domingo, 26 de março de 2006

Emissão #3 - 1 Abril 2006

A terceira emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 1 de Abril, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 3 de Abril, entre as 19 e as 20 horas.

ÚLTIMA HORA: No sábado passado, devido a uma falha na emissão da Rádio Urbana, o programa não pôde ser emitido normalmente. Desta feita, e para além da repetição habitual às segundas-feiras, a terceira edição do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO será reposta no próximo sábado, dia 8 de Abril.

Estes são os novos temas difundidos neste programa:

"Colossus", Afro-Celt Sound System (Reino Unido) - afro-celt rock, world pop music
Os Afro-Celt Sound System trouxeram-nos o tema “Colossus”, extraído do seu terceiro álbum, intitulado “
Further in Time”. E eles estão mesmo à frente do tempo, já que procuram escapar à veia tradicional, deixando fluir a criatividade e explorando novos territórios. Em 1992, o fascínio de Simon Emmerson pela ligação entre as tradições irlandesas e africanas levou-o a juntar-se ao multi-instrumentista James McNally, à vocalista Iarla O Lionaird e ao produtor Martin Russell. Neste trabalho, editado em 2001, a banda criou um mundo musical que explora os talentos de seis membros adicionais e de mais de vinte convidados, incluindo Robert Plant, antigo vocalista dos Led Zeppelin, e Peter Gabriel. Vozes africanas, irlandesas e escocesas misturam-se então com um universo sonoro povoado pela estrutura da pop, pela força do rock e pela euforia da dança – note-se que as suas influências, para além da esfera étnica, abrangem também os Radiohead, os Public Enemy e os U2 -, combinando ritmos celtas, africanos, marroquinos e do leste da Europa. Neste álbum, que foi um estrondoso êxito comercial, os nómadas Afro-Celt Sound System dão sentido à expressão world pop music.

"Lian Mil",
Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
O tema é extraído do álbum que a canadiana Claire Pelletier gravou ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (a sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons électrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier (ou melhor, de Claire La Sirène) iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

"Wadatshulwa", Amadodana Asempumaze (África do Sul) - south african gospel
O gospel sul-africano é um género musical que faz parte do dia a dia das comunidades urbanas e rurais deste país. A música cantada nas igrejas, rica em harmonias vocais, evoluiu a partir dos hinos do início do século XIX, continuando a rejuvenescer-se através das tradições vocais indígenas e de outros tipos seculares de música, abrangendo diversos estilos. Actualmente, cerca de oito por cento da população da África do Sul é cristã. O número pode parecer irrisório, mas se olharmos isoladamente para a população africana, a percentagem é bastante superior. Por vezes mais concorrentes que doutrinais, muitos dos grupos de gospel sul-africanos exibem tendências carismáticas e incorporaram alguns aspectos e crenças das culturas tradicionais. Cada grupo pode ser identificado pelas vestes coloridas dos seus elementos, que nas tardes de domingo são vistos a caminho dos seus locais de adoração. Os Amadodana Asempumaze (o que em Zulu quer dizer "Coro Masculino Mpumaze") trazem-nos o tema “Wadatshulwa” (“Ele Foi Anunciado”), extraído do álbum "Bhala Nkosi Igama Lami". O uso da palavra “amadodana” (homem) parece despropositado para descrever este grupo, já que grande parte das suas vozes são femininas.

"M'Bifé [Bafalon]",
Amadou & Mariam (Mali) - afro pop blues
Continuamos com as raízes africanas. Da África do Sul avançámos até ao Mali, com a dupla Amadou e Mariam, e o tema “M’Bifé [Bafalon]”. O álbum “Dimanche a Bamako”, lançado em França em Novembro de 2004, chegou no verão passado ao segundo lugar das tabelas de vendas, o mais alto posto alguma vez alcançado na Europa por um disco africano. Em todo o mundo “Dimanche a Bamako” já vendeu cerca de meio milhão de cópias. Bem ao género do afro pop blues, e com muita guitarra à mistura, este trabalho está recheado de ritmos africanos, batidas funky, harmonias suaves e pedaços de reggae, jazz, blues e rock. Se nos anos 90 foram os Buena Vista Social Club a trazerem para a ribalta a vibrante world music, agora parece ser a vez deste casal africano. Mariam começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou era guitarrista nos Les Ambassadeurs, uma das mais lendárias bandas africanas. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 em Bamako, a capital do Mali, fundindo então as suas carreiras. Três anos depois casavam e davam o primeiro concerto juntos.

"Ne Me Jugez Pas [Volodia Remix]", Sawt el Atlas (Marrocos) - raï funk
Os Sawt el Atlas, uma banda marroquina radicada em França, combinam a música árabe tradicional com o raï, o reggae, o funk e um cheirinho a ritmos latinos. E chegam mesmo a dizer que não pertencem a nenhum daqueles dois países. Isto porque em Marrocos são confundidos com franceses, e em França toda a gente acha que eles são marroquinos. Os vocalistas Kamel e Mounir e os seus irmãos cresceram nos subúrbios de Blois, em França. A formação inicial dos Sawt el Atlas consistia em três irmãos, cada um originário de duas famílias: os Mirghanis (do sul de Marrocos) e os El Habchis (de Casablanca). Conforme vamos poder confirmar no tema “Ne Me Jugez Pas”, em versão remisturada, extraída do album “Doria”, a música deste agrupamento de dez elementos é agradável, dançável e moderna. E apesar de se inclinar mais para uma inspiração multiculturalista, bem ao estilo do Ocidente, mantém-se no entanto na linha das raízes do norte de África.

"El Pibe de Mi Barrio",
Doctor Krapula (Colômbia) - urban latino

Os sete elementos da trupe colombiana Doctor Krapula, formada em 1998, não se consideram uma banda de rock, nem uma orquestra tropical. Dizem ser apenas o som que convida toda a gente a dançar pelo prazer, pela sociedade e pela humanidade. Um apelo à esperança cheio de fogo, amor, revolução e sabor, bem ao estilo das atribulações do dia a dia dos subúrbios das grandes cidades sul-americanas. Os Doctor Krapula trazem-nos o tema “El Pibe de Mi Barrio” (O Miúdo do Meu Bairro), primeiro single do seu terceiro álbum “Bombea”. Uma música que não se resume à mensagem política, mas que mostra como os gostos ocidentais se fundem com ela. São estes os sons urbanos da América Latina do século XXI.

"Ulala Kiskita", Betty Veizaga Y El Grupo Pukaj Wayra (Bolívia) - bolivian folk
Na Bolívia, as raízes indígenas continuam a ser uma referência musical. Depois da revolução boliviana, em 1952, generalizaram-se os conjuntos folclóricos que misturam flautas andinas como a quena e a zampoña (flauta de pan). Os grupos surgem também com os seus ponchos coloridos (um tipo de capa que cobre parte do corpo), guitarras, flautas de pan e charangos (espécie de cavaquinho que descende da espanhola vihuela). Betty Veizaga e o grupo Pukaj Wayra, trouxeram até ao MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO o tema “Ulala Kiskita”, extraído do álbum "Los Mejores Tinkus Com Los Mejores Grupos", no qual ficamos a conhecer as raízes rurais do tinku. Três anos depois de se terem estabelecido na Suécia, em 1980 o grupo regressava à Bolívia. Nesse mesmo ano,
Betty Veizaga junta-se a eles para dar a conhecer ao resto do país e ao mundo a música da região norte de Potosí.

"My True Love (Voyage D'Amour)", Steve Riley & The Mamou Playboys (EUA) - cajun dance
O cajun, um género musical originário do sul do estado norte-americano do Louisiana, mistura elementos da música francesa, nativa, espanhola, africana e celta. O seu som é marcado pelos violinos e acordeões, originando uma atmosfera dançável e que aos fins de semana enche sempre de ritmo os bares do Louisiana. Em 1988, o acordeonista Steve Riley formou com o violinista David Greely os The Mamou Playboys, uma banda dinâmica que explora as fronteiras do cajun, adicionando-lhe toques de zydeco, blues e música country.

"Taraf", Sukar Collective (Roménia) - ursari music, folktronic

Os romenos Shukkar Collective trazem-nos “Taraf”, do álbum “Urban Gypsy”. Eles representam a nova geração de músicos ciganos que tocam música ursari, usando colheres, tambores de madeira ou a darabuka (outra espécie de tambor) para criarem um som poderoso que também se aventura pelo mundo da electrónica.

"Hijra [Traditional Mix]", U-Cef feat. Dar Gnawa (Marrocos) - moroccan music, electronic
Os Dar Gnawa são um grupo marroquino formado por Abel Ghani Manjal e Naim Bounama Gueye, dois rappers de Casablanca que misturam música electrónica e tradicional. Há alguns anos eles gravaram com o produtor marroquino U-Cef, radicado em Londres, este tema polémico sobre o êxodo ou a “hijra” de uma inteira geração frustrada de jovens marroquinos para França, Estados Unidos e Reino Unido. Esta música, adequadamente apelidada de “Hijra”, baseia-se no ritmo do gnawa, usando também o guenbri e o krakesh. Um paródia aos guardas fronteiriços franceses, onde os jovens gritam bem alto: “Donnez moi les papiers!” (“Dêem-me os papéis!”).

Jorge Costa

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