sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Emissão #26 - 16 Setembro 2006

A 26ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 16 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira,18 de Setembro, entre as 19 e as 20 horas.

"Jaga Ode [dubtronik]", Alpendub
& The Man Cable (Alemanha, Canadá) - yodel, dub
Os Alpendub e o produtor The Man Caple a abrirem a emissão com uma nova remistura do tema “Jaga Ode”, extraída do álbum “The Rough Guide to Yodel”, trabalho que será lançado em todo o mundo a 25 de Setembro. Para recuperarem a magia da música alpina alemã, eles misturam o yodelling com a dub, cruzamento raro a que chamaram precisamente Alpendub. O yodel, que começou por ser uma espécie de código morse das montanhas, é uma vocalização quase sem texto que se distingue pela quebra acentuada entre duas notas. Ele existe não só na Suiça, Áustria e Alemanha, mas também em certas regiões da Europa, África, Ásia, América e Oceânia, misturando-se hoje com géneros como o hip-hop, o rock, a pop, o reggae, a house e o techno. Tons mágicos que são combinados com a mística de palavras, por tradição nomes pessoais atribuídos a vacas. Os Alpen Dub arrancaram em Berlim, em 2001, com o canadiano The Man Cable, produtor do projecto de cinco músicos, entre eles a actriz Kutzkelina, que começou a cantar yodel aos seis anos. Eles complementam a instrumentação típica com percussões e instrumentos como o banjo alpino e a dulcimer (cordofone índio norte-americano).

"Sátiro",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo prosseguem com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem “Sátiro”, tema que dá nome ao seu último álbum, editado em Junho. Cada vez mais voltados para o Mediterrâneo, neste seu quarto trabalho de originais os Gaiteiros de Lisboa abarcam desde os sons de Trás-os-Montes às polifonias alentejanas, passando pelo fado. Nele são convidados Mafalda Arnauth e o violinista Manuel Rocha, da Brigada Vítor Jara. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. O experimentalismo deste grupo, que utiliza ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, leva-o a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Neste trabalho juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares.

"Pandero", L'Ham de Foc
(Espanha) - traditional folk
Os valencianos L’Ham de Foc (Anzol de Fogo) apresentam-nos “Pandero”, tema extraído do seu terceiro e último álbum “Cor de Porc” (Coração de Porco), editado no ano passado. Desde 1998 que os L’Ham de Foc se servem de mais de trinta instrumentos acústicos mediterrânicos – darabuka, bendir, gaitas galega e búlgara, violino, sanfona, saltério, bouzouki, alaúde e cítara são alguns deles – para criarem atmosferas intensas e mágicas. Utilizando uma orquestração tradicional, mas socorrendo-se de uma linguagem actualizada, os L’Ham de Foc entrelaçam a música medieval ocidental, do Médio Oriente ou do Mediterrâneo oriental, num universo de sons africanos, europeus e orientais, criando um conglomerado sonoro que se concentra em redor do Mediterrâneo. As percussões são a base para os textos e melodias modais tecidas pela voz de Mara Aranda, que é acompanhada por instrumentos de corda e sopro, tocados por Efrén López. Contrariando a tendência crescente da folk actual pelos ritmos electrónicos, os L’Ham de Foc confiam na simplicidade do som acústico e na pureza da música medieval. Algo que os tornou uma referência em todo o mundo no que toca à música tradicional.

"Ndima Ndapedza", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com “Oliver ‘Tuku’ Mtukudzi e o tema “Ndima Ndapedza”, extraído do álbum “Tuku Music”, editado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Thandaza", The Soul Brothers (África do Sul) - mbaqanga, soul
Seguem-se os The Soul Brothers e o tema “Thandaza”, extraído do álbum “Amanikiniki”, lançado em 1999. Grupo que é o exemplo supremo das típicas harmonias mbaqanga, próximas do gospel, que durante três décadas dominaram a música urbana sul-africana. Na luta dos jovens africanos contra o Apartheid, a pop tradicional e o mbaqanga deram espaço à música modelada pela soul americana e mais tarde pela disco. O som dos Soul Brothers, banda que melhor encarnou o conceito da soul sul-africana, cativou sobretudo os trabalhadores que então foram obrigados a deixar o campo para procurar trabalho na cidade. Desde a sua formação, em 1974, que eles já gravaram mais de trinta álbuns. A banda foi construída com o baixista Zenzele "Zakes" Mchunu, o percusionista David Masondo e o guitarrista Tuza Mthethwa, que tocaram pela primeira vez juntos nos Groovy Boys em Kwazulu Natal, e mais tarde nos Young Brothers. Em Joanesburgo junta-se-lhes o teclista Moses Ngwenya, enquanto que David Masondo troca as percussões pela voz, surgindo então os Soul Brothers. Da formação original restam apenas Masondo e Ngwenya. Hoje são cinco cantores e três saxofones liderados por Thomas Phale, sendo os Soul Brothers a única banda jive que sobreviveu ao nascimento da disco, a antiga bubblegum que hoje se designa por música kwaito.

"Huo", Mercan Dede (Turquia) - sufi music, electronic
A jornada musical prossegue com Mercan Dede, um dos mais importantes artistas turcos, e o tema “Huo”, extraído do álbum “Nefes”, editado em Junho. Radicado em Montreal, no Canadá, Mercan Dede mistura a música tradicional com batidas electrónicas. Ele desenvolve duas carreiras paralelas: como Arkin Allen é um DJ especializado em hard techno; como Mercan Dede mistura a tradição do sufismo com estilos contemporâneos. Com o seu ensemble de músicos turcos e canadianos, fundado em 1998 e formado pelos músicos Mohammad, Farokh Shams e Ben Grossman e pela dançarina Isaiah Sala, Mercan Dede funde as tradições espirituais da música sufi com sons actuais, criando uma mistura única entre o Oriente e o Ocidente. Nas suas actuações, ele utiliza instrumentos de origem turca como a ney (flauta de cana) e a kanun (cítara), e mistura as percussões do Médio Oriente com sons electrónicos, tudo isso enquanto que um dervish dança em palco. No álbum “Nefes” (Respiração), o terceiro de uma série de quatro que começou com Nar (Fogo) e continuou com Su (Água), Mercan Dede cria uma fusão que captura a magia do Oriente, os elementos místicos, a instrumentação tradicional e os sons electrónicos.

"Ghali Ya Bouy", Smadar Levi (Israel, EUA) - bellydance
Smadar Levi traz-nos “Ghali Ya Bouy”, tema extraído do álbum “Smadar”, editado em 2004. Uma visão diferente da raqs sharki, tradução literal do termo árabe para dança do ventre, que quer dizer “dança do Oriente”. Um género que se popularizou em todo o mundo depois da sua introdução nos Estados Unidos pelas mãos do vaudeville e dos espectáculos burlescos. Filha de pais marroquinos, Smadar Levi cresceu em Israel a ouvir música egípcia e tunisina. A sua música, que combina temas originais e tradicionais, reflecte a diversidade do povo judaico, incorporando tradições israelitas, espanholas, africanas e gregas. Ela canta em hebreu, árabe, grego e ladino, a língua medieval dos judeus em Espanha. Entretanto, depois de ter tocado com músicos ciganos na Roménia, Espanha e Turquia, ela decidiu também misturar a sua música com sons ciganos. Foi em 2000, depois de se ter mudado para os Estados Unidos, que Smadar Levi conheceu o cantor e violinista marroquino Rashid Halihal, com quem formaria um trio. Quatro anos depois formava a sua própria banda, juntando músicos de Israel, Líbano, Turquia, Marrocos e Palestina. Actualmente, Smadar Levi vive em Nova Iorque, onde trabalha com músicos como Uri Sharlin, Emmanuel Mann, um dos melhores baixistas israelitas, e o português Pedro da Silva, que a acompanha com a cítara e a guitarra clássica.

"The Beat Of Love", Trilok Gurtu (Índia) - world, jazz, khylal
A jornada prossegue com Trilok Gurtu e “The Beat of Love”, tema extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2001. Gurtu, cujo avô era um conhecido tocador de cítara e a mãe uma estrela do canto clássico, tornou-se conhecido como membro dos Oregon, uma banda de fusão world/jazz. Cinco vezes eleito o melhor percussionista do planeta pela revista “Downbeat”, título ganho pela ponte que criou entre a música do Oriente e Ocidente, Trilok Gurtu mistura ritmos indianos, executados com a tabla, com elementos do jazz, da música de dança, do rock, da música clássica e da música étnica de todo o planeta. Este ano, ele regressou à tradição indiana, apoiado pelos cantores Rajan e Sajan Misra, e apresentando o khylal, espécie de cântico hipnótico. O virtuosismo deste indiano, natural de Bombaim, transformou-o num dos grandes vultos do post-jazz, do jazz de fusão e do avant-garde. Ele tem colaborado com génios da música como Jan Garbarek, Ravi Shankar ou David Gilmour, destacando-se na comunidade jazzística por surgir ao lado de nomes como Don Cherry, John McLaughlin, Joe Zawinul ou Pat Metheny.

"Natacha", Gregori Czerkinsky (França) - french pop, rock
A fechar a emissão o francês Gregori Czerkinsky e o célebre “Natacha”, tema extraído do álbum “Czerkinsky”, editado em 1998. O cantor, nascido em Oran em 1954, foi compositor no grupo Mikado com Pascale Borel, tendo mais tarde enveredado por uma carreira a solo. Um fundamentalista do amor, até porque não é de extranhar que nos seus concertos se abalance sobre alguma rapariga do público, fazendo prova do seu dom de amante infinito e de gigoló, e transpondo para a realidade as palavras que se podem ouvir numa das suas músicas: "Para ser amado é necessário ser amável”. E as suas canções falam precisamente de amabilidade e de amor, sobre diferentes perspectivas, desde a do triunfador à do desgraçado. Um romanticismo radical e algo cínico, num ambiente sonoro que se cruza entre Jay-Jay Johanson e Serge Gainsbourg. São temas recheados de frescura e bom humor, que vão da música clássica, à pop e ao rock, e trazem muitos sonhos à mistura.

Jorge Costa

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