quinta-feira, 29 de maio de 2008

Emissão #66 - 31 Maio 2008

A 66ª emissão do MULTIPISTAS - MÚSICAS DO MUNDO, difundida no sábado, 31 de Maio, entre as 17 e as 18 horas, na Rádio Urbana (Castelo Branco - 97.5 FM; Fundão, Covilhã e Guarda - 100.8 FM), vai de novo para o ar na quarta-feira, 4 de Junho, entre as 21 e as 22 horas, sendo reposta três semanas depois (21 e 25 de Junho) nos horários atrás indicados.

"Sun", Kroke (Polónia) - klezmer, jazz fusion, folk
Os Kroke a abrirem de novo mais uma emissão, desta feita com “Sun”, tema retirado do seu quinto álbum “Ten Pieces To Save The World”, lançado em 2003. Trabalho onde a banda acredita poder salvar o mundo através da música, e em que são convidados os músicos Jacek Królik e
Sławomir Berny. Os Kroke nasceram em 1992 em Kazimierz, o bairro judaico da capital polaca. Em iídiche, idioma germânico falado em comunidades judaicas de todo o mundo e que utiliza o alfabeto hebraico moderno, Kroke significa precisamente Cracóvia, cidade que até ao início da década de 1940, nas vésperas do holocausto, foi um dos mais importantes centros da vida cultural judaica. O grupo é formado pelo contrabaixista Tomasz Lato, pelo violinista e pianista Tomasz Kukurba e pelo acordeonista Jerzy Bawoł, colegas da Academia de Música de Cracóvia, a que mais tarde se juntaria o percusionista Tomasz Grochot. Ainda que não sejam judeus, eles procuram redescobrir e reinventar as tradições musicais dos seus antepassados, tendo vindo a colaborar com artistas de renome como Van Morrison, Ravi Shankar, Natacha Atlas ou os Klezmatics. Nas suas composições e arranjos próprios, os Kroke servem-se sobretudo de escalas do klezmer – do hebraico kley (instrumento) e zemer (cantar, interpretar música) –, a música tradicional instrumental dos judeus de Leste, característica das bodas ou celebrações e enriquecida ao longo dos séculos com sons e ritmos de outras paragens. Junta-se-lhe a música sefardita, combinada com a experiência da clássica e com os improvisos da música cigana ou oriental. O resultado é uma sonoridade ora melancólica, ora festiva, mas sempre com um toque assumidamente contemporâneo.


"Tarantainas De La Casa Sin Pared", Biella Nuei (Espanha) - spanish folk
As músicas do mundo prosseguem com os Biella Nuei e o tema "Tarantainas De La Casa Sin Pared", uma referência amigável a todos os que viam a música tradicional aragonesa como algo ultrapassado, extraída do disco “Sol D’Iberno”, editado em 2006. Trabalho produzido por Juan Alberto Arteche, e que encerra a triologia iniciada com “Las Aves Y Las Flores” (1994) e “Solombra” (1998), abrindo portas a uma fase mais criativa e menos etnocêntrica no percurso deste grupo fundado por Luís Miguel Bajén na década de 1980. Álbum optimista e alegre, onde os Biella Nuei se abrem às percussões das culturas andaluza ou latina, e que conta com a participação de músicos como Eliseo Parra ou La Ronda de Boltaña. Nos primeiros anos, o septeto centrou-se no estudo e divulgação da tradição oral aragonesa, no desenvolvimento de repertório próprio e no fabrico de instrumentos como a gaita de boto, o saltério, o pífaro ou a dulzaina. Hoje permanece a variedade de instrumentos, melodias e ritmos tradicionais populares daquela região (jotas, pasacalles, tarantainas ou passeíllos), mas a free folk da banda, mestiçagem étnica sempre ligada aos movimentos sociais (entre eles os neorurais), cruza-se com outras culturas, deixando-se influenciar, entre outros géneros, pelos blues, pela rumba, pela choutiça ou pela soul cubana. Nas suas peregrinações sonoras, os Biella Nuei, que em palco se apresentam ainda com uma formação mais pequena - os Bufacalibos -, têm vindo a tocar com Carlos Núñez, Cristina Pato, Chico Sánchez Ferlosio, Kepa Junkera, Mauricio Martinotti, The Oysterband ou os Gwendal.

"Galego Guajiro", Luar Na Lubre (Espanha) - celtic folk, folk-rock
Os Luar na Lubre de regresso ao programa, desta feita com “Galego Guajiro” (guajiro é o termo com que em Cuba são conhecidos os camponeses), tema retirado do álbum “Saudade”, lançado em 2006. Um medley composto por um punto cubano e por uma alborada e uma pandeirada galegas, numa alusão aos milhares de emigrantes galegos que a Cuba foram buscar a sua academia, a bandeira e o hino. Com uma dezena de trabalhos editados, estes embaixadores da folk celta contemporânea defendem a cultura, a tradição e a música galegas, sem no entanto fecharem portas às influências externas. No seu penúltimo álbum, o grupo da Corunha aposta na música proveniente da América do Sul. Bieito Romero, Patxi Bermúdez, Xulio Varela e Xan Cerqueiro são os quatro elementos que restam da banda original, criada em 1986 e que dez anos depois saltava para a ribalta internacional com o apadrinhamento de Mike Oldfield no seu disco “Voyager”. Neste trabalho, os Luar na Lubre apresentam a vocalista que os acompanha há cerca de três anos, a portuguesa Sara Vidal (que já tinha participado no álbum “Paraíso”), em substituição de Rosa Cedrón. Um disco onde resgatam velhas melodias e harmonias melancólicas, bem como poemas de García Lorca e de autores galegos da emigração, utilizando-os em temas que falam de nostalgia, do exílio e da saudade. Tudo numa homenagem à Galiza que chegou à América Latina e se fundiu com a cultura daquele continente, sem no entanto deixar de parte as suas raízes celtas.

"Umuntu Ngumuntu", Mahlathini & The Mahotella Queens (África do Sul) - mbaqanga, mgqashiyo, afropop
A jornada continua com Mahlathini & The Mahotella Queens e “Umuntu Ngumuntu”, tema extraído do álbum “Umuntu”, editado em 1999. A expressão recorda um conceito zulu que diz que uma pessoa só o é porque se relaciona com os outros. Falecido nesse mesmo ano, Simon ‘Mahlathini’ Nkabinde foi o mais célebre cantor do mgqashiyo, variante muito própria da mbaqanga. Uma versão sul-africana do jazz, fruto da combinação de um estilo vocal profundo e das tradições rurais zulu com instrumentos ocidentais, mas que a influência da pop, soul e disco esgotou, tendo sido substituída na década de 1980 pelo bubblegum. Conhecido não só na África do Sul, mas também no Zimbabué e no Botswana, o “leão do Soweto” (SOuth-WEst TOwnship, em alusão aos subúrbios de Joanesburgo) começou a cantar nos anos 50, sobretudo ao lado das Dark City Sisters. Mais tarde, juntou-se à Makgona Tsohle Band, liderada pelo guitarrista Marks Mankwane, falecido em 1998, e pelo baixista Joseph Makwela, que nas suas jam sessions em Pretória inventaram a mbaqanga ao combinarem o marabi e o kwela com o rhythm & blues. O produtor do grupo foi buscar não só a voz alta e grave de Simon Nkabinde, mas também as danças inventivas das cinco Mahotella Queens (Hilda Tloubatla, Nobesuthu Mbadu, Mildred Mangxola, Juliet Mazamisa e Ethel Mngomezulu). Juntos, com a sua saltitante versão da mbaqanga, eles eram o leão e as raínhas do mgqashiyo. Artistas famosos que tocaram e gravaram juntos desde 1964, numa experiência que, apesar de algumas interrupções pelo meio, se prolongou durante três décadas.

"Djeli", Ba Cissoko (Guiné-Bissau) - kora music
Os Ba Cissoko apresentam-nos "Djeli", tema retirado do seu álbum de estreia “Sabolan”, produzido pelo músico Tao Ravao e lançado em 2003. Estes quatro jovens de ascendência griot - os conhecidos contadores de histórias que imemorialmente percorrem a savana africana para transmitirem ao povo a sua história - são naturais da Guiné-Conacri, mas vivem actualmente na cidade francesa de Marselha, tendo vindo a tocar em inúmeros espectáculos e festivais. A banda, criada em 1999, foi buscar o nome ao seu vocalista principal, o músico Ba Cissoko, neto do também mestre da kora M'Bady Kouyaté. Numa carreira comparada aos primeiros anos de Mory Kanté, o repertório da banda abrange músicas da era de ouro da cultura mandingo e canções em sussu ou peulh, palete que é colorida com congas, djembés ou cabaças e sons urbanos recheados de groove. Ao baixista Kourou Kouyate e ao percussionista Ibrahima Bah junta-se ainda Sekou Kouyaté. Devido à natureza da sua kora eléctrica, este último consegue fazer com que o instrumento produza um som de tal forma distinto, garantindo assim a alcunha de Jimi Hendrix africano, em alusão aos riffs de guitarra do célebre cantor e compositor norte-americano.

"Sepän Poika", Värttinä (Finlândia) - traditional finnish folk, suomirock
As Värttinä de novo no programa, agora com “Sepän Poika” (O Filho do Ferreiro), tema retirado do álbum “Iki” (termo que a banda define como sendo “o sopro principal e eterno”), lançado em 2003, no vigésimo aniversário do grupo. Um trabalho que marca o regresso da banda finlandesa às grandes melodias, numa mistura de pop e rock ocidental com a folk europeia e nórdica. As Värttinä são conhecidas por terem inventado uma visão contemporânea da tradição vocal feminina e da poesia popular da Carélia – uma região isolada na fronteira entre a Finlândia e a Rússia – reforçando as letras emocionais com ritmos em fino-úgrico, idioma antecessor do finlandês. O grupo nasceu em Raakkylaa, uma pequena cidade na Carélia filandesa. Entusiasmados pelas mães, alguns miúdos juntaram-se para cantar músicas folk e tocar kantele (uma versão filandesa do zither, instrumento da família da cítara). À medida que foram crescendo, muitos deixaram o grupo, mas quatro raparigas criaram uma nova formação, que continuou a fazer arranjos tradicionais mas passou também a compor temas próprios. Actualmente fazem parte das Värttinä Mari Kaasine, Johanna Virtanen e Susan Aho, vozes enérgicas e harmónicas que são suportadas por seis músicos acústicos que aliam a instrumentação tradicional e contemporânea (feita à base da guitarra, violino, acordeão, baixo e percussões) aos ritmos complexos e arranjos modernos.

"Omas Ludvig", Hedningarna (Suécia) - swedish folk, ethno-punk
Seguem-se os Hedningarna, que nos trazem o tema “Omas Ludvig”, extraído do álbum “Kaksi!” (em finlandês, a palavra quer dizer “dois”). Neste trabalho, editado em 1992, as vocalistas finlandesas Sanna Kurki-Suonio e Tellu Paulasto juntam-se ao grupo de pioneiros na renovação da folk sueca. Das incursões pelo mundo do rock à pop e ao techno, os Hedningarna (em sueco, hedning significa "pagão") misturam sonoridades contemporâneas com elementos da música tradicional nórdica. Temas que a banda, formada em 1987 e da qual hoje fazem parte Anders Skate Norudde, Hållbus Totte Mattsson, Christian Svensson e Magnus Stinnerbom, reinterpreta de forma livre e inventiva, juntando-lhe ainda percussões acústicas e electrónicas. Para isso, servem-se de antigos instrumentos de vários países do norte da Europa, e não só, como a moraharpa (versão medieval da nyckelharpa, harpa tradicional sueca, semelhante a um violino com teclas), a stråkharpa (lira nórdica de arco), o lagbordun, o hummel (cordofone sueco, da família da cítara e semelhante ao norueguês langeleik), a mandora (cordofone da família do alaúde), o oud (alaúde árabe), a sanfona, a guitarra barroca, a flauta transversal, o violino, a gaita sueca, o acordeão, o didgeridoo e o pandeiro.

"Benedito", Afroreggae (Brasil) & Manu Chao (França) - afro-reggae, samba, hip-hop
Despedimonos com os brasileiros Afroreggae e com o francês Manu Chao, que nos trazem o tema “Benedito”, extraído do álbum “Favela Uprising”, editado em 2007. A banda de dez elementos, que transformou a música num movimento cultural não violento, funde géneros que vão do reggae ao samba, soul ou hip-hop. Neste tema, à voz de Anderson Sá junta-se a de Manu Chao, conhecido de formações como os Mano Negra e os Radio Bemba Sound System. O resultado é um som recheado de contornos politicos, mas com todo o espírito festivo urbano. Parte mais visível do Grupo Cultural Afro Reggae, organização não governamental que desde 1993 trabalha com as comunidades pobres das favelas do Rio de Janeiro, e que através da música, percussão ou dança procura resgatar os jovens do mundo da droga. O projecto começou por ser um jornal sobre as rasta dancing’s, as festas que o grupo realizava junto da população afro-brasileira do bairro carioca de Vigário Geral. Hoje o antigo Núcleo Comunitario de Cultura desenvolve iniciativas não só no Brasil mas também no estrangeiro, história que é contada no filme “Favela Rising”, realizado em 2005 por Matt Mochary e Jeff Zimbalist.

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