sexta-feira, 28 de julho de 2006

Emissão #19 - 29 Julho 2006

A 19ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 29 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 31 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Vihma",
Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
As Värttinä, que mais logo (sábado) vão estar no Festival de Músicas do Mundo de Sines, a abrirem a emissão com “Vihma” (Granizo), tema extraído do álbum do mesmo nome, editado em 1998. A mais conhecida banda da folk contemporânea finlandesa, que este ano celebra o seu 23ºaniversário, traz-nos uma apelativa mistura de pop e rock ocidental com folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia, uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia, reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. Alguns temas deste sétimo disco das Värttinä incluem também cantos da república russa de Tuva. O grupo, que nasceu em Raakkylaa, é hoje formado pelas vozes enérgicas e harmónicas de Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos. Uma base rítmica sólida e o mesmo vigor e calor vocal de sempre.

"O Fim da Picada",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo prosseguem com os Gaiteiros de Lisboa, que esta semana também estiveram no Festival de Músicas do Mundo de Sines. Eles trazem-nos “O Fim da Picada”, tema extraído do seu último trabalho “Sátiro”, editado em Junho. Cada vez mais voltados para o Mediterrâneo, neste seu quarto trabalho de originais os Gaiteiros de Lisboa abarcam desde os sons de Trás-os-Montes às polifonias alentejanas, passando pelo fado. São convidados Mafalda Arnauth, que canta um poema de Florbela Espanca, e o violinista Manuel Rocha, da Brigada Vítor Jara. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se para isso nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. Os músicos deste grupo, que utilizam ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, têm colaborado em projectos de rock, jazz ou música clássica com José Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino, Amélia Muge, Carlos Barretto, Rui Veloso, Sétima Legião ou Adufe. O seu experimentalismo constante leva-os a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Neste trabalho juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares.

"Montañés",
Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Os Rarefolk trazem-nos o tema “Montañés”, extraído de “Unimaverse” (um jogo de palavras entre os conceitos de unidade e universo), terceiro trabalho dos sevilhanos mais audazes do freestyle folk, onde a banda mistura de forma criativa o universo do rock e da electrónica com a música africana, celta, oriental e até mesmo o jazz. Os Rarefolk começaram por fazer folk num estilo puro, mas pouco a pouco foram renovando não só a banda mas também a sua visão, fundindo influências do norte da Europa e do norte de África e submergindo-se num novo universo de estilos e ritmos. Depois de se terem dado a conhecer como Os Carallos na exposição mundial de Sevilha, em 1992, uma editora recém-criada oferece-se para editar o seu primeiro disco. Mais tarde criavam a “Fusión Art”, gravando eles próprios e de forma artesanal o álbum “Unimaverse”. Um trabalho ousado e experimental em que recuperam muita da frescura e simplicidade inicial. Nele participam a violinista escocesa Michelle McGregor e o percursionista senegalês Sidi Samb – este último responsável pelas letras do grupo, interpretadas em castelhano, francês e wolof (dialecto do Senegal) –, e músicos como DJ Abogado del Diablo (Narco), Andreas Lutz (O’Funkillo) e a senegalesa Fátuo Diou.

"Ilham", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi
Segue-se Souad Massi com “Ilham” (Inspiração), tema onde esta evoca as suas raízes berberes e a música tuaregue. Considerada a Tracy Chapman do Magrebe, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Esta jovem muçulmana, que se recusa a falar em nome do Islão e a ser uma activista da causa berbere, nunca tocou uma nota de raï. O seu gosto, mais orientado para o rock ocidental, o chaâbi e a música andaluza, fê-la criar um estilo único. A nostalgia e a dor do exílio são os temas centrais deste seu último trabalho, o álbum "Mesk Elil", editado no ano passado. Desde 1999 que a jovem vive exilada em França. Numa ida à Tunísia para realizar mais um concerto reencontrou os aromas da madressilva, uma planta que lhe fez lembrar a sua infância na Argélia e que daria o nome ao seu terceiro álbum. Na adolescência, Souad Massi acompanhou com a sua guitarra o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.

"N'Ta Goudami", Cheikha Rimitti (Argélia) - raï, châabi, gnawa music
A argelina Cheikha Rimitti (falecida no passado mês de Maio, aos 83 anos) com o tema “N’Ta Goudami”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2005. Órfã e rodeada de pobreza, aos vinte anos Rimitti junta-se aos músicos ambulantes Hamdachis, cantando e dançando em cabarés. Nas mais de 200 canções que escreveu fala das alegrias e das tristezas da vida, quebrando tabus ao abordar temas como a sexualidade feminina, o alcoolismo ou a guerra. A vida boémia e a sua rebeldia feminista forçam-na ao exílio em França nos anos 60, país onde encontraria um novo público, chegando a gravar um disco de pop-raï com o rocker experimental Robert Fripp. Cheikha (sénior) Rimitti realizou concertos em todo o mundo, associando-se a nomes como Oum Keltoum, Cheikha Fadela ou mesmo os Red Hot Chilli Peppers. A mãe do raï é uma referência para as estrelas mais jovens deste género, não só pela liberdade de expressão que conquistou e pela rebeliião linguística e moral, mas também por lembrar que a fé espiritual pode coexistir com o prazer físico. O seu último album foi gravado em Oran, berço do raï. Um trabalho com marcas daquela cidade, sintetizador de voz e caixa de ritmos, onde a voz áspera e suave de Rimitti é combinada com acústica moderna e instrumentos tradicionais como o bendir (instrumento de percussão), o tar (alaúde iraniano), a gasbâ (flauta tunisina) e a gallal (uma espécie de pandeireta). Tudo à mistura com influências africanas do gnawa, harmonias árabe-andalusas do châabi e improvisos da soul argelina.

"M'Be Ddemi", Cheikh Lô (Senegal, Burkina-Faso) - afropop, mbalax
A jornada prossegue com Cheik Lô e o tema “N’Jariñu Garab” (A Árvore). Cheikh Lô vive em Dakar, a capital do Senegal, mas nasceu e cresceu no Burkina-Faso. A sua música constrói-se a partir da pop característica daquela cidade e dos ritmos mbalax, bem ao estilo do conhecido senegalês Youssou N'Dour, que produziu o seu primeiro álbum em 1995. Cheik Lô foi membro da Orchestre Volta Jazz, a qual tocava sucessos cubanos e congoleses, bem como versões pop de músicas tradicionais do Burkina-Faso. Em 1978 mudava-se para o Senegal, onde começa por tocar com várias bandas. A música acústica e eléctrica de Cheik Lô, que fez dele uma estrela no Senegal e na Europa, explora ainda elementos de salsa, rumba congolesa, folk e jazz, bem como impulsos de reggae, soukous e um sabor a Brasil. No album “Bambay Gueej” (Bamba, Oceano de Paz), editado em 1999, Cheikh Lô adorna estes elementos com o funk e a soul. De novo uma floresta de percussões, guitarra acústica e sons afro-cubanos.

"Nafiya", Mory Kanté (Guiné-Conacri) - afropop, kora music
Atrás Mory Kanté, um dos mais conhecidos cantores e multi-instrumentistas africanos. Ele trouxe-nos “Nafiya” (Pessoas Más), um tema sarcástico contra a falta de entreajuda entre o povo africano, extraído do álbum “Sabou” (Causa). Um trabalho lançado em 2004 e que mistura sons contemporâneos e tradicionais, fundindo melodias griot e batidas funk. Sem abandonar a guitarra acústica e o estilo eléctrico, Mory Kanté regressa às suas raízes guienenses com um álbum acústico dominado por instrumentos tradicionais africanos como a kora (espécie de harpa) e o balafon (espécie de xilofone africano), quase sempre tocados por ele. Ao fazê-lo, segue o exemplo de Youssou N’Dour e Salif Keita que, para fazerem álbuns mais tradicionais, abandonaram estilos orientados para a pop. Neste trabalho, o músico é acompanhado por coros femininos, onde se apresentam vozes como Mariamagbe Mama Keita, e por um painel de luxo de instrumentistas como o flautista africano Babagalle Kante. Natural da Guiné-Conacri e herdeiro da tradição dos griots, Mory Kanté tornou-se conhecido ao juntar-se na década de 70 à Rail Band, de Bamako, no Mali, grupo cujo som combinava o funk e a música tradicional. O estrelato viria nos anos 80 quando o músico se mudou para Paris. Em 1987, com a edição em França do seu terceiro álbum, o funk mandingo de Kanté triunfava finalmente. Graças à música “Yéké Yéké”, ele foi o primeiro artista africano a vender um milhão de singles. Para além de música, actualmente Mory Kanté é também embaixador das Nações Unidas na luta contra a fome.

"Galicia", Urban Trad (Bélgica) -
techno folk
Entretanto seguimos pelos caminhos da folk urbana com os belgas Urban Trad, que nos trazem o tema “Galicia”, extraído do álbum “Kerua”, editado em 2003. Como o próprio nome indica, os Urban Trad combinam a melhor música tradicional com ritmos modernos, criando uma folk influenciada por um ambiente techno. O projecto arrancou em 2000, quando Yves Barbieux, compositor da banda Coïncidence, decidiu reunir uma vintena de artistas da cena tradicional belga para misturar música celta com sons urbanos. Se inicialmente se tratava de conceber um primeiro álbum, o êxito alcançado encorajou o autor a juntar outros músicos aos Urban Trad. No Festival Eurovisão da Canção realizado na Letónia em 2003, os oito elementos do grupo conquistam o segundo lugar e o grande público. Com “Sanomi”, uma canção interpretada num idioma imaginário, levaram pela primeira vez o característico timbre da gaita-de-foles ao palco da Eurovisão. Um grupo de música de inspiração tradicional, mas ancorado no presente, já que instrumentos acústicos como o acordeão, o violino e a flauta são acompanhados pelo canto e por uma secção rítmica cheia de energia e musicalidade. Volvidos três álbuns, o repertório dos Urban Trad passou a abranger, para além da música celta, a Escandinávia, a França, a Espanha e os países de Leste. É assim a música tradicional europeia do século XXI.

"Se Escaparon",
Bombon (Hunduras) - ragamuffin, son, funk
O programa encerra com o tema "Se Escaparon", uma história de rebelião juvenil que fala de raparigas que fogem de casa às escondidas e são surpreendidas na pista de dança pelo pai, que pensava que elas estavam a dormir. A narrativa musical pertence aos hondurenhos Bombon, radicados em Miami e que criam um estilo musical moderno, feito da mistura de ragamuffin jamaicano, son cubano e funk. A crescente influência da música latina a nível internacional tem contribuído para que esta se desenvolva fora do seu território geográfico natural. Um interesse explicado pelos ritmos e melodias apelativas, embora actualmente a sua fluência sonora cada vez mais se deva à sucessiva mistura com o universo da dança e com estilos urbanos contemporâneos afro-americanos. E ainda que a música latina vá retendo elementos da tradição, esta está em constante mudança e evolução. Uma equação onde entram, entre outros, o funk, o hip-hop, a soul, o rhythm & blues ou o rock, mas onde o resultado continua a ser sempre a fórmula perfeita para um ambiente de “fiesta”.

Jorge Costa

sexta-feira, 21 de julho de 2006

Emissão #18 - 22 Julho 2006

A 18ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 22 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 24 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Battle Of The Species",
Antibalas Afrobeat Orchestra (EUA) - afrobeat
Os Antibalas Afrobeat Orchestra inauguram a emissão desta semana com “Battle Of The Species”, tema extraído do seu trabalho de estreia “Liberation Afrobeat Volume I”, lançado em 2001. Este colectivo multiracial (eles são latinos, afro-americanos, africanos e americanos asiáticos que vivem em Nova Iorque nos bairros de Brooklyn, Manhattan e Bronx, e em Bayonne, na Nova Jérsia), formado em 1998 pelo saxofonista Martin Perna, inspirou-se no saxofonista e activista nigeriano Fela Anikulapo Kuti, fazendo renascer a herança musical do fundador da afrobeat. Um género em que os Antibalas Afrobeat Orchestra puderam enquadrar os diferentes interesses musicais e preocupações políticas de cada um dos seus membros. O som desta banda nova-iorquina, cuja formação varia entre os 14 e os 20 elementos, combina highlife, jazz, soul, funk, dub, ritmos e percussões africanas e cubanas. Eles têm tocado não só com outros criadores do legado da afrobeat, entre eles o percussionista Tony Allen ou o trompetista Babatunde Williams, mas também aberto as fronteiras a James Brown, No Doubt, Wyclef Jean ou Trey Anastasio. O cariz político das letras e as posições provocadoras dos Antibalas são outro dos aspectos da herança de Kuti. Estas incitam à insurreição e à “desfranchização” do mundo, atacando o sistema capitalista em inglês, castelhano e yoruba. Consciência social e mensagens políticas à mistura com muito ritmo e percussão…

"Sina Mali, Sina Deni"
, Khadja Nin (Burundi) - afropop, swahili music
As músicas do mundo prosseguem com Khadja Nin e o tema “Sina Mali, Sina Deni” (Livre), extraído do álbum “Sambolera”, editado em 1996. Desde o início da sua carreira que Khadja, natural do Burundi, tem procurado criar fusões musicais capazes de cruzar fronteiras geográficas e culturais. É por isso que uma vez afirmou que a sua música não deveria ser classificada como “branca” ou “negra”, mas antes como “café com leite”. Ela mistura ritmos tradicionais africanos, afro-cubanos e brasileiros com modernas melodias pop e rock. Nas suas letras fala sobre as crianças da rua, a guerra e a sua luta contra todas as desigualdades. Aos sete anos, Khadja Nin torna-se uma das vocalistas principais do coro Bujumbura. Tal era a sua paixão pela música, que mais tarde formava o seu próprio grupo. Depois de ter ido estudar para Kinshasa, capital do Zaire, Khadja Nin casa e emigra para a Bélgica com o seu filho de dois anos. Conhece então o músico Nicolas Fiszman que, impresionado pela sua voz, a convida a escrever com ele alguns temas. Depois do primeiro trabalho, em 1996 lança o disco “Sambolera”, que a catapultou para a fama. Um álbum onde canta em suaíli, kirundi (idioma oficial do Burundi) e francês. Uma destas músicas ocuparia mesmo o topo das tabelas francesas, depois de o canal de televisão TF1 ter feito dela um sucesso de verão. Entretanto, Khadja Nin actuou por várias vezes com Sting e a estrela do raï Cheb Mami. Khadja, que actualmente vive no Mónaco, mantém a esperança de um dia poder regressar ao Burundi.

"Laax", Omar Pène (Senegal) - mbalax
Ao contrário de Youssou N’Dour, cuja música é refinada e um pouco aristocrática, Omar Pène, que nos apresenta o tema "Laax", está mais enraízado na vida do dia a dia, retratando a realidade dos jovens, dos desempregados e dos camponeses senegaleses. Ao misturar as sonoridades do mbalax, os ritmos do blues, do jazz, do reggae e da salsa, Omar Pène tornou-se uma das lendas de sucesso do Senegal. O talento vocal e o afro-feeling de Omar Pène foram descobertos por Balla Diagne, músico da Kadd Orchestra, que o conheceu em Dakar, cidade onde este cresceu cantando e fazendo música com latas de óleo. Encorajado a seguir uma carreira musical, Omar Pène abandona então o futebol, a sua grande paixão. Mais tarde integra os Super Diamono, banda de que se tornaria líder. Com estes representantes da nova geração senegalesa (em wolof, Diamono significa geração), foi explorando uma variedade de estilos, do jazz aos blues e do reggae ao mbalax (som característico do Senegal, que se generalizou nos anos 80, inicialmente representado por Youssou N’Dour e Super Etoile). Neste álbum “25 Ans”, editado em 2001, Omar Pène volta-se para o mercado internacional. Gravado em Dakar e misturado em Paris, este trabalho explora temas antigos e actuais do seu repertório. A voz quente, profunda e expressiva de Omar é acompanhada pelo baixo, pela guitarra acústica e por toques de percussão. As suas músicas reflectem a preocupação com os problemas do dia a dia, o exílio, os relacionamentos ou os assuntos económicos e sociais. Canções que incentivam os jovens senegaleses a procurarem o seu futuro em África.

"N'Kodo", Djamel Laroussi (Argélia) - rap, raï
Segue-se Djamel Laroussi com o tema “N’Kodo”, extraído do álbum “Djamel Laroussi Live”, gravado ao vivo em Colónia, na Alemanha. Um trabalho que arranca na aldeia dos três Marabouts (Marabout é um santo com um papel crucial nos países sub-sarianos e do Magrebe), solo nativo dos antecessores deste músico argelino. Autor, compositor, cantor e multi-instrumentista, o antigo guitarrista de Cheb Mami é também um exímio tocador de baixo, derbouka (instrumento de percussão magrebino), gumbri (baixo de três cordas do Saara) e t'bel (espécie de timbale marroquino). Num reencontro de instrumentos tradicionais e modernos, Djamel Laroussi apresenta uma mistura global de ritmos, harmonias e melodias. Provavelmente é por esta razão que tem sido muito requisitado para tocar lado a lado com músicos e bandas como Cheb Mami, a Orchestre National des Barbès ou o jazzman Graham Haynes. Longe dos estereótipos habituais do raï, Djamel Laroussi navega num extenso universo que vai do Egipto a Marrocos. Tendo como ponto de partida as raízes norte africanas do chaâbi e do gnawa, a sua música inspira-se nos sons ocidentais do jazz, dos blues, do reggae, da pop, do hip-hop, do funk e do rock, e nos ritmos latinos da salsa, do samba e do merengue. Uma extensa mistura da qual resultam baladas em francês, árabe e berbere, misturadas com parábolas e poemas de amor.

"L'Histoire", Cheb Tarik (Argélia) - raï hip hop, reggae
A viagem musical continua com Cheb Tarik e o tema “L’Histoire”, extraído do álbum “Metisstyle”, editado em 2001. O intérprete e compositor argelino, cujo verdadeiro nome é Mohammed Tarik, mistura o raï com influências do rap, funk, salsa e rhythm & blues. No final da década de 80, quando Cheb Tarik se mudou para Paris, o compositor Maghni propôs-lhe o desafio de rejuvenescer o raï. Em 1994, ano em que Cheb Hasni, o rei do raï sentimental, foi assassinado, Tarik presta homenagem a este último com um álbum que na Argélia venderia mais de cem mil exemplares. Graças a esse sucesso, Cheb Tarik produziu mais dois álbuns de raï tradicional, não deixando de neles integrar géneros que o marcaram na adolescência como o funk e o reggae, e de colaborar com nomes como Saïan Supa Crew, Bouba, Gipsy Kings e Tonton David. Três anos depois decide aliar o rap ao raï, transformando com CC Raïder o clássico “Reggae Night” no novo “Reggae Raï”. Depois do sucesso deste single em toda a comunidade magrebina, Tarik começa a produzir o álbum “Metisstyle”. Um projecto com que finalmente vai poder modernizar o raï, juntando-se a músicos como Khaled. Um álbum marcado por inovações como a talk box e as amostras de som, e pela diversidade de influências e de géneros musicais. A prová-lo estão as vendas, que ultrapassaram seis milhões de unidades.

"Torch Of Freedom", Matthias Vogt Trio (Alemanha) - world, contemporary jazz

A jornada prossegue com “Torch Of Freedom”, tema extraído do álbum “Changing Colours”, editado este ano pelo Matthias Vogt Trio. Precisamente o primeiro trabalho de composições próprias deste núcleo do projecto [re:jazz], formado por Matthias Vogt, pelo baixista Andreas Manns e pelo percussionista Volker Schmidt. Matthias Vogt é pianista de jazz, DJ, autor e produtor de música electrónica. Os seus três pólos musicais são a Motorcitysoul, filial electrónica do seu trabalho; o [re:jazz], ligação musical que procura pontos de contacto entre o mundo da electrónica e o jazz acústico; e o Matthias Vogt Trio, a célula principal do [re:jazz] e seu campo de experimentação musical. A música deste trio, que leva o jazz para outras direcções por explorar, é auto-contida, contemplativa e emocional. Neste trabalho, eles dão provas da sua qualidade artística, apresentando um som moderno e intimista, que se aproxima à pop e ao novo jazz electrónico.

"Guitarlandia", Rubin Steiner (França) - latin jazz, electronic
Rubin Steiner, nome dado ao projecto electrónico de Fred Landier, apresenta-nos o tema “Guitarlandia”, extraído do álbum “Wunderbar Drei”, editado em 2001. No trabalho de produção deste jovem francês sobressaem um gosto pronunciado pelo jazz e uma cultura musical desenvolvida à volta do hip-hop, trip-hop, drum’n’bass, house e break-beat. Rubin Steiner é natural de Tours, uma pequena cidade no Vale do Loire, onde até há poucos anos a música electrónica era praticamente desconhecida. Ainda que à distância de uma hora de comboio de Paris, as guitarras e o típico e entusiasmo provincial quase punk da cidade luz entusiasmaram o jovem músico. Landier tocou em várias bandas locais, a última delas de nome Merz, tornando-se conhecido por algum tempo na região. Mas as coisas mudaram de figura quando todos os membros do grupo decidiram comprar computadores e começar a compor sozinhos. Depois de em 1999 ter lançado “Lo-Fi Nu Jazz Vol.2”, álbum divertido e indisciplinado que avança pelos caminhos do jazz electrónico, Rubin Steiner edita então “Wunderbar Drei”, um trabalho já profissional que irá agradar e confundir ainda mais o público. No entanto, a música de Rubin Steiner permanece enérgica e caótica como sempre. São atmosferas distorcidas, influências desproporcionais e toques humorísticos que não o levam a mudar de direcção e a deixar de ter um som inovador e iconoclasta.

"Soy Callejero", Los Mocosos (EUA) - latin rock, pop, ska, salsa
Segue-se o tema “Soy Callejero”, dos Los Mocosos (traduzindo à letra, “Os Ranhosos” é um termo algo desconcertante, mas eles precisavam de um nome absurdo e espontâneo que designasse a banda). Esta banda de rock de bairro, nascida no distrito missionário de São Francisco, segue a tradição de músicos como Santana ou Malo em cruzar fronteiras culturais. Um híbrido musical da costa oeste americana que mistura soul e pop latina com ska, salsa, funk, swing, reggae e rock, acrescentando-lhe letras que falam da vida diária do seu bairro. “Shades of Brown”, o seu álbum de estreia, editado em 1998, combina elementos latinos, criando um género único. Uma mistura de influências num album eclético e poderoso que reflecte a realidade multicultural e multiracial de um país que Los Mocosos já percorreram por diversas vezes com Santana e Los Lobos, trazendo ao de cima as culturas hispânica e americana. No entanto, Los Mocosos não tiveram de criar esta selvagem mistura de culturas, até porque o crescente interesse pela world music tem vindo a mudar a paisagem musical americana, povoando-a de estilos latinos como o reggae e a dub jamaicana ou o son afro-cubano.

"Flor de Huevo", Los Lobos (EUA) - tex-mex, latin-ska-funk-rock
Los Lobos, um dos mais representativos e originais grupos dos anos 80, trazem-nos o tema “Flor de Huevo”, extraído do álbum “Del Este de Los Angeles (Just Another Band From East LA)”. Uma fusão de rock, blues, country, folk e rhythm & blues com música tradicional do México e da América Latina. Desde o seu modesto arranque nos bairos pobres na zona este de Los Angeles aos grandes palcos internacionais, Los Lobos têm destilado as suas vidas em canções. Em 1978, altura em que ganhavam a vida a tocar em casamentos e restaurantes mexicanos, decidiram gravar um álbum com as suas canções tex-mex, dando-lhes um cheirinho a rock & roll. O album “Del Este de Los Angeles” estabeleceu a identidade própria do grupo e serviu de rampa para que David Hidalgo e Louie Perez começassem a escrever os seus próprios temas. Sem se desviarem das tradições musicais do grupo, Los Lobos extraem as suas influências de múltiplos géneros, transformando-as num som que se foi refinando e expandindo em cada novo disco.

"Getting Happy", Ralph Robles (EUA) - latin soul, boogaloo
O programa encerra com o tema “Getting Happy” do trompetista Ralph Robles, extraído do álbum “Taking Over/Conquistando”, editado em 1999. Quando o boogaloo, uma dança latina com sabor a Nova Iorque, apareceu na década de 60 nos bairros de Harlem, Brooklyn e Bronx, Tito Puente, o rei do mambo, achou que era apenas uma coisa de miúdos. No entanto, este ritmo irresistível, de uma estética próxima do punk, com muito espaço para grandes solos instrumentais e arranjos quase matemáticos, era imparável. Em pouco tempo, o boogaloo distanciou-se do mambo e do cha cha cha, misturando a salsa cubana e outros ritmos latinos com a soul, o funky, o rock, a motown e o rhythm & blues. Influências musicais que marcaram os jovens cubanos e porto-riquenhos que então viviam em Nova Iorque. Uma geração que queria cantar em inglês, mas que acabou por o fazer em “espanholês”. São percussões cubanas, baseadas nas congas, bongos e timbales, e arranjos com trompetes e trombones, à companhia do piano, do saxofone barítono e dos coros. Apesar da euforia, o boogaloo foi um dos géneros latinos com uma vida mais curta, isto porque no espaço de uma década acabou por ser assimilado pela salsa.

Jorge Costa

sábado, 15 de julho de 2006

Emissão #17 - 15 Julho 2006

A 17ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 15 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 17 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Muiñeiras", Cristina Pato (Espanha) -
celtic folk, folk-pop
A espontaneidade, frescura e energia de Cristina Pato está bem patente no tema “Muiñeiras”, original de Raquel Rodriguez, violinista dos Muntenrohi, banda que a diva da gaita-de-foles galega integrou na adolescência. Natural de Ourense, a jovem Cristina Pato tem tocado a solo e com grupos como os The Chieftains, Hevia, Vargas Blues Band ou as orquestras sinfónicas da Galiza e de Tenerife. Colaboraram também com ela, entre outros, José Peixoto, guitarrista dos Madredeus, e a portuguesa Marta Dias. Para além de gaiteira, Cristina Pato é pianista e compositora, aliando a perfeição técnica da música clássica com a espontaneidade da música popular. Uma carreira que começou aos quatro anos, altura em que quis seguir o exemplo da irmã mais velha, que já tocava gaita-de-foles. Foi na Real Banda de Gaitas de Ourense que esta ofereceu os seus primeiros recitais. Ao acabar o curso de piano em Barcelona, cumpriu a promessa feita à mãe de pintar o cabelo de verde, hoje sua imagem de marca. Cristina Pato, cujo sonho é ser directora de orquestra, foi a primeira gaiteira espanhola a editar um álbum a solo. Em 1999, com apenas 17 anos, lança “Tolemia” (palavra que em galego significa loucura), disco que vendeu quase 50 mil cópias e foi uma autêntica loucura, já que juntou 28 músicos e foi gravado em apenas 10 dias. São sons tradicionais à mistura com ritmos latinos e africanos, funky, pop, reggae ou blues, numa folk mestiça e divertida. Um trabalho em que colaboraram Carlos Castro, dos Fía Na Roca; Paco Juncal, ex-violinista dos Berrogüeto, os Blanco e os Beladona. Como quem toca guitarra eléctrica, Cristina Pato procura demonstrar de forma enérgica que a gaita-de-foles é um instrumento tradicional que extravasa as fronteiras da música celta.

"Raincheck"
, Kathryn Tickell (Reino Unido) - celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Kathryn Tickell e o tema “Raincheck”, alusivo à tournée que esta tocadora de violino e de gaita-de-foles da Nortúmbria realizou na Turquia. Uma música extraída do seu sexto álbum “The Gathering”, editado em 1997. Juntamente com Ian Carr e Neil Harland, Kathryn mistura as suas composições com as melodias tradicionais daquele condado do nordeste de Inglaterra, criando uma folk ágil, profunda e ritmicamente complexa. Kathryn Tickell, que tem tocado em todo o mundo e gravado com nomes como os The Chieftains, Boys Of The Lough, Penguin Café Orchestra e Sting, conquistou os fãs de música celta experimental e de fusão, mantendo no entanto a veia tradicional. Ela começou a tocar gaita aos nove anos, inspirada pelo pai e por músicos como Willie Taylor, Will Atkinson, Joe Hutton, Richard Moscrop e Tom Hunter. Aos 16 anos lançava o seu primeiro álbum. Em 1990 forma a Kathryn Tickell Band, ano em que cria o Fundo dos Jovens Músicos para ajudar os jovens da região a desenvolverem o seu potencial musical. Entretanto, tem colaborado com os saxofonistas Andy Sheppard e John Surman, e desenvolvido programas para a rádio com jovens músicos da Grã-Bretanha. Em 2000 criava o Ensemble Mystical, projecto que reune músicos provenientes do mundo da música clássica, do jazz e da folk.

"Texiendo Suaños", Tejedor (Espanha) - asturian folk, celtic music
Os Tejedor trazem-nos o tema "Texiendo Suaños", extraído do álbum “Texedores de Suaños”. Este grupo asturiano, nascido em Avilés e formado pelos irmãos José Manuel, Javier e Eva Tejedor, é um dos grandes embaixadores da nova folk asturiana. Um potencial criativo e interpretativo comandado por José Manuel Tejedor, considerado o melhor gaiteiro asturiano da segunda metade do século XX. Nas melodias dos Tejedor reconhece-se a paixão destes professores pelo cancioneiro tradicional asturiano, que o ligam à influência celta, criando um som fresco, acústico e festivo. Considerado o melhor disco de folk em 1999, “Texedores de Suaños” reúne composições próprias e temas tradicionais das Astúrias, misturando as gaitas asturianas com a percussão, as flautas, o acordeão diatónico e o bodhrán. Mais tarde, os Tejedor adicionaram ao seu repertório novos elementos musicais que vão dos arranjos de cordas às programações electrónicas, tendo readaptado alguns temas tradicionais asturianos. O disco de estreia, produzido pela "vaca sagrada" da folk internacional Phil Cunningham (que participa também com o acordeão em algumas faixas), reuniu músicos privilegiados como Duncan Chishom (Wolfstone), Michael McGoldrick (Lúnasa, Capercaillie), James McKintosh (Shooglenifty, Afro Celt Sound System), Kepa Junkera e Chus Pedro (Nuberu).

"Malaisha", Miriam Makeba (África do Sul) - soul jazz, afro-pop
Para já segue-se a sul-africana Miriam Makeba, que nos traz o tema “Malaisha”, extraído do álbum “Hits & Highlights”. Ela foi a primeira mulher negra exilada por causa do apartheid e a primeira artista a colocar a música africana no mapa internacional. Miriam, que já gravou mais de 40 discos, cresceu a ouvir Duke Ellington, Billie Holiday e Ella Fitzgerald, sendo hoje capaz de cantar em nove línguas (francês, inglês, arábico, xhosa, kikongo, maninka, fula, nyanja e shona). Exilada por ter aparecido no filme “Come Back Africa”, a imperatriz da música africana passou 31 anos longe do seu país, lutando pelos direitos civis dos negros.
A sua carreira começa na década de 50 nos Cuban Brothers. Miriam torna-se conhecida como vocalista da formação de jazz Manhattan Brothers, juntando-se mais tarde ao grupo vocal feminino Skylarks. Em 1959 o realizador americano Lionel Togosin convida Miriam a apresentar um documentário sobre a África do Sul no festival de Veneza, o que enfureceria as autoridades sul-africanas. Miriam Makeba exila-se então nos Estados Unidos, criando sucessos como “Pata Pata", "The Clique Song" ou "Malaika". O seu casamento com Stokely Carmichael, o líder radical dos Panteras Negras, traz-lhe problemas com as autoridades americanas. Exila-se então na Guiné-Conacri, até que em 1990 Nelson Mandela a convence a regressar ao seu país.

"Plus Rien M'Étonne", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
A viagem musical continua com Tiken Jah Fakoly e o tema “Plus Rien Me M’Etonne” (Já nada me mete surpreende), extraído do seu sétimo álbum “Coup de Gueule”, lançado em 2004. Um disco em que Tiken Jah Fakoly segue os caminhos do reggae africano de Alpha Blondy, fazendo uma ponte com a Jamaica, e mergulhando na tradição mandingo sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Neste álbum, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim, exilado entre Bamako e Paris, ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem no continente, bem como a hipocrisia das religiões monoteístas. Fakoly apresenta temas em francês e em dioula, a língua da sua etnia e que é falada no norte da Costa do Marfim, na Guiné-Conacri, no Mali e no Burkina-Faso. Um trabalho de novo realizado por Tyrone Downie, e que conta com os ritmos de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare, que nos trazem os inconfundíveis sons do balafon, da kora e do ngoni. Outros artistas do mundo ajudam o rebelde tranquilo a alargar a sua música a outros horizontes. Entre eles estão Didier Awadi, dos Positive Black Soul e um dos fundadores do hip-hop senegalês, e os irmãos Amokrane de Zebda e Magyd Cherfi.

"Yasar Geidu", Mariam Hassan & Leyoad (Saara Ocidental) - haul, sahrawi music

A jornada prossegue com o tema “Yasar Geidu”, extraído do álbum “Mariem Hassan com Leyoad”, editado em 2002. Mariem Hassan, que a 29 de Julho vai estar no Festival de Músicas do Mundo de Sines, é uma das figuras máximas da música sarauí e símbolo da luta deste povo pela independência. Compositora, letrista e dona de uma voz excepcional, Mariem canta com uma intensidade dilacerante o amor, a fé e o sofrimento da população do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que em 1975 Marrocos e a Mauritânia dividiram entre si. À semelhança de dezenas de milhares de sarauís, a jovem Mariem Hassan foi então obrigada ao exílio, refugiando-se com a família durante 27 anos na parte mais inóspita do deserto do Saara, no sul da Argélia. A criação de grupos musicais foi uma forma encontrada por muitos para amenizar a vida dura dos acampamentos. Mariem Hassan, que actualmente vive em Sabadell (Barcelona), colabora há quase três décadas com diversos grupos de música sarauí, cantando na Europa, América e África. Tudo para que o mundo conheça a situação de um povo exilado e de uma artista que anseia poder regressar algum dia em liberdade a Smara, a cidade em que nasceu. Evocando os exilados e os mártires da guerra contra Marrocos, Mariem Hassan canta o haul, um blues do deserto, carregado de electricidade e hipnotismo, acompanhada pela percussão seca do tebal (tambor grande, tocado com as mãos pelas mulheres) e pelo tidinit (um alaúde rústico de quatro cordas, gradualmente substituído pela guitarra eléctrica), e esculpido pelas guitarras eléctricas.

"Ya Rayah [Sonar Remix]", Dahmane El Harrachi (Argélia) - raï, chaâbi
“Ya Rayah” (O Exilado), um dos clássicos da música árabe, apresenta-se-nos agora num remix electrónico que os Sonar fizeram do tema do argelino Dahamane El Harrachi, uma melodia cuja letra invoca a alienação sentida na pele pelos
emigrantes. Abderahmane Amrani, tragicamente desaparecido em 1980 num acidente de viação, adoptou o nome artístico de Dahamane El Harrachi. Fê-lo não só para homenagear o bairro de El Harrach onde cresceu, mas também para não incomodar os princípios religiosos do pai, que era muezin na grande mesquita de Alger. Foi nestes bairros populosos que El Harrachi desenvolveu o seu sentido de observação e descobriu que queria cantar um chaâbi diferente do de El Anka ou Hadji M’rizek, ajustando-se a sua voz na perfeição a esse anseio. Em jovem trabalha com os mestres El Hadj Menouar e Khlifa Belkacem. Em 1949 parte para França, estabelecendo-se mais tarde em Paris. É nos cafés da emigração argelina que desenvolve a sua carreira de autor e intérprete. A sua música ganha maior notoriedade quando passa a compor temas mais sarcásticos, dissecando os males da sociedade utilizando para isso os ditados populares da época. Uma carreira que atinge o ponto máximo quando Rachid Taha pega no tema “Ya Errayeh Ouine M’Safer ?” (Para onde partes, para onde viajas tu?). Um clássico do raï, o género musical mais popular nas ruas da Argélia, com percussão bem vincada, e que foi redescoberto anos mais tarde por Rachid Taha, músico que o apresentou a uma audiência internacional.

"Venus Nabalera", Mau Mau (Itália) - folk-rock, latin rock
Seguem-se os italianos Mau Mau com o tema “Venus Nabalera”, extraído do álbum “Safari Beach”, editado em 2000. O nome desta banda de rock e folk, formada em Turim em 1991, baseia-se no grupo de libertação do Quénia da colonização inglesa. Esta tribo de seis elementos, cuja música expressa uma paixão pelos sons acústicos e secos, foi pioneira na mestiçagem da música italiana, combinando uma variedade de estilos para assim gerar uma linguagem feita de atmosferas do norte e do sul do Mediterrâneo. Com a percussão e o ritmo sempre presentes, as canções dos Mau Mau falam sobre a emigração, a pobreza, a fome, os subúrbios, as expectativas, o divertimento e mesmo de computadores. Para além do italiano e do dialecto piemontês, eles cantam em castelhano, inglês e francês. Entretanto, receberam vários prémios como o de Revelação Interncional no BAM Festival em Barcelona. Neste seu quinto trabalho, o ensemble da região de Piemonte conta com a colaboração de Sargento García, mas no currículo trazem outros músicos como Inti Illimani, Ivano Fossati e Manu Chao.

"Vänner Och Fränder", Garmarna (Suécia) - folk-rock
Os suecos Garmarna trazem-nos um tema extraído do álbum “Live”, editado em 2002. Esta banda de rock, formada em 1990, canta velhas lendas da música tradicional do seu país, falando de bruxas más, madrastas tenebrosas e de princesas indefesas. Convém explicar que na mitologia sueca os Garmarna eram os cães que guardavam a porta do inferno. Uma imagem metafórica que se transpõe facilmente para os cenários sonoros criados por este quinteto, que oscila entre as estéticas anglo-saxónicas e os ambientes da música tradicional sueca. No entanto, os Garmarna não fazem questão de perpetuar tradições. O que eles querem é tocar com a vontade do momento, com tudo o que isso tenha de eterno ou de efémero. Um som único, influenciado pelo rock, e que remistura a instrumentação antiga com amostras de batidas, harpas, violinos e guitarras distorcidas.

"Jackie ", Bossa Nostra (Itália) - latin lounge, bossa nova
Os italianos Bossa Nostra (grupo formado por Adriano Molinari, Luca Savazzi, Luigi Storchi, Mássimo Mussini e Stefano Carrara) fecham o programa com o tema “Jackie”, uma das várias versões, a maioria delas dançáveis, incluídas no álbum “Chico Desperado/Jackie”, editado em 1999. No total são cinco temas antigos e quatro remixes novos elaborados pelos Pasta Boys, Atjazz, East West Connection, Street Vibes e Pedro Van Der Volt, a maioria entre o deep house e o acid jazz. O universo sonoro dos Bossa Nostra, como o nome indica, é altamente influenciado pela música brasileira, baseando-se em instrumentos acustico-elétricos tocados com muita criatividade.

Jorge Costa

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Emissão #16 - 8 Julho 2006

A 16ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 8 de Julho, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 10 de Julho, entre as 19 e as 20 horas.

"Galileo",
Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
A canadiana Claire Pelletier abre o programa desta semana com o tema "Galileo", gravado ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (a sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons électrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier (ou melhor, de Claire La Sirène) iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

"Granny: Granny In The Attic/Blue Ball/The False Proof"
, Flook (Reino Unido, Irlanda) - celtic music, folk-rock
A jornada musical prossegue com os Flook, quarteto anglo-irlandês de Manchester, conhecido pela sua espontaneidade e energia em palco, e que este ano conquistou o prémio de Melhor Grupo nos BBC Folk Awards. Um ensemble instrumental formado pelos flautistas Brian Finnegan e Sarah Allene, pelo guitarrista Ed Boyd e por John Joe Kelly no bodhrán. Os Flook combinam a música celta de raízes inglesas e irlandesas e as melodias suecas e gregas com elementos do jazz, do rock e da música sul-europeia, indiana e árabe. Para isso utilizam outros instrumentos como o violino, o bandolim, o bouzouki, o trombone, o acordeão e as percussões africanas. No álbum “Rubai” (palavra que se refere a um poema persa), editado em 2002, os Flook apresentam um resumo das suas aventuras pelo mundo, tendo convidado os músicos Rory McLeod, Martin Cradick, Seckou Keita e Colin Farrell. Eles trazem-nos uma sequência de três temas, cada qual com a sua história: “Granny in the Attic” foi escrito por Sarah quando os seus vizinhos de baixo decidiram remodelar o apartamento. Já “Blue Ball” é o nome da velha casa de campo em que viviam os seus avós e onde Sarah passou muitos verões na sua infância. Finalmente, “The False Proof” é um jig do flautista belga Jowan Merckx, que os Flook conheceram na Holanda.

"Medraína", Xéliba (Espanha) - asturian folk, celtic music
Os Xéliba, pioneiros da folk asturiana, trazem-nos “Medraína”, um tema extraído do álbum “Ferruñu”, editado em 1998. Eles levam-nos pelos caminhos da folk acústica com reminescências celtas e arranjos influenciados por bandas escocesas. Xéliba é um anagrama de Avilés, cidade a que pertenciam os primeiros elementos deste grupo de cinco rapazes. Foi em 1993 que músicos de várias bandas se juntaram com o objectivo de preservar a herança cultural asturiana. Grande parte das melodias e canções dos Xéliba são versões de temas tradicionais, que o grupo adapta ao estilo musical daquela comunidade autónoma espanhola. A banda, entretanto extinta, faz-se acompanhar de instrumentos acústicos e tradicionais como a gaita-de-foles asturiana, o acordeão diatónico, a flauta ou o violino, seguindo uma linha de folk acústico baseada na força rítmica do bouzouki e da guitarra acústica, instrumentos habitualmente presentes na folk de todo o globo.

"Jánoska", Transsylvanians (Alemanha) - folk-rock, hungarian speed folk
Para já viajamos até ao universo sonoro dos Transsylvanians, com o tema “Jánoska”, extraído do álbum “Igen!”, editado em 2004. Uma banda sedeada em Berlim, na Alemanha, mas que toca música húngara. Algo estranho num grupo maioritariamente formado por músicos russos e alemães (são eles Szilvana, András Tiborcz, Isabel Nagy, Thomas Leisner, Andreas Hirche e Hendrik Maaß). Em alusão ao país imaginário que é a Transilvânia, a banda escolheu este nome por ele reflectir uma música feita por gente de diferentes países e vivências culturais. Ao criarem a sua própria tradição, os Transsylvanians misturam a enérgica folk de dança húngara com o punk-rock, o techno, o rap, a pop, o ska, o chill out e a música cigana, produzindo um som que se apresenta como novo modelo do speed-folk húngaro. Aos temas que falam do do seu país, do amor, da inveja, da guerra e da paz, juntam-se-lhes a guitarra, o violino e uma explosão de percussões que convidam à dança e fazem com que os concertos dos Transsylvanians sejam um sucesso em toda a Europa. Tradicional ou não, apenas fica a certeza de que se trata de música húngara, ou melhor, de música da Transilvânia.

"Pena", Šaban Bajramović (Sérvia) - gypsy music
A viagem musical continua com uma passagem pela Sérvia através do tema “Pena”, estraído do álbum “Šaban Bajramović – A Gypsy Legend”, lançado em 2001. Šaban Bajramović é um dos expoentes máximos da cultura romani e da música cigana em todo o mundo. Natural de Nis, na antiga Jugoslávia, aos 19 anos ele foge do exército e é preso na ilha Goli Otok, situada no mar Adriático. Naquela que seria a sua universidade, Bajramović torna-se guarda-redes na equipa de futebol, passando a ser chamado de "Pantera Negra" devido à sua agilidade e velocidade. Junta-se então à orquestra da prisão, onde toca sobretudo jazz de Armstrong, Sinatra e John Coltrane e peças espanholas e mexicanas. De regresso à liberdade, Bajramović inaugura uma intensa carreira musical. Em 1964 grava o primeiro disco, tendo desde então lançado cerca de 20 LP’s e 50 singles e feito mais de 650 composições. Com a sua primeira fortuna comprou um Mercedes e contratou dois guarda-costas, mas depressa o vício do jogo lhe levou toda a riqueza. Durante 20 anos teve o seu próprio grupo, os “Black Mamba”, entretanto foram convidados por Indira Ghandi para irem até à Índia, onde Bajramović seria proclamado rei absoluto da música cigana. Uma espécie de mistura entre Tito e Elvis, mas com sapatos toscos e uma garrafa no bolso. Com o passar dos anos, Šaban Bajramović muda de estilo, de grupo e de mulher, perdendo parte do glamour, mas a sua voz permanece inalterada. Ele participou em filmes de Paskaljevic e Kusturica e colaborou com músicos inspirados por ele como o famoso Goran Bregovic, que adaptou o génio de Saban aos gostos do mercado.

"Shiva's Daughter", Arling & Cameron (Holanda) - pop, drum'n'bass, bossa nova
A jornada prossegue com os holandeses Arling & Cameron e o tema “Shiva’s Daughters”, extraído do álbum “Music For Imaginary Films”, editado em 2000. Depois de anos de obscuridade a desenvolverem temas para as pistas de dança, as músicas destes jovens de Amsterdão, tão ecléticos que nem chegam a ser uma banda, entraram finalmente nos ouvidos do mundo. O DJ Richard Cameron e o músico Gerry Arling fundem então passado e presente numa visão do futuro em harmonia com o ambiente clubpop que emergiu em Tóquio na década de 90. O seu arranque como duo acontece em 1997, num álbum em que absorviam mais géneros e ritmos. Entre outros, chegam a colaborar com o músico brasileiro Bebel Gilberto ou os japoneses Pizzicato Five e Cornelius. O momento alto das suas carreiras surge quando Cameron grava com os Fantastic Plastic Machine uma música para o filme “Austin Powers, The Spy Who Shagged Me”. Um potencial melódico que seria aproveitado por Hollywood e pelos publicitários de todo o mundo, acabando por ser utilizado em filmes como 'Gun Shy' (com Sandra Bullock e Liam Neeson) ou em séries de televisão como “Popular” (Warner Channel) e “Sopranos” (HBO). No seu álbum conceptual “Music for Imaginary Films”, recheado de pop, drum'n'bass, bossa nova, funk e lounge exótica, Arling & Cameron procuram reinventar as tradicionais bandas sonoras, associando cada música a um filme imaginário de um género específico – neste caso o universo de Bollywood –, levando a cabo uma aventura musical séria e com humor. Um projecto que lhes permitiu ganhar o prémio holandês “Big Pop” e serem convidados pelo canal americano SciFi para participarem no documentário “Sciography”.

"Limbe", S-Tone Inc. (Itália) - bossa nova, soul, latin jazz
Os S-Tone Inc apresentam-nos o tema “Limbe”, extraído do álbum “Sobrenatural”. Este projecto musical, criado em 1992 pelo milanês Stefano Tirone, foi um dos pioneiros no universo do acid jazz. As primeiras experiências musicais deste músico italiano, que para trás deixou a arquitectura e o design interior, remontam à new wave da década de 80 com grupos como “State of the Art” ou “Modo”. As suas referências vão da soul de Isaac Hayes ao jazz de Miles Davis. Stefano Tirone, que está presente em compilações lançadas pelo magazine Rockerilla, começou a produzir música nos anos 90, alternando entre o smooth house e o acid jazz. Uma actividade que lhe permitiu colaborar com muitos DJ’s italianos e ingleses, realizando trabalhos que antecipariam o uso de amostras de som de discos dos anos 70 na house music. Neste seu terceiro álbum, editado em 2002, os S-Tone Inc. refinam o seu estilo feito de melodias e harmonias com um sabor francês e ritmos enraizados no Brasil. Uma atmosfera boémia capturada entre Paris e o Rio de Janeiro e carregada de guitarras, flautas e acordeão, que nos leva pelos caminhos da bossa nova, da soul, do jazz latino, do smooth house ou do electro funk. Este disco contou ainda com a participação de Marion Marioni, cujo saxofone soprano nos leva de volta aos anos 70, e com a voz de Laura Fedele.

"El Carretero", Barrio Cubano de Ronald Rubinel (Cuba, França) - salsa, fusion rap, hip-pop salsa
Continuamos estrada fora com a melhor música do mundo, desta feita ao ritmo da música popular cubana. Barrio Cubano é um apanhado dos grandes clássicos da música daquele país, regravados pelos melhores rappers cubanos e remixados por Ronald Rubinel, um produtor parisiense cuja obcessão mais recente consiste em misturar a salsa latina e a folk franco-caribenha com os sons da pop, do hip-hop e do rap. No tema "El Carretero" (o condutor de carroças) são também visíveis elementos da guitarra classica utilizada na guajira, um estilo acústico cubano que surgiu no início do século XX.

"O Beta O Siba", Richard Bona (Camarões) - afropop
Richard Bona fecha o programa com o tema “O Beta O Siba”, extraído do álbum “Tiki”, editado em 2005. O multi-instrumentista e compositor, nascido nos Camarões, cedo despertou para a música. Como na sua vila natal não havia uma loja de instrumentos, este teve de utilizar cabos de travões de bicicleta para fazer as cordas da sua primeira guitarra artesanal. Mais tarde, na década de 80, Richard Bona despertava para o mundo do jazz e começava a tocar baixo. Vai então para Paris, onde aperfeiçoa as suas capacidades de escrever e tocar música, até que em 1995 tenta a sua sorte em Nova Iorque. Este contador de histórias mistura as suas raízes musicais africanas com a sensibilidade do jazz, os ritmos afro-cubanos e a pop anglo-saxónica. Um aglomerado de influências que Richard Bona combina neste trabalho com uma voz suave e expressiva, de onde escapa doçura e nostalgia.

Jorge Costa

domingo, 2 de julho de 2006

World Music Charts Europe - Julho 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Julho dos 188 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de):

1º- BREATH, Mercan Dede (Turquia, Canadá) - Doublemoon
mês passado: 80ºlugar

2º- NE UZ VIENU DIENU, Ilgi (Letónia) - UPE
mês passado: 9ºlugar
3º- GOLD & WAX, Gigi (Etiópia, EUA) - Palm Pictures
estreia na tabela
4º- LA CANTINA, Lila Downs (EUA) - Peregrina/Narada
mês passado: 1ºlugar
5º- MISH MAOUL, Natacha Atlas (Reino Unido) - Mantra
mês passado: 3ºlugar
6º- LUNATICO, Gotan Project (França, Argentina) - Ya Basta

mês passado: 2ºlugar
7º- NIGER, Afel Bocoum (Mali) - Contre-Jour
mês passado: 66ºlugar
8º- LUNGHORN TWIST, Accordion Tribe (vários) - Intuition
mês passado: 23ºlugar
9º- PALY UP, vários - Kontextrecords
mês passado: 31ºlugar
10º- YELLOW FEVER, Senor Coconut (Alemanha, Chile) - Essay Recordings
mês passado: 21ºlugar
11º- TRAVESIAS, Susana Baca (Peru) - Luaka Bop/Virgin
estreia na tabela
12º- TECHARI, Ojos de Brujo (Espanha) - Diquela Records
mês passado: 6ºlugar
13º- ZANDISILE, Simphiwe Dana (África do Sul) - Skip
mês passado: 4ºlugar

14º- PRASTI MUSIC, Sick Brass Band (Alemanha) - Westpark Music
mês passado: 12ºlugar

15º- INTRODUCING ETRAN FINATAWA, Etran Finatawa (Níger) - World Music Network
mês passado: 19ºlugar

16º- MHM A-HA OH YEAH DA-DA, Darko Rundek & Cargo Orkestar (Croácia) - Piranha
mês passado: 22ºlugar
17º- REPUBLICAFROBEAT 2, vários - Lovemonk
estreia na tabela
18º- WONAI, Oliver Tuku Mtukudzi (Zimbabwe) - Sheer Sound
estreia na tabela
19º- TIMELESS, Sérgio Mendes (Brasil, EUA) - Concord/Universal
mês passado: 26ºlugar
20º- BOULEVARD DE L'INDEPENDANCE, Toumani Diabate & Symmetric Orchestra (Mali) - World Circuit
mês passado: 5ºlugar