segunda-feira, 22 de maio de 2006

Emissão #10 - 27 Maio 2006

A décima emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 27 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 29 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

"Lovers Of Light", Afro Celt Sound System (Reino Unido) - afro-celt rock, world pop music
Os futuristas Afro-Celt Sound System trazem-nos um tema extraído do álbum “Release”, lançado em 1999. Neste seu segundo trabalho, a banda mistura a harpa, a kora, a tama, o bodhrán, o djembee, o tin whistle e a guitarra com vozes gaélicas e africanas, colocando-os num contexto pan-europeu. E é precisamente neste disco que os Afro Celt Sound System afirmam pela primeira vez o seu estilo único, enraizado em antigas tradições musicais mas às quais acrescentam sons e batidas futuristas. Exemplo disso, o tema “Lovers Of Light” actualiza o conceito do reel (o mais comum e rápido tipo de melodia celta) sem perder o espírito de pioneiros deste género musical como The Bothy Band e Moving Hearts. Os Afro Celt Sound System, que em 2003 encurtaram o nome para “Afro Celts” até acabarem por readquirir a anterior designação, criaram um mundo musical onde vozes africanas, irlandesas e escocesas se misturam com a estrutura da pop, a força do rock e a euforia da dança, combinando outros géneros modernos como o trip-hop e o techno com a energia e a alegria dos ritmos celtas, africanos, marroquinos e do leste da Europa. É desta forma que os nómadas Afro-Celt Sound System, um dos mais inovadores e ecléticos grupos dos anos 90, dão sentido à expressão world pop music.

"Olla Meu Irmau",
Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk
Viagem até à Galiza com os embaixadores da folk celta contemporânea. Os galegos Luar Na Lubre, naturais da Corunha, trazem-nos um tema extraído do seu último álbum “Saudade”, editado em 2005. Este grupo, com nove trabalhos editados, defende a cultura, a tradição e a música galegas, sem deixar de integrar no seu processo criativo as influências externas. Os Luar Na Lubre são uma presença constante em muitos festivais em Espanha e na Europa, mas a sua aposta centra-se agora na América do Sul, de onde emana a música que integra o seu último álbum. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste seu último trabalho, os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há ano e meio, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Está assim consolidada a intenção do grupo em sublinhar a influência portuguesa para melhor definir a sua identidade galega, neste Portugal além-Minho. Um álbum onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas. “Saudade” é uma homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a sua cultura sem deixar de parte as suas raízes celtas. Divididos entre o território celta e a folk festiva, neste trabalho os Luar na Lubre resgatam poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade.

"Sodade", Cesária Évora (Cabo Verde) e Eleftheria Arvanitaki (Grécia) - morna, coladera
Cesária Évora em dueto com Eleftheria Arvanitaki, num tema extraído do álbum “Cesária Évora – Best Of”, editado em 1999. Esta versão da melodia escrita pelo poeta Teófilo Chantre foi gravada ao vivo em Atenas e adaptada para o grego por Mihalis Ganas. A famosa cantora cabo-verdiana, nascida no Mindelo e apelidada de diva dos pés descalços – visto que se apresenta assim em palco num gesto de solidariedade com os sem abrigo do seu país – mistura a melancólica morna, profunda em sentimentos e descendente do fado cantado em crioulo, com sons acústicos de violão, do cavaquinho, do violino, do acordeão e do clarinete. Uma espécie de blues cabo-verdiano, onde Cesária Évora fala da amarga história de isolamento do país, do comércio de escravos e da emigração – a maior parte dos cabo-verdianos vivem na diáspora. Algo que se combina na perfeição com os versos da grega Eleftheria Arvanitak, os quais falam de amor, da amizade e dos sonhos. Eleftheria (nome que em grego quer dizer liberdade), tenta aproximar-se às suas raízes, enveredando por novas experiências acústicas. À semelhança de muitos jovens que começaram a tocar guitarra, a sua entrada na música deu-se por casualidade quando a juventude grega começou a descobrir os sons tradicionais do seu país, juntamente com a influência ocidental do rock.

"Sabolan", Ba Cissoko (Guiné-Bissau) - kora music
Os Ba Cissoko trazem-nos um tema extraído do álbum do mesmo nome, um trabalho incandescente, produzido pelo músico eclético Malagasy Tao Ravao. Os Ba Cissoko são quatro jovens guineenses de ascenção griot - os conhecidos contadores de histórias que imemorialmente percorrem a savana africana para transmitirem ao povo a sua história. Eles treinaram em Conacri, na Guiné, com o mestre da kora M’bady Kouyate, e vivem actualmente na cidade francesa de Marselha, tendo tocado em inúmeros espectáculos e festivais. Comparada aos sucessos pioneiros de Mory Kanté, a sua música mistura bonitas canções da era de ouro da cultura mandingo com sons únicos urbanos, cáusticos e cheios de groove. A formação instrumental dos Ba Cissoko consiste em duas koras, um tocador de baixo e um percussionista.

"Ya Man", Balkan Beat Box (Israel) - gypsy-punk, contemporary folk
Atrás os Balkan Beat Box e o tema “Ya Man”, extraído do seu álbum de estreia, editado em 2005. Uma mistura enérgica e ousada de melodias folk do norte de África, Israel, Balcãs e Europa de Leste, de letras bizarras e de batidas electrónicas. A banda, que chega a ter 15 músicos – um terço deles oriundos da Europa – é formada pelos israelitas Tamir Muskat e Ori Kaplan, que têm trabalhado com músicos e compositores da Turquia, Israel, Palestina, Marrocos, Bulgária e Espanha. A filosofia dos Balkan Beat Box é a de acabar com as fronteiras políticas na música, fazendo folk de forma contemporânea. E assim eles juntam a música electrónica e os sons tradicionais dos Balcãs, bem como o hip-hop e as sonoridades do norte de África e do Médio Oriente. Tudo começou em Israel, onde assimilaram os standards folk, do klezmer às melodias búlgaras, passando pelos ritmos árabes. No final dos anos 80, Ori e Tamir partem para Nova Iorque, onde descobrem o gypsy-punk e acabam por misturar as suas raízes mediterrânicas com outras culturas.

"Behind De Mi House", Polvorosa (Chile, Alemanha) - elektrolatino, latin groove
Os Polvorosa apresentam-nos o tema “Behind de Mi House”, extraído do álbum “Radical Car Dance”. Para Daniel Puente o idioma nunca foi um obstáculo. E é por isso que desde que chegou à Alemanha que o músico chileno se encarregou de dar destaque às suas raízes latinas: primeiro com o grupo “Niños con Bombas”, o qual se dissolveu em 1999; e mais tarde, de novo em Hamburgo, com os “Polvorosa”, banda que formou juntamente com os alemães Trillian e Norman Jankowski. Este trio multicultural, residente em Barcelona, mistura a pop, o rock alternativo, a música electrónica e o latin groove para dar vida ao que chamam de elektrolatino. Para além dos ritmos baseados na tradição e nas raízes latinas, neste álbum eclético os Polvorosa não esquecem o funk, o hip hop e o pop-rock alternativo.

"Latin Geisha", Illya Kuryaki & The Valderramas (México) - funk, kuryaki music
Os Illya Kuryaki & The Valderramas apresentaram-nos o tema “Latin Geisha”, extraído do álbum “Leche”, gravado em Buenos Aires. Em 1991, quando nenhum grupo latino-americano tinha pensado criar uma música e fazer um rap com ela, eis que surge o duo de rapper's Dante Spinetta e Emmanuel Horvilleur, uma carreira comum que se prolongaria por dez anos. Preocupados em romper tradições, eles começaram por embarcar no rap e no acid jazz, criando letras irónicas e melodias inesquecíveis. Posteriormente inclinar-se-iam também para a soul e para o funk. Em 1987, quando tinham 11 e 12 anos, Dante Spinetta e Emmanuel Horvilleur decidem formar com os seus três irmãos mais pequenos os Pechugo, uma versão roqueira dos Menudo. Mais tarde, afastam-se e formam então os Illya Kuryaki & The Valderramas. O álbum “Leche”, editado em 1999 e que vendeu 30 mil cópias no México, é um disco feito de música negra, calentura funk e baladas kuryaki. São canções transpiradas, com muito sexo e muita carne, num trabalho em que contaram com a colaboração do mítico Bootsie Collins, baixista dos Funkadelic, de Tom Russo e de Tom Tucker. Quando se pensa no rock sul-americano dos anos 90, há nomes que nunca se poderão esquecer. E um deles é o dos Illya Kuryaki & The Valderramas.

"W Boru Kalinka (In The Forest)", Warsaw Village Band (Polónia) - new folk
A melhor música do mundo vem agora da Polónia com os Warsaw Village Band, e o tema “W Boru Kalinka” (Na Floresta), extraído do álbum “Uprooting”, editado em 2004. Um exemplo da herança musical polaca, feita de vozes selvagens e de timbres crus, mas orientadas para a modernidade com o dub, a trance e o reggae. Aqui a experimentação não é uma restauração das componentes rítmicas e melódicas do passado, mas antes um itinerário estilístico a que alguns críticos chamaram de new folk. A Warsaw Village Band foi fundada em 1997 por seis jovens que tocavam violino, suka (violino polaco do século XVI), violoncelo e vários instrumentos de percussão. O seu reportório consiste em melodias de dança folk, baladas e canções rurais, dando-lhes uma estética mais moderna. O resultado é um novo estilo de música chamado de bio-techno ou mesmo hip-hopsasa (o que em polaco quer dizer “vamos dançar”). Algo que também pode ser descrito como hard'cora of obora (hard-core da vacaria). Os Warsaw Village Band foram já galardoados em muitos festivais folk na Polónia, tendo ganho em 2004 o BBC Radio 3 World Music Award na categoria de revelação. Para além da música, eles preocupam-se em rebuscar as raízes polacas condenadas ao esquecimento e que podem enriquecer a cultura contemporânea. A sua paixão é viajar até pequenas aldeias e visitar velhos músicos para os ouvirem falar sobre as suas tradições e costumes, principal inspiração para o seu trabalho, que pretende apresentar-se aos jovens como uma alternativa à cultura de massas.

"Køb Bananer", Kim Larsen
(Dinamarca) - danish rock, folk
Kim Larsen dá-nos a conhecer o divertido “Køb Bananer”, um tema extraído do álbum “Kim I Circus”, gravado ao vivo em 1985. Este músico dinamarquês nasceu em 1945 em Copenhaga, sendo um dos mais populares do seu país. Inspirado pelos Beatles e pelo rock’n’roll, Kim Larsen começou a compor e a tocar guitarra. Em 1969 conhece Franz Beckerlee e Willi Jønsson, com quem funda os Gasolin, agrupamento a que mais tarde se juntaria o percussionista Søren Berlev, tornando-se numa das mais conhecidas bandas de rock da Dinamarca, a qual desapareceria no final dos anos 70. Em 1986 o músico funda a banda Kim Larsen & Bellami, com a qual lança quatro trabalhos até esta desaparecer em 1992. Em 1995 muda-se para Odense, a terceira maior cidade dinamarquesa, alcançando novos sucessos com a sua nova banda Kim Larsen & Kjukken e o produtor sueco Max Lorentz. Nos anos 70, fruto das influências anglo-saxónicas, os géneros populares da música dinamarquesa começam a divergir. Muitos músicos de rock adoptam então composições que reflectem de forma mais realista os ideais e a realidade social da Dinamarca. Foi esse o caso dos Gasolin, que deram à música dinamarquesa um ritmo e lhe devolveram a sua língua nativa. Desde os anos 80 que Kim Larsen lançou vários álbuns a solo e que tiveram grande sucesso. Ao todo, estes representam cerca de 3 milhões de discos. Um feito extraordinário, já que a actual população dinamarquesa ronda os 5,4 milhões de habitantes.

"Herr Rossi Sucht Das Glück (Beach Barbecue Mix)", Die Moulinettes
(Alemanha) - pop
Despedimo-nos com os Moulinettes e a versão beach barbecue do tema “Herr Rossi Sucht Das Glück”, um dos singles mais conhecidos desta formação alemã. Claudia Kaiser, Barbara Streidl e Kiki Lorrig-Wossagk são três raparigas de Munique, cujo estilo sonoro sofisticado aconchega e acalma. O nome desta música, para a qual criaram três versões diferentes, pertence a um desenho animado famoso. Depois do seu álbum de estreia "20 Blumen" e do single "Herr Rossi Sucht Das Glück", que curiosamente foi um grande êxito no Japão, as três senhoras juntaram-se a Martin Lickleder. Nas letras, para além do alemão, atrevem-se ainda pelos caminhos linguísticos do inglês e do italiano. A sua música, divertida, dançável e repleta de vozes em coro, bebe influências da pop dos anos 60. Uma boa banda sonora para as tardes e noites de verão...

Jorge Costa

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