"Indá Pastores", Fadomorse (Portugal) - folk, world fusion
Os Fadomorse inauguram o programa com “Indá Pastores”, tema que faz parte do seu terceiro álbum de originais “Folklore Hardcore”, editado este ano. A banda transmontana, criada em 2000 na cidade de Mirandela, explora os timbres dos instrumentos tradicionais (acordeão, flauta transversal, gaita de foles, cavaquinho, viola braguesa ou guitarra portuguesa) e a riqueza harmónica e melódica do cancioneiro nacional, acrescentando-lhes no entanto novas tendências e sonoridades. Sons que o grupo de sete elementos descreve como sendo uma fusão da raiz popular portuguesa com a melhor música do mundo, mas que não estão necessariamente associados a estilos ou géneros específicos. Influenciados por nomes como Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Gentle Giant, Frank Zappa ou Mr Bungle, os Fadomorse apresentam um conjunto ritmado de inéditos e arranjos, cantados nos vários sotaques do país, da Madeira aos Açores, sem esquecer o Alentejo. Aventuras sonoras onde eles têm contado com as colaborações de Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), Abel Beja (Primitive Reason) ou Peixe (Pluto). A 24 Abril, os Fadomorse vão estar em Santa Iria da Azóia. Já em Maio, eles tocam no D’Orpheu, em Águeda (dia 2), rumando depois até ao Festival Ollin Kan, na Cidade do México (dias 5, 9 e 11).
"Lagos Sisi", Bola Johnson (Nigéria) - highlife, afrofunk, pajoka
As músicas do mundo prosseguem com Bola Johnson e "Lagos Sisi", história de uma rapariga do campo (sisi é uma expressão atribuída a uma jovem atraente) que vai para a cidade e se comporta de uma forma que certamente não agradaria aos pais. Uma provocação sonora onde a pop ocidental se funde com comentários sociais e amostras do highlife. O tema pertence ao álbum “Lagos Sisi/Jeka Dubu”, lançado em vinil em 1973, fazendo hoje parte da compilação editada trinta e um anos depois “Afro Baby: The Evolution of The Afro-Sound in Nigéria 1970-79”. Convém recordar que afro-man e afro-baby eram os títulos atribuídos àqueles cuja rebelião melhor personalizava uma geração optimista, inspirada pelo movimento dos direitos civis e pelo psicadelismo americano, e comprometida com a procura das suas raízes culturais, depois de uma era colonial em que muitas das suas tradições haviam sido suprimidas. Referência do highlife, tal como a sua banda Easy Life Top Beats, Bola Johnson focou-se na soul de James Brown e numa mistura de highlife, jazz e funk a que chamou pajoka. A fusão criativa e enérgica dos ritmos africanos com estes e outros sons ocidentais como o rock foi aliás um fenómeno em todo o continente, em especial nas cidades e pistas de dança nigerianas. Uma herança legada nos anos 60 por Fela Kuti e Orlando Julius, que então descobriram a pólvora musical africana ao combinarem o highlife com elementos do jazz e do rhythm & blues.
"Leroy", Tweak (Suiça) & Tony Allen (Nigéria) - afrobeat, afrofunk, electronica
Tweak e Tony Allen apresentam-nos “Leroy”, trabalho onde o produtor suiço adapta as percussões jazzísticas africanas às pistas de dança, acrescentando-lhes as melodias das guitarras, pianos e sintetizadores. Tema retirado do álbum “The Allenko Brotherhood Ensemble”, colectânea de remisturas editada em 2001. Um projecto onde os Troublemakers, Cinematic Orchestra, Boozoo Bajou, Jeff Sharel, entre outros, criam uma electrónica minimalista, servindo-se para isso do estilo polirítmico de Tony Allen. Tweak, cujo verdadeiro nome é Cyril Boehler, trabalhou noutras produções do género com Seelenluft ou os Freeform Arkestra, tendo vindo a fazer ainda música para filmes ou anúncios de televisão. Tony Allen foi percusionista e director musical durante uma década dos Africa 70, banda do lendário Fela Anikulapo Kuti. Os dois criaram a afrobeat, resultado do cruzamento do highlife que então efervescia na Nigéria e no Gana com o jazz das big bands, o funk e a soul de James Brown. Já fora da banda, e com o seu próprio grupo, os Egypt 80, Tony Allen desenvolveu então o afrofunk, um novo estilo que combinava a afrobeat com a electrónica, a dub, o rhythm & blues e o rap. De passagem por Londres e Paris, o percussionista nigeriano gravaria com outros artistas africanos como King Sunny Ade, Ray Lema e Manu Dibango, colaborando também com músicos caribenhos ou americanos. Já em 2006, a lenda viva da afrobeat juntou-se aos The Good, the Bad and the Queen. Batidas que Tony Allen irá trazer a Portugal a 1 de Agosto, num espectáculo a realizar no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
"Assouf", Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues
A jornada continua com uma viagem até ao deserto pela mão dos Tinariwen, que nos trazem “Assouf”, tema extraído do álbum “Aman Iman” (Água é Vida), gravado em Bamako e lançado em 2007. Este clã apareceu em 1982 na Líbia num campo de acolhimento de rebeldes tuaregues (povo nómada descendente dos berberes do norte de África e que vagueia entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia), tocando para a comunidade de exilados naquele país e na Argélia. Três jovens encarnam a Ishumaren, a música dos ishumar desempregados, uma geração que sonha com a liberdade e a auto-determinação. São sobretudo melodias tradicionais, inspiradas nas guitarras do norte do Mali ou nos alaúdes (ngoni para os songhai, teherdent para os tuaregues) dos griots, e canções nostálgicas que apelam ao despertar político das consciências e à rebelião da alma. Em 1990, dois elementos dos Taghreft Tinariwen (literalmente, os "reconstrutores dos desertos") integraram o grupo de guerrilheiros separatistas que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira com o Níger, inaugurando um novo conflito com o governo do Mali. Seis anos depois, quando a paz chegou finalmente ao sul do Sáara, voltaram-se apenas para a música do seu povo, em geral acompanhada pelo tindé (instrumento de percussão tocado por mulheres) ou pela flauta t’zamârt. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen, percussores dos blues do deserto, estão presentes também a guitarra eléctrica e a asoüf, solidão característica da poesia tuaregue que, tal como os blues, incorpora um sentimento de desamparo universal.
Os Etran Finatawa regressam ao programa com "Ganyo Maada" (Inveja), parte integrante do seu segundo trabalho “Desert Crossroads”, editado este ano. Em 2004, seis músicos wodaabes e quatro tuaregues, unidos pelo gosto pela música e pelo desejo de paz entre todas as etnias que vivem ou viajam pelo Níger, na fronteira com o Mali, juntaram-se e formaram este grupo. Eles são dois dos lendários grupos étnicos nómadas que vivem na savana do Sahel, no sul do Sáara. Durante milhares de anos, a região foi um ponto de passagem entre os árabes do norte de África e as culturas subsarianas. Enquanto que os wodaabe, de etnia fulani, são conhecidos pelos seus rebanhos e gado, os tuaregues, berberes que falam tamashek, são famosos criadores de camelos. Mesmo tendo culturas e línguas muito distintas, os elementos dos Etran Finatawa (As Estrelas da Tradição) ultrapassaram as fronteiras étnicas e o racismo, trabalhando juntos para construírem um futuro melhor para os seus povos. Eles combinam instrumentos tradicionais e canções polifónicas com arranjos modernos e guitarras eléctricas. O resultado é um cruzamento entre o blues, o rock e o funk, mistura melódica onde se destacam as vozes nostálgicas que descrevem as suas raízes culturais e uma forma de vida cada vez mais relegada para o passado.
"Kamloreja", Esma Redzepova (Macedónia) - gypsy music
Segue-se Esma Redzepova com “Kamloreja”, tema extraído do álbum “Čhaje Šhukarije”, editado em 2001. Trabalho produzido pelo trompetista klezmer Frank London, e que juntou músicos de todo o mundo. Esma nasceu em 1943 numa pequena povoação perto de Skopje, a capital da Macedónia, precisamente a cidade onde Emir Kusturica rodou “O Tempo dos Ciganos”. Na escola, aos 14 anos, a cantautora foi convidada a cantar num concurso da Radio Skopje. Concerto onde conquistou o primeiro lugar e a atenção do músico e futuro marido Stevo Teodosievski. Esma começa então uma tournée com o seu ensemble musical. Num festival no norte da Índia é baptizada como “Rainha dos Ciganos”, alcançando a partir daí grande popularidade. As suas canções, semelhantes às melodias típicas dos Balcãs, são a expressão musical do seu amor pela Macedónia. Uma voz vibrante a que se juntam o violino, o clarinete e o acordeão, sem esquecer as influências da Índia, Pérsia e Espanha, num ambiente alegre e sensual. A diva dos Balcãs tem actuado nos palcos mais importantes do mundo, sendo hoje a grande embaixadora da cultura cigana da Macedónia. Até agora já foram mais de oito mil concertos e 500 canções, o que inclui 108 singles, 20 álbuns e 6 filmes. Nomeada por duas vezes para o prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho humanitário, ela e o seu falecido marido adoptaram 47 dos rapazes órfãos que encontraram nas suas viagens, treinando-os para serem músicos.
Segue-se Esma Redzepova com “Kamloreja”, tema extraído do álbum “Čhaje Šhukarije”, editado em 2001. Trabalho produzido pelo trompetista klezmer Frank London, e que juntou músicos de todo o mundo. Esma nasceu em 1943 numa pequena povoação perto de Skopje, a capital da Macedónia, precisamente a cidade onde Emir Kusturica rodou “O Tempo dos Ciganos”. Na escola, aos 14 anos, a cantautora foi convidada a cantar num concurso da Radio Skopje. Concerto onde conquistou o primeiro lugar e a atenção do músico e futuro marido Stevo Teodosievski. Esma começa então uma tournée com o seu ensemble musical. Num festival no norte da Índia é baptizada como “Rainha dos Ciganos”, alcançando a partir daí grande popularidade. As suas canções, semelhantes às melodias típicas dos Balcãs, são a expressão musical do seu amor pela Macedónia. Uma voz vibrante a que se juntam o violino, o clarinete e o acordeão, sem esquecer as influências da Índia, Pérsia e Espanha, num ambiente alegre e sensual. A diva dos Balcãs tem actuado nos palcos mais importantes do mundo, sendo hoje a grande embaixadora da cultura cigana da Macedónia. Até agora já foram mais de oito mil concertos e 500 canções, o que inclui 108 singles, 20 álbuns e 6 filmes. Nomeada por duas vezes para o prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho humanitário, ela e o seu falecido marido adoptaram 47 dos rapazes órfãos que encontraram nas suas viagens, treinando-os para serem músicos.
"Alili", Fanfare Ciocărlia (Roménia) – gypsy brass band, balkan music
A Fanfare Ciocărlia (“laverca”, em romeno) traz-nos “Alili”, tema retirado do álbum “Gili Garabdi – Ancient Secrets of Gypsy Brass”, lançado em 2005. Esta orquestra de metais, fundada pelo clarinetista Ioan Ivancea (já falecido), é célebre pelo improviso e pela interpretação acelerada de solos de clarinete, saxofone e trompete, por vezes com mais de 200 batidas por minuto. Eles começaram por tocar em cerimónias populares, até que o produtor discográfico e engenheiro de som alemão Henry Ernst (seu actual manager) os descobriu em 1996. Oriundos da aldeia de Zece Prăjini (“Dez Campos”), no nordeste da Roménia, junto à fronteira com a Moldávia, os demónios acelerados do gypsy brass cruzam a tradição balcânica com influências globais, adaptadas ao seu estilo enérgico e festivo. Danças tradicionais romenas e moldavas como a sîrba (“dança” em romeno), a hora (dança de círculo) ou a geamparale (popular dança da região de Dobrogea, caracterizada por ritmos balcânicos e turcos), bem como os ritmos turcos, húngaros, búlgaros, sérvios e macedónios são apresentados ao som de instrumentos de sopro (trompa, tuba, trompete, clarinete, requinta, saxofone e corneta) e percussão (tímpano e bombo, tarola e bongo). Juntam-se-lhes histórias sobre a vida, cantadas em romeno ou em romani (dialecto cigano). O grupo tem colaborado com expoentes máximos da música cigana como a macedónia Esma Redzepova, o sérvio Šaban Bajramović, estrelas da pop romena e búlgara como Dan Armeanca e Jony Iliev, bem como Florentina Sandu (Roménia), Mitsou (Hungria), Ljiljana Butler (Bósnia), Kal (Sérvia) ou os Kaloome (França).
"Viatjar Per La Ment", Nour (Espanha) - raï, rock, funk, reggae
Despedimo-nos com os Nour (“luz”, em árabe), que desta feita nos trazem o tema “Viatjar Per La Ment” (Viajar Pela Mente), retirado do seu primeiro disco “Papier Mullat” (Papel Molhado), lançado em 2007. Um papel que se converte numa enorme bola de fogo, alimentada por uma fusão de estilos de que resulta uma música para todos os sentidos. A electrónica combina-se então com sonoridades como o reggae, o rock, o funk, o hip-hop, o ska ou o raï, revestidos com letras em catalão, castelhano, francês e árabe. Os Nour foram criados pelo berbere catalão Yacine Belahcene Benet, vocalista dos Cheb Balowski, fazendo parte do grupo Marc Llobera (samplers e teclados), Pablo Potenzoni (bateria), Francisco Guisado “El Rubio” (guitarra), Olalla Castro (voz) e Manolo López (baixo). Produzido por Yacine e Rubio com Pau Guillamet (Guillamino), o primeiro trabalho da banda reflecte sobre a necessidade de ir mais além das palavras, denunciando assim as hipocrisias da sociedade moderna. Uma crítica sonora à intolerância e à desigualdade em que colaboram, entre outros, Joan Garriga (dos La Troba Kung-Fú), Lautaro Rosas (Machalah), Massa Kobayashi (Kultur Shock), Mohamed Souleimane (Orquestra Árabe de Barcelona) ou Pau Llong y Rodrigo (At Versaris).
Jorge Costa
A Fanfare Ciocărlia (“laverca”, em romeno) traz-nos “Alili”, tema retirado do álbum “Gili Garabdi – Ancient Secrets of Gypsy Brass”, lançado em 2005. Esta orquestra de metais, fundada pelo clarinetista Ioan Ivancea (já falecido), é célebre pelo improviso e pela interpretação acelerada de solos de clarinete, saxofone e trompete, por vezes com mais de 200 batidas por minuto. Eles começaram por tocar em cerimónias populares, até que o produtor discográfico e engenheiro de som alemão Henry Ernst (seu actual manager) os descobriu em 1996. Oriundos da aldeia de Zece Prăjini (“Dez Campos”), no nordeste da Roménia, junto à fronteira com a Moldávia, os demónios acelerados do gypsy brass cruzam a tradição balcânica com influências globais, adaptadas ao seu estilo enérgico e festivo. Danças tradicionais romenas e moldavas como a sîrba (“dança” em romeno), a hora (dança de círculo) ou a geamparale (popular dança da região de Dobrogea, caracterizada por ritmos balcânicos e turcos), bem como os ritmos turcos, húngaros, búlgaros, sérvios e macedónios são apresentados ao som de instrumentos de sopro (trompa, tuba, trompete, clarinete, requinta, saxofone e corneta) e percussão (tímpano e bombo, tarola e bongo). Juntam-se-lhes histórias sobre a vida, cantadas em romeno ou em romani (dialecto cigano). O grupo tem colaborado com expoentes máximos da música cigana como a macedónia Esma Redzepova, o sérvio Šaban Bajramović, estrelas da pop romena e búlgara como Dan Armeanca e Jony Iliev, bem como Florentina Sandu (Roménia), Mitsou (Hungria), Ljiljana Butler (Bósnia), Kal (Sérvia) ou os Kaloome (França).
"Viatjar Per La Ment", Nour (Espanha) - raï, rock, funk, reggae
Despedimo-nos com os Nour (“luz”, em árabe), que desta feita nos trazem o tema “Viatjar Per La Ment” (Viajar Pela Mente), retirado do seu primeiro disco “Papier Mullat” (Papel Molhado), lançado em 2007. Um papel que se converte numa enorme bola de fogo, alimentada por uma fusão de estilos de que resulta uma música para todos os sentidos. A electrónica combina-se então com sonoridades como o reggae, o rock, o funk, o hip-hop, o ska ou o raï, revestidos com letras em catalão, castelhano, francês e árabe. Os Nour foram criados pelo berbere catalão Yacine Belahcene Benet, vocalista dos Cheb Balowski, fazendo parte do grupo Marc Llobera (samplers e teclados), Pablo Potenzoni (bateria), Francisco Guisado “El Rubio” (guitarra), Olalla Castro (voz) e Manolo López (baixo). Produzido por Yacine e Rubio com Pau Guillamet (Guillamino), o primeiro trabalho da banda reflecte sobre a necessidade de ir mais além das palavras, denunciando assim as hipocrisias da sociedade moderna. Uma crítica sonora à intolerância e à desigualdade em que colaboram, entre outros, Joan Garriga (dos La Troba Kung-Fú), Lautaro Rosas (Machalah), Massa Kobayashi (Kultur Shock), Mohamed Souleimane (Orquestra Árabe de Barcelona) ou Pau Llong y Rodrigo (At Versaris).
Jorge Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário