sexta-feira, 5 de maio de 2006

Emissão #7 - 6 Maio 2006

A sétima emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 6 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 8 de Maio, entre as 19 e as 20 horas.

"Jota da Gheada", Berrogüetto (Espanha) - celtic music
Este grupo galego traz-nos um tema extraído do seu primeiro álbum “Navicularia”, editado em 1996. Neste trabalho, em que os Berrogüetto trabalharam lado a lado com músicos como o arménio Jivan Gasparian, o sueco Markus Svensson ou o húngaro Kalman Balogh, foi aclamado pela crítica e ganhou vários prémios internacionais. Os “sete magníficos” dizem ser uma fábrica de ideias em que a música se funde com outras artes na busca de elementos sonoros inovadores. Para celebrarem os seus dez anos de carreira, ainda este ano deverá ser editado o seu quarto disco: “DeSolASons” (de sol a sons/desolações). A ideia nasceu em 1998 do convite para comporem a banda sonora dum programa sobre energias alternativas num estúdio alimentado a energia solar, construído nas Ilhas Cíes. Ironicamente, quatro anos depois, este paraíso natural foi alvo da pior catástrofe marinha da Europa, quando o petroleiro Prestige se partiu em dois, vertendo 170 mil toneladas de crude ao longo da costa galega. A desolação levou o grupo a transformar o projecto inicial numa suite, interpretada com a Orquestra da Catalunha. Tradição, modernidade e consciência ecológica juntos numa festa para os sentidos.

"Chao - Curuxeiras", Susana Seivane (Espanha) - celtic music
A gaiteira Susana Seivane é neta de Xosé Manuel Seivane, um dos mais conceituados artesãos galegos. Diz a tradição que a madeira de buxo ou buxeiro, utilizada na construção das gaitas de foles galegas, deve ficar mais de cem anos à espera de um artesão que lhe consiga descobrir a alma e transformá-la no instrumento musical. No seu segundo álbum, intitulado “Alma de Buxo” e editado em 2002, a jovem Susana Seivane segue a tradição musical da Galiza com várias xotas, muiñeiras, marchas e outras composições típicas daquela região, adicionando-lhes no entanto a bateria, o baixo e algumas amostras de música pop. E não é de espantar a sua mestria no manejo da gaita-de-foles, até porque começou a tocar este instrumento aos quatro anos. Um álbum onde Susana Seivane é acompanhada por músicos como o ex-Milladoiro Rodrigo Romani e o basco Kepa Junkera, e em que presta homenagem aos gaiteiros da sua terra, como é o caso de Pepe Vaamonde e do próprio avô, já que inclui duas versões do tema “Chao – Curuxeiras”, uma tocada por Xosé Manuel Seivane e a outra, emitida neste programa e interpretada por ela própria. São duas gerações de gaiteiros reunidas num só disco.

"Oualahila Ar Tesninam", Tinariwen
(Mali) - touareg music, rock, blues
Este grupo traz-nos um tema extraído do álbum “Amassakoul” (viajante), editado em 2004. O nascimento dos Tinariwen no final dos anos 70, o primeiro a surgir das areias do deserto do Saara, está ligado à vida errante dos tuaregues, povo nómada descendente dos berberes do norte de África. A música destes artistas, que vagueiam entre a Argélia, o Mali, o Níger e a Líbia, apela ao despertar político das consciências e aborda os problemas do exílio e da repressão. Os Taghreft Tinariwen (o grupo dos desertos) transformaram-se numa lenda viva, isto porque no início dos anos 90 Ibrahim e Keddu, dois dos seus elementos, integravam o grupo de gerrilheiros que atacou um posto militar em Menaka, na fronteira entre o Mali e o Níger, abrindo um novo conflito entre as tropas governamentais do Mali e os separatistas tuaregues do norte. A música deste povo, transposta para a modernidade neste álbum gravado em Bamako, é acompanhada pelo tindé – instrumento de percussão tocado por mulheres –, pela flauta t’zamârt e pela guitarra eléctrica. Na sonoridade rítmica e harmónica dos Tinariwen está também presente a asoüf, solidão característica da poesia cantada pelos tuaregues que, tal como os blues, demonstra um sentimento de desamparo universal.

"Çigil", Nuru Kane (Senegal) - gnawa, mbalax, mandingo, afro-funk
Nuru Kane traz-nos um tema extraído do álbum do mesmo nome. O músico senegalês nasceu em Medina, um distrito conhecido pelos seus artistas. Aos 15 anos Nuru Kane começou a tocar baixo e guitarra. Na década seguinte, ao juntar-se a várias bandas, inspira-se no afro-funk, no reggae, no jazz, nos blues, no mbalax e no mandingo, mas é em Marrocos que se deixa cativar pelos ritmos dos gnawa (música dos antigos escravos negros levados para Marrocos), os quais acabariam por servir de base às suas enérgicas actuações ao vivo e dariam lugar à sua banda “Bayefall Gnawa”, sedeada em Paris. Acompanhado pelo seu guimbri (uma espécie de baixo acústico arcaico de três cordas), da guitarra acústica e da sanza (lamelofone da África Central), Nuru Kane mistura a música do norte da África com reminescências de Ali Farka Touré. E mesmo que a instrumentação de Sigil seja sobretudo acústica, rodando à volta dos blues, o resultado esse é eléctrico, fundindo um ritmo minimal com uma versão remota de psicadelismo.

"Enta Ma'oltesh Leih", Amr Diab (Egipto) - jeel music, raï
Amr Diab, que nos traz um tema extraído do álbum "Allem Alby", editado em 2003, e cujo verdadeiro nome é Amro Abd Al-Bassit Abd Al-Aziz Diab, nasceu em Port Said, no Egipto, sendo um dos músicos mais populares nos países árabes. O rei da pop árabe, que começou por cantar em anúncios publicitários aos seis anos, estudou na Academia de Artes do Cairo, a capital do Egipto, tendo-se destacado rapidamente pelo seu novo estilo de música árabe pan-mediterrânica, que fundiu com amostras de flamenco, raï, pop ocidental e ritmos tradicionais árabes. Uma prova de que a música do mediterrâneo, tal como a vida nesta região do planeta, é uma mistura de odores, cores e sons. Em 1992 Amr Diab tornou-se o primeiro artista árabe a produzir um videoclip moderno, estreando-se no ano seguinte no cinema, onde chegaria a contracenar com o muldialmente conhecido Omar Sharif.


"Love Trap", Susheela Raman (Índia, Reino Unido) - indian folk, pop
Susheela Raman, que nos traz o tema “Love Trap”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2003, nasceu em Londres, mas a sua família, que emigrou para o Reino Unido e para a Austrália, é natural da região indiana de Tamil. Neste trabalho, Susheela Raman explora o reportório carnático, característico do sul da Índia, e o folk do norte daquele país, cantando músicas originalmente compostas em sânscrito e telegu. E se nos álbums anteriores músicos europeus, asiáticos e africanos tocavam temas indianos, em “Love Trap” músicos indianos interpretam canções em inglês. Com o blues na voz, universo que a influenciou em adolescente, e a presença constante do guitarrista Sam Mills, Susheela Raman junta então a música indiana a melodias pop e influências do jazz, do rock, do funk e do drum ‘n’ bass.


"Malademna", Shukar Collective (Roménia) - ursari music, folktronic
No álbum “Urban Gypsy”, editado em 2005, estes embaixadores da nova geração de músicos ciganos romenos tocam música ursari usando colheres, tambores de madeira ou a darabuka (outra espécie de tambor), criando assim um poderoso som folk que também se aventura no mundo da electrónica. Os três fundadores dos Shukar Collective começaram por tocar num conhecido clube de jazz de Bucareste. O grupo procura misturar peças folclóricas com as tecnologias actuais, mantendo no entanto o seu aspecto original. A música ursari remonta à época em que os tártaros e os mongóis invadiram a antiga Dácia, que é hoje a Roménia. Seguindo a tradição, um pequeno grupo de homens canta e toca instrumentos de percussão enquanto que um urso “dança” à sua volta – ursar quer dizer “domador ou treinador de ursos”. Uma música muito poderosa e agressiva, mas ao mesmo tempo emocional e espirituosa.

"Za Nashov Stodolov", Haydamaky (Ucrânia) - carpathian ska, ukranian dub machine, hutzul punk
Desta feita, os ucranianos Haydamaky trazem-nos “Za Nashov Stodolov” (Atrás do nosso celeiro), um tema extraído do álbum “Ukraine Calling”, editado este ano e que já pudemos conhecer no programa. Eles levam-nos pelos caminhos do ska das montanhas dos Cárpatos, do reggae, do punk hutzul e da dub machine, misturando-os com a folk ucraniana. Para além dos espectáculos que têm feito em toda a Europa de Leste, em 2004 os Haidamaky apoiaram a revolução laranja que mobilizou a Ucrânia, tendo um dos seus temas sido muito rodado nas estações de rádio alternativas. A música dos Haydamaky, caracterizada por energia turbulenta e por uma montanha russa de melodias, combina raízes ucranianas com standards europeus.

"Samba do Gringo Paulista [Zero dB reconstruction]", Suba (ex-Jugoslávia) - brasilian electronica
Este tema original do produtor jugoslavo Suba surge-nos numa versão remisturada pela dupla de DJ’s Zero dB Reconstruction, que lhe adicionaram ainda a voz de Mónica Vasconcelos. A música, extraída do álbum “Tributo”, é uma homenagem ao músico morto em 1999 e cujo verdadeiro nome era Mitar Subotic. No final dos anos 80, Suba trocou a então Jugoslávia pelo Brasil onde, para além de compor para teatro e cinema, se dedicaria à pesquisa de ritmos afro-brasileiros e de música nativa. Ao desenvolver sons e batidas electrónicas com ligações ao funk, à new wave e à ambient, misturando-os com elementos de todos os estilos musicais brasileiros, o compositor influenciou toda uma geração de artistas. Mitar Subotic trabalhou com músicos como Bebel Gilberto, Daniela Mercury, Skank, Mastre Ambrósio, Hermeto Pascoal, Marcos Suzano e Ale Muniz.

"En Algún Lugar", Amparanoia (Espanha) - rumba, reggae, son, bolero, ska
Os espanhóis Amparanoia trazem-nos o tema “En Algún Lugar”, extraído do álbum “Somos Viento”, editado em 2002. Sedeado em Madrid, o grupo foi buscar o seu nome à vocalista Amparo Sánchez. Em 1996, a jovem andaluza criou este projecto musical, que acabaria por nascer no bairro de Lavapies, em Madrid, e viria a crescer e desenvolver-se em Barcelona. Tendo por lema a expressão “rebeldia com alegria”, os Amparanoia misturam a rumba, o reggae, o son, o bolero, o ska e toda uma gama de sons latinos alternativos, onde sobressaem a inspiração e a improvisação. No ano passado eles receberam o prémio de melhor grupo europeu no BBC Radio 3 World Music Awards. Portugal também foi ponto de paragem numa das suas digressões por todo o mundo: em 2004 eles estiveram em Aveiro e em Lisboa, no Rock in Rio.

"Dipama", Richard Bona (Camarões) - afropop
Richard Bona traz-nos o tema “Dipama”, extraído do álbum “Tiki”, editado em 2005. O multi-instrumentista e compositor, nascido nos Camarões, cedo despertou para a música. Como na sua vila natal não havia uma loja de instrumentos, as cordas da sua primeira guitarra artesanal foram feitas com cabos de travões de bicicleta. Mais tarde, na década de 80, Richard Bona desperta para o mundo do jazz e começa a tocar baixo. Vai para Paris, onde aperfeiçoa as suas capacidades de escrever e tocar música e, em 1995, tenta a sua sorte em Nova Iorque. Este contador de histórias mistura as suas raízes musicais africanas com a sensibilidade do jazz, os ritmos afro-cubanos e a pop anglo-saxónica. Um aglomerado de influências que Richard Bona combina neste trabalho com uma voz suave e expressiva, de onde escapa doçura e nostalgia.

Jorge Costa

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