quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Emissão #59 - 23 Fevereiro 2008

A 59ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 23 de Fevereiro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 27 de Fevereiro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (15 e 19 de Março) nos horários atrás indicados.

Um programa especial onde se destaca a entrevista exclusiva a Mari Boine, realizada a 15 de Fevereiro no Teatro Municipal da Guarda, a propósito do regresso a Portugal da cantora norueguesa.


"Höyhensarjan Maailmamestari", Tuomari Nurmio & Alamaailman Vasarat (Finlândia) - progressive folk, punk, rock
Tuomari Nurmio e os Alamaailman Vasarat inauguram a emissão com “Höyhensarjan Maailmamestari”, tema do álbum conjunto “Kinaporin Kalifaatti”, editado em 2005. Tuomari Nurmio, nome artístico de Hannu Juhani Nurmio, nasceu em Helsínquia e é um dos mais originais cantautores finlandeses. Da música country e dos blues, às reminescências de Tom Waits, são impressões ora românticas, ora humorísticas, que Tuomari (“juíz”, em finlandês, alcunha adoptada desde que este se formou em Direito) combina com expressões peculiares, metáforas e vernáculo quanto baste. Depois do duo de guitarra e bateria com Markku Hillilä, surge agora a colaboração com os Alamaailman Vasarat (Martelos do Submundo) numa mistura que combina melodia, harmonia e ritmo. Criados em 1997 também em Helsínquia por dois membros do grupo de rock progressivo Höyry-Kone - o percussionista Teemu Hänninen e o guitarrista Jarno Sarkula, que então comprou um saxofone soprano -, os Vasarat são um projecto acústico cheio de humor e energia. A banda – a que se juntam Miikka Huttunen, Marko Manninen, Tuukka Helminen e Erno Haukkala - apresenta-se como uma combinação de world music ficcional oriunda do seu próprio continente imaginário, a Vasaraasia, com elementos de heavy metal, jazz e música klezmer. Uma folk progressiva situada algures entre o chamber rock, o ethnic brass punk e o kosher-kebab jazz. São climas sombrios e texturas densas numa original mistura de timbres baseada em instrumentos de sopro (trombone, clarinete e saxofone soprano), no violoncelo, no piano e no órgão, mas também em instrumentos como o didgeridoo e o shenhai (espécie de oboé indiano). Ritmos acelerados e frenéticos a provarem que no rock não são necessárias guitarras eléctricas.

"Kounoun", Kaouding Cissoko (Senegal) - kora music, mandingo
O senegalês Kaouding Cissoko regressa ao programa com "Kounoun", tema extraído do seu único disco a solo, editado em 1999. Em “Kora Revolution”, trabalho lírico e introspectivo produzido pelo baixista Ira Coleman, o virtuoso da kora (espécie de harpa de 23 cordas da África Ocidental, cuja caixa de ressonância é uma cabaça) mistura este instrumento e a tradição mandingo com a sofisticada pop senegalesa dos Daande Lenol (banda do conhecido Baaba Maal, a que se juntou em 1991) e outros géneros africanos. Uma sonoridade que havia já sido cruzada com o flamenco por Toumani Diabaté, com o jazz pelo Kora Jazz Trio, ou ainda com o rock por Ba Cissoko. O resultado é uma folk onde se destacam as harmonias vocais femininas e uma secção rítmica complexa construída a partir das sonoridades do djembé, da tama (tocado com um pau, o “tambor falante” deve o nome ao seu timbre variável), do sabar (tambor tradicional senegalês), do balafon (instrumento sul-africano, percussor do xilofone, cuja ressonância se deve a um conjunto de cabaças), da guitarra, da flauta ou do baixo. Falecido em 2003, vítima de tuberculose, Kaouding Cissoko, fazia parte de uma grande família de tocadores de kora. Por diversas vezes que tocou com os Afro-Celt Sound System ou com músicos como Salif Keita, Nusrat Fateh Ali Khan, Michael Brook, Mansour Seck ou Ernest Ranglim - estes dois últimos convidados especiais neste trabalho familiar onde participaram ainda o pai de Cissoko, as suas sobrinhas Mamy e Sokhna e a irmã Binta.

"Pimpin' For The Muse", Tuatara (EUA) - funk, jazz, rock, lounge
Os Tuatara trazem-nos “Pimpin' For The Muse”, tema extraído do seu terceiro álbum “Cinematique”, editado em 2001. Um trabalho instrumental com contornos cinematográficos, onde são reunidas várias jam sessions em que a banda, aqui alargada aos onze elementos, utiliza instrumentos exóticos como o didgeridoo, os tambores de aço, as percussões africanas, o bandolim e o alaúde. Sons étnicos que rapidamente ganham ritmo e percussão, e que resultam da mistura de referências que vão da música asiática ou libanesa à folk ocidental, com o rock, o bebop, o jazz, o funk ou o lounge. Entretanto, os Tuatara têm vindo a cruzar a instrumentação exótica com as misturas electrónicas de vários DJ's. Este colectivo de compositores norte-americanos, criado em 1997 em Seattle, começou por ser um projecto de amigos com vista à composição de bandas-sonoras para cinema e televisão, mas rapidamente deu lugar a um novo grupo. Pela formação, de que hoje fazem parte Peter Buck e Scott McCaughey, Joe Cripps, Craig Flory, Barrett Martin e Elizabeth Pupo-Walker, passaram ao longo dos anos elementos dos R.E.M., The Minus 5, Critters Buggin, Screaming Trees, Luna ou Los Lobos. A título de curiosidade, registe-se que a tuatara - nome que em maori significa "dorso espinhoso" - é um réptil da Nova Zelândia, praticamente extinto, e que pouco mudou nos últimos 220 milhões de anos.

"Sukkar", Wafir (Sudão) - afropop, soukous, sephardic
A viagem continua com Wafir e “Sukkar” (Açúcar), tema retirado do álbum “Nilo Azul”, rio a que o multinstrumentista dedica o seu primeiro disco a solo, lançado em 2002. Um tributo aos seus conterrâneos sudaneses, em particular à voz açucarada e aos sorrisos de mel deste povo, onde colaboram Mariem Hassan, Nayim Alal, Iain Ballamy, Josete Ordoñez, Pedro Esparza, Vicente Molino, Ivo e Nasco Hristov, Sebatián Rubio, Salah Sabbagh, entre outros músicos. Wafir S. Gibril explora então a tradição oral do seu país numa viagem pelo longo braço de água em que se condensam séculos de civilização. Improvisos e ritmos complexos árabes, à mistura com harmonias de jazz e melodias celtas, flamencas e búlgaras, os quais têm por base instrumentos como os bongos sudaneses (possuem três tambores em vez de dois), o saz (alaúde mediterrânico), o rabab (cordofone de arco afegão), a viola, o bendir, o pandeiro ou as krakebs (espécie de grandes castanholas metálicas, base rítmica do gnawa). O virtuoso do violino ou do oud (alaúde árabe), que hoje vive em Madrid, começou por tocar acordeão nos Abdul Aziz Almubarak, Mohammad Al Amin e Abdul Karm Al Kably, formando mais tarde o grupo Kambala. Membro dos Radio Tarifa e do ensemble madrilenho La Banda Negra, ao longo da sua carreira Wafir tem vindo a compor temas para filmes como o conhecido “Finisterra”. Da longa lista de colaborações com outros artistas fazem parte a sua irmã Rasha ou nomes como Eduardo Paniagua, Hevia, La Musgaña, Joaquín Ruíz, Djanbutu Thiossane e Amistades Peligrosas.

"Mirant Les Notícies", Cheb Balowski (Espanha) - pachanga, raï, gnawa, rock
Seguem-se
os catalães Cheb Balowski com “Mirant Les Notícies”, tema que faz parte do álbum “Plou Plom” (Musiqueta Que Enamora), editado em 2005. Terceiro trabalho do grupo, produzido por Stephane Carteaux (baixista dos Color Humano), e em que participam alguns elementos dos americanos Kultur Shock e dos franceses Radio Bemba. A designação da banda resulta da junção dos termos Cheb ("o jovem", em árabe), complemento habitual nos nomes dos cantores de raï argelinos, e Balowski (em polaco, o verbo balować significa "divertir-se bailando"), apelido do emigrante de Leste interpretado por Alexei Sayle na série de televisão inglesa “The Young Ones”. Formados em 2000 em Barcelona, depois de uma infância comum no bairro de Raval, os Cheb Balowski integram uma dezena de músicos - eles são Yacine Belahcene Benet, Isabel Vinardell Fleck, Marc Llobera Escorsa, Santi Eizaguirre Anglada, Jordi Marfà Vives, Daniel Pitarch Fernández, Jordi Ferrer Savall e Arnau Oliveres Künzi, Jordí Herreros e Sisu Coromina. Cantando em castelhano, catalão, francês e árabe, eles cruzam a música catalã e a cultura mediterrânica com a energia do raï, do gnawa, do reggae e do rock. Um ambiente festivo, que vai do flamenco e da pachanga aos ritmos balcânicos, árabes, africanos e mediterrânicos, assente na sonoridade de violinos, saxofones, trompetes, piano, bateria, acordeão, guitarra, baixo e todo o tipo de percussões.

"Liegga Gokčas Sis", Mari Boine Persen (Noruega) - joik, jazz, blues
A norueguesa Mari Boine Persen destaca-se nesta emissão com o tema “Liegga Gokčas Sis” (Num Manto de Calor), extraído do álbum “Eight Seasons”, lançado em 2003. Disco com arranjos que se concentram nos ambientes electrónicos, produzido por Bugge Wesseltoft, e onde colaboram, entre outros, os músicos Jah Wobble, Bill Laswell, Jan Garbarek e Juan Carlos Quispe. Nascida em Gámehisnjárga, Mari Boine tem lutado pela preservação das tradições e pelo reconhecimento dos direitos dos seus compatriotas sami, os habitantes da Lapónia, território situado no norte da Escandinávia. Mari Boine cresceu numa altura em que ainda era proibido falar o dialecto sami nas escolas e cantar o joik (yoik em inglês). Graças à pesada herança da colonização cristã, o canto mais característico dos sami foi durante muito tempo visto como a música do diabo. Uma veia xamânica, assente numa escala pentatónica, da qual Mari Boine e o seu ensemble herdaram o ritmo, as batidas e a espiritualidade, lembrando os tempos em que o homem estava mais próximo da natureza. A voz mística da embaixadora dos sami, que canta também em inglês, mistura então o joik com os blues, o jazz, a pop, o rock e mesmo a música electrónica. Acompanhados pela flauta, saxofone, guitarra baixo e bateria, são sons vocalizados, e por isso mesmo mais entoados que cantados, onde se evocam a beleza da terra e das montanhas, o sol da meia-noite nos meses de Verão ou as tradições pré-cristãs.

"Pitt Bull de Bologna", Chalart58 (Espanha) - reggae, jungle, hip-hop
Despedimo-nos com “Pitt Bull de Bologna”, tema retirado do primeiro disco a solo de Chalart58 “Recording”, editado em 2007. Trabalho misturado e produzido num estúdio móvel pelo próprio baterista e percussionista de Barcelona, membro dos La Kinky Beat, e que no currículo conta ainda com a participação em projectos como os Radio Bemba, Jaleo Real ou Fermin Muguruza - Euskal Herria Jamaica Clash. Dos encontros casuais que durante dois anos Chalart58 teve com muitos amigos resultou um conjunto de temas instrumentais e riddims (ritmos da música jamaicana), inspirados em géneros que vão do reggae e do funk ao hip-hop, e cuja base instrumental é encabeçada pela tríade eléctrica das guitarras, baixos e teclados. Sendo cada tema interpretado por um vocalista diferente, o leque de colaborações neste álbum é bastante alargado, destacando-se a presença de cantores e músicos como Matahary e Willy Fuego (La Kinky Beat), Rude (Barrio Beat), Hernan “Lucky” (Mamamilotas), Sito (Jaleo Real), Marco Fonktana (Aerolineas Subterraneas), David Bourguignon (Radio Bemba), Rubio (Nour), Arecio Smith (Asstrio), Marcel El Lipi (Ranking Soldiers), Sorkun, Dreadga ou os Bad Sound System.

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