quarta-feira, 28 de maio de 2008

Canto Nómada: última viagem do André Moutinho















Foi com grande consternação que soube do falecimento do André Moutinho, esta terça-feira, dia 27, vítima de um ataque cardíaco. Aos 32 anos de idade, desaparece assim o realizador do Canto Nómada, programa dedicado à música tradicional portuguesa e do mundo, onde havia lugar também para a apresentação de notícias e de breves entrevistas. O espaço era apresentado desde 2006 na Torres Novas FM, sua terra natal, e mais recentemente emitido a partir da Rádio Santiago, em Guimarães, cidade onde residia o também técnico de som dos Diabo a Sete, Chuchurumel e Quarto Minguante.

Nascido em 1975 e engenheiro
 de profissão, desde a primeira hora que o André estabeleceu contacto com o MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO, manifestando interesse numa colaboração entre os dois programas. De facto, em Janeiro de 2007 participei numa das suas crónicas semanais com um texto de nome “A Minha Amiga Rádio”, um devaneio verbal sobre a minha paixão pela telefonia, ponte privilegiada de aproximação entre culturas e saberes, onde falava sobre o que novos suportes de difusão como a Internet poderiam representar para um género musical que então se começava a afirmar mais seriamente em Portugal. A mensagem acabou por ser correspondida com um registo de audio que o André gravou, também a convite, para ser divulgado no primeiro aniversário do MULTIPISTAS – MÚSICAS DO MUNDO. Por questões de alinhamento, este não chegou a ser emitido no espectáculo, podendo no entanto ser lido e escutado na íntegra neste mesmo blogue. Agora, mais do que nunca, impõe-se a sua divulgação pública na próxima Noite Temática, naquela que é a homenagem possível a um dos amigos mais especiais que o programa teve até hoje.

Fico grato ao André por ter partilhado o fruto do seu trabalho comigo e com outros radialistas, num desejo comum de aproximar vontades, entre elas, a de desbravar territórios sonoros bravios e a de estabelecer uma ligação mais próxima entre os ainda poucos autores de programas de músicas do mundo existentes nas rádios locais e regionais portuguesas. Foi uma experiência breve mas gratificante, a que agora temos de dar continuidade, melhor forma de recordarmos um jovem que como nós, mais do que a música, aprendeu a amar a liberdade e a humanidade naquilo que estas têm de melhor.

Não deixa de ser curioso recordar que o André foi encontrar o nome para o seu programa no livro homónimo de Bruce Chatwin, obra onde o escritor inglês fala sobre a viagem que fez à Austrália para tentar compreender os mapas sonoros com que os aborígenes, nas suas digressões, descrevem a paisagem e cantam a natureza. Fica a saudade de alguém que, demasiado cedo, deixou esta grande família global, mas que agora certamente terá acesso pleno aos segredos de todos esses cantos nómadas, os quais, por cá, continuam por revelar. Até sempre, André!

Jorge Costa

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