sábado, 20 de janeiro de 2007

Emissão #35 - 20 Janeiro 2007

A 35ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 20 de Janeiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 22 de Janeiro, entre as 19 e as 20 horas, sendo reposta três semanas depois (10 e 14 de Fevereiro) já nos novos horários (sábados, entre as 17 e as 18 horas, e quartas-feiras, entre as 21 e as 22 horas).

"Westindie", Schäl Sick Brass Band
(Alemanha) - brass band, jazz, folk
Os Schäl Sick Brass Band a abrirem a emissão com o tema "Westindie", um hipnótico instrumental indiano extraído do álbum “Tschupun”, editado em 1999. O grupo surgiu em Colónia, capital cultural da província da Renânia e fortaleza mediterrânica da Alemanha. Um dos muitos emigrantes e visitantes de todo o mundo que a encheram de sons coloridos foi Raimund Kroboth, que em 1977 se instalou na margem direita do Reno. No dialecto local, aquela parte da cidade é conhecida precisamente por "Schäl Sick" (lado errado). Isto porque está do lado contrário à catedral e ao centro de Colónia, e porque é um enclave protestante na católica Renânia. Partindo de uma secção de ritmo que tem por base a tuba, a cítara popular e as percussões, os Schäl Sick Brass Band utilizam o som das fanfarras da região alemã da Bavaria e da Boémia checa para explorarem com inovação e versatilidade a música de outras culturas. Eles combinam elementos de jazz com o rock, o funk, o hip-hop o rap ou a folk. Um universo sonoro influenciado pela Europa central e de Leste e pelo norte de África, onde convivem ritmos cubanos, gregos, latinos, africanos e orientais, e instrumentos de todo o mundo - tavil, kanjira, dhol, dolki, omele, sekere, gangan, thereminvox, entre muitos outros. Um ambiente festivo em que se celebra a música de todo o planeta e onde o lema é "pensar global, soprar local"...

"Teu Nome, Amarante", Luar Na Lubre
(Espanha) - celtic folk
A jornada musical prossegue com os embaixadores da folk celta contemporânea. Naturais da Corunha, os Luar Na Lubre trazem-nos o tema “Teu Nome, Amarante”, extraído do álbum “Saudade”, editado no ano passado. Amarante é o nome de várias aldeias galegas, muitas delas abandonadas por causa do envelhecimento e da emigração. Uma música onde este nome representa também o idioma galego, uma das ligações mais importantes da Galiza a Portugal e ao Brasil. Com nove trabalhos editados, os Luar na Lubre defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem fecharem portas às influências externas. O grupo aposta agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de dois anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"Terra de Ninguém",
Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk
As músicas do mundo continuam com os Gaiteiros de Lisboa, que nos trazem o tema “Terra de Ninguém”, retirado do álbum “Macaréu”, compilação editada em 2000. Uma música escrita e cantada por Carlos Guerreiro, a quem se junta Pacman, dos Da Weasel, fundindo o hip-hop com a folk. Neste álbum, o grupo traz-nos ladaínhas populares ou os poemas de Fernando Pessoa, Alexandre O'Neill e Amélia Muge. Desde 1991 que os Gaiteiros de Lisboa criam de forma inovadora música tradicional portuguesa, baseando-se nas tradições vocais, nos ritmos do tambor e na sonoridade das gaitas e flautas, que dão à sua música um ar medieval. Os músicos deste grupo, que utilizam ainda a sanfona, a trompa, a tarota (oboé catalão) e o clarinete, têm colaborado em projectos de rock, jazz ou música clássica com José Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino, Amélia Muge, Carlos Barretto, Rui Veloso, Sétima Legião ou Adufe. O seu experimentalismo constante leva-os a reinventar ou criar instrumentos como os “túbaros de Orpheu” (aerofone múltiplo de palhetas simples), a “cabeçadecompressorofone” (aerofone de percussão) ou o “clarinete acabaçado” (aerofone de palheta simples). Juntam-se-lhes ainda os cordofones, os flautões (aerofones de arestas) e o sanfonocello (sanfona baixo). Criando um ambiente de festa, recheado de sons desconhecidos e de percussões populares, os Gaiteiros de Lisboa ressuscitaram o gosto por uma certa música portuguesa de raiz tradicional, arrastando para os seus concertos verdadeiras multidões de pessoas a quem estas músicas pouco ou nada diziam.

"Justice", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae
De regresso, mais uma vez, ao programa, Tiken Jah Fakoly apresenta-nos agora o tema "Justice", extraído do álbum “Françafrique”, gravado em Kingston, na Jamaica, e editado em 2002. Trabalho em que se destacam as colaborações de Anthony B, U-Roy (cuja voz acompanha Fakoly neste tema) e Yaniss Odua, e onde o rebelde tranquilo recupera títulos antigos, reflectindo sobre a situação sócio-política do seu país. Figura de proa do reggae do oeste africano, Tiken Jah Fakoly faz uma ponte com a Jamaica e mergulha na tradição mandingo, sem no entanto deixar de permanecer ligado ao urbano. De etnia malinké, Fakoly é descendente do chefe guerreiro Fakoly Koumba Fakoly Daaba e membro de uma família de griots, tradicionalmente vistos como os depositários da tradição oral de uma família, povo ou país. Obrigado a viver entre o Mali e a França, o porta-voz da jovem geração da Costa do Marfim ataca os regimes de alguns presidentes africanos, denunciando a injustiça, a corrupção e as desigualidades que todavia subsistem naquele continente. Fakoly canta em francês, inglês e dioula, a língua da sua etnia, falada no norte da Costa do Marfim, Guiné-Conacri, Mali e Burkina-Faso.

"Riongere", Oliver 'Tuku' Mtukudzi (Zimbabué) - tuku music
A viagem prossegue com Oliver 'Tuku' Mtukudzi e o tema "Riongere", retirado do álbum "Tuku Music", lançado em 1999. Figura emblemática da música urbana africana e uma das maiores estrelas do Zimbabué, o cantautor e guitarrista Oliver Mtukudzi criou um género único chamado tuku. Uma aliança dos ritmos da África austral, com influências da mbira, do mbaqanga sul-africano, da zimbabueana jit music, do katekwe, do urban zulu, das percussões dos Korekore, o seu clã, e dos temas tradicionais shona, etnia que corresponde a três quartos da população do Zimbabué. Oliver Mtukudzi começou a sua carreira em 1977 ao juntar-se aos Wagon Wheels, grupo lendário de que também fazia parte o poeta revolucionário Thomas Mapfumo. Foi com músicos desta banda que ele formaria os Black Spirits. Com a independência do seu país, Oliver torna-se produtor e consegue editar dois álbuns por ano – a lista já vai nos 35 trabalhos de originais. Pelo seu carácter inovador e pela voz generosa, a música de Oliver Mtukudzi distingue-se facilmente dos outros estilos do Zimbabué. Um artista popular pela capacidade de abordar os problemas económicos e sociais do seu povo, e de seduzir o público com um humor contagioso e optimista.

"Jhullay Lal", Sajjad Ali
(Paquistão) - sufi music, ethno pop
Seguimos agora até ao Paquistão, país cuja herança musical é partilhada com o norte da Índia. Sajjad Ali traz-nos então o tema “Jhullay Lal”, retirado do álbum “Aik Aur Love Story”, lançado em 1998. Um hino sufi de exaltação, a que foram adicionadas as batidas pop e os ritmos de dança. Uma música incluída no álbum produzido pelo cantor e actor, trabalho que foi também a banda sonora do filme do mesmo nome, o primeiro realizado por Sajjad Ali. Pioneiro da música pop no Paquistão, Sajjad Ali alcançou a fama no final da década de 80, destacando-se como um dos poucos cantores do género com um passado ligado ao canto clássico, uma experiência que dá às suas canções populares uma inconfundível profundidade e textura. Na sua aprendizagem, Sajjad tocou músicas de lendários artistas clássicos como Ustad Bade Ghulam Ali Khan e Ustaad Barkat Husain, familiarizando-se com instrumentos e estilos musicais como a raga, o que lhe permitiu construir uma carreira sólida e ser hoje um cantor aclamado. Para além do cinema, este tem vindo a participar em séries dramáticas. Uma ligação à indústria que já vem da família, isto porque o seu pai era um reconhecido actor e os irmãos Lucky Ali e Waqar Ali também têm carreiras musicais. Numa altura em que os ritmos da bhangra estavam na ordem do dia na música pop paquistanesa, Sajjad Ali teve a ousadia de se aventurar na criação de baladas e temas menos ritmados. Hoje retorna mais ao ambiente clássico, fazendo-se no entanto acompanhar de amostras de jazz e de batidas sufi.

"Khalouni", Cheb Mami
(Argélia) - pop-raï, hip-hop, rock, funk
Cheb Mami traz-nos uma versão do tema “Khalouni” (Deixa-me), retirada do álbum “Dellali” (A Amada), o qual foi editado em 2001. Trabalho onde este mistura uma série de linguagens e influências sonoras, que vão da música africana ao house, flamenco e reggae, e em que são convidados, entre outros, Charles Aznavour, Ziggy (filho de Bob Marley), o famoso guitarrista Chet Atkins ou o London Community Gospel Choir. Um álbum sofisticado e expansivo, onde os registos vocais de Cheb Mami e dos restantes músicos são acompanhados por instrumentos como o acordeão, as guitarras acústica e eléctrica, o baixo, o violino, o violoncelo, o alaúde ou a debourka. Paralelamente às origens de géneros ocidentais como o rock & roll, o punk e o hip-hop, o raï surgiu na Argélia como uma forma de arte recreativa e minoritária. No entanto, depressa ganhou contornos políticos, destacando-se cada vez mais não só pela popularidade, ma sobretudo pela sua controvérsia. Um dos renovadores deste estilo musical, marcado pela atitude provocativa e pela expressão rebeliosa da juventude argelina, foi precisamente Cheb Mami. Refugiado em Paris durante duas décadas, foi aí que este foi construindo a sua carreira, misturando o raï com a dança, o hip-hop, o funk e o rock. Conhecido em grande parte devido à colaboração de Sting no seu tema “Desert Rose”, que se tornou um sucesso em todo o mundo, Cheb Mami pretende então universalizar este género tradicional, abrindo-o às influências ocidentais, sem no entanto perder a suas raízes argelinas.

"Saudade",
Elisete (Brasil) - world electro, bossa nova, samba, forró, baião
A fechar o programa, despedimo-nos com Elisete e o tema “Saudade”, remisturado por Alon Ohana e extraído do álbum “Elisete – Remixes”, editado no passado mês de Dezembro. A compositora, que diz cantar para alegrar as pessoas do mundo, nasceu no Brasil mas desde 1991 que vive em Israel. Enquanto que no primeiro disco enveredava pela bossa nova, samba, forró, baião e por outros ritmos ecléticos, no seu segundo trabalho as suas raízes brasileiras abriram-se finalmente ao mundo. Dois temas seus foram mesmo incluídos na banda sonora do filme israelita “Há Bua” (A Bolha). Agora é a vez das canções em português, acompanhadas por sons electrónicos. Neste seu terceiro álbum, ela apresenta-nos uma colectânea das canções presentes em “Luar e Café” e “Saudade”, desta feita remisturadas por DJ’s e produtores de música electrónica israelitas. Apesar da maioria das suas letras serem em hebraico, o ritmo brasileiro está sempre presente, razão pela qual a música de Elisete tem uma grande aceitação. Nas canções, grande parte da sua autoria, Elisete tenta conciliar o espírito alegre e descontraído do Brasil com a difícil e dura realidade de Israel.

Jorge Costa

2 comentários:

marialascas disse...

Passei por aqui. Que pena essa rádio não chegar até aqui! Sou fã do Cheb Mami

Jorge Costa disse...

Em alternativa, pode sempre escutar as emissões do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO em podcast, disponibilizadas neste próprio blogue. Boas escutas!