sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Emissão #34 - 6 Janeiro 2007

A 34ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 6 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 8 de Janeiro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (27 e 29 de Janeiro) nos horários atrás indicados.

"Natural Fractals", Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Os sevilhanos Rarefolk a inaugurarem a emissão com o tema “Natural Fractals”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2006. Quarto e último trabalho dos pioneiros do freestyle folk, uma mistura criativa de sons e ritmos folclóricos de todo o mundo com o universo do rock, do funk e da electrónica. O resultado é um raro estilo folk, carregado de energia, em que se fundem influências da música africana, celta, oriental e do próprio jazz. Neste disco, os Rarefolk regressam à sua formação original – Ruben Diez, "Mangu" Díaz, Marcos Munné, Pedro Silva, Fernando Reina e Oscar "Mufas" Valero –, contando com a participação especial do violinista Elo Sánchez (dos andaluzes Sila Na Gig) e do saxofonista Nacho Gil (Caponata Argamacho Trio). Desta feita, eles apresentam-nos uma mistura de instrumentos acústicos com sequências de dança, enveredando por géneros como a breakbeat ou o jungle. Bem para trás fica 1992, ano em que os Rarefolk se deram a conhecer na exposição mundial de Sevilha como Os Carallos e começaram a ter uma formação estável.

"Ataun", Kepa Junkera
(Espanha) - basque folk
As músicas do mundo prosseguem com Kepa Junkera que nos traz “Ataun”, tema retirado do seu último álbum “Hiri” (cidade), editado no ano passado. No seu disco mais intimista e elaborado, Kepa Junkera leva-nos numa viagem por algumas das cidades e lugares de todo o mundo por onde passou. O exímio executante da trikitixa (fole do inferno), acordeão diatónico basco que em Portugal é conhecido por concertina, dá então destaque à txalaparta (instrumento de percussão, tocado com peças de madeira), à alboka (aerofone tradicional basco, constituído por dois chifres de vaca) e à sanfona. Kepa Junkera tornou-se o mais internacional dos músicos bascos ao fundir a folk da sua terra e a música triki com os ritmos do mundo. Uma palete sonora que começou com uma abertura ao jazz, à música clássica e à folk-rock, e que mais tarde anexou os ritmos do Quebeque, do Mediterrâneo, das Canárias, da Europa Central, de África e da Irlanda. Em “Hiri”, o músico de Bilbao conta com a participação de músicos como o albokari Ibon Koteron, Patrick Vaillant, Glen Velez, Marcus Suzano, Alain Bonnin, os Etxak, o Alos Quartet, Gilles Chabenat, Jean Wellers, Carlos Malta, Lori Cotler, Andy Narell, os catalães Tactequete, Xosé Manuel Budiño, os italianos Enzo Avitabile & I Bottari Di Pórtico e as vozes das Bulgarka, da cantora azeri Aygun, de José António Ramos, Benito Cabrera, Mercedes Peón e Eliseo Parra. Mas se tivermos em conta toda a discografia de Kepa Junkera, há que acrescentar ainda as colaborações de nomes como os Oskorri, o duo de txalapartaris Oreka TX, John Krikpatrick, Riccardo Tessi, Maria del Mar Bonet, Justin Vali, Hedningarna, La Bottine Souriante, Phil Cunningham, Liam O’Flynn, Béla Fleck, Andreas Wollenwaider, Pat Metheny e Caetano Veloso, bem como os portugueses Júlio Pereira e Dulce Pontes.

"Homer's Reel", Capercaillie
(Reino Unido) - celtic folk
Os escoceses Capercaillie de novo no programa, desta feita com o tema “Homer's Reel”, extraído do álbum “Choice Language”. Neste trabalho, editado em 2003, a mais popular banda da folk escocesa funde amostras de som e secções de ritmo com instrumentos tradicionais como o bouzouki, o whistle, o violino e a gaita irlandesa. Formados em 1984 na Oban High School, os Capercaillie remodelaram a paisagem sonora celta e construíram uma sólida reputação graças à forma como abordam a música tradicional das West Highlands. Um octeto que em todo o mundo já vendeu mais de um milhão de álbuns e que mistura a folk gaélica com ritmos contemporâneos, adicionando-lhes poderosas vozes e instrumentos electrónicos. Karen Matheson dá voz às composições da banda e a antigas canções gaélicas com mais de 400 anos, grande parte delas aprendidas na infância com a avó. O grupo fica completo com Donald Shaw, fundador dos Capercaillie, Che Beresford, Ewen Vernal, David Robertson, Charlie McKerron, Manus Lunny, Ewan Vernol, James Mackintosh e Michael McGoldrick.

"Semena-Wrock", Gigi
(Etiópia) - world fusion, afrofunk
Avançamos agora até à Etiópia com o tema “Semena-Wrock”, extraído do álbum “Gold and Wax”, editado em 2006. Conhecida como Gigi, Ejigayehu Shibawba é uma das mais célebres cantoras etíopes, apresentando-se quer a solo, quer com as formações Tabla Beat Science e Abyssinia Infinite. Acompanhada por instrumentos acústicos como a harpa kirar ou a flauta washint, ela combina melodias tradicionais do seu país com uma grande variedade de estilos como o jazz, a soul, a dub e o afrofunk. A viver actualmente nos Estados Unidos da América, Gigi é casada com o baixista e produtor Bill Laswell, que há seis anos produziu o seu álbum de estreia, disco em que foram introduzidos instrumentos electrónicos e que entre os convidados incluía o célebre David Gilmore. Neste seu último trabalho, Gigi cruza harmonias africanas com elementos jamaicanos e indianos e batidas do Ocidente. Um arranjo complexo e moderno de canções de dança e melodias, com muito ritmo e percussão à mistura. São sons menos tradicionais que seguem o caminho de outros fusionistas etíopes. Um álbum que contou com a participação de músicos como o virtuoso do sarangi Ustad Sultan Khan, o mestre da tabla Karsh Kale, o teclista Bernie Worrell, Nils Petter Molvaer, ou dos músicos africanos Abesgasu Shiota, Hoges Habte Aiyb Dieng e Assaye Zegeye.

"Le Pays Va Mal", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
Tiken Jah Fakoly trouxe-nos o tema "Le Pays Va Mal", extraído do álbum “Françafrique”, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.

"Shubra", Natacha Atlas
(Bélgica) - ethno pop, electro, chaâbi
A jornada musical prossegue com Natacha Atlas, que nos apresenta o tema “Shubra”, retirado do álbum “Ayeshteni” (Tu Dás-me Vida), editado em 2001. Trabalho produzido e gravado na cidade do Cairo, no Egipto, e em que também participou o anglo-indiano Nitin Sawhney. A diva do ethno pop mistura as sonoridades tradicionais do Médio Oriente e do norte de África com a pop e a música electrónica. São sons onde não falta a influência do clássico chaâbi mas, como ela própria diz, menos entediante e mais mal comportado. Dona de uma voz poderosa e sedutora, Natacha Atlas cria um sinuoso e hipnótico canto, acompanhado por batidas trip hop e incursões pelo house ou o drum ‘n’ bass. A maior parte do seu repertório é interpretado em árabe, mas ela também canta em inglês, francês e castelhano. Filha de mãe inglesa e pai egípcio, Natacha Atlas nasceu na capital belga, mas as suas raízes estendem-se ainda à Palestina e a Marrocos. Até aos oito anos, ela viveu no bairro muçulmano de Bruxelas, altura em que a sua mãe, depois de se ter divorciado, decidiu mudar-se com os filhos para Northampton, na Inglaterra. A partir dos dezasseis anos, Natacha começa a envolver-se em pequenos projectos musicais e a viajar pela Turquia e Grécia, países onde trabalharia como dançarina do ventre. No início dos anos 90 integra como solista os Transglobal Underground, grupo inglês pioneiro em fundir elementos da música tradicional árabe, africana e hindu com elementos da música electrónica, ocupando o lugar de vocalista e dançarina. Da sua carreira faz também parte a passagem pelos Invaders of the Earth, grupo de Jah Wobble. Em 2001, Natacha Atlas foi nomeada pelas Nações Unidas Embaixadora para a Boa Vontade no âmbito da Conferência Internacional contra o Racismo. O público brasileiro e português certamente se lembrará da sua participação num capítulo da novela da Globo "O Clone", em que a cantora se interpreta a si mesma, cantando e dançando.

"Khalouni", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi
De regresso ao programa, Souad Massi apresenta-nos “Khalouni" (Deixa-me), uma mistura ibérica e norte-africana onde se evocam as raízes do raï e onde a jovem canta lado a lado com Rabah Kaifa. Considerada a Tracy Chapman do Magrebe, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Esta jovem muçulmana, que se recusa a falar em nome do Islão e a ser uma activista da causa berbere, nunca tocou uma nota de raï. O seu gosto, mais orientado para o rock ocidental, o chaâbi e a música andaluza, fê-la criar um estilo único. A nostalgia e a dor do exílio são os temas centrais deste seu último trabalho, o álbum "Mesk Elil", editado em 2005. Desde 1999 que a jovem vive exilada em França. Numa ida à Tunísia para realizar mais um concerto reencontrou os aromas da madressilva, uma planta que lhe fez lembrar a sua infância na Argélia e que daria o nome ao seu terceiro álbum. Na adolescência, Souad Massi acompanhou com a sua guitarra o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.

"Tuva Rock",
Yat-Kha (Rússia) - tuva rock, punk-folk
A fechar o programa, despedimo-nos com os Yat-Kha, que nos trazem o tema "Amdy Bayp", extraído do álbum "Tuva Rock", editado em 2005. Esta banda originária da república russa de Tuva (região situada a sudoeste da Sibéria) foi fundada em Moscovo em 1991 pelo vocalista e guitarrista Albert Kuvezin e pelo compositor electrónico russo Ivan Sokolovsky. Farto de cantar temas xamânicos em grupos típicos como os Huun-Huur-Tu, Kuvezin decidiu então juntar a música moderna do Ocidente com a tradicional do seu país. O duo adoptou o nome de Yat-Kha (lê-se iát-rá), em alusão a uma espécie de pequena cítara da Ásia central semelhante à guzheng chinesa. Aos instrumentos tradicionais juntam-se então as guitarras eléctricas, os instrumentos electrónicos e outros inventados pelo grupo. Com a energia do rock, a banda rejuvenesceu uma das mais extraordinárias tradições vocais do mundo, criando distorções e dissonâncias que se aproximam do punk e do metal. As melodias e ritmos são acompanhados pelas três vocalizações básicas do canto polifónico da Tuva: o khoomei, o kargyraa e o sygyt. Técnica outrora muito utilizada pelos povos da Ásia central para imitar os sons da natureza, e em que uma única voz consegue emitir várias notas em simultâneo.

Jorge Costa

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