domingo, 26 de março de 2006

Emissão #3 - 1 Abril 2006

A terceira emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 1 de Abril, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 3 de Abril, entre as 19 e as 20 horas.

ÚLTIMA HORA: No sábado passado, devido a uma falha na emissão da Rádio Urbana, o programa não pôde ser emitido normalmente. Desta feita, e para além da repetição habitual às segundas-feiras, a terceira edição do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO será reposta no próximo sábado, dia 8 de Abril.

Estes são os novos temas difundidos neste programa:

"Colossus", Afro-Celt Sound System (Reino Unido) - afro-celt rock, world pop music
Os Afro-Celt Sound System trouxeram-nos o tema “Colossus”, extraído do seu terceiro álbum, intitulado “
Further in Time”. E eles estão mesmo à frente do tempo, já que procuram escapar à veia tradicional, deixando fluir a criatividade e explorando novos territórios. Em 1992, o fascínio de Simon Emmerson pela ligação entre as tradições irlandesas e africanas levou-o a juntar-se ao multi-instrumentista James McNally, à vocalista Iarla O Lionaird e ao produtor Martin Russell. Neste trabalho, editado em 2001, a banda criou um mundo musical que explora os talentos de seis membros adicionais e de mais de vinte convidados, incluindo Robert Plant, antigo vocalista dos Led Zeppelin, e Peter Gabriel. Vozes africanas, irlandesas e escocesas misturam-se então com um universo sonoro povoado pela estrutura da pop, pela força do rock e pela euforia da dança – note-se que as suas influências, para além da esfera étnica, abrangem também os Radiohead, os Public Enemy e os U2 -, combinando ritmos celtas, africanos, marroquinos e do leste da Europa. Neste álbum, que foi um estrondoso êxito comercial, os nómadas Afro-Celt Sound System dão sentido à expressão world pop music.

"Lian Mil",
Claire Pelletier (Canadá) - celtic music
O tema é extraído do álbum que a canadiana Claire Pelletier gravou ao vivo em Outubro de 2002 no teatro Saint-Denis, em Montreal, no Canadá. Desde muito pequena que a rapariga da voz azul-marinho, baptizada de Claire La Sirène (a sereia) se deixou fascinar pelos contos, lendas e canções tradicionais do Quebeque, província onde 80 por cento da população é de descendência francesa. Aos 24 anos, a jovem trocava o curso de oceanografia pela música, surgindo inicialmente ao lado do grupo Tracadièche. Depois de ter dado a conhecer “Galileo” no Quebeque e na Europa francófona, neste álbum Claire Pelletier, o músico e seu marido Pierre Duchesne e o compositor Marc Chabot misturam as músicas dos álbuns “Murmures d'Histoire” (1996) e “Galileo” (2000), ligando a inspiração medieval, a alma céltica, as melodias tradicionais e as lendas da antiguidade. Um espectáculo em que o duo harmónico combina o piano, o violino, a viola e o contrabaixo com sons électrónicos. Como a vela de um barco, a voz envolvente e suave de Claire Pelletier (ou melhor, de Claire La Sirène) iça-se, estica-se e apoia-se sobre o vento.

"Wadatshulwa", Amadodana Asempumaze (África do Sul) - south african gospel
O gospel sul-africano é um género musical que faz parte do dia a dia das comunidades urbanas e rurais deste país. A música cantada nas igrejas, rica em harmonias vocais, evoluiu a partir dos hinos do início do século XIX, continuando a rejuvenescer-se através das tradições vocais indígenas e de outros tipos seculares de música, abrangendo diversos estilos. Actualmente, cerca de oito por cento da população da África do Sul é cristã. O número pode parecer irrisório, mas se olharmos isoladamente para a população africana, a percentagem é bastante superior. Por vezes mais concorrentes que doutrinais, muitos dos grupos de gospel sul-africanos exibem tendências carismáticas e incorporaram alguns aspectos e crenças das culturas tradicionais. Cada grupo pode ser identificado pelas vestes coloridas dos seus elementos, que nas tardes de domingo são vistos a caminho dos seus locais de adoração. Os Amadodana Asempumaze (o que em Zulu quer dizer "Coro Masculino Mpumaze") trazem-nos o tema “Wadatshulwa” (“Ele Foi Anunciado”), extraído do álbum "Bhala Nkosi Igama Lami". O uso da palavra “amadodana” (homem) parece despropositado para descrever este grupo, já que grande parte das suas vozes são femininas.

"M'Bifé [Bafalon]",
Amadou & Mariam (Mali) - afro pop blues
Continuamos com as raízes africanas. Da África do Sul avançámos até ao Mali, com a dupla Amadou e Mariam, e o tema “M’Bifé [Bafalon]”. O álbum “Dimanche a Bamako”, lançado em França em Novembro de 2004, chegou no verão passado ao segundo lugar das tabelas de vendas, o mais alto posto alguma vez alcançado na Europa por um disco africano. Em todo o mundo “Dimanche a Bamako” já vendeu cerca de meio milhão de cópias. Bem ao género do afro pop blues, e com muita guitarra à mistura, este trabalho está recheado de ritmos africanos, batidas funky, harmonias suaves e pedaços de reggae, jazz, blues e rock. Se nos anos 90 foram os Buena Vista Social Club a trazerem para a ribalta a vibrante world music, agora parece ser a vez deste casal africano. Mariam começou por cantar em casamentos e festivais tradicionais, enquanto que Amadou era guitarrista nos Les Ambassadeurs, uma das mais lendárias bandas africanas. Os dois são invisuais e conheceram-se em 1977 em Bamako, a capital do Mali, fundindo então as suas carreiras. Três anos depois casavam e davam o primeiro concerto juntos.

"Ne Me Jugez Pas [Volodia Remix]", Sawt el Atlas (Marrocos) - raï funk
Os Sawt el Atlas, uma banda marroquina radicada em França, combinam a música árabe tradicional com o raï, o reggae, o funk e um cheirinho a ritmos latinos. E chegam mesmo a dizer que não pertencem a nenhum daqueles dois países. Isto porque em Marrocos são confundidos com franceses, e em França toda a gente acha que eles são marroquinos. Os vocalistas Kamel e Mounir e os seus irmãos cresceram nos subúrbios de Blois, em França. A formação inicial dos Sawt el Atlas consistia em três irmãos, cada um originário de duas famílias: os Mirghanis (do sul de Marrocos) e os El Habchis (de Casablanca). Conforme vamos poder confirmar no tema “Ne Me Jugez Pas”, em versão remisturada, extraída do album “Doria”, a música deste agrupamento de dez elementos é agradável, dançável e moderna. E apesar de se inclinar mais para uma inspiração multiculturalista, bem ao estilo do Ocidente, mantém-se no entanto na linha das raízes do norte de África.

"El Pibe de Mi Barrio",
Doctor Krapula (Colômbia) - urban latino

Os sete elementos da trupe colombiana Doctor Krapula, formada em 1998, não se consideram uma banda de rock, nem uma orquestra tropical. Dizem ser apenas o som que convida toda a gente a dançar pelo prazer, pela sociedade e pela humanidade. Um apelo à esperança cheio de fogo, amor, revolução e sabor, bem ao estilo das atribulações do dia a dia dos subúrbios das grandes cidades sul-americanas. Os Doctor Krapula trazem-nos o tema “El Pibe de Mi Barrio” (O Miúdo do Meu Bairro), primeiro single do seu terceiro álbum “Bombea”. Uma música que não se resume à mensagem política, mas que mostra como os gostos ocidentais se fundem com ela. São estes os sons urbanos da América Latina do século XXI.

"Ulala Kiskita", Betty Veizaga Y El Grupo Pukaj Wayra (Bolívia) - bolivian folk
Na Bolívia, as raízes indígenas continuam a ser uma referência musical. Depois da revolução boliviana, em 1952, generalizaram-se os conjuntos folclóricos que misturam flautas andinas como a quena e a zampoña (flauta de pan). Os grupos surgem também com os seus ponchos coloridos (um tipo de capa que cobre parte do corpo), guitarras, flautas de pan e charangos (espécie de cavaquinho que descende da espanhola vihuela). Betty Veizaga e o grupo Pukaj Wayra, trouxeram até ao MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO o tema “Ulala Kiskita”, extraído do álbum "Los Mejores Tinkus Com Los Mejores Grupos", no qual ficamos a conhecer as raízes rurais do tinku. Três anos depois de se terem estabelecido na Suécia, em 1980 o grupo regressava à Bolívia. Nesse mesmo ano,
Betty Veizaga junta-se a eles para dar a conhecer ao resto do país e ao mundo a música da região norte de Potosí.

"My True Love (Voyage D'Amour)", Steve Riley & The Mamou Playboys (EUA) - cajun dance
O cajun, um género musical originário do sul do estado norte-americano do Louisiana, mistura elementos da música francesa, nativa, espanhola, africana e celta. O seu som é marcado pelos violinos e acordeões, originando uma atmosfera dançável e que aos fins de semana enche sempre de ritmo os bares do Louisiana. Em 1988, o acordeonista Steve Riley formou com o violinista David Greely os The Mamou Playboys, uma banda dinâmica que explora as fronteiras do cajun, adicionando-lhe toques de zydeco, blues e música country.

"Taraf", Sukar Collective (Roménia) - ursari music, folktronic

Os romenos Shukkar Collective trazem-nos “Taraf”, do álbum “Urban Gypsy”. Eles representam a nova geração de músicos ciganos que tocam música ursari, usando colheres, tambores de madeira ou a darabuka (outra espécie de tambor) para criarem um som poderoso que também se aventura pelo mundo da electrónica.

"Hijra [Traditional Mix]", U-Cef feat. Dar Gnawa (Marrocos) - moroccan music, electronic
Os Dar Gnawa são um grupo marroquino formado por Abel Ghani Manjal e Naim Bounama Gueye, dois rappers de Casablanca que misturam música electrónica e tradicional. Há alguns anos eles gravaram com o produtor marroquino U-Cef, radicado em Londres, este tema polémico sobre o êxodo ou a “hijra” de uma inteira geração frustrada de jovens marroquinos para França, Estados Unidos e Reino Unido. Esta música, adequadamente apelidada de “Hijra”, baseia-se no ritmo do gnawa, usando também o guenbri e o krakesh. Um paródia aos guardas fronteiriços franceses, onde os jovens gritam bem alto: “Donnez moi les papiers!” (“Dêem-me os papéis!”).

Jorge Costa

terça-feira, 21 de março de 2006

Emissão #2 - 25 Março 2006

A segunda emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO , difundida no sábado, 25 de Março, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 27 de Março, entre as 19 e as 20 horas.

Estes são os novos temas difundidos no programa:

"Mahli [Remix]", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi, raï
Considerada a Tracy Chapman do Magreb, Souad Massi trouxe uma nova inspiração folk à música argelina. A nostalgia e a dor do exílio são os temas centrais deste seu último trabalho, o álbum "Mesk Elil", editado no ano passado. Desde 1999 que a jovem vive em França, mas numa ida à Tunísia para realizar mais um concerto reencontrou os aromas da madressilva, uma planta que lhe fez lembrar a sua infância na Argélia e que daria o nome à música que serve de mote ao seu terceiro álbum.
Com a sua guitarra, Souad Massi acompanhou o grupo de flamenco Triana d'Alger e mais tarde a banda argelina de rock Atakor. Durante a vaga da jeel music (a pop oriental), regressa à música country, universo sonoro em que se inspirou, acabando por cruzar os tormentos da música argelina com os prazeres melódicos do Ocidente. Souad Massi passou por Portugal em 2004, estando neste momento em tournée pela Europa para apresentar este trabalho, entretanto premiado este ano como melhor álbum de música do mundo nos “Les Victoires de la Musique”.

"Mani", Cheba Fadela & Cheb Sahraoui (Argélia) - raï-pop
O raï nasceu na cidade portuária de Oran e é o mais popular género musical da Argélia. No final da década de 70 o movimento ganhava novos contornos sonoros com o surgimento do pop-raï, contrastando com o raï tradicional dos cheikhs. A ex-dupla argelina Cheba Fadela e Cheb Sahraoui são duas das mais conhecidas estrelas desta nova geração de cantores que atribuiu a si própria o antenome de “cheb” ou “chabe”, o que quer dizer “o novo”.

"Dil Na Lagay",
Faakhir (Paquistão) - mantra
O Paquistão bem se pode orgulhar das suas ricas e variadas tradições musicais. Para além do qawwali, o antigo canto místico islâmico sufi popularizado por Nusrat Fateh Ali Khan e que é de longe o mais popular, o país é geralmente conhecido pelas ghazal, as célebres rimas românticas em Urdu celebrizadas por vozes que recriam essas canções clássicas. O cinema e a música pop têm um papel igualmente relevante na moderna música paquistanesa. O músico Faakhir trouxe-nos uma canção patriótica que combina o tradicional ritmo e a melodia Punjabi com instrumentos ocidentais modernos. O sucesso alcançado depois do lançamento deste seu primeiro álbum a solo “Aatish” comprova o êxito da rica mistura entre a folk e a pop paquistanesas.

"Min Skog (My Grove)", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Ao longo dos anos 90, os Hedningarna estiveram na linha da frente
no que toca à renovação da folk sueca. Outro dos feitos dos quatro elementos deste grupo, formado em 1987 e que até agora editou seis álbuns mais um compilatório, foi o de terem chegado às 150 mil cópias vendidas. O álbum Trä, lançado em 1994, continua a ser um dos que maior sucesso alcançou, como o comprova a força sonora deste tema, traduzido por “O Meu Bosque”.

"Fukko Bushi",
Soul Flower Mononoke Summit (Japão) - japanese traditional music
O conjunto formou-se em 1995, o ano em que um tremor de terra atingiu Kobe, a cidade onde vivem os elementos do Soul Flower Mononoke Summit, e toda a zona envolvente. Queixando-se da falta de apoio do governo nipónico, meteram mãos à obra e criaram a “The Soul Flower Earthquake Foundation” para ajudarem os desalojados a reconstruírem as suas casas. Só no primeiro ano fizeram cerca de 50 espectáculos voluntários. Como não tinham electricidade para tocar instrumentos electrónicos, escolheram instrumentos tradicionais como o okinawa sanshin, o chingdon (um tambor militar japonês), o changgo (instrumento de percussão coreano) e o acordeão. Entretanto foram adicionando melodias tradicionais e populares japonesas ao seu reportório, tendo já editado dois álbuns. A título de curiosidade, os Soul Flower Mononoke Summit foram a única banda asiática presente em 2002 na cerimónia de independência de Timor-Leste.

"Kamti",
Hadag Nahash (Israel) - israeli hip-pop
Israel é um país pequeno, com menos de seis milhões de habitantes. No entanto, a população do estado judaico integra mais de uma centena de nacionalidades. Uma diversidade étnica que também se reflecte na música israelita, a qual combina as influências europeias com a folk árabe e palestiniana e com os enérgicos ritmos do Iémen e do norte de África.
Os Hadag Nahash (“serpente de peixe”) trazem-nos um tema extraído do álbum Lazooz. As suas músicas lidam com temas como o cada vez menor apoio aos cidadãos e a crescente desigualdade social, tocando nos pontos mais sensíveis da sociedade israelita com palavras de ordem como “Gente forte faz a paz”, “Sem árabes não há terror”, ou mesmo expressões que jogam com os números: “Um é o número de países que existem entre o rio Jordão e o mar, dois é o número de países que um dia hão-de existir, três anos e quatro meses é o tempo que tenho de passar no exército...”. O nome do grupo é também um trocadilho em hebreu. Isto porque em Israel os recém encartados são obrigados a usar um autocolante no vidro traseiro com a inscrição "Nahag Chadash" ("novo condutor"), palavras que utilizaram para construir o anagrama onde foram buscar o nome. Muitas das letras dos HaDag Nachash referem-se a citações ou slogans políticos que aparecem em Israel precisamente nos autocolantes dos automóveis. A paródia e a ironia estão presentes quanto baste nos quatro álbuns já editados, onde os sete elementos do grupo misturam a pop ocidental com a música étnica, criando um som único que se situa entre o hip-hop e a world music.

"Az Ghami Tu", Nobovar & Shams Group (Tajiquistão) - tajik rap
Nobovar Chanorov é o líder dos Shams, músicos provenientes da região montanhosa de Badakhshan, no Tajiquistão, situada junto à fronteira com o Afeganistão. Sedeados em Dushanbe, Nobovar e este ensemble de seis elementos, um dos grupos pop mais activos deste país, têm como reportório a música tradicional espiritual da região de Pamir. Neste tema contam com a participação do DJ Shaitan (a tradução é precisamente “Satanás”), apresentando-nos o rap ao estilo Tajik, influenciado por uma melodia folk de Pamir.


"Bul Bul Zaman", Edil Husainov (Casaquistão) - kazakh music/folk-rock
Continuamos na Ásia Central, mas avançamos até ao Kazaquistão, outra das ex-repúblicas soviéticas que conquistou a independência em 1991. Edil Husainov, um talentoso tocador de instrumentos tradicionais do Kazaquistão, traz-nos uma música original da Mongólia onde surgem a harpa judaica, a ocarina, a flauta do Kazaquistão e a cítara, acompanhados pela guitarra, teclado, percussão e baixo.

"Andesy Moramora", Koezy (Madagáscar) - salegy
As Koesy, cinco jovens do povo Sakalava, no norte do Madagáscar, trouxeram-nos um tema extraído do álbum “Madagáscar Generation 2004”. Este país, situado na quarta maior ilha do planeta, possui uma enorme diversidade étnica – nada mais nada menos que dezoito grupos étnicos diferentes – mas também uma riqueza histórica assinalável, visto que por aqui passaram árabes, persas, chineses, indianos, portugueses, franceses e ingleses.

Jorge Costa

sábado, 18 de março de 2006

Emissão #1 - 18 Março 2006

Na estreia do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, para além da apresentação do formato musical e de alguns temas em primeira-mão, destacou-se uma entrevista exclusiva para rádio realizada a Rão Kyao, que em Fevereiro regressou a Castelo Branco para o primeiro concerto do ano na capital da Beira Baixa. Um espectáculo que antecedeu os que em breve o músico irá realizar em Angola e nos Estados Unidos. Em palco, Rão Kyao fez-se então acompanhar por Renato Júnior (acordeão/sintetizadores) e Ruca Rebordão (percussões). Ausentes estiveram António Pinto (guitarras), André Sousa Machado (bateria) e a sonoridade inconfundível do cajón, instrumento de percussão formado por uma caixa de madeira.

O programa, emitido em directo no sábado, 18 de Março, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 20 de Março, entre as 19 e as 20 horas.

Estes são os temas difundidos na primeira emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO:

"Norwegian Mood", Groupa
(Suécia) - swedish folk
Este tema foi extraído do álbum "Fjalar", editado em 2002. O grupo mistura novas dimensões musicais com sonoridades electrónicas, e desde a sua criação em 1980 que tem estado na vanguarda da moderna folk sueca. Nos Groupa encontramos uma imagem das tradições do passado, os caprichos do presente e as possibilidades do futuro.

Sambala",
Rarefolk (Espanha) - freestyle folk/folk-rock
Em “Unimaverse”, o terceiro trabalho dos sevilhanos mais audazes do freestyle folk, editado em 2001, a banda mistura de forma criativa o universo do rock e da electrónica com a música africana, celta, oriental e até mesmo o jazz. O tema “Sambala” é uma amostra perfeita deste novo movimento folk.

"Mama", Mory Kanté (Guiné-Conacri) - afropop, kora music
Tema extraído do álbum “Sabou”, lançado em 2004 por Mory Kanté, um dos mais conhecidos músicos africanos da actualidade. Natural da Guiné-Conacri, o músico tornou-se inicialmente conhecido ao juntar-se na década de 70 à Rail Band, cujo som combinava funk e música tradicional. O estrelato viria nos anos 80 quando Kanté se mudou para Paris. Para além de músico, hoje Mory Kanté é embaixador das Nações Unidas na luta contra a fome.

"Paisa", Manak-E (Reino Unido) - bhangra, punjabi music
Tudo terá começado como uma dança folclórica que nasceu no norte da Índia. Mais tarde, o fenómeno britânico-asiático assimilou instrumentos ocidentais como a guitarra eléctrica, o baixo ou os teclados, transformando a bhangra numa forma energética e popular de música de dança. Uma das referências deste ambiente sonoro é o vocalista Manak-E, que neste tema extraído do álbum do mesmo nome envereda pelos caminhos do rock.

"Riena (Anathema)",
Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock
Nova incursão até ao norte da Europa, desta feita com os Värttinä, a mais conhecida banda da folk finlandesa, com um tema extraído do álbum “Miero”, editado este ano. Com mais de vinte anos de carreira, os Värttinä são conhecidos por terem inventado um estilo baseado nas raízes rúnicas e carélicas, nos cantos femininos de várias tribos ocidentais e na poesia antiga. Da imagem do grupo fazem parte a instrumentação acústica tradicional e contemporânea, os ritmos complexos, bem como as composições e os arranjos originais. Uma palete sonora que tem vindo a crescer. Neste seu último álbum, o grupo explora melodias ciganas e a música klezmer, entre outras, deixando para trás os arranjos pop.

A primeira adaptação mundial ao palco de "O Senhor dos Anéis" arranca esta semana em Toronto, no Canadá. A versão teatral da saga épica de Tolkien integra música composta pelos Värttinä e pelo compositor indiano A.R. Rahman. Trata-se de uma das maiores produções de sempre de teatro musical, cujo orçamento ronda 27 milhões de dólares canadianos, e cujo elenco integra mais de 60 actores e músicos. A produção irá estrear em Londres em 2007 e mais tarde em Nova Iorque.

"The Drunken Piper: Primrose Lasses/Far Am Mi Fhin/Father John Angus Rankin",
Natalie MacMaster (Canadá) - celtic music/traditional folk
Na ilha de Cape Breton, na Nova Escócia (Canadá), metade da população é de origem escocesa, e uma das maiores estrelas da província é Natalie MacMaster, que toca rabeca desde os nove anos, tendo começado a sua carreira na adolescência. Desde então já tocou com diversos talentos internacionais como The Chieftains, Alison Krauss, Paul Simon, Carlos Santana e Luciano Pavarotti. Um tema extraído do álbum “No Boundaries”, e onde as raízes celtas dos dois lados do Altântico se cruzam.

"Bossa Nova, Né?", Luiz Macedo (Brasil) - MPB
“Bossa Nova, Né?”, é a pergunta que Luiz Macedo nos faz neste tema extraído do álbum “Bossa Electromagnética”. O conhecido produtor e guitarrista de São Paulo foi um dos pioneiros da música electrónica brasileira, a qual se desenvolveu sobretudo na década de 90, misturando ritmos brasileiros com estilos como o hip-hop, o drum’n’bass e o techno, tal como aconteceu na década de 50 com a bossa nova a misturar o samba com o jazz americano e mais tarde, já na década de 60, com o movimento da tropicália a absorver a pop da época.

"Su Dilluru",
Mario Rivera & Tenores Di Orosei (Itália) - folktronica
Os desenvolvimentos tecnológicos também fizeram com que muitos artistas tradicionais italianos pegassem nos seus sons e os misturassem com batidas e ritmos electrónicos. É esse o caso de Mario Rivera, membro do grupo siciliano Agricantus, que aqui surge com um tema extraído do álbum “Roots’n’bass”, o seu primeiro trabalho a solo, editado em 2001. Um trabalho onde o baixista demonstra a sua habilidade em misturar sons do passado e do futuro em novas composições e remixes originais. Neste tema, a parte vocal está a cargo do canto polifónico do grupo sardenho Tenores di Orosei, exemplo perfeito da forma como os ritmos electrónicos podem ser conjugados com sons tradicionais.

"Msimu Kwa Msimu",
X Plastaz (Tanzânia) - massai hip-hop/african rap
O grupo faz rap em swahili, kihaya e maa, a língua dos Maasai, misturando elementos tradicionais da cultura africana com o hip-pop. O tema foi extraído do seu primeiro lançamento internacional, editado em 2004.




ENTREVISTA A RÃO KYAO
Há mais de vinte anos, o instrumentista lisboeta fez-se ao mundo para se reencontrar com as origens de Portugal e descobrir novos caminhos para uma musicalidade marcada pelo contacto com diversos povos. Depois da música tradicional indiana, Rão Kyao cruzou-se com outros universos sonoros: do jazz ao fado, passando pela música cigana e pelo flamenco, até à música chinesa, árabe e brasileira. Uma carreira caracterizada pela procura e achamento de diferentes culturas e pela sempre persistente vontade de ligar o Oriente ao Ocidente.

Rão Kyao prefere a emoção e a espiritualidade, relegando para segundo plano a inovação estética. E não se considera um musicólogo. Antes procura dar uma nova expressão à musicalidade portuguesa, universo que diz ser injustamente preterido pela cada vez mais influente cultura anglo-saxónica. Do saxofone à flauta de bambu, seu instrumento de eleição e imagem de marca, o músico preza a tradição mas também a originalidade, que o têm acompanhado durante mais de duas décadas, tempo suficiente para editar dezassete discos. Quanto ao próximo trabalho, para já apenas estão reunidos alguns temas.


O músico esteve mais uma vez na cidade
(foto: Jorge Costa/Multipistas)

MULTIPISTAS: O que o levou a tentar redescobrir as raízes da música portuguesa no Oriente e a ter esse caminho como principal referência ao longo da sua carreira?

RÃO KYAO:
O contacto com essa música fez-me repensar acerca da minha maneira de tocar e de me expressar. Foi também o olhar para as origens da música portuguesa e ver de onde vem esta maneira de se lamentar e de se cantar a alegria. Fascinou-me tentar perceber porque é que temos esta maneira típica de nos expressarmos, algo que não nasceu aqui e que foi fruto de várias confluências musicais. Então compreendi que Portugal foi ocupado por um povo com uma grande musicalidade, que marcou muito a nossa música: os árabes. Depois também percebi que os portugueses andaram pelo mundo inteiro e têm uma enorme capacidade de integração. Aliás, somos conhecidos por isso. E quando uma pessoa se integra com facilidade, deixa muita coisa aos outros e traz muita coisa também. Tudo isto e a influência que a música oriental teve na nossa música fizeram-me debruçar sobre ela.

Estamos a falar não só da música oriental, mas também da música cigana, andaluz, nordestina e inclusive do jazz. Ou seja, precisou de sair de Portugal para descobrir as origens da música portuguesa, o que parece paradoxal.

É tão contraditório como dizer que para evoluir é preciso olhar para trás. Temos de ver as nossas raízes para podermos ir para a frente, compreender onde está enraizada a nossa expressão para podermos arranjar novos caminhos. Parece uma contradição, mas não é.

Volvidos dezassete discos, acha que já conseguiu elaborar um mapa claro acerca das origens da música portuguesa?

Eu não sou um historiador da música portuguesa. Faço-o por uma necessidade musical e estética. Uma coisa que é muito importante para mim é o facto de podermos tocar no estrangeiro e apresentarmos uma musicalidade que tem a ver com as nossas origens. Mas interessa-me que quem me escute perceba que se trata de uma visão muito própria sobre a música portuguesa. Quero que a minha música tenha qualquer coisa de típico, mas que ao mesmo tempo seja original e saia de mim.

Foi essa vontade de inovar e de ser diferente que o levou a trocar o saxofone pela flauta de bambu?

Eu sempre toquei os dois instrumentos. A flauta sempre me acompanhou desde o meu primeiro disco, só que a partir de certa altura decidi envolver-me abertamente com a flauta de bambu. É um instrumento difícil, muito parecido com a voz, mas que tem uma flexibilidade muito grande. E como gosto de explorar ao máximo um instrumento, estudei mais abertamente todas as possibilidades da flauta de bambu, que é agora é o meu instrumento de eleição.

O fascínio pela cultura indiana levou-o a passar vários meses em Bombaim. O que é que o marcou mais: os vestígios da cultura portuguesa ou o país em si?

É uma sensação muito estranha, mas quando vamos a Goa estamos em casa. Ali encontra-se uma verdadeira fusão entre Portugal e a Índia. Quando vim de lá fiz um disco que reflectia a minha experiência na Índia musical, a que chamei precisamente «Goa», embora este não seja um disco de música goesa. É um sítio onde os portugueses e os indianos se encontraram e geraram um país fascinante onde se sente Portugal em todo o lado, mas que ao mesmo tempo é um Portugal indiano. Isto e o estudo que lá tive com o Ragu Nachet, um grande flautista da música indiana, foram coisas muito importantes para mim. Essa experiência ajudou-me muito a interiorizar ainda mais a flauta de bambu e a perceber como é que a música tem a ver com a nossa espiritualidade e com o nosso quotidiano.

Utiliza ritmos e sons que tem vindo a recolher em todo o mundo, mas nunca desaparecem as referências a Portugal. Neste último trabalho, «Porto Alto», regressa às origens geográficas, ao fado e ao folclore nacional. Pegando na letra de «Fado Nascente», dizer que “tem andado em busca dos antepassados da canção da nossa gente” pode ser uma forma de resumir a sua carreira?

(risos) Isso é uma letra interessante do José Pires, o marido da Deolinda Bernardo [fadista que participa também no álbum «Fado Virado a Nascente»]. É algo que gosto de fazer, mas não sou um tipo muito metódico. São coisas que compreendo intuitivamente e procuro mostrar, mas sempre tentando renovar essa expressão e encontrar formas novas de a apresentar. A nossa música tem uma riqueza muito grande, um canto e ritmos muito profundos, interessantes e variados. E está a ser muito preterida com a influência das grandes potências, que são potências económicas mas não musicais. Musicalmente, nós somos ocupados completamente pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, mas nem de longe é essa a música do mundo. Há muita música que é proveniente de países economicamente muito menores, mas que não conseguem alertar as pessoas para a riqueza que há nela. E nós também somos vítimas disso. Portugal não tem poder para se manifestar aos seus e lá fora. Esquecemo-nos da nossa própria música porque ela não nos é mostrada como deveria ser.

Já veio tocar várias vezes à Beira Baixa. Sente que a riqueza e a diversidade etno-musicológica desta região, à qual o maestro Lopes Graça chamava o alfobre da música popular, também está a ser esquecida?

A música da Beira Baixa é de uma riqueza extraordinária. Tenho já tocado e arranjado muitos temas que estão ligados a esta região, mas claro que, por vezes, em ambientes musicais que dêem para isso.

Discografia Rão Kyão:
▪ Porto Alto (2004)
▪ Fado Virado a Nascente (2001)
▪ Junção (1999)
▪ Navegantes (1998)
▪ Viva o Fado (1996)
▪ Águas Livres (1994)
▪ Delírios Ibéricos (1992)
▪ Viagens na Minha Terra (1989)
▪ Danças de Rua (1987)
▪ Oásis (1986)
▪ Estrada da Luz (1984)
▪ Macau o Amanhecer (1984)
▪ Fado Bailado (1983)
▪ Ritual (1982)
▪ Goa (1979)
▪ Bambu (1977)
▪ Malpertuis (1976)

Jorge Costa

sexta-feira, 3 de março de 2006

Multipistas estreia na Rádio Urbana


logotipo do programa, a estrear no mês de Março

No próximo dia 18 de Março, estreia em antena o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO, o novo programa da Rádio Urbana. Um espaço que tem como esfera sonora a música de raízes étnicas, em particular a que se funde com géneros mais actuais e urbanos, combinando tradição e modernidade. O programa será emitido aos sábados, às 17 horas, podendo ser escutado de novo na mesma emissora às segundas-feiras a partir das 19 horas.

Para além da apresentação do formato musical e de alguns temas em primeira-mão, a emissão inaugural do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO irá contar com uma entrevista exclusiva a Rão Kyao, realizada recentemente em Castelo Branco aquando o último concerto do músico na cidade.

Depois de dois anos e meio de ausência do meio radiofónico, voltam a surgir em antena as vozes de Jorge Costa, apresentador e realizador do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO, bem como de António Fontinhas e Luís Filipe Santos, que irão participar ocasionalmente no programa, o qual sucede aos dois formatos musicais que os três jovens conduziram entre 1999 e 2003 noutra estação local de rádio.

Todas as semanas, a equipa do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO irá apostar na divulgação da melhor música étnica produzida em todo o globo, bem como na difusão de ambientes sonoros pouco comuns no panorama radiofónico português, propondo ao auditório uma hora de viagem, estrada fora, ao ritmo da melhor música do mundo.

Os dados relativos a cada uma das emissões, bem como alguns conteúdos adicionais relacionados com o universo da música do mundo, poderão ser consultados e comentados pelos ouvintes neste blog, o qual pretende ser um espaço interactivo.

A emitir para todo o distrito, a Rádio Urbana pode ser sintonizada nas frequências 97.5 MHz (Castelo Branco) ou 100.8 MHz (Fundão e Covilhã).

World Music Charts Europe - Março 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Março dos 157 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de):

1º- KINAVANA, Kekele (RD Congo) - Stern's
mês passado: 114ºlugar

2º- KAL, Kal (Sérvia) - Asphalt Tango
estreia na tabela
3º- AFRICAN REBEL MUSIC, vários - Out Here
mês passado: 4ºlugar
4º- FAREWELL SHALABIYE, No Blues (Holanda, Israel) - Rounder Europe
mês passado: 7ºlugar
5º- MIERO, Värttinä (Finlândia) - Realworld
mês passado: 11ºlugar
6º- BELLOW POETRY, Maria Kalaniemi (Filândia) - Aito
mês passado: 5ºlugar
7º- UKRAINE CALLING, Haydamaky (Ucrânia) - EastBlok
mês passado: 114ºlugar
8º- LA VIDA TE DA, Amparanoia (Espanha) - Wrasse
estreia na tabela
9º- LAMP FALL, Cheikh Lo (Senegal) - World Circuit
mês passado: 1ºlugar
10º- A LIFE IN MUSIC, Ananda Shankar (Índia) - Saregama
estreia na tabela
11º- BARCELONA RAVAL SESSIONS 2, vários (Espanha) - K-Industria
mês passado: 41ºlugar
12º- CES VAGUES QUE L'AMOUR SOULEVE, Titi Robin (França) - Naive
mês passado: 10ºlugar
13º- INTRODUCING, A. R. Rahman (Índia, Reino Unido) - Saregama
estreia na tabela
14º- LOPE KAI, Erneida Marta (Guiné-Bissau) - Iris Musique
mês passado: 39ºlugar
15º- M'BEMBA, Salif Keita (Mali) - Universal
mês passado: 3ºlugar)
16º- DOUBLE-CHECK, Stella Chiweshe (Zimbabwe) - Piranha
estreia na tabela
17º- GADJO, Mad Manoush (Áustria) - Lawine
mês passado: 31ºlugar
18º- AWA, David Walters (França) - Ya Basta
estreia na tabela
19º- RUMI, Lu (Itália) - Forrest Hill

estreia na tabela
20º- OUT OF BAGDAD, Aida Nadeem (Iraque, Dinamarca) - Uruk Records
mês passado: 15ºlugar