sexta-feira, 4 de abril de 2008

Emissão #62 - 5 Abril 2008

A 62ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 5 de Abril, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 9 de Abril, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (26 e 30 de Abril) nos horários atrás indicados.

Um programa especial, onde se destaca a entrevista exclusiva aos Kumpania Algazarra, a propósito do lançamento do primeiro álbum da fanfarra portuguesa.

"Mescufurus", Red Cardell (França) - folk-rock
Os Red Cardell a abrirem mais uma emissão com “Mescufurus”, tema retirado do álbum “Sans Fard”, sétimo trabalho da banda, editado em 2003. Originários da cidade francesa de Quimper, eles são uma das mais conhecidas bandas tradicionais da Bretanha. O grupo, formado em 1992 e de que hoje fazem parte Jean-Pierre Riou, Jean-Michel Moal e Manu Masko, começou por tocar em bares. Surgidos no movimento do rock bretão, e à margem da nova vaga celta, os Red Cardell decidiram então fundir as danças e os cantos tradicionais da Bretanha com ritmos da Europa de Leste, da América do Sul ou do norte de África. Uma viagem em que géneros como a folk berbere e ucraniana, o tango, o reggae, a dub, o funk ou o java se juntam com influências diversas que vão do punk rock anglo-saxónico ao rap e ao techno. Geografias sonoras à mistura com textos poéticos em inglês e francês, os quais abordam temas recorrentes no blues, na chanson française ou no gwerz (canto bretão a capella onde se aborda o quotidiano). Um ambiente festivo multi-étnico que tem por base instrumental o acordeão, a bombarda bretã, a flauta, as guitarras acústica e eléctrica, a bateria ou os sintetizadores.

"Te Kambian Los Tiempos", Biella Nuei (Espanha) - spanish folk
As músicas do mundo prosseguem com os Biella Nuei e o tema "Te Kambian Los Tiempos", uma polca apresentada ao ritmo do rockabilly e extraída do disco “Sol D’Iberno”, lançado em 2006. Trabalho produzido por Juan Alberto Arteche, e que encerra a triologia iniciada com “Las Aves Y Las Flores” (1994) e “Solombra” (1998), abrindo portas a uma fase mais criativa no percurso deste grupo fundado por Luís Miguel Bajén na década de 1980. Álbum optimista e alegre, onde os Biella Nuei se abrem às percussões das culturas andaluza ou latina, e que conta com a participação de músicos como Eliseo Parra ou La Ronda de Boltaña. Nos primeiros anos, o septeto centrou-se no estudo e divulgação da tradição oral aragonesa, no desenvolvimento de repertório próprio e no fabrico de instrumentos como a gaita de boto, o saltério, o pífaro ou a dulzaina. Hoje permanece a variedade de instrumentos, melodias e ritmos tradicionais populares daquela região (jota, pasacalle ou tarantaina), mas a free folk da banda, mestiçagem étnica sempre ligada aos movimentos sociais, cruza-se com outras culturas, deixando-se influenciar, entre outros géneros, pelos blues, pela rumba, pela choutiça ou pela soul cubana. Nas suas peregrinações sonoras, os Biella Nuei, que em palco se apresentam ainda com uma formação mais pequena - os Bufacalibos -, têm vindo a tocar com Carlos Núñez, Cristina Pato, Chico Sánchez Ferlosio, Kepa Junkera, Mauricio Martinotti, The Oysterband ou os Gwendal.

"Charrada del Tío Frejón", La Musgaña (Espanha) - spanish folk
Os La Musgaña de regresso ao programa, desta feita com “Charrada del Tio Frejón”, tema retirado do álbum "Temas Profanos”, editado em 2003. O sexto disco do grupo conta com as colaborações de Carmen Paris, Joaquín Díaz, David Mayoral e Pablo Martín. Em 1986, Enrique Almendros, até então intérprete de música celta, José María Climent e Rafael Martín decidiram formar um grupo centrado na tradição musical da meseta castelhana. Ainda nesse ano, juntaram-se-lhes o flautista Jaime Muñoz e o baixista Carlos Beceiro, únicos elementos que hoje permanecem no quinteto composto ainda por Diego Galaz, Jorge Arribas e Sebastián Rubio. Das melodias de dança às canções de amor, passando pela música para casamentos, os La Musgaña apresentam-nos uma ampla visão musical de uma zona marcada pela herança europeia, africana e mediterrânica. Por entre os temas evocativos destacam-se os ofertórios religiosos, as charradas, ajechaos e charros de Salamanca e Zamora, os bailes corridos de Ávila, os pindongos de Cáceres e as danças, aires e canções de León ou Burgos, ou as jotas, rogativas, dianas e villancicos de Madrid, Segovia e Valladolid. Uma celebração da música tradicional espanhola, à mistura com influências ciganas, mouriscas e celtas, em que os ritmos hipnóticos se constroem com toda uma gama de instrumentos tradicionais (gaita charra, gaita sanabresa, flauta, tamboril, cistro ou sanfona), étnicos (cajón, tar, krakeb, pandeiro iraniano, derbouka, bouzouki, req, sabar, tinajas, bendir ou marímbula) e modernos (clarinete, acordeão diatónico, saxofone soprano, baixo ou violino).

"Sangaré (Nikodemus Remix)", Vieux Farka Touré (Mali) - afropop, blues
A jornada continua com Vieux Farka Touré e “Songaré”, versão remisturada pelo DJ Nikodemus, e que ao ritmo da house se apresenta com um sabor a merengue e a soukous. Parte integrante do álbum “Vieux Farka Touré Remixed: Ufos Over Bamako”, produzido por Derek Beres e lançado em 2007. Neste trabalho, DJ’s como Cheb I Sabbah, Karsh Kale ou Yossi Fine levam para as pistas de dança a afropop – desde sempre misturada com outras sonoridades – e as melodias acústicas africanas do músico do Mali, talentoso vocalista, guitarrista, percussionista e tocador de cabaça. Nickodemus estreou-se no início da década de 1990, combinando reggae, hip-hop e breakbeat numa antiga pista de gelo junto ao rio Hudson, em Manhattan. Mais tarde, mudava-se para o Lower East Side, bairro nova-iorquino onde as influências latinas têm maior protagonismo. Inspirado pela música de Ali Farka Touré, o lendário bluesman falecido em 2006, Vieux (“velho”, em francês, em alusão ao avô) Farka (“burro”, metáfora adequada à sua teimosia) Touré acabaria por contrariar o pai, inicialmente avesso à carreira musical do filho. Depois da passagem pelo Instituto Nacional de Artes, em Bamako, o mestre da kora Toumani Diabaté convida o jovem a integrar o seu ensemble e a viajar pelo mundo. Em 2005, o baixista norte-americano Eric Herman produz o seu álbum de estreia, onde contaria com as participações de Ali e de Diabaté. Hoje, Vieux Farka Touré segue o caminho trilhado na guitarra pelo progenitor, acrescentando à tradição musical do Mali elementos ocidentais e referências do reggae, rock e blues.

"Bali Maou", Amadou & Mariam (Mali) - bambara blues, afro pop
A dupla Amadou & Mariam apresenta-nos “Bali Maou”, tema extraído do seu terceiro álbum “Tje Ni Mousso” (Homem e Mulher), editado em 1999. Um blues eléctrico, recheado de ritmos africanos, batidas funky e riffs de guitarras, onde se podem encontrar influências inesperadas como o cavaquinho de Pedro Soares. Naquela que é a mais roqueira pop africana, não faltam as habituais alusões ao quotidiano do seu país e as letras que apelam à paz, ao amor e à justiça. Mariam Doumbia começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou Bagayoko era guitarrista nos Les Ambassadeurs, banda lendária a que mais tarde se juntou Salif Keita. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 no instituto de cegos de Bamako, a capital do Mali. A partir de então tornaram-se inseparáveis na música e na vida. Amadou & Mariam prestam então homenagem à música tradicional maliana, revestindo-a de sons ocidentais. Cantando em francês, castelhano e no seu dialecto original, estes bambara (etnia maioritária no Mali) vão buscar referências musicais à sua adolescência: a pop, o rock psicadélico e a salsa dos anos 60, e o funk e a soul da década seguinte. Uma forma de recordarem não só as suas raízes mandingo, mas também as ligações do Mali ao gnawa, à música cubana e ao jazz, tornando universal a música daquele país.

"Skabicine", Kumpania Algazarra (Portugal) - brass band, ska, world fusion
Os Kumpania Algazarra trazem-nos “Skabicine”, tema retirado do seu primeiro álbum de originais, resultado das andanças pelo país e pela Europa onde a caravana contaminou e se deixou contaminar por outros garimpeiros como os Blasted Mechanism, os Terrakota ou as Tucanas. Produção própria baptizada com o nome do grupo, lançada em Fevereiro e cuja festa de apresentação está agendada para o dia 11 de Abril, em Lisboa. Surgidos em Sintra em 2004, os Kumpania Algazarra tocam e cantam em várias línguas (entre elas o português), fazendo-se acompanhar pelos ritmos ciganos balcânicos, árabes, latinos ou africanos, aliados à afrobeat, folk, reggae, funk, ska, son, swing, klezmer, gnawa ou rock. Um ambiente festivo onde a banda abre espaço para temas caros à sociedade como a guerra, a pobreza ou a imigração. Os nove jovens músicos (Francisco Amorim, Helder Silva, Hugo Fontainhas, Luís Barrocas, Luís Bastos, Pedro Pereira, Ricardo Pinto, Rini Luyks e o convidado Willi Kirsch), vagueiam em sonora algazarra pelas músicas dos cinco continentes, transformada numa festa ambulante ao estilo das fanfarras europeias. A 6 e 20 deste mês eles estarão nas FNAC’s de Cascais e Alfragide, respectivamente. Ainda em Abril, seguem-se os concertos no Montijo (dia 24), no Maxime, em Lisboa (dia 25) e na Semana Académica de Tomar (dia 30). Já em Maio, os Kumpania Algazarra vão estar no Festival Artis, em Seia (dia 10), Tavira (dia 17), Sesimbra (dia 21) e na Festa da Música e do Cinema, em Braço de Prata (dia 22).


"Malanka", Haydamaky (Ucrânia) - carpathian ska, ukranian dub machine, hutzul punk
Despedimo-nos com os ucranianos Haydamaky e “Malanka”, tema extraído do seu segundo disco “Kobzar”, lançado este ano, e onde a banda conta com as colaborações dos polacos Pidzama Porno e dos Zion Train, os reis do raggamuffin. Os Haydamaky levam-nos de novo pelos caminhos do ska das montanhas dos Cárpatos, do reggae, do punk hutzul e da dub machine, misturando-os com a folk ucraniana, o rap e o rock’n’roll. Após o colapso da União Soviética e a independência da Ucrânia, um grupo de estudantes criava a banda Aktus, que rapidamente conquistou um lugar de destaque no underground musical de Kiev. No início do novo século, em honra à rebelião histórica do século XVIII, eles decidiram mudar o nome para Haydamaky. Para além dos espectáculos que têm feito em toda a Europa de Leste, em 2004 apoiaram a revolução laranja que mobilizou o país, tendo um dos seus temas sido muito rodado nas estações de rádio alternativas. Música que assenta na combinação de raízes ucranianas com standards europeus, uma fórmula caracterizada pela energia turbulenta e por uma montanha russa de melodias.


Jorge Costa

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