quinta-feira, 31 de agosto de 2006

World Music Charts Europe - Setembro 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Setembro dos 192 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de). A assinalar, as oito entradas novas para os primeiros vinte lugares do WMCE e a manutenção no topo das preferências do painel dos cinco álbuns que em Agosto lideravam a tabela:

1º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 3ºlugar

2º- GOLD & WAX, Gigi (Etiópia, EUA) - Palm Pictures
mês passado: 1ºlugar
3º- BREATH, Mercan Dede (Turquia, Canadá) - Doublemoon
mês passado: 2ºlugar
4º- THE ROUGH GUIDE TO WEST AFRICAN GOLD, vários - World Music Network

estreia na tabela
5º- NIGER, Afel Bocoum & Alkibar (Mali) - Contre-Jour
mês passado: 4ºlugar

6º- IDJAGIEDAS, Mari Boine (Noruega) - Emarcy (Universal)
estreia na tabela
7º- NE UZ VIENU DIENU, Ilgi (Letónia) - UPE
mês passado: 5ºlugar
8º- MUSIQUES METISSES, vários - Marabi

estreia na tabela
9º- GRAND BAZAAR, Istambul Oriental Ensemble (Turquia) - Network Medien
estreia na tabela
10º- LA GHRIBA - LA KAHENA REMIXED, Cheb i Sabbah (EUA, Argélia) - Six Degrees
mês passado: 18ºlugar

11º- EL VIAJE, Gabriela (Argentina) - Intuition
estreia na tabela
12º- TRAGARE, Druzina (Eslováquia) - Indies
estreia na tabela
13º- POPLOR, Thomas Kocko & Orchestr (República Checa) - Indies
estreia na tabela
14º- MISH MAOUL, Natacha Atlas (Reino Unido) - Mantra
mês passado: 10ºlugar
15º- ELYSIUM FOR THE BRAVE, Azam Ali (EUA, Irão) - Six Degrees

estreia na tabela
16º- THE SEEGER SESSIONS, Bruce Springsteen (EUA) - Sony
mês passado: 12ºlugar

17º- REPUBLICAFROBEAT 2, vários - Lovemonk
mês passado: 23ºlugar
18º- AY AY LOLO, Menwar (Maurícias) - Marabi
mês passado: 11ºlugar
19º- ZANDISILE, Simphiwe Dana (África do Sul) - Skip
mês passado: 7ºlugar
20º- TRAVESIAS, Susana Baca (Peru) - Luaka Bop/Virgin
mês passado: 6ºlugar

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Emissão #23 - 26 Agosto 2006

A 23ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 26 de Agosto, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 28 de Agosto, entre as 19 e as 20 horas.

Uma edição em que mais uma vez se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas africanos que até agora passaram neste programa. Eis a listagem:

"Madan", Salif Keita (Mali) - afropop, mandingo

"Mama", Mory Kanté (Guiné-Conacri) - afropop, kora music


"One For Senegal", Touré Kunda (Senegal) & The Pleb (Itália) - afro-rock, mbalax

"Plus Rien M'Étonne", Tiken Jah Fakoly (Costa do Marfim) - afropop, mandingo, soukous, african reggae

"Tounga", Issa Bagayogo (Mali) - mandig, wassoulou

"Sina Mali, Sina Deni", Khadja Nin (Burundi) - afropop, swahili music

"Mosquito Song", Seun Kuti & Egypt 80 (Nigéria) - afrobeat

"Laax", Omar Pène (Senegal) - mbalax


"Tsy Zanaka Mpanarivo", Jaojoby (Madagáscar) - salegy

"Wadatshulwa", Amadodana Asempumaze (África do Sul) - south african gospel

"Andesy Moramora", Koezy (Madagáscar) - madagascar traditional music

"Senegal Fast Food", Amadou & Mariam (Mali) - afro pop blues

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Bons Sons em Cem Soldos

A música tradicional e não convencional esteve à solta nas ruelas de Cem Soldos, no concelho de Tomar. Na estreia do Festival Bons Sons naquela aldeia houve ainda lugar aos ateliês de dança e percussão, às artes plásticas e ao artesanato.


O folclore alegre e arejado da serra com os Toques do Caramulo

(foto: Jorge Costa/Multipistas)

Entre 18 e 20 de Agosto, o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO rumou até à aldeia de Cem Soldos, no concelho de Tomar, para acompanhar a primeira edição do Festival Bons Sons. Um evento dedicado à música tradicional e não convencional, e que, de acordo com a organização, pretende “funcionar como uma plataforma de divulgação de novos grupos de música nacional de qualidade” e “promover o intercâmbio cultural”, levando o público a “viver a aldeia”.

O festival arrancou na sexta-feira, dia 18, com os efeitos visuais dos tomarenses
ULTIMAcTO, grupo integrado no Sport Club Operário de Cem Soldos (SCOCS) e que apresenta peças de teatro para todas as idades. Anualmente, eles promovem na aldeia uma mostra com grupos nacionais e internacionais. A abrir a noite no centro da povoação estiveram também os GARAC com o espectáculo “Restos”. Um grupo de animação de rua da associação tomarense Canto Firme, que começou por animar ceias renascentistas, e que hoje apresenta cenas imaginadas e concebidas a partir de matérias e objectos comuns.


O festival arrancou com o jazz tradicional dos Desbundixie
(foto: Jorge Costa/Multipistas)


Na música, a estreia do palco situado no largo principal fez-se com os Desbundixie, banda de Leiria que se socorre da linguagem e do improviso, recuando até aos anos de 1920 ao enveredar por um estilo musical conhecido por dixieland, o jazz tradicional de New Orleans. Eles arrancaram os primeiros passos de dança a um público heterogéneo ainda morno, onde se podiam ver não só as caras de gentes da aldeia e arredores, mas também muitos jovens festivaleiros, alguns deles vindos do estrangeiro. Entre outros, desfilaram os temas “Mardi Grass” e “Royal Garden Blues”, um must jazzístico com que encerraram a actuação.

A animação prosseguiu com a música tradicional dos Toques do Caramulo, grupo da D’Orfeu – Associação Cultural de Águeda que procura reinventar livremente os temas populares daquela serra. Uma formação de sete a oito músicos que começou em 2000 com a oficina de dança, no ‘Andanças’, e que apresenta um folclore alegre, enérgico e arejado, fazendo uma ligação entre a folk rude de outrora e as novas músicas de hoje. Sempre com coreografias engraçadas em palco e muita comunicação com o auditório.


Os Bácoto com os ritmos eléctricos das percussões africanas

(foto: Jorge Costa/Multipistas)

Os Bácoto, que se estrearam em Cacilhas, foram a última banda da noite. E valeu a pena a espera, porque o ambiente de festa e dança electrizante contagiou completamente o público. Eles apresentaram um espectáculo baseado nos ritmos tradicionais afro-mandingues – cultura oriunda de uma zona que compreende a Guiné-Conacri, o Mali, o Burkina-Faso, a Libéria, o Senegal, a Gambia e a Costa do Marfim –, concentrando-se na sonoridade do djembé, símbolo supremo das percussões africanas.

A fechar o serão DJ Popkorn, uma das residentes no Barcode, em Braga, cujo portefólio sonoro vai do chill out ao electro, passando pela música alternativa nacional e internacional.

Sábado, dia 19, arrancou em Cem Soldos com o Canal 0, um projecto de animação de cinema, da autoria de João Cabaço e João Bento, e que tem como base a musicalização electroacústica de filmes de animação do século XX e de vídeos contemporâneos.

De regresso ao palco principal e a abrir a noite esteve a Orquestrinha do Terror, grupo que se serve de influências artísticas que vão da música ao cinema, dança, artes plásticas, circo, teatro ou literatura para recriar música cinematográfica. Eles fundem vários estilos musicais, desde a música portuguesa ao jazz manouche (cigano) e à música tradicional de Leste, o que culmina numa improvisação jazzística com base oriental. Cada tema é uma curta-metragem musical que retrata viagens a outros mundos e uma janela aberta para momentos introspectivos e eufóricos.


As Tucanas testaram a sonoridade dos materias e das vozes

(foto: Jorge Costa/Multipistas)

Seguiram-se as Tucanas, quatro jovens mulheres influenciadas também pelo teatro e dança, e que interpretam os seus temas, inspirados nas tradições portuguesas, africanas e brasileiras, tocando bidões, cabaças, pandeiros, surdos, djembés ou dumbas. Cantando em português e em dialectos imaginários como o “tucanês”, e percutindo instrumentos construídos por elas próprias, as Tucanas brincam e jogam com o ritmo e a harmonia, conjugando a sensibilidade feminina com a rudeza da percussão. Apesar da falha inesperada no gerador eléctrico, o concerto seguiu com a sua acústica quase inalterada. Regressada a corrente, o público não se poupou a aplausos.


O ritmo e a boa disposição dos Skareta a fechar o festival

(foto: Jorge Costa/Multipistas)

O fenómeno da noite veio mesmo do Entroncamento. Os Skareta, grupo que venceu o último concurso de bandas daquela localidade, fecharam em grande o festival. Sempre com boa disposição e ritmo, estes fizeram a plateia dançar euforicamente graças a uma palete sonora que vai do ska (estilo musical jamaicano, percursor do rocksteady e do reggae) de Leste ao afropunk latino, misturando bateria, baixo, guitarra, sopros e voz.

A fechar a longa sessão sonora, que se prolongou até ao nascer do sol, estiveram as DJ’s Kitchenette. Influenciadas pela música dos anos 70 e 80, elas seleccionam géneros actuais como o rock, punk, electro ou happy-hardcore, criando actuações intimistas com o público.

Para além dos concertos e das DJ sessions, o Bons Sons envolveu outras iniciativas como ateliês de dança contemporânea, dança oriental, rumba sevilhana e percussão em bidões. Houve também lugar a desportos radicais e actividades aeróbicas, bem como a uma mostra de artes plásticas e a uma feira de marroquinarias e artesanato pelas ruelas da aldeia de Cem Soldos.

O festival surge integrado no projecto “Acontece Cem Soldos”, iniciativa realizada a propósito das comemorações dos 25 anos da legalização do SCOCS. Esta associação, que organiza o Bons Sons, surgiu na década de 1960, movimentando sobretudo jovens que ocasionalmente regressam à terra. O plano integra também o programa “Avós e Netos”, cuja particularidade foi a de colocar duas gerações distantes a produzir a lagartixa em tecido que serviu de mascote ao festival.

Jorge Costa

EXTRA ...↓
VIDEOCLIP Desbundixie, Toques do Caramulo, Bácoto, Tucanas e Skareta ao vivo em Cem Soldos

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Emissão #22 - 19 Agosto 2006

A 22ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 19 de Agosto, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 21 de Agosto, entre as 19 e as 20 horas.

Uma edição em que mais uma vez se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas em língua portuguesa que até agora passaram neste programa. Eis a listagem:

"Pão Prá Multidão", Donna Maria (Portugal) - electronic folk


"O Fim da Picada", Gaiteiros de Lisboa (Portugal) - portuguese folk

Dona Tresa, Galandum Galundaina (Portugal) - celtic folk


"Nangbar", Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion


"Santiago - Lisboa", Xosé Manuel Budiño (Espanha) - folk, celtic music

"Bossa Nova, Né?", Luiz Macedo (Brasil) - MPB


"Samba do Gringo Paulista [Zero dB reconstruction]", Suba (ex-Jugoslávia) - brasilian electronica

"Dimokransa", Mayra Andrade (Cabo Verde) - morna, funaná, coladera, batuque

"Sodade", Cesária Évora (Cabo Verde) e Eleftheria Arvanitaki (Grécia) - morna, coladera

"Balancê", Sara Tavares (Portugal) - afropop

"Rodopiou", Nazaré Pereira (Brasil) - carimbó, forró, capoeira, maracatu

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Emissão #21 - 12 Agosto 2006

A 21ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 12 de Agosto, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na segunda-feira, 14 de Agosto, entre as 19 e as 20 horas.

Uma edição em que se destaca a rubrica Caixa de Ritmos, numa emissão especial, feita de poucas palavras, e inteiramente dedicada aos melhores temas que passaram nas últimas dez emissões deste programa. Eis a listagem do melhor dos melhores temas do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO:

"Jani El Hob", Cheikha Rimitti (Argélia) - raï, châabi, gnawa music

"Ilham", Souad Massi (Argélia) - argelian folk, chaâbi

"We Were Gonna", Dengue Fever (Cambodja, EUA) - khmer rock, cambodian folk, pop

"Nafiya", Mory Kanté (Guiné-Conacri) - afropop, kora music

"La Realité", Amadou & Mariam (Mali) - afro pop blues

"Domingo Ferreiro", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk

"Galicia", Urban Trad (Bélgica) - techno folk

"Kamppi", Maria Kalaniemi & Aldargaz (Finlândia) - finnish folk, jazz, rock, pop

"Tuulilta Tuleva", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk/suomirock

"Pena", Šaban Bajramović (Sérvia) - gypsy music

"Listopad", Haydamaky (Ucrânia) - carpathian ska, ukranian dub machine, hutzul punk

"Venus Nabalera", Mau Mau (Itália) - folk-rock, latin rock

(os dados sobre estes temas podem ser encontrados nos textos das emissões em que foram emitidos)

Jorge Costa

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Emissão #20 - 5 Agosto 2006

A 20ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, um especial dedicado à edição deste ano do Festival de Músicas do Mundo de Sines, é difundida no sábado, 5 de Agosto, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), indo de novo para o ar na segunda-feira, 7 de Agosto, entre as 19 e as 20 horas.

"Momelukki & Mosto Leski",
Alamaailman Vasarat (Finlândia) - chamber-rock, ethnic brass punk, kosher-kebab jazz
Os filandeses Alamaailman Vasarat (o nome significa Martelos do Submundo) a abrirem a emissão com os ritmos acelerados e frenéticos de “Momelukki & Mosto Leski”, tema extraído do álbum “Vasaraasia”, editado em 2000. Eles, que foram uma das presenças mais vibrantes no Festival de Músicas do Mundo de Sines, incendiaram a noite na Avenida da Praia com uma mistura de estilos, sempre com criatividade e um bom jogo entre melodia, harmonia e rítmo. Criados em 1997 em Helsínquia a partir do núcleo do grupo de rock progressivo Höyry-Kone, os Vasarat são um projecto acústico cheio de humor e energia. A banda apresenta-se como uma combinação de world music ficcional com elementos de heavy metal, jazz e música klezmer. Uma sonoridade caracterizável algures entre o chamber rock, o ethnic brass punk e o kosher-kebab jazz. São climas sombrios e texturas densas numa original mistura de timbres baseada em instrumentos de sopro (trombone e sax soprano), no violoncelo, no piano e no órgão, mas também em instrumentos como o didgeridoo e o shenhai (espécie de oboé indiano). E ritmos acelerados e frenéticos como este “Mamelukki & Musta Leski” provam que no rock não são precisas guitarras eléctricas.

"Breizh Positive", Jac
ques Pellen & Celtic Procession (França) - jazz rock, celtic music
As músicas do mundo prosseguem com Jacques Pellen, um dos melhores guitarristas bretões e um talentoso músico de jazz, e o colectivo Celtic Procession. Eles trazem-nos o tema “Breizh Positive”, extraído do álbum “Celtic Procession Live – Les Tombées de la Nuit”. Um trabalho gravado em Rennes por doze músicos a propósito do décimo aniversário daquela big band de geometria variável, criada em 1988. Um colectivo que reúne uma dezena de músicos tradicionais bretões e de jazz com a mesma paixão de Jacques Pellen pelo improviso. Com referências tão diferentes quanto o pianista de jazz Keith Jarrett, o compositor clássico Schönberg ou o o guitarrista bretão Dan Ar Braz, eles tentam misturar o jazz com temas e instrumentações de inspiração celta bretã, adicionando-lhes mesmo o rock e sons africanos. O cantor e clarinetista Erik Marchand, o
violinista Jacky Molard ou o baterista argelino Karim Ziad são alguns dos músicos que aceitaram o desafio de acompanhar Jacques Pellen na edição deste ano do Festival de Músicas do Mundo de Sines.

"Nangbar", Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion
Neste Festival de Músicas do Mundo de Sines, mudamos de palco e vamos até Porto Covo para escutar os portugueses Dazkarieh. Eles trouxeram-nos o tema “Nangbar”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2004. Conhecidos por navegarem entre os sons da Irlanda, Índia, África, Andes, Espanha e Balcãs, os Dazkarieh propõem-nos uma viagem pela diversidade musical do planeta. Um projecto genuinamente português que, à semelhança deste festival, procura a sua alma sonora nas culturas mais díspares. A formação dos instrumentistas dos Dazkarieh vai da música tradicional, experimental e erudita ao rock, o que contribui para o enriquecimento do processo criativo do grupo. Quanto à instrumentação, eles servem-se, entre outros, do bouzouki e da flauta transversal, da nyckelharpa (harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas) e do cavaquinho, da gaita transmontana e do bandolim. Formados em 1999 por Filipe Duarte, José Oliveira e Vasco Ribeiro Casais, os Dazkarieh começaram por ser conotados com o som celta e a folk gótica. Posteriormente, devido à fusão de materiais musicais tão diferenciados, e já assumidamente ligados à chamada world music, o grupo integrou então cinco novos elementos, passando a conceber canções em língua portuguesa. Recorde-se que até então o “dazkariano” era a base linguística de todas as suas músicas.

"Fairground", Ivo Papasov & his Wedding Band (Bulgária) - wedding band music
Para já, seguem-se o búlgaro Ivo Papasov e a sua Wedding Band. Eles trazem-nos o tema “Fairground”, extraído do álbum do mesmo nome, editado em 2004. O rei da frenética e festiva stambolovo (a chamada música cigana de casamentos) encerrou, junto à praia, o festival de Sines. Nascido na fronteira da Bulgária com a Grécia e a Turquia, Papasov cresceu numa família cigana onde o clarinete é tocado há gerações. Em 1974 forma a Trakija Band, a qual se tornaria a melhor e mais solicitada orquestra de casamentos da região. Ao misturar a folk búlgara e dos Balcãs com elementos contemporâneos, Papasov criou um género a que se chamaria de wedding band music. Mas os problemas com a ditadura levam-no à prisão nos anos 80, o que atraiu a atenção internacional e fez crescer a sua popularidade. Considerado um dos maiores clarinetistas do mundo, Ivo Papasov é também um grande criador de jazz. Em homenagem ao seu talento, os búlgaros chamam-no de Aga (mestre). Papasov toca com a sua mulher, a cantora Maria Karafizieva, e com outros cinco músicos, que em palco surgem com instrumentos como a guitarra, o acordeão, a kaval (flauta tradicional da Bulgária) ou a gadulka (espécie de viola de arco búlgara). Uma mistura exuberante de sons e melodias com improvisações de jazz numa visão contemporânea das danças tradicionais da folk búlgara.

"Tcherno", Vaguement La Jungle (França) - klezmer, gypsy music, jazz, rock'n'roll
Atrás os franceses Vaguement La Jungle com “Tcherno”, tema extraído do seu segundo e último trabalho “Aie Aie Aie”, editado em 2003. Mesmo a propósito, eles são um grupo orientado para a animação de festivais, criando concertos cheios de energia e bom humor onde a festa e a interacção com o público são parte essencial do espectáculo. Nas suas performances, os Vaguement La Jungle misturam música e teatro de rua. Com o seu cocktail fusionista, este quarteto propõe-nos um universo sonoro selvagem e estimulante. Um caldeirão mestiço onde borbulham a música cigana, árabe e judaica, o jazz e o rock‘n’roll, e que é servido com muita improvisação, espírito cáustico e letras libertárias. Uma aventura a escutar também com os olhos, já que a sua música arrasa fronteiras e cada concerto é um verdadeiro remédio contra o marasmo. Os Vaguement La Jungle conheceram-se nas ruas de Nantes e estão juntos desde 2000. Eles fazem parte da nova vaga de artistas franceses que representam as várias comunidades estrangeiras existentes em França e que lutam por uma integração na indústria musical francófona.

"Ya Fama", Toumani Diabaté & Symmetric Orchestra (Mali) - kora music, mbalax
A jornada prossegue com Toumani Diabaté e a Symmetric Orchestra, uma das presenças mais marcantes na última edição do Festival de Músicas do Mundo de Sines. Eles trazem-nos “Ya Fama”, tema extraído do álbum “Boulevard de l’Indépendance”, editado este ano. Segundo a tradição mandinga, chama-se Diabaté ao griot do seu séquito que pela primeira vez toca kora, espécie de harpa africana em que a caixa de ressonância é uma cabaça. Hoje os Diabaté continuam no topo da aristocracia da harpa de 21 cordas e Toumani é o seu expoente máximo. Este começou a tocar kora aos cinco anos de idade e desenvolveu sozinho a sua técnica. Desde o final dos anos 80 que o mestre maliano tem procurado abrir uma nova janela para este instrumento. Foi o que aconteceu com o britânico Danny Thompson, os espanhóis Ketama, os norte-americanos Taj Mahal e Roswell Judd, que lhe permitiram explorar territórios desconhecidos que vão da folk britânica ao flamenco, blues e jazz. Toumani Diabaté tem colaborado com artistas de todo o mundo, mas foi com o conterrâneo Ali Farka Touré que gravou o disco “In the Heart of the Moon”, premiado no ano passado com um Grammy. Desde 1992 que tem o apoio da Symmetric Orchestra, formada por músicos de países do antigo império mandinga (Mali, Burkina, Guiné-Conacri ou Senegal) e que une a a música tradicional com guitarras eléctricas, bateria e teclados, interpretando repertório que vai da música de kora da Gambia, passando pelo mbalax senegalês e pelos ritmos dançáveis de influência latino-americana.

"Mosquito Song", Seun Kuti & Egypt 80 (Nigéria) - afrobeat
Atrás o saxofonista nigeriano Seun Anikulapo Kuti, filho mais novo de Fela Kuti, a figura régia da afrobeat, com o tema “Mosquito Song”, gravado ao vivo este ano em Dakar, no Senegal, no “Africa Live: The Roll Back Malária Concert”. Aos 9 anos, Seun já cantava coros nos concertos de Fela, tendo vivido junto do pai os últimos da vida dele, absorvendo tudo quanto este lhe ensinava. Depois da morte de Fela em 1997, Seun Kuti foi naturalmente aceite como sucessor na liderança da Egypt 80, a última banda do pai, e começa a assumir a renovação do legado. Com uma voz cada vez mais própria, ele mantém no entanto viva a mais original encarnação da afrobeat, usando uma sólida secção de baixo e o groove incomparável das vozes e percurssões africanas. Um etno-funk circular e hipnótico, com muito jazz à mistura. Seun lidera com tremenda energia a sua banda em palco, tocando reportório do pai e as suas próprias composições. Mantendo o tom político e social nas letras, refinando-se no saxofone e enriquecendo a afrobeat com outras músicas da sua formação, como o hip-hop, Seun é o mesmo dínamo em palco. Magia semelhante viveu-se no castelo de Sines na semana passada num concerto que, para além da orquestra Egypt 80, contou ainda com o baterista Tony Allen, companheiro de Fella Kuti na invenção da afrobeat, uma combinação de
ritmos africanos, funk e jazz que colocou a Nigéria no mapa musical do século XX.

"Dimokransa", Mayra Andrade (Cabo Verde) - morna, funaná, coladera, batuque
Entretanto seguimos até Cabo-Verde com “Dimokransa”, de Mayra Andrade, um dos temas incluídos no álbum “Navega”, seu disco de estreia a solo, editado este ano. Um trabalho gravado de forma expontânea, com poucos arranjos pré-definidos, mas que levou tempo a amadurecer e atravessou diferentes mares. A mais jovem diva da música cabo-verdiana nasceu em Cuba e viveu em Cabo Verde, no Senegal, em Angola e na Alemanha. No entanto, foi em França, país onde hoje reside, que Mayra encontrou os seus ouvintes mais entusiasmados, um dos quais Charles Aznavour, que no ano passado a convidou para cantar com ele um dueto. Uma colaboração que cimentou o perfume de uma voz crioula quente e com grande sentido cénico no território da língua francesa. Mayra Andrade interpreta com destreza, sentido pop e maturidade todos os estilos clássicos da música do arquipélago, da morna ao funaná, da coladera ao batuque, mas a sua abordagem é a de uma nativa da ilha de Santiago, alegre e com fortes afinidades com a música negra do Brasil.

"Toada Velha Cansada",
Cordel do Fogo Encantado (Brasil) - forró, axe, rock
Os brasileiros Cordel do Fogo Encantado, uma das maiores surpresas deste ano do Festival de Músicas do Mundo de Sines, trazem-nos um tema do álbum do mesmo nome, extraído do primeiro trabalho discográfico da banda. Em 1997 um grupo fazia nascer o Cordel do Fogo Encantado. Dois anos depois, a peça teatral transforma-se num espectáculo musical. O jovem quinteto pernambucano fala então de histórias de reis e dragões, de santos e bandidos, do princípio e do fim do mundo. Um projecto que reinventa várias tradições musicais e narrativas do sertão nordestino brasileiro – dos cantadores aos emboladores, passando pelos repentistas e autores de cordéis, folhetos de histórias vendidos nas feiras, – trazendo a sua força mitológica para o século XXI. A música dos Cordel de Fogo Encantado, um dos mais premiados projectos da nova música brasileira, parte de Pernambuco para se fundir noutras latitudes, destacando-se a pujança percurssiva, com o forró e o axe em fúria constante. A essa fusão juntam-se tradições índias, o folclore e a força demolidora dos tambores de culto africano, a par do rock, das texturas do violão e do carisma do poeta e vocalista psicadélico Lira Pães, claramente influenciado pelas cantigas de escárnio e maldizer.

"Galandún",
Eliseo Parra (Espanha) - folk-rock, rap, hip-hop
O programa encerra com Eliseo Parra, um dos maiores conhecedores e reinventores do folclore espanhol e outra das revelações do Festival de Músicas do Mundo de Sines. Ele traz-nos agora o tema “Galandún”, extraído do álbum “De Ayer Mañana”, editado no ano passado. Uma expressão coloquial castelhana dá o título ao mais recente disco deste músico, resumindo na perfeição a sua identidade musical. Trabalho que integra uma ampla variedade de música tradicional espanhola, acrescentando-lhe estilos modernos como o rap, o hip-pop ou o chill out. Fazendo conviver como poucos o ontem e o amanhã, Eliseo Parra é hoje um dos mais estimulantes músicos de raiz tradicional da Europa. Iniciando-se como músico de rock, de jazz e até como membro de várias orquestras de salsa, ele começou em 1983 a investigar as músicas tradicionais das “tribos hispânicas”, registando as suas recolhas em vários discos e livros. Eliseo Parra acredita que a única forma de fazer com que o folclore sobreviva é retirá-lo do ambiente fechado dos museus e levá-lo para o palco. No seu repertório, onde dominam os ritmos de dança, as velhas músicas das Espanhas tornam-se sons do presente e do futuro. É esse folclore pujante e lúdico que se ouviu no encerramento em Porto Covo do programa de concertos do Festival de Musicas do Mundo de Sines. Uma fonte inesgotável de recursos que é apenas um ponto de partida para outras viagens musicais.

Jorge Costa

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Sines: ninguém pára as músicas do mundo

Com a crescente apetência do público pela world music, esta começa finalmente a ganhar terreno em Portugal. Falta combater o interesse fortuito dos media pelo género, reforçar a sua presença nas rádios nacionais e criar mesmo um programa de televisão ou um canal no cabo. Que se tirem as devidas elações do sucesso da edição deste ano do FMM. O rastilho acendeu-se em Sines. Agora já ninguém pára as músicas do mundo.


Interior do castelo de Sines na última noite do FMM
(foto:
Jorge Costa/Multipistas)

Durante nove dias, uma imensidão de gente invadiu as pequenas e estreitas ruas de Sines para participar na oitava edição do Festival Músicas do Mundo (FMM). Um evento a que, pelo segundo ano consecutivo, o público soube corresponder, esgotando mais uma vez a lotação do castelo, preparado para acomodar 6500 pessoas. Artistas e bandas animaram a festa que este ano se distribuiu por quatro palcos, num total de quase três dezenas de concertos, 160 músicos em representação de 23 países e uma enorme variedade de géneros musicais.

Organizado pela Câmara Municipal daquela localidade, e fruto da dinâmica do autarca Manuel Coelho (director do evento) e de Carlos Seixas (director criativo e de produção), o FMM teve então de se expandir para fora das muralhas. Desta forma, os concertos também decorreram na Avenida da Praia, em Sines, e junto ao Porto de Pesca, em Porto Covo. Juntou-se-lhe ainda o Centro de Artes de Sines, que acolheu iniciativas paralelas como exposições de fotografia, workshops, uma feira do livro e do disco, um ciclo de cinema documental, jam sessions, conversas sobre arte e música, encontros com os artistas, animação de rua e ateliers para as crianças.

E são cada vez mais os visitantes que acorrem a esta cidade do litoral alentejano. Desde a primeira edição do FMM, em 1999, que já foram contabilizados cerca de 115 mil espectadores, mais de 40 mil deles só este ano. Uma cifra que quase duplicou em relação a 2005, quando Sines acolheu cerca de 25 mil pessoas. Para acompanhar o aumento de espectadores, o festival foi sofrendo diversas modificações, sem contudo enveredar por um lógica mais comercial. Ao escolher fugir a uma programação de pop formatada ou rock convencional, o FMM captou e criou novos públicos, tornando-se uma referência nacional.


O público encheu o recinto para assistir aos concertos
(foto:
Jorge Costa/Multipistas)

De porto voltado para o mundo, Sines transformou-se num ancoradouro das rotas musicais dos cinco continentes. O FMM tem vindo precisamente a apostar num mosaico de músicos e grupos de grande qualidade, apresentando lado a lado raízes muito diversas. O sucesso dos últimos anos tem demonstrado aliás a existência de público para o alternativo caldeirão musical que fervilha aqui e além-fronteiras.

São diferentes culturas em contacto naquele que é considerado o maior festival do género no país. “É uma forma de dar a volta ao mundo sem ter que pagar o bilhete”, referiu em entrevista à Som Digital a cantora cabo-verdiana Mayra Andrade, lembrando que desta forma o planeta se vem dar a conhecer ao público português. E com a crescente apetência pela world music, esta começa finalmente a ganhar terreno em Portugal. Falta agora combater o interesse fortuito dos media pelo género, reforçar a sua presença nas rádios nacionais e, ouse-se dizer, criar mesmo um programa de televisão ou um canal no cabo. Altos voos? Que se tirem as devidas elações do sucesso da edição deste ano do FMM. O rastilho acendeu-se em Sines. Agora já ninguém pára as músicas do mundo.

Jorge Costa



Os blues do Saara Ocidental, na voz de Mariem Hassan

(fotos: Jorge Costa/Multipistas)


A folk electrizante das filandesas Värttinä, num dos pontos altos do festival
(fotos:
Jorge Costa/Multipistas)

EXTRA ...↓
VIDEOCLIP Värttinä ao vivo em Sines

Venham mais músicas do mundo!



Tendo em conta o seu público-alvo, é de louvar que pela primeira vez, ainda que de forma modesta, a Antena 3 tenha feito o devido acompanhamento de um acontecimento de escala como o Festival de Músicas do Mundo de Sines. Apesar das limitações, o “Planeta 3”, apresentado semanalmente pela Raquel Bulha, vale pelo gesto pioneiro, pela atitude de resistência e pela oportunidade que dá ao país em respirar algum oxigénio sonoro étnico, coisa ainda rara na telefonia portuguesa, à excepção do “Raízes”, da Antena 2, e de um ou outro programa nas estações locais e regionais, como é o caso do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO.

Convém aliás lembrar que as rádios públicas tanto têm sido parte da solução como do problema. O exemplo vem da emissora estatal mais orientada para o público tendencialmente atento ao universo das músicas
do mundo: nas 168 horas de emissão semanal da Antena 3, apenas uma é dedicada na totalidade e sem complexos à world music. Precisamente o “Planeta 3”.

É certo que a estação, que em 1994 veio ocupar o lugar vago deixado anos antes pela defunta Rádio Comercial, então emissora juvenil da RDP, construiu a sua personalidade a partir de um modelo programático mais baseado na cultura anglo-saxónica. Razão pela qual, passada pouco mais de uma década, não será fácil sensibilizar para este ambiente musical um auditório cronicamente habituado à linguagem da pop e do rock e com dificuldade em abrir-se a outras referências. Um processo necessariamente lento num país que insiste em esquecer as suas raízes musicais e em fazer orelhas moucas do seu imenso património etno-musical. Quando aqui ao lado, na Galiza, a música celta é considerada o rock dos jovens, porque terão de ser os distantes Estados Unidos a construir isoladamente o mapa sonoro de toda uma geração de portugueses?

Ainda que a música do mundo, vista numa perspectiva de Portugal para fora, não se esgote na melódica latinidade e no vibrante afropop, tão na moda nos dias que correm, a abordagem mais calorosa do “Planeta 3” não esconde antes revela os grandes trunfos da música dos povos: a alegria e o ritmo, que no fundo não são mais do que os impulsos básicos da vida. Seguindo essa mesma fórmula, o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO procura modestamente furar o cinzentismo e a homogeneidade musical do dial. Um formato musical que acompanha a linha de evolução do conceito de música do mundo, hoje um imenso e intenso tabuleiro de fusões sonoras onde género e géneros se esfumam diariamente.

Admito que despertei para este tipo de música ao ouvir anos a fio a homóloga espanhola Radio 3 – coisa fácil junto à fronteira, mas que com o web streaming deixou de ser um exclusivo de quem vive na raia –, porque na rádio portuguesa nunca houve grande abertura para um universo musical que, acertadamente, preenche quase por completo de manhã à noite a grelha de programação daquela emissora e de outras equivalentes europeias. Afortunadamente (para eles e para alguns de nós), do lado de lá os microfones da Rádio Nacional de Espanha continuam à disposição dos "mundialescos dinosauros radialistas", que nos seus programas de autor – outra raridade cada vez maior por cá – partilham connosco a sua bagagem musical étnica, nos alimentam a curiosidade pela história e cultura dos povos distantes e nos ajudam a encontrar referências e a construir a partir daí uma palete diversificada. Que ninguém duvide que será tudo isto que iremos lembrar daqui a uns anos ao perspectivarmos o nosso passado.

A rádio pública, à luz do modelo europeu de radiodifusão e seja ela feita para jovens ou adultos, é isto mesmo: uma porta aberta para o mundo. Às rádios ditas comerciais caberá seguir, se assim o entenderem, outro caminho mais "genérico" e "asséptico". E é por este custo acrescido e para garantir o direito à diferença que todos nós pagamos juntamente com a factura da luz a chamada “Contribuição Audiovisual”. Caso contrário, perante o incumprimento do compromisso do Estado com os cidadãos que representa, de que forma se poderia legitimar esta taxa “voluntária”?

E ainda que a "imagem sonora" da espanhola Radio 3 fique alguns pontos atrás do que se faz na Antena 3, aquela estação acaba por levar a melhor no que toca a conteúdos e a diversidade. Seja pelos comentários contextualizados e bem argumentados ou pelas críticas sempre reflectidas destes senhores, quase todos eles com alguma bibliografia publicada sobre a rádio musical da área da pop, do rock ou da world, coisa que por cá parece desde já ser uma matéria irrelevante junto de todos, generalizada que está a ideia da música em rádio como o único suporte linguístico e mero conteúdo de entretenimento.

Cada vez mais a palavra (não confundir com o palavreado sem nexo) será a salvação da rádio, mesmo que para já não saibamos o que irá acontecer à oitava arte e que transformações poderão ocorrer à telefonia, passem elas ou não pelos podcasts ou pela rádio digital, interactiva e com integração de serviços. Cada um de nós terá isso sim de fazer um esforço para que as coisas mudem pouco a pouco. A música do mundo precisa de um airplay condigno e regular em Portugal!

Proponho desde já a partilha de experiências entre todos os agentes de divulgação musical, sobretudo aqueles de nós que, na blogosfera ou no éter local e regional, com poucos meios e muito amor à camisola, insistem em ousar quebrar os pressupostos da estandardização musical que diariamente nos vai digerindo as referências. Associemo-nos então para que as músicas do mundo possam ser apreciadas por todos, sem embaraços, tal como em tempos remotos. Este universo não pode ser visto como uma cultura alternativa, desligada do seu contexto social, e cada vez mais apenas sujeito à apreciação insípida de uma crítica distante. No nosso democrático país, falta fazer-se essa revolução cultural. E para contrariar o lado negativo da tradição, não deleguemos de novo a tarefa noutra geração.

Jorge Costa

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

World Music Charts Europe - Agosto 2006

Eis o TOP 20 relativo ao mês de Agosto dos 183 discos nomeados para a tabela europeia de música do mundo (a lista pode ser consultada em http://www.wmce.de):

1º- GOLD & WAX, Gigi (Etiópia, EUA) - Palm Pictures
mês passado: 3ºlugar

2º- BREATH, Mercan Dede (Turquia, Canadá) - Doublemoon
mês passado: 1ºlugar
3º- SAVANE, Ali Farka Toure (Mali) - World Circuit
mês passado: 35ºlugar
4º- NIGER, Afel Bocoum & Alkibar (Mali) - Contre-Jour
mês passado: 7ºlugar
5º- NE UZ VIENU DIENU, Ilgi (Letónia) - UPE
mês passado: 2ºlugar
6º- TRAVESIAS, Susana Baca (Peru) - Luaka Bop/Virgin
mês passado: 11ºlugar

7º- ZANDISILE, Simphiwe Dana (África do Sul) - Skip
mês passado: 13ºlugar
8º- LA CANTINA, Lila Downs (EUA) - Peregrina/Narada
mês passado: 4ºlugar

9º- WONAI, Oliver Tuku Mtukudzi (Zimbabwe) - Sheer Sound
mês passado: 18ºlugar
10º- MISH MAOUL, Natacha Atlas (Reino Unido) - Mantra
mês passado: 5ºlugar
11º- AY AY LOLO, Menwar (Maurícias) - Marabi

mês passado: 174ºlugar
12º- THE SEEGER SESSIONS, Bruce Springsteen (EUA) - Sony
estreia na tabela
13º- MHM A-HA OH YEAH DA-DA, Darko Rundek & Cargo Orkestar (Croácia) - Piranha
mês passado: 16ºlugar
14º- YELLOW FEVER, Senor Coconut (Alemanha, Chile) - Essay Recordings
mês passado: 10ºlugar

15º-QUE LINDA ES MI CUBA, Saborit (Cuba) - Tumi Music
estreia na tabela
16º- LUNGHORN TWIST, Accordion Tribe (vários) - Intuition
mês passado: 8ºlugar

17º- TIMELESS, Sérgio Mendes (Brasil, EUA) - Concord/Universal
mês passado: 19ºlugar
18º- LA GHRIBA - LA KAHENA REMIXED, Cheb i Sabbah (EUA, Argélia) - Six Degrees

estreia na tabela
19º- LUNATICO, Gotan Project (França, Argentina) - Ya Basta
mês passado: 6ºlugar

20º- THE ROUGH GUIDE TO THE MUSIC OF IRAN, vários (Irão) - World Music Network
mês passado: 32ºlugar