A 48ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 22 de Setembro, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 26 de Setembro, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (13 e 17 de Outubro) nos horários atrás indicados.
Um programa especial onde se destaca a entrevista exclusiva à Fanfare Ciocărlia, realizada a 7 de Setembro no Teatro Municipal da Guarda.
"Polska Efter Pål Karl/Gärdespolska", Stockholm Lisboa Project (Suécia, Portugal) - fado, polska, folk
Os Stockholm Lisboa Project a abrirem a emissão com “Polska Efter Pål Karl/Gärdespolska”, tema tradicional retirado do álbum “Sol” (a palavra significa o mesmo em sueco e em português). Aquele que é o primeiro trabalho de arranjos do grupo foi gravado nos dois países e apresentado em Lisboa no passado dia 20 de Setembro. Distantes na geografia, mas próximos pela saudade (ainda que a palavra não tenha equivalente no sueco), os Stockholm Lisboa Project exploram pontos em comum nas tradições musicais portuguesa e escandinava. Num ambiente de melancolia festiva, criado a partir da junção entre violino, bandolim, bouzouki, mandola (antigo instrumento semelhante ao bandolim, com quatro pares de cordas) e harmónica, as polskas (dança folk nórdica) cruzam-se então com o fado, sem esquecer influências que se estendem também à música clássica e ao bluegrass. Em 2000, o compositor Simon Stålspets (ligado aos projectos Svart Kaffe, Kalabra, Lystra e Marsipan), e Sérgio Crisóstomo (músico de formação clássica que adaptou o violino a diversos estilos tradicionais), conheceram-se na Bretanha num encontro onde juntos deveriam fazer novos arranjos do seu repertório tradicional. Depois de um álbum experimental e de alguns concertos em França, os dois decidiram dar continuidade ao projecto. Em 2005 juntou-se-lhes Luís Peixoto (dos Dazkarieh, Trio Sebastião Antunes, Salamander, Joana Melo e Monte Lunai, e que com o bandolim, o cavaquinho e o bouzouki mistura música tradicional portuguesa com outros estilos), e em 2006 a fadista Liana (intérprete de standards de jazz a musicais, tendo-se destacado pelo papel de Amália no espectáculo dedicado à diva do fado). Os Stockholm Lisboa Project têm várias sessões marcadas para Setembro: eles vão estar nas FNAC’s de Almada e do Colombo (dia 22), Porto e Gaia (dia 23), Coimbra (dia 24), Chiado e Cascais (dia 25). Entre 24 e 28 de Outubro rumam até ao Womex, em Sevilha.
"Suite de Polkas", Uxu Kalhus (Portugal) - trad-folk-rock, folk fusion
Das polskas às polkas (dança e género originários da Boémia checa), as músicas do mundo prosseguem com os Uxu kalhus, que nos trazem, precisamente, uma "Suite de Polkas", composição própria extraída do álbum “A Revolta dos Badalos”, editado em 2006. Neste seu trabalho de estreia, para além das chocalhadas endiabradas do quinteto (Celina Piedade, Paulo Pereira, Eddy Cabral, Luís Salgado e To Zé), formado em 2000, podem-se ouvir as vozes de Joana Negrão, Rui Vaz, Pedro Mestre e António Tavares, e o cavaquinho de Luís Peixoto. Uma fusão radical de sons e melodias onde a regra é não haverem regras. A revolta faz-se então pela subversão do folclore e pela reinvenção das músicas e danças tradicionais portuguesas e europeias, à mistura com géneros (jazz, rock, ska, funk, drum & bass, hip-hop ou música klezmer) e ritmos de todo o mundo: dos brasileiros (maracatú, embolada ou samba), africanos, árabes e orientais, aos medievais e barrocos. O público é então convidado a bailar ao som de viras, chotiças, modinhas, corridinhos e regadinhos, e de danças israelitas, sérvias ou austríacas, que se cruzam com mazurcas, valsas, polcas ou marchas. Universo sonoro que é alimentado por instrumentos como a flauta, o acordeão, a rauschpfeife (aerofone medieval de palheta dupla), as guitarras eléctrica e acústica, o baixo ou o metalfone. Nas percussões, acrescem a bateria, o bouzouki, a darabuka, o djembé, o bombo, o pandeiro, o didgeridoo, o dunun (família de tambores graves africanos, formada pelo kenkeni, sangban e doundounba), o davul (tambor duplo turco, conhecido nos Balcãs por tapan), a caixa, bem como o repenique e o surdo (tambores comuns no samba). Soma-se-lhes o caxixi, idiofone africano formado por um cesto de palha trançada em forma de campânula e com sementes no interior. A 22 de Setembro, os Uxu Kalhus vão estar em Aveiro, e a 5 de Outubro em Alvaiázere, no Festival Gastronómico do Chicharro. Em Novembro eles estarão na Semana do Caloiro, em Viseu (dia 6), e na Praça do Comércio, em Lisboa (dia 18).
"Rosa de Lava", Dazkarieh (Portugal) - folk rock, world fusion
Seguem-se os Dazkarieh com o tema “Rosa de Lava”, uma nova versão extraída da compilação que em 2005 acompanhava a edição portuguesa de “Eldest”, livro da autoria de Christopher Paolini. Conhecida por navegar entre os sons da Irlanda, Índia, África, Andes, Espanha e Balcãs, esta banda lisboeta propõe-nos uma viagem pela diversidade musical do planeta. Nada de surpreendente se tivermos em conta que, no entender do grupo, a palavra Dazkarieh poderá estar relacionada com a libertação de energia que se dá quando mundos, essências e influências distintos se tocam. O projecto procura então a sua alma nas culturas mais díspares, buscando sons acústicos que se fundam na música tradicional. Os instrumentistas dos Dazkarieh, cuja formação vai da música tradicional, experimental e erudita ao rock, servem-se de instrumentos presentes por tradição em culturas como a sueca, a irlandesa ou a árabe. Entre eles estão o bouzouki, a flauta transversal e a nyckelharpa (harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas). No entanto, mais recentemente passaram a dar também especial ênfase à música tradicional portuguesa, servindo-se do cavaquinho, da gaita transmontana ou do bandolim. Formados em 1999 por Filipe Duarte, José Oliveira e Vasco Ribeiro Casais, os Dazkarieh começaram por ser conotados com o som celta e a folk gótica. Mais tarde, com a fusão de materiais musicais tão diferenciados e já assumidamente ligados à chamada world music, o grupo integrou então cinco novos elementos, passando a conceber canções em língua portuguesa. Até então, o "dazkariano" era a base linguística de todas as suas músicas. A 30 de Setembro, os Dazkarieh vão estar na Assembleia da República, em Lisboa, e a 4 de Outubro na Moita. Já em Novembro, eles rumam até Cabo Verde, para actuarem na Ribeira Grande (dia 2) e na cidade da Praia (dia 3).
"Papa", Angélique Kidjo (Benim) - afropop, afrobeat
A viagem continua com Angélique Kidjo, que nos traz o tema “Papa”, retirado do álbum “Djin Djin” (Apreciem o Dia). Um trabalho em que se alude ao som que anuncia uma nova vida para África. Angélique Kidjo é natural da povoação costeira de Cotonou, no Benim. Dada a situação política do país, foi muito cedo que rumou até Paris e mais tarde até Nova Iorque, cidade onde hoje reside. Angélique, que canta em francês e inglês, mas também nas línguas nativas do Benim, Nigéria ou Togo, usa a voz e a música como ferramentas de diálogo entre nações. Embaixadora da UNICEF e fundadora do grupo de apoio a seropositivos Batonga, esta aposta na educação das mulheres africanas. As suas músicas, grande parte inspiradas nas missões humanitárias que faz, falam sobretudo do nascimento, do amor, da alienação e da esperança. Se nos seus discos anteriores Angélique Kidjo fundia géneros ocidentais – jazz, funk, blues, electrónica – com sons e ritmos africanos, neste trabalho, gravado em Nova Iorque e lançado este ano, a cantora e compositora regressa às origens, dando destaque à diversidade rítmica do seu país e da África Ocidental. Um casamento de culturas em que para além dos percussionistas Crespin Kpitiki e Benoit Avihoue (membros da Benin Gangbé Brass Band), do baterista americano Poogle Bell, do teclista Amp Fiddler, do multinstrumentista Lary Campbell, do baixista senegalês Habib Faye, dos guitarristas Lionel Loueke, Romero Lubambo e João Mota, e do mestre da kora Mamadou Diabaté, conta com convidados de luxo como Alicia Keys, Peter Gabriel, Josh Groban, Ziggy Marley, Carlos Santana, Amadou & Mariam, Joss Stone e Branford Marsalis.
"Soul", Terrakota (Portugal) - afrobeat, reggae, gnawa
Os Terrakota trazem-nos “Soul”, tema extraído do álbum “Oba Train”, terceiro e último da banda portuguesa, editado este ano. O comboio da vida é uma nova mestiçagem sonora onde se apela ao entendimento entre povos, celebrando a alma africana e as músicas do mundo num ambiente de festa. Criados em 1999, os Terrakota empreenderam então uma viagem pela África Ocidental. Na bagagem trouxeram ideias e instrumentos acústicos cujo som viriam a misturar com o poder dos instrumentos eléctricos. Aos três elementos do grupo juntaram-se depois mais quatro músicos e a actual vocalista, os quais viriam a assimilar géneros como o reggae, o gnawa, a afrobeat, o m’balax, o raggamuffin, o wassoulou, a dub, o raï, o flamenco, a salsa, o rock, o rap, o zouk ou a chimurenga (“batalha” em shona; género musical zimbabueano, popularizado por Thomas Mapfumo). Depois de três anos de concertos, digressões em Portugal e na Europa, e viagens por Marrocos, Mauritânea, Mali, Burkina-Faso e Brasil, onde recolheram inspiração, os Terrakota juntam agora toda essa energia musical num trabalho que abrange várias geografias (Jamaica, Caraíbas, Cuba ou Brasil), sonoridades (árabes, flamencas ou indianas) e línguas (português, yoruba, wolof, francês, inglês ou castelhano). No seu último disco, uma fusão sem confusão, destacam-se as participações de Ikonoklasta e Conductor, ambos pertencentes ao angolano Conjunto Ngonguenha/Buraka Som Sistema, e do jamaicano U-Roy. A 22 de Setembro os Terrakota vão estar na Mostra Jovem de Cascais; em Outubro na Madeira (dia 4), em Lisboa (dia 5) e Guimarães (dia 11); e em Novembro em Viseu (dia 8), na Galiza (dia 17) e no Musidanças de Lisboa (dia 22).
"Duj Duj", Fanfare Ciocărlia (Roménia) – gypsy brass band, balkan music
Segue-se a Fanfare Ciocărlia (“laverca”, em romeno) com “Duj Duj”, tema retirado do álbum “Queens and Kings”, lançado este ano. Uma folk balcânica carregada de funk, pop, rumba ou flamenco, onde a orquestra de metais presta tributo ao clarinetista Ioan Ivancea, seu fundador e patriarca, falecido em 2006, e imagina como seria o jazz se tivesse sido inventado por músicos ciganos. Célebres pelo improviso e pela interpretação acelerada de solos de clarinete, saxofone e trompete, por vezes com mais de 200 batidas por minuto, eles começaram por tocar em cerimónias populares, até o produtor discográfico e engenheiro de som alemão Henry Ernst (seu actual manager) os descobrir em 1996. Oriundos da aldeia de Zece Prăjini (“Dez Campos”), no nordeste da Roménia, junto à fronteira com a Moldávia, os demónios acelerados do gypsy brass cruzam a tradição balcânica com influências globais, adaptadas ao seu estilo enérgico e festivo. Danças tradicionais romenas e moldavas como a sîrba (“dança” em romeno), a hora (dança de círculo) ou a geamparale (popular dança da região de Dobrogea, caracterizada por ritmos balcânicos e turcos), bem como os ritmos turcos, húngaros, búlgaros, sérvios e macedónios são apresentados ao som de instrumentos de sopro (trompa, tuba, trompete, clarinete, requinta, saxofone e corneta) e percussão (tímpano e bombo, tarola e bongo). Juntam-se-lhes histórias sobre a vida, cantadas em romeno ou em romani (dialecto cigano). O grupo tem colaborado com expoentes máximos da música cigana como a macedónia Esma Redzepova, o sérvio Šaban Bajramović, estrelas da pop romena e búlgara como Dan Armeanca e Jony Iliev, bem como Florentina Sandu (Roménia), Mitsou (Hungria), Ljiljana Butler (Bósnia), Kal (Sérvia) ou os Kaloome (França).
"Zé Pequeno (Autoload Mix)", Télépathique (Brasil) - drum n'bass, funk, bossa nova, breakbeat, rock
O programa chega ao fim com os Télèpathique, dupla brasileira formada pelo DJ Periférico, que já trabalhou com músicos como Zeca Baleiro e Otto, e pela vocalista Mylene. Eles trazem-nos o tema “Zé Pequeno (Autoload Mix)”, extraído do segundo volume da colectânea“Cidade de Deus Remix”, editada em 2003. Precisamente um dos temas que o DJ Periférico remisturou para a banda sonora do filme "Cidade de Deus"', do realizador Fernando Meirelles. Uma história sobre o crime organizado numa das favelas do Rio de Janeiro, adaptada a partir da obra homónima de Paulo Lins. Os Télèpathique são um dos projectos mais estimulantes da breakbeat da cidade de São Paulo. Uma música urbana orientada para as pistas de dança, mas onde não faltam os ritmos brasileiros. Ao funk carioca juntam-se então o drum n'bass, o rock e a electrónica, numa combinação entre as tonalidades retro dos anos 80 e o psicadelismo da música brasileira da década de 1970. O resultado é uma poesia cantada em português e inglês, onde se abordam temas do quotidiano como a política e a espiritualidade.
Jorge Costa
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Emissão #48 - 22 Setembro 2007
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