sábado, 13 de maio de 2006

Emissão #8 - 13 Maio 2006

A oitava emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 13 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 15 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

" Citty of Walls",
Paul Mounsey (Escócia) - folktrónica
O escocês Paul Mounsey traz-nos o tema que serve de título ao álbum “City of Walls”, um dos quatro trabalhos que o músico editou enquanto esteve a viver no Brasil. O nome da faixa baseou-se no livro “Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania em São Paulo”, de Teresa Caldeira, obra onde a escritora reflecte sobre o estado da sociedade e da democracia brasileiras. Paul Mousey pega então em amostras da música tradicional escocesa, brasileira e nativa americana, combinando-as com o som da guitarra, dos teclados, da gaita de foles e das flautas, adicionando-lhes ainda uma amostra de precursão japonesa e de sonoridades electrónicas.

"Navicularia", Berrogüetto (Espanha) - celtic music
Este grupo galego traz-nos o tema que dá nome ao seu primeiro álbum “Navicularia”, editado em 1996. Este trabalho, em que os Berrogüetto trabalharam lado a lado com músicos como o arménio Jivan Gasparian, o sueco Markus Svensson ou o húngaro Kalman Balogh, foi aclamado pela crítica e ganhou vários prémios internacionais. Os “sete magníficos” dizem ser uma fábrica de ideias em que a música se funde com outras artes na busca de elementos sonoros inovadores.

"Kamoukie", Salif Keita (Mali) - afropop, mandingo
Exímio guitarrista, Salif Keita iniciou a sua carreira nos anos 60 na Rail Band e nos Ambassadeurs. Um longo percurso que teve como pontos altos a passagem por Abdijan, Nova Iorque e Paris. Mas foram precisos trinta e cinco anos até que Salif Keita pudesse gravar um álbum no seu país, o Mali. No álbum “M’Bemba” (Antepassado), este conta com a colaboração de músicos como Mama Sissoko na luth ngoni, ou Toumani Diabaté na kora, duas guitarras tradicionais do Mali. Um trabalho onde Salif Keita invoca a memória do seu glorioso antecessor, o imperador Soundiata Keita, fundador do império Mandingue no século XII. Neste disco, Salif Keita regressa à música tradicional mandingo, cruzando sonoridades como o rock, a soul, a chanson française ou os ritmos afro-cubanos, influências acústicas com que o músico inaugurou o conceito de afro-pop.

"Amassakoul 'N' Ténéré",
Tinariwen (Mali) - touareg music, rock, blues
Este grupo traz-n
os um tema extraído do álbum “Amassakoul” (viajante), editado em 2004 e que pudemos conhecer na emissão anterior. O nascimento dos Tinariwen no final dos anos 70, o primeiro a surgir das areias do deserto do Saara, está ligado à vida errante dos tuaregues, povo nómada descendente dos berberes do norte de África. A música destes artistas, que vagueiam entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia, apela ao despertar político das consciências e aborda os problemas do exílio e da repressão. Os Taghreft Tinariwen (o grupo dos desertos) transformaram-se numa lenda viva, isto porque no início dos anos 90 Ibrahim e Keddu, dois dos seus elementos, integravam o grupo de gerrilheiros que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira entre o Mali e o Níger, abrindo um novo conflito entre as tropas governamentais do Mali e os separatistas tuaregues do norte. A música deste povo, transposta para a modernidade neste álbum gravado em Bamako, é acompanhada pelo tindé – instrumento de percussão tocado por mulheres –, pela flauta t’zamârt e pela guitarra eléctrica. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen está também presente a asoüf, solidão característica da poesia cantada pelos tuaregues que, tal como os blues, demonstra um sentimento de desamparo universal.

"Surbajo", Etran Finatawa (Níger) - wodaabe and touareg music
Continuando nesta travessia musical pelo deserto, avançamos agora até ao Níger com os Etran Finatawa, e um tema extraído do álbum “Introducing Etran Finatawa”, editado este ano. Em 2004, seis músicos wodaabes e quatro tuaregues juntaram-se e formaram este grupo. Os tuaregues e os wodaabe são dois dos grupos étnicos nómadas que vivem na savana do Sahel, no sul do Sáara. Durante milhares de anos, aquela região foi um ponto de passagem entre os árabes do norte de África e as culturas sub-sarianas. Enquanto que os wodaabe são conhecidos pelos seus rebanhos e gado, os tuaregues são famosos criadores de camelos. E apesar das suas culturas e línguas serem muito distintas, os Etram Finatawa (As estrelas da tradição) ultrapassaram as fronteiras étnicas e o racismo, trabalhando juntos para construírem um futuro melhor para os seus povos. Eles fundaram o seu estilo, combinando instrumentos tradicionais e canções polifónicas com arranjos modernos e guitarras eléctricas. O resultado é um álbum de rara e poderosa beleza, que demonstra como nas suas culturas a música continua a ser um meio terapêutico. Entretanto, a banda tornou-se famosa no Níger e foi convidada para participar em festivais no Mali e em Marrocos, tendo no ano passado feito uma tournée pela Holanda, Alemanha e Suiça.

"Belibik", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi, raï
Este tema é um extra extraído do álbum “Deb”, editado em 2003. Considerada a Tracy Chapman do Magreb, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. Desde 1999 que a jovem vive em França. Com a sua guitarra, Souad Massi acompanhou o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente.


"Bebe Yaourt", Kekele (RD Congo) - soukous, congolese rumba
Os Kekele trazem-nos um tema extraído do álbum “Congo Life”, editado em 2003. Este grupo de veteranos, liderado pelo guitarrista Papa Noel Nono Nedule, é formado por Syran Mbenza, Nyboma e Wuta Mayi, os quais nos anos 80 fizeram parte dos Les Quatre Étoiles, pioneiros do soukous. Juntam-se a eles Bumba Massa and Loko Massengo, intérpretes em várias bandas congoloesas e performers a solo, bem como o guitarrista Rigo Star e o produtor François Bréant. Os Kekele recriam a rumba congolesa dos anos 60, 70 e 80 com tecnologia moderna, dando uma aparência totalmente acústica ao som eléctrico do soukous dos anos 80 e 90. São sons bem ao estilo da cubana charanga, das orquestras de cordas da Martínica e do barroco europeu, que se encaixam nas delicadas e deliciosas melodias congoloesas.

"La Iguana", Lila Downs (México) - cumbia, ranchera, bolero
Lila Downs trouxe-nos um tema extraído do álbum “Tree of Life”, editado em 1999. A cantora nasceu nas montanhas de Sierra Madre, no sul do México, e passou a sua adolescência em Los Angeles, nos Estados Unidos. Começou por cantar canções mariachi aos oito anos de idade, e ainda pensou ser cantora de ópera, o que é fácil de perceber na sua voz. Ainda chegou a estudar voz e antropologia na universidade, mas abandonou tudo quando decidiu “juntar-se ao mundo”. Foi já nos anos 90, quando lhe pediram para traduzir documentos relacionados com as mortes de pessoas que tinham tentado atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos, que Lila Downs decidiu escrever canções que contassem as suas histórias. Este album inclui várias músicas em náhuatl, zapotec e mixtec – três das mais de 60 línguas indígenas faladas no México –, abarcando o seu reportório também o castelhano e o inglês. Os temas da sua banda abrangem a cumbia e a ranchera mexicana, a valsa, o bolero e composições originais que se aventuram no mundo do rap, jazz e do reggae. Mais recentemente, Lila Downs estreou-se no mundo do cinema. Ela interpreta algumas das suas canções no filme “Frida”, de Salma Hayek, o qual retrata a vida da pintora mexicana Frida Kahlo.

"Quérome salvar", Xosé Manuel Budiño (Espanha) e Lilian Vieira (Brasil) - folk, celtic music
Xosé Manuel Budiño apresenta-nos o seu terceiro álbum “Zume de Terra”, editado em 2004, precisamente o primeiro em que o gaiteiro galego assume integralmente todo o trabalho de composição, arranjo musical, produção e gravação. Um disco de originais, feito com sumo de terra e mel de tradição, onde Budiño tem também como convidados especiais os escoceses Capercaillie e Michael McGoldrick e a portuguesa Sara Tavares. Neste tema, o gaiteiro conta com a participação da brasileira Lilian Vieira, vocalista dos Zuco 103, banda que mistura house com maracatu, drum'n'bass com samba, entre outros ritmos brasileiros e electrónicos, e da qual fazem parte ainda o baterista holandês Stefan Kruger e o teclista alemão Stefan Schmid.

"Ahma", Maria Kalaniemi (Finlândia) - finnish folk, jazz, rock, pop
Maria Kalaniemi traz-nos um tema extraído do álbum do mesmo nome, editado em 1999. Esta maestrina do acordeão começou a tocar aos oito anos. Aos 19, depois de gravar um álbum de temas da música tradicional filandesa, junta-se ao programa de música folk da Academia Sibelius, em Helsínquia, onde, para além do acordeão, estuda violino, bandolim, composição e arranjo. No mesmo ano, Maria Kalaniemi apoia a formação do ensemble acústico Niekku, cuja síntese entre a folk e a contemporaneidade os levou para a linha da frente da nova folk filandesa. Já em 1995 funda os Aldargaz, um sexteto de músicos da mesma academia. Adepta da improvisação, Maria Kalaniemi é também membro do colectivo internacional de acordeonistas Accordion Tribe, do grupo de música sueco-filandesa Ramunder e da orquestra de tango UNTO. O seu reportório vai da música clássica às raízes da folk dance filandesa, passando pelo jazz, rock e pop. No tema “Ahma”, o acordeão de Kalaniemi, instrumento que ela diz ser em simultâneo dinâmico e dinamite, junta-se à guitarra acústica, ao bandolim, ao violino, ao piano, e ainda à trompete, ao trombone e ao saxofone.

"Marcelle et Chrysostome",
Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
O tema é extraído do álbum que a canadiana Claire Pelletier gravou ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (a sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons électrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier (ou melhor, de Claire La Sirène) iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

Jorge Costa

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