”, editado em 2001. Os ritmos e melodias dos escravos negros africanos e dos imigrantes e seus descendentes são parte da cultura musical do norte de África. Uma herança que em Marrocos tem o nome de gnawa, e na Argélia é chamada de diwan de Bechar. É precisamente em Bechar, cidade situada no sul da Argélia, junto ao deserto do Sáara, que vive Hasna El Becharia, a rainha do diwan e da vibrante música de casamentos. Em 1972 ela formou um grupo com três amigos, começando por tocar na guitarra acústica os ritmos tradicionais do deserto. O sucesso nas festas não se faz esperar, e para se destacar das vozes do público, que cantava em coro as suas canções, Hasna El Becharia decide enveredar pela guitarra eléctrica. A fama estende-se então a todo o sul da Argélia. Apesar de dominar a utilização de instrumentos afro-magrebinos como o gumbri (baixo de três cordas do Sáara) ou a krakesh (espécie de castanholas de metal), e de tocar também oud, derbouka, bendir e banjo, a guitarra é a sua vida. Em mais de cinquenta anos de carreira, Hasna El Becharia gravou apenas um trabalho. Tudo porque os produtores argelinos nunca lhe inspiraram confiança. Neste disco, em que participam músicos da Argélia, Marrocos, Tunísia e Níger, Hasna El Becharia explora o som das guitarras e dos timbres vocais, deixando transparecer o seu profundo sentido de improviso e composição.

"Sahra Saidi", Gamal Goma (Egipto) - bellydance
O percusionista Gamal Goma traz-nos o tema “Sahra Saidi”, extraído do álbum “Shake Me Ya Gamal”, lançado em 2003. Gamal Goma nasceu em Giza, no Egipto, e graduou-se na Academia de Música do Cairo, acumulando duas décadas de experiência com os mais famosos ensembles do Médio Oriente e América. Na capa deste disco, uma colecção de solos de percussão, cada um baseado num ritmo particular – saidi, malfoof, maqsum, ayyoub, khaliji ou fallahi –, ele surge ao lado da dançarina Fifi Abdou. Especialista na tabla (tambor indiano), Gamal Goma toca também doholla (tabla grave), mazhar (pandeireta gigante), riqq (pandeireta árabe), sagat (timbales de dedo) e dufs (espécie de pandeireta). Neste trabalho podemos conhecer algumas composições para raqs sharki, termo árabe para dança do ventre, e que traduzido literalmente equivale a “dança do Oriente”. Um género enraizado numa dança levada a cabo em celebrações comunitárias e dançada por todos os membros da comunidade. Com o crescimento do Islão veio a segregação entre homens e mulheres, mas no século XX o desenvolvimento dos media precipitou a sua dissolução. Com a introdução da dança do ventre nos Estados Unidos pelo vaudeville e pelos espectáculos burlescos, esta popularizou-se em todo o mundo. Se no Egipto e Líbano a dança do ventre é acompanhada pelo oud (alaúde), a kanoun (cítara arménia), o kaman (violino árabe), a nay (flauta egípcia de bambu), o rabab (cordofone de arco, principal instrumento da música afegã), o mizmar (clarinete árabe), o dumbek (tambor egípcio), a tabla ou a riqq, nas danças turcas têm lugar o saz (instrumento de cordas), o azoukie (alaúde comprido), a kanoun, o dumbek e a zurna (flauta de montanha).

"Min Man", Garmarna (Suécia) - folk-rock
Os suecos Garmarna trazem-nos o tema "Min Man" (O Meu Marido), extraído do álbum “Live”, editado em 2002. Esta banda de rock, formada em 1990, canta velhas lendas da música tradicional do seu país, falando de bruxas más, madrastas tenebrosas e de princesas indefesas. Convém explicar que na mitologia sueca os Garmarna eram os cães que guardavam a porta do inferno. Uma imagem metafórica que se transpõe facilmente para os cenários sonoros criados por este quinteto, que oscila entre as estéticas anglo-saxónicas e os ambientes da música tradicional sueca. No entanto, os Garmarna não fazem questão de perpetuar tradições. O que eles querem é tocar com a vontade do momento, com tudo o que isso tenha de eterno ou de efémero. Um som único, influenciado pelo rock, e que remistura a instrumentação antiga com amostras de batidas, harpas, violinos e guitarras distorcidas.

"Lovelight", Stereo Action Unlimited (França, Suiça) - acid jazz, latin lounge
A fechar a emissão os Stereo Action Unlimited com o tema "Lovelight", extraído do LP do mesmo nome e parteintegrante da colectânea"Paris Lounge", lançada em 2001. Os Stereo Action Unlimited são formados pelo francês Philippe Cohen Solal e pelo suíço Christophe Müeller, uma dupla que partilha outras experiências musicais como os The Boyz From Brazil, ligada às pistas de dança, e a mais popular delas todas, os Gotan Project, a qual envolve também o guitarrista Eduardo Makaroff e cria uma síntese entre o tango e a música electrónica. Desde 1997 que estes escultores do vinil e artesãos dos sons trabalham conjuntamente em projectos que combinam música e imagem, explorando paixões como a música sul-americana e os novos territórios electrónicos.

Jorge Costa

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